Daytona USA (Sega Saturn)

Daytona USA PAL coverSe na segunda metade dos anos 90 fossemos a uma sala de máquinas Arcade e perguntássemos a qualquer puto que por lá andasse qual era o seu jogo favorito da sala, a probabilidade da resposta ser Daytona USA era elevada. De facto, Daytona USA foi um dos jogos arcade mais bem sucedidos de sempre (senão o com mais sucesso). Lançado originalmente em 1993 para o sistema Model 2 através do já mítico estúdio AM#2 de Yu Suzuki, Daytona USA foi um dos primeiros jogos 3D com texturas lançados no mercado. O que é que tornou este jogo num fenómeno de “desperdício” de moedas? Para além de ser um dos jogos mais bonitos em 1993/1994, a sensação de velocidade era fantástica. Daytona USA (em arcade) corre nuns 60fps lisinhos e constantes. Para quem não sabe, Daytona USA é um jogo de corridas inspirado nas corridas de stock-cars americanos (NASCAR por exemplo), sendo que o circuito de Daytona é um dos mais conhecidos. Este jogo na sua versão arcade conta com 3 circuitos diferentes, com graus de dificuldade crescente. Existem também 2 carros, um com mudanças automáticas, outro com mudanças manuais.

Daytona USA
Cabine dupla de Arcade

Mas este post não é sobre a versão arcade, mas sim a versão Sega Saturn. Ora a minha cópia está impecável e foi comprada por um preço muito simpático, através do miau.pt, no ano passado. E o que se pode dizer desta conversão? Bom, antes disso vamos falar um pouco mais da história da Sega Saturn que eu não falei de tudo no respectivo post deste sistema.

Daytona USA
A minha cópia do jogo + manual multilingue

A Saturn estava inicialmente anunciada para sair no mercado americano no “Saturnday”, dia 2 de Setembro de 1995. Ora a Sony aproveitou essa deixa para anunciar o lançamento da PS1 no dia 9 do mesmo mês. Na E3 de 1995, a Sega anunciou que o “Saturnday” eram tretas e que a consola iria estar disponível imediatamente nalguns distribuidores. Anteciparam completamente por surpresa o lançamento uns 4 meses. Ora se as coisas tivessem sido bem feitas, o delay de 4 meses para o lançamento da PS1 poderia realmente ter dado cartas, mas o anúncio apanhou toda a gente desprevenida, incluindo as produtoras que se viram forçadas a lançar produtos “inacabados” no mercado. Logo aí já foi uma má jogada da Sega para alienar as produtoras do seu sistema, para somar à enorme dificuldade em desenvolver para o sistema, fruto da arquitectura interna complicadíssima da própria consola. A Saturn saiu no mercado americano com 3 jogos: Virtua Fighter, Daytona USA e Panzer Dragoon. 3 jogos dos estúdios da Sega, pois os restantes foram todos apanhados de supresa e foi um verão um pouco complicado para a Saturn que foi vendo poucos jogos a serem lançados até ao Outono. Infelizmente não foram só os estúdios externos que foram apanhados de supresa e se já viram o Virtua Fighter 1 original para a Saturn todo quadrado, dá para ter uma ideia do quão apressada a sua conversão foi. Infelizmente Daytona USA também cai nesta categoria.

Screen
Daytona USA com sistema de danos no veículo, algo que Gran Turismo só implementou no 5 😛

Dos 60fps sólidos na versão arcade, a conversão Saturn apresenta uns 20. Os detalhes dos carros, das pistas, das paisagens, ficaram bem mais pobres, e a “draw distance” (a distância em que o horizonte era desenhado, digamos assim) era bastante curta. Ainda assim, o charme estava lá. A jogabilidade com que a versão arcade era conhecida está aqui também e só por essa razão já valia a compra. Naquele tempo as conversões arcade para as consolas caseiras pouco conteúdo extra tinham, ao contrário das conversões actualmente, onde inventam vários novos modos de jogo. Em Daytona USA temos o modo Arcade e o modo Saturn. O modo Arcade é auto explanatório, tem as mesmas opções do original. As corridas têm um timer decrescente que é actualizado com mais tempo sempre que se passa num checkpoint. Se o timer chegar a zero, game over. O modo Saturn elimina o timer, permite escolher mais 2 carros para além dos originais e permite também correr nos 3 circuitos de forma inversa. A nível de música, acho que quem jogou lembra-se perfeitamente da voz “Daytonaaaaaaa”, mesmo ao fim de todos estes anos.

Os fãs reconheceram que esta conversão ficou aquém das expectativas e à semelhança de Virtua Fighter 1, a Sega decide mais tarde lançar uma versão melhorada deste jogo, de nome Daytona USA: Championship Circuit Edition, onde para além de melhor grafismo, introduziu novas pistas, novos carros, etc. Mas isso são coisas de uma outra análise, assim que comprar a minha cópia. Também houve uma conversão para Dreamcast com suporte a jogo online e um novo port em HD para as arcades, lançado no ano passado sob o nome “Sega Racing Classic”. Infelizmente a sequela real Daytona USA 2 existente nas arcades nunca viu nenhuma conversão para o mercado caseiro.

