Rule of Rose (Sony Playstation 2)

Há uns meses atrás fui desafiado pelos meus colegas do podcast The Games Tome na nossa rubrica Backlog Battlers para jogar o Rule of Rose, um survival horror da PS2 que ficou infame pelas alegações de conter conteúdo de violência e erotismo infantil, o que fez soar toda uma série de alarmes antes do seu lançamento, levando a que o jogo acabasse mesmo por ser banido no Reino Unido pouco depois do seu lançamento. Isso tornou as versões britânicas do jogo bastante raras e toda essa infame história acaba também por se alastrar às restantes versões europeias do jogo, cujo preço também tem vindo a subir em flecha nos anos seguintes. A minha versão (francesa) foi comprada na vinted algures em Maio deste ano. Ficou-me por cerca de 50€, depois de ter lá vendido umas quantas coisas repetidas. Poderão assistir ao vídeo onde falo um pouco deste jogo aqui:

Bom, é difícil escrever sobre a história deste jogo visto ser tão única e por vezes algo desconcertante, mas digamos que anda à volta da jovem Jennifer e dos sádicos colegas do orfanato onde cresceu. Estes formaram um clube aristrocático com vários rankings sociais onde practicamente toda a gente é nobreza excepto a Amanda por ser gordinha e claro, a Jennifer, que está no fundo da escada social e é frequentemente vítima de bullying e humilhações por parte dos seus colegas. O clube aristrocático tem também uma série de regras, onde uma vez por mês os seus membros devem procurar um certo objecto para oferecer ao clube e a primeira vez que temos de o fazer é uma borboleta. Bom, digamos então que o jogo irá estar dividido ao longo de vários capítulos que decorrem ao longo de vários meses do ano de 1930 e é frequente a narrativa andar para trás e para a frente no tempo. Cada capítulo tem um certo tema, muitos deles inspirados nos contos clássicos dos irmãos Grimm e à medida que vamos jogando vamos descortinando um pouco mais do que se passa naquela sociedade insana e o passado de Jennifer.

Jogo com caixa e manual

Curiosamente achava que o jogo se passaria todo no orfanato, mas a maior parte da história é mesmo passada a bordo de um grande dirigível, onde o orfanato foi convidado a fazer parte da sua viagem inaugural. A jogabilidade é então a típica de um survival horror desta geração, onde teremos de explorar muito bem os cenários à nossa volta, encontrar chaves que nos desbloqueiem certas zonas, interagir ocasionalmente com outras personagens e claro, combater criaturas macabras. A parte da exploração é toda ela enriquecida com o facto de desde cedo encontrarmos o Brown, um cão da raça labrador que nos irá acompanhar ao longo de practicamente todo o jogo e a sua ajuda será precisosa. Isto porque os cães têm um excelente sentido de faro e para resolver muitos dos puzzles que envolvam tarefas do género “encontra a pessoa X ou o objecto Y” teremos de obrigar o cão a farejar um objecto que lhes esteja relacionado e depois apenas temos de o seguir pelos cenários até que este encontre o seu alvo. Estas mecânicas de jogo podem também serem utilizadas para encontrar toda uma série de objectos secretos, desde comida que nos regenere vida, coleccionáveis e muitos outros itens que poderão posteriormente serem trocados na sede do clube e que nos desbloquearão algum conteúdo extra, como armas poderosas ou roupas alternativas.

O pior deste jogo é mesmo o combate que não é nada bom. Felizmente são poucos os momentos onde somos mesmo obrigados a fazê-lo!

Infelizmente no entanto o combate não é o melhor. Também tal como muitos survival horrors desta época para atacar é necessário entrarmos numa postura de ataque (R1), para depois pressionar o botão de acção para atacar (X). Infelizmente no entanto, Jennifer é uma jovem rapariga, pelo que os seus ataques não são lá muito fortes. Mas o pior é mesmo quando entramos num postura de ataque ficamos completamente trancados no movimento, sendo impossível corrigir a nossa direcção (caso os ataques falhem o alvo) a menos que entremos novamente na postura normal, corrigir posição e activar a postura de ataque novamente. Ora enquanto fazemos isto seguramente já sofremos dano e como devem calcular os itens regenerativos não são tão abundantes assim (na verdade até podem ser se utilizarmos o Brown para os procurar regularmente). Para além disso, o próprio Brown nos pode ajudar no combate. Não podemos ordená-lo para atacar algum inimigo (como acontece no Haunting Ground por exemplo), mas o cão poderá morder e segurar temporariamente algum inimigo para nos dar mais algum espaço. Mas o cão não é invencível e se sofrer demasiado dano fica inanimado, onde teremos de lhe dar algum item regenerativo também (comida de cão) e esses sim, são mais raros. Ora tudo isto resultou no seguinte: apenas lutei quando a isso era mesmo obrigado, até porque quando não somos, os inimigos tipicamente fazem respawn constante, então acaba por ser bem mais proveitoso fugir.

