Voltando à consola de 16bit da Sega, ficamos agora com um jogo de plataformas muito interessante e graficamente bonito mas que nunca chegou a ver a luz do dia fora do território japonês. Isso acontece porque é um jogo baseado num manga/anime de mesmo nome que seria completamente desconhecido do público ocidental na sua época. Um outro detalhe curioso a salientar é que este é um título desenvolvido nada mais nada menos que pela Game Freak, os mesmos que, anos mais tarde, iniciaram a franchise multi milionária dos Pokémon. O meu exemplar foi comprado a um particular na vinted algures em Maio por cerca de 40€.
Jogo com caixa e manual
Infelizmente este é um jogo que, até à data, nunca recebeu nenhum patch de tradução e mesmo utilizando o Google Lens para me auxiliar nas cutscenes que vamos vendo, confesso que desta vez a app da Google não foi de grande ajuda, muito provavelmente pelos balões de diálogo transparentes num fundo todo ele poluído com logotipos também em japonês. Portanto não entendi nada de jeito da história, mas assumo que tenha alguma coisa a ver com o material original do qual o jogo se inspira.
Mantendo o botão de salto pressionado faz com que deslizemos pelo ar e assim consigamos saltar mais longe
O que é fácil de entender são as mecânicas de jogo e este é um simples (porém divertido e bem bonito) jogo de plataformas em 2D onde controlamos o próprio Taruruto-Kun, uma criança com uma varinha mágica. O botão A serve para utilizar magias que descreverei mais tarde, o B para usar a varinha mágica e o C para saltar, sendo que se o mantivermos pressionado, a personagem começa a deslizar pelo ar, permitindo-lhe assim saltar mais longe. A mecânica da varinha é um elemento central na jogabilidade pois esta tanto serve para atacar os inimigos directamente como para transformar objectos em “coisas vivas” que Taruruto agarra automaticamente e com um pressionar do mesmo botão pode atirá-los, servindo assim de arma de arremesso para derrotar inimigos. As magias que podem ser desencadeadas com o pressionar do botão A são em número limitado e podem-nos dar invencibilidade temporária ou diferentes ataques mágicos capazes de causar dano a vários inimigos em simultâneo e poderemos alternar entre estas magias num menu para o efeito no ecrã de pausa. De resto podemos também encontrar alguns power ups ao longo da aventura que nos podem restabelecer parte ou toda a nossa barra de vida, magias ou vidas extra.
Apesar de existirem apenas 4 níveis, estes estão divididos em várias secções e diferentes bosses. Nestes tipicamente devemos usar as mecânicas de agarrar/atirar objectos para os derrotar
No que diz respeito aos audiovisuais este é um jogo muito bonito para uma Mega Drive. Os cenários são todos muito bem detalhados e acima de tudo bem coloridos, de tal forma que quase nos esquecemos da limitação nativa da Mega Drive em apresentar 64 cores em simultâneo no ecrã. As sprites do Taruruto e alguns inimigos são bem detalhadas e animadas, já para não referir também os bosses que são bem grandes também. Apesar de existirem apenas 4 níveis, estes são divididos em diversos segmentos e muitos deles com cenários distintos entre si, desde uma escola preparatória japonesa e seus subúrbios, passando por vários níveis mais fantasiosos com paisagens como montanhas, florestas, cavernas etc, sendo que estes no exterior tipicamente são também acompanhados de diversos efeitos de parallax scrolling. Por vezes vamos sendo surpreendidos com alguns efeitos gráficos fora de série, como é o caso de um dos confrtontos nos corredores da escola: do lado de fora surge um helicóptero que dispara metralhadoras através das paredes e nós temos de estar constantemente a fugir da linha de fogo. Ao fim de algum tempo as paredes acabam por ruir com tanto dano! A banda sonora por outro lado é agradável, mas nada de propriamente muito memorável.
Já disse que este jogo possui gráficos muito bonitos?? Aqui ilustrado vemos uma das magias que temos à nossa disposição: chamar esta bruxinha para lançar um poderoso ataque. À direita é um boss.
Portanto este Magical Taruruto-kun foi uma excelente surpresa, apesar de ser um jogo algo fácil, pois terá sido seguramente mais indicado para crianças. Ainda assim a sua jogabilidade simples, aliada a belíssimos gráficos faz com que seja uma pena que este jogo nunca tenha saído do Japão. Mas tal é compreensível por questões de licenciamento, pois este é baseado numa manga e anime que seriam certamente desconhecidas do público ocidental da época. Ainda assim existem uns quantos jogos baseados neste IP, todos exclusivos japoneses. E apesar de nenhum ter sido também produzido pela Game Freak, todos têm um óptimo aspecto, pelo que fico bem curioso em experimentá-los um dia destes.