Para concluir, acho que apesar de tudo, Daytona USA é um clássico, mesmo esta conversão pobre. Para os coleccionadores, no ebay uk arranjam-se cópias bastante baratas desta versão, pelo que não é difícil encontrá-la a bons preços. Para quem não for coleccionador, então sempre recomendaria o Daytona USA: CCE, ou mesmo o remake para Dreamcast. Contudo se virem esta cópia ao preço da chuva aproveitem!

Sega Saturn

Esta é uma consola de culto, apesar de ter sido uma das grandes responsáveis pelo declínio da Sega como fabricante de consolas. Apesar de ser um “wanted-item” para mim desde 1996, só em Setembro de 2010 é que finalmente comprei uma. Não desconhecia a plataforma, joguei Saturn várias vezes em casa de amigos meus em 1996-1998, e cheguei a ter uma emprestada durante umas semanas. Bons tempos… Felizmente comprei um modelo impecável com caixa, adquirido no miau.pt. A consola que comprei corresponde ao modelo de 2a geração europeu:

Sega Saturn Box
Caixa Sega Saturn PAL - uma beleza!
O conjunto
Fora da caixa

A Sega Saturn foi lançada originalmente no final de 1994 no Japão e em Maio e Julho de 1995 nos mercados Americano e Europeu respectivamente. Pouco tempo antes, a Sega tinha lançado um autêntico aborto para o mercado chamado 32x, cujo nome de código era Sega Mars. Esse acessório era mais um add-on para a Sega Mega Drive, tornando a mesma numa máquina de 32Bit, e seria um “cheirinho” do que a Saturn viria a ser. Ora como a Saturn estava anunciada para sair pouco tempo depois, os jogadores optaram por ignorar mais um add-on para a Mega Drive e esperar pela máquina a sério. Convém referir que a Sega na altura era um autêntico monstro no mercado, na medida em que dava suporte a imensas plataformas. A saber: Mega Drive, Mega CD, 32x, Game Gear, Master System (nalguns mercados), Nomad (nalguns mercados também) e tinham projectos para mais 3 consolas. A 32x era a Sega Mars, Neptune seria uma Mega Drive com 32x incorporada, Saturn e Jupiter. Saturn e Jupiter eram para ser equivalentes entre si, mas uma com suporte a CD e a outra com cartuchos. Que confusão Sega! O falhanço da 32x levou a Sega a cancelar a Neptune e a Jupiter, focando-se então na Saturn.

Sega Neptune
Sega Neptune

Ora a Saturn desde cedo que ficou conhecida por ter um hardware demasiado complexo, com 2 processadores centrais, 2 processadores gráficos, mais uma panóplia de processadores e microcontroladores para o som, drive de CD-ROM e demais periféricos. Hoje em dia o paralelismo de processamento é algo comum com processadores multi-core. A arquitectura da Sega Saturn é algo diferente, pois apesar de ter 2 processadores, eles não trabalham “ao mesmo tempo”. Como partilham a mesma BUS, acedem a memória em intervalos diferentes. Para piorar as coisas, muita da programação teve de ser feita em assembly, o que é um autêntico inferno para um hardware complexo. Quem já programou em assembly sabe do que falo. Esta foi a principal razão pela qual a Sega Saturn acabou por fracassar, principalmente nos mercados ocidentais. A Playstation surgiu na mesma altura e apesar de aparentemente ter um hardware equivalente em poder de processamento (embora bem menos complexo) oferecia ferramentas de desenvolvimento bem mais agradáveis para as produtoras. Isto aliado a um preço mais baixo, uma campanha de marketing bastante agressiva, erros grosseiros da Nintendo (não incluir suporte a CD na N64), melhores contratos com as produtoras, levaram à Playstation ser o sucesso que foi, bem como a sua sucessora.

Ainda a nível técnico, o hardware da Playstation para além de ser mais simples permitia renderizar alguns efeitos gráficos nativamente como transparências por exemplo, bem como compressão de vídeo. Na Saturn isso tinha de ser feito por software, daí muitas cut-scenes na Saturn não terem a mesma qualidade do que as da PS1. Enquanto a Nintendo 64 não saía para o mercado, era frequente dizer-se que os gráficos da PS1 eram melhores, mas a verdade é que isso se devia à complexidade enorme em programar para a Saturn. Desafio-vos a ir ao youtube e pesquisar “Shenmue Sega Saturn”. O que vão ver é renderizado em tempo real numa Saturn. Mas programar assim é uma tarefa hercúlea e é perfeitamente normal que os produtores que não tenham o “know-how” que os estúdios da própria Sega tinham conseguissem tirar resultados assim tão impressionantes. Contudo, a Saturn brilhou no 2D, onde practicamente todos os jogos 2D são mais fluídos do que as versões PS1.

Mas tecnicismos à parte, vamos ao que realmente interessa em qualquer consola. Os jogos! A Saturn é um autêntico monstro de Arcade. A grande maioria dos jogos de sucesso são conversões de hits da Sega nas Arcades como Daytona USA, Sega Rally, Virtua Fighter, Virtua Cop, Manx TT, etc. Existem também outros jogos de renome como Panzer Dragoon, Nights, Clockwork Knight, Deep Fear, Burning