O nosso companheiro Brown pode ser usado para procurar itens escondidos ao longo do jogo, muitos deles que nos darão acesso a alguns extras

A nível audiovisual este é no entanto um jogo muito interessante. Apesar da originalidade de grande parte do jogo se passar a bordo de um dirigível, também peca por os cenários aí não serem tão variados quanto isso. As criaturas estranhas que nos atacam não são propriamente assustadoras, mas todo o jogo tem uma atmosfera pesada, com cenários escuros acompanhados de uma música ambiental repleta de suaves, porém bastante melancólicas e por vezes sinistras, melodias de piano e/ou violino, o que acaba por resultar muito bem até tendo em conta que o jogo se passa em 1930. A acompanhar tudo isto vamos ter também algumas cut-scenes CGI muito boas para a época e repletas de cenas algo perturbadoras!

Foi por cenas como esta que o jogo acabou por ser banido nalguns locais

Portanto este Rule of Rose acaba por ser um jogo bastante interessante, com uma componente visual forte e muito bem definida pela Punchline que, com um catálogo de jogos bem reduzido antes de produzirem este Rule of Rose, conseguiram criar um jogo bem interessante, apesar dos seus defeitos. O maior defeito para mim é o sistema de combate e se calhar fiquei também um pouco decepcionado por todo o hype que se gerou em volta do jogo e do seu cancelamento no Reino Unido. Consigo entender bem o porquê de alguns alarmes terem soado na Europa em 2006, mas apesar de perturbador, o jogo não tem nada que seja verdadeiramente escandaloso e que justificasse o seu banimento no UK.

Guilty Gear XX Accent Core (Nintendo Wii)

Depois do Guilty Gear X2 #Reload, a Arc System Works lançou um novo update intitulado Guilty Gear XX Slash que, para além de balanceamento de personagens e novos golpes, introduz também duas novas personagens, uma dela a A.B.A. que já havia sido introduzida no Guilty Gear Isuka. Esse lançamento é depois trazido para a PS2 mas infelizmente fica-se pelo Japão. Um ano depois, foi tempo do GGXX receber mais um update (e não foi o último!) e esse já sai fora do Japão para a PS2 e para a Wii. Infelizmente a versão PS2 acabou por não sair na Europa, tendo recebido no entanto a versão Wii, distribuída pela 505 Games e que cá trago hoje. O meu exemplar foi comprado em Maio de 2020 numa Cash Converters e custou-me 8€.

Jogo com caixa, manual e papelada

A série Guilty Gear é uma série de jogos de luta em 2D altamente técnica e a Arc System Works neste novo update, para além dos habituais rebalanceamentos, decide incluir ainda mais novas técnicas para ter em conta, como os Force Breaks e os Slashbacks, estes últimos sendo uma forma de parrying. Portanto esperem por um jogo de luta bastante técnico e um CPU que não dará tréguas, especialmente em combates mais avançados. A versão Wii suporta vários esquemas de controlo, incluindo usar o wiimote e nunchuck, algo que eu nem me atrevi a usar. O comando de Gamecube também é suportado, mas acabei por usar um Classic Pro Controller que é o que acaba por resultar melhor. Nas opções vejo que há várias possibilidades de customizar os controlos para facilitar a execução de movimentos especiais, o que dará jeito aos desgraçados que apenas possuam o wiimote e nunchuck.

Algumas arenas são bem conhecidas de títulos anteriores mas aparecem aqui com um novo aspecto

A nível de modos de jogo, o story mode deixou de existir, mantendo no entanto os já habituais modos arcade, versus , survival e medal of millionaire, este último uma espécie de score attack que tradicionalmente vem incluído nos Guilty Gear. Naturalmente, um modo de treino está também incluido, para quem quiser practicar ao detalhe todas as mecânicas de jogo. Á medida que vamos jogando, gastando inúmeras horas no jogo e completando vários dos seus desafios, poderemos também vir a desbloquear uma série de extras, a começar por uma galeria com artwork que vai sendo preenchida sempre que terminarmos o modo arcade com cada personagem. Versões alternativas de cada personagem vão também sendo desbloqueadas, permitindo-nos também optar por usar mecânicas de jogo características do primeiro Guilty Gear ou Guilty Gear X. Versões alternativas de cada arena poderão também ser desbloqueadas.