Em vez do Pokémon Blue, gostaria antes de estrear uma rubrica sobre a famosíssima série de RPGs da Nintendo com o Pokémon Yellow. Isto por uma razão muito simples. Antes de as animações de Pokémon terem chegado ao nosso país, eu não gostava de RPGs. Bastava jogar uns 5 minutos daquilo que me fartava logo de tamanha lentidão, pelo que me deixei sempre ficar com os meus platformers, first person shooters e outros géneros com mais acção. Mas com a moda de Pokémon a tomar Portugal inteiro de assalto, e consequentemente os seus 3 jogos de Gameboy a receberem excelentes pontuações em todo o lado, resolvi finalmente embrenhar-me nesse mundo dos RPGs nipónicos que outrora foram tão estranhos para mim. Não o fiz unicamente com o Pokémon Yellow, mas também com o Phantasy Star IV na Mega Drive (adorava aquelas cutscenes anime) e o Chrono Trigger, por ter Akira Toryiama como designer das personagens. A partir daí passei a gostar bastante de RPGs japoneses e muito mais tarde, passei também a gostar dos “nossos” RPGs mais maduros e complexos. Mas enquanto não tenho um cartucho do Pokémon Yellow na minha gaveta (oportunidades não faltaram, eu é que vivia num mundo de fadas onde achava que facilmente conseguiria comprar qualquer jogo de Gameboy completo a um bom preço), deixei-me desleixar. Até que vi este Pokémon Blue a 4€ na Cash converters de Alfragide e o levei para casa. Era só o cartucho, mas eventualmente acabei também por encontrar numa loja do porto a caixa e os manuais por um preço irrisório.
Jogo completo com caixa, manual e papelada
Isto tudo para dizer que eventualmente quando arranjar um Red ou Yellow, não me irei alongar nos seus artigos, este acabará por ser o principal para representar essa primeira geração do fenómeno que ainda são os Pokémon. Reza a lenda que o pessoal da Gamefreak encontrou a sua inspiração para este jogo com as brincadeiras de infância que tinham ao procurar e coleccionar diferentes insectos nos quentes verões japoneses. Eventualmente a ideia de fazer um jogo deste género surgiu, mas não se deixaram ficar unicamente com insectos (se bem que isso não impediu a Sega de o fazer já neste milénio com os seus MushiKing), pelo que a Gamefreak deu azo à sua imaginação, apresentando-nos um set de 151 diferentes criaturas dos mais variadíssimos géneros para serem coleccionadas. Tanto “mamíferos”, como peixes, aves, insectos, plantas e até fantasmas fazem parte deste elenco. Os animais podem ser catalogados em diferentes tipos, como os elementais básicos de fogo, terra, água e ar, mas também outros como os eléctricos, rocha, neutros ou outros bem mais extravagantes, como os psíquicos, fantasmas e dragões. Todos estes tipos de pokémon possuem fraquezas ou vantagens perante outros tipos e isso é um factor determinante em todas as batalhas que travamos.
Sempre gostei destas pequenas cutscenes de abertura.
Como RPG, Pokémon não é um jogo propriamente complicado, até porque o seu público alvo é o infantil. No entanto também consegue ser bastante complexo na sua comunidade mais hardcore. Isto por vários motivos: cada Pokémon apenas pode aprender 4 golpes para usar em batalha. Com a experiência e níveis ganhos ao longo do jogo, cada bichinho aprende bem mais do que 4 golpes, pelo que teremos necessariamente de escolher para descartar se quisermos aprender o golpe novo. Para além disso, existem vários golpes que os podemos comprar em lojas e ensiná-los aos bichos, aumentando ainda a componente estratégica. Ao longo do jogo em si nunca precisamos de nos preocupar muito com isto, mas nas batalhas multiplayer, ter os mesmos Pokémons mas com diferentes técnicas poderá realmente fazer a diferença. Depois apenas podemos carregar com 6 pokémons de cada vez, podendo trocá-los entre si livremente nas batalhas, com o custo de um turno. Para além disso, alguns Pokémons evoluem para outros Pokémons mais fortes, como por exemplo o Charmander, Charmeleon e Charizard serem 3 evoluções da mesma “espécie”. Mas podemos optar por não os deixar evoluir, o que por sua vez também pode trazer as suas vantagens.
O número de pokémons que os nossos oponentes têm é variável, mas nunca lutamos contra mais de 6.