No que diz respeito aos gráficos, sinceramente já nem sei o que mais dizer desta série nesse aspecto. As personagens são bastante originais, bem distintas entre si, e possuem muitos ataques completamente bizarros. São extremamente bem detalhadas e animadas e os cenários também são incríveis na quantidade de detalhe. Tudo isto a acompanhar de uma banda sonora mesmo ao meu gosto, com várias músicas heavy metal, cheias de riffs enérgicos e solos orelhudos. A parte audiovisual é tão boa que é uma pena que no meio do caos de todos os combates frenéticos nem consigamos apreciar bem as coisas à nossa volta.

Algumas personagens são bastante bizarras, mas as suas animações são excelentes!

Portanto estamos aqui perante mais um óptimo jogo de luta e a versão Wii felizmente suporta vários métodos de controlo. No entanto esta ainda não é a última revisão do Guilty Gear XX/X2. Nos anos seguintes saíram pelo menos mais duas, pelo que creio que essas versões potencialmente poderão ser mais interessantes para quem quiser uma versão definitiva do GGXX. A primeira dessas versões é a Guilty Gear XX Accent Core Plus, que eu tenho na PS2 e em breve planeio explorá-la um pouco mais a fundo.

Legend of Sayuki (Sony Playstation 2)

Kiki KaiKai, ou como é conhecida cá no ocidente como Pocky & Rocky, é uma série de interessantes shmups com as suas origens nas arcades da Taito, algures no final da década de 80. A temática é sempre a mesma, controlamos uma shrine maiden, uma espécie de sarcedotisa que tomam conta de templos japoneses, nas suas aventuras de exorcizar uma série de demónios. É uma série que conta já com alguns jogos no seu catálogo e este Legend of Sayuki seria para ser um novo capítulo da saga. Entretanto problemas no seu desenvolvimento surgiram, o acordo com a Taito/Square Enix caiu e a Starfish redesenhou todo o jogo, removendo todas as referências a Pocky and Rocky, para o conseguir publicar. Felizmente a 505 Games conseguiu publicá-lo na Europa algures em 2008. O meu exemplar foi comprado numa CEX por 10€ há uns meses atrás.

Jogo com caixa e manual

Neste jogo controlamos então Sayuki, uma deusa da neve, que vê um rapaz da aldeia vizinha, de quem ela gosta, vítima de uma maldição que o deixou num estado dormente. Então, para curar o rapaz teremos de cozinhar uma poção mágica, onde acabamos então por visitar diversos lugares diferentes em busca de cada ingrediente. Pequeno spoiler: este jogo sofre do mesmo síndrome dos Ghosts ‘n Goblins / Ghouls ‘n Ghosts no que diz respeito à história, ou seja, após chegarmos ao “fim” da primeira vez, somos convidados a rejogar tudo de novo para ver o final verdadeiro. Por outro lado, se decidirmos jogar com um amigo, é possível jogar cooperativamente, mas com uma história diferente colocando a irmã de Sayuki como personagem jogável para o segundo jogador.

Ao contrário do original, que devido à sua natureza arcade, possui níveis curtos mas desafiantes, os níveis aqui são bem grandes e amplos

A nível de mecânicas de jogo, este é um shmup onde nos podemos movimentar livremente pelo ecrã. Temos um botão de ataque normais, outro para evasão, um outro para ataques especiais e como é habitual em shmups, vamos tendo uma série de power ups para apanhar. Desde itens regenerativos ou outros que extendem mesmo a nossa barra de vida, vidas extra, upgrades para os nossos ataques normais, ou mesmo upgrades para os ataques mágicos. Geralmente quando derrotamos um inimigo eles deixam as suas almas para trás e podemos apanhá-las, servindo estas de munição para os nossos ataques especiais. Sendo Sayuki uma deusa da neve, os nossos ataques especiais consistem em ataques de gelo, capazes de congelar uma série de inimigos com os quais entram em contacto. Uma vez congelados, podemos destruí-los de uma só vez, o que nos dá mais pontos e também mais almas para apanhar.

Os bosses são sem dúvida o que nos vão dar mais trabalho

É um grande desafio, especialmente quando defrontamos os bosses, pois temos de nos estar constantemente a desviar dos projécteis inimigos e temporizar bem os nossos ataques especiais para conseguir anular alguns dos ataques inimigos. Mas o maior desafio está mesmo na ausência da possibilidade de gravar o progresso no jogo. A única coisa remotamente parecida é que o jogo grava o nosso highscore e desbloqueiam os bosses que já derrotamos na história para o boss rush mode. Podemos também vir a desbloquear a opção de stage select mas sinceramente não sei como. E sendo este um jogo algo exigente, não só a nível de dificuldade mas também na duração de cada nível, parece-me muito despropositado não se poder gravar o progresso a meio da aventura.

Graficamente é um jogo interessante, porém um pouco mais de detalhe não fazia mal

A nível audiovisual é um jogo minimamente competente. Eu adoro jogos com um look retro e em 2D e foi isso que mais me chamou à atenção neste jogo, muito antes de saber que era um sucessor espiritual de KikiKaiKai/Pocky & Rocky. As sprites é verdade que não são muito detalhadas, mas o design das mesmas (e dos níveis em si) estão repletos de referências a elementos do folclore japonês, algo que me agrada bastante. As músicas é verdade que poderiam ser mais interessantes. Possuem na mesma vários temas alusivos ao folclore japonês, mas não são tão memoráveis assim. De resto, nota-se bem que é um jogo budget, pois não temos qualquer voice acting e as cutscenes, que só existem no início e final do jogo, são representadas por imagens estáticas acompanhadas por texto.

Portanto este Legend of Sayuki (conhecido nos Estados Unidos como Heavenly Guardian), é um jogo interessante para quem quiser algo com um feeling mais retro. Existem no entanto algumas arestas a serem limadas com a impossibilidade de gravar o progresso no jogo e se o mesmo tivesse mais tempo/budget para desenvolvimento, talvez os audiovisuais pudessem ser ainda mais melhorados.

Brothers: A Tale of Two Sons (PC)

Como não há duas sem três, o próximo artigo é também uma rapidinha a um outro indie que entretanto terminei. E este Brothers: A Tale of Two Sons há muito que estava no meu backlog e quando finalmente peguei nele, acabou por se revelar uma óptima surpresa. Apesar de ser perfeitamente possível jogá-lo sozinho, é fortemente recomendável que o joguemos inteiramente de forma cooperativa local. Este meu exemplar terá chegado à minha colecção por intermédio de algum bundle, para não variar muito.

BrothersAqui somos levados a um belo mundo fantasioso, repleto de criaturas fantásticas, paisagens belíssimas, ruínas de outras eras e não só. Aqui tomamos o papel dos irmãos Naia e Naiee, que acordam um dia para verem o seu pai gravemente doente. As primeiras mecânicas de jogo são logo aprendidas ao tentar transportar o pai até ao médico da aldeia: os dois irmãos têm de se ajudar ao levar a maca, mas também ao mexer em várias alavancas e afins de forma a ultrapassar alguns obstáculos. Naiee é mais novo, não tem a mesma força física do irmão mais velho, mas por outro lado é um pouco mais ágil e sendo pequeno consegue-se esgueirar por sítios mais apertados. Creio que já dá para ter uma ideia do estilo de cooperação que é necessário ter neste jogo. E tal como referi acima, apesar de ser possível jogá-lo todo sozinho, é preferível ter a ajuda de alguém, principalmente se tivermos a utilizar o teclado. Naia controla-se com o WASD mais a tecla de espaço para botão de acção, Naiee controla-se com as setas do teclaco mais o Ctrl direito para tecla de acção. Manter os 2 irmãos coordenados de forma independente pode ser chato em algumas ocasiões.

O jogo está repleto de paisagens fantásticas e pequenos detalhes
O jogo está repleto de paisagens fantásticas e pequenos detalhes

Para além das mecânicas de jogo, a narrativa e os visuais são outros pontos fortes desta aventura. A primeira é bastante dramática até porque a mãe dos dois rapazes morreu afogada e por isso o mais novo tem trauma com a água, impossibilitando-o de nadar. Claro que não vão faltar alturas no jogo onde teremos mesmo de nadar… Depois temos a questão da língua ser um dialecto estranho, completamente imperceptível, mas no entanto conseguimos compreender perfeitamente o que está a acontecer e qual o teor das conversas. Faz-me lembrar de certa forma os jogos da Team Ico de Fumito Ueda! Mas não só nesta narrativa peculiar, nos visuais também é perfeitamente notório que este é um jogo inspirado nos projectos da Team Ico, com as suas paisagens belíssimas, ruinas e cidades fantasiosas para serem exploradas. Experimentem-no!