Mas na verdade, em que consiste o jogo? Até agora só disse que existem 151 Pokémons, divididos nos seus tipos e possíveis evoluções, bem como podem andar à pancada entre eles. Nós encarnamos numa criança que desde muito pequeno sonha em viajar pelo país fora, conhecer o máximo de Pokémons e tornar-se a si mesmo num treinador de Pokémon de referência. Então a nossa mãe acha isso uma boa ideia, não estranhando nada quando um adulto (Professor Oak) nos entrega uma Pokedéx (um catálogo/enciclopédia portátil sobre todos os Pokémon conhecidos), um Pokémon inicial à escolha (Charmander – fogo, Bulbasaur – erva ou Squirtle – água) e nos manda viajar pelo país, procurando descobrir e catalogar todos os Pokémons conhecidos. Mas não estamos sozinhos nesta aventura, pois Gary, um outro puto ranhoso com os mesmos sonhos também recebe a mesma “missão”, tornando-se nosso rival até ao final da aventura. Gary por sua vez escolhe sempre o Pokémon que é forte perante o nosso, por exemplo, Charmeleon se tivermos escolhido o Bulbasaur.
Tendo em conta o público alvo, a história e bem levezinha.
O resto do jogo é então passado literalmente a atravessar o país todo em busca de aventura, derrotar todos os gym leaders de certas cidades e finalmente vencer os Elite Four, o conjunto de melhores treinadores Pokémon que iremos defrontar. Pelo meio temos sempre alguma história, até porque há por aí uns certos vilões a fazer das suas, bem como várias batalhas contra outros NPCs espalhados pelas estradas, cavernas e rios que interligam as várias cidades. Mas tão ou mais importante que isso é mesmo o coleccionismo destas criaturas. A maioria dos Pokémons podem ser encontrados nas cavernas, ervas altas nos caminhos normais ou na água, sendo alguns bem mais raros que outros, o que nos levará a gastar muitas horas em batalhas aleatórias até que nos apareça o Pokémon que desejamos. Mas o grinding também não é mau, pois deixa-nos mais fortes. O truque para os apanhar consiste em enchê-los de pancada até estarem quase a desmaiar, depois usamos um item específico (a pokébola) para os capturar. Alguns Pokémons mais fortes exigem pokébolas mais caras para uma maior probabilidade de captura e alguns o melhor mesmo é adormecê-los ou paralizá-los, pois têm uma maior tendência para fugirem das batalhas. Mas podemos apanhar todos os 151 Pokémons assim? Não, nem por sombras. Alguns, os lendários, apenas aparecem em sítios específicos, outros como o Mew, são tão secretos que apenas se podiam “apanhar” oficialmente em eventos da Nintendo.
Através da SNES (ou simplesmente jogando-o numa gameboy color), o jogo torna-se mais colorido.
Mas muitos outros pura e simplesmente não existem neste jogo. A Nintendo deu uma jogada de génio para nos sugar o máximo de dinheiro possível: lançar duas versões do mesmo jogo! Há Pokémons que aparecem só nesta versão, enquanto outros só aparecem na Red. A maneira de os ter é trocando-os com os amigos que tenham o outro jogo, bastando para isso sermos donos do cabo que interliga as duas portáteis. Alguns Pokémons até só evoluem se forem trocados com os amigos! Para além disso, os 3 Pokémons que podemos escolher inicialmente são únicos em cada partida, pelo que apenas podemos deitar as mãos aos outros 2 (e suas evoluções) ao trocar com alguém. Para mim, essa foi mesmo a jogada de génio da Nintendo, embora a minha carteira não tenha a mesma opinião.
Entre outras coisas, a Pokédex dá-nos informações sobre os pokémon que apanhamos.
Os audiovisuais são bons tendo em conta que nos estamos a referir a uma Gameboy clássica. As sprites são bem detalhadas, embora os Pokémon ainda não tenham exactamente o mesmo design como visto no anime. Convém também referir que este é dos jogos com suporte ao acessório Super Gameboy, permitindo-nos jogá-lo com algumas cores por intermédio da nossa SNES. As músicas também são todas bem compostas e alegres e a música título é mais um dos clássicos hinos da Nintendo, que tem sido reaproveitada ao longo dos restantes jogos da saga.
Sinceramente acho este um dos jogos essenciais numa qualquer colecção de Nintendo Gameboy. Não é preciso ser-se um fanático de Pokémon (eu definitivamente não sou) para se entender que este jogo é um clássico absoluto e com um sucesso inteiramente merecido pela sua fórmula então original. Agora se justifica o lançamento de tanta sequela com poucas mudanças no seu core? Bom, isso já é outra discussão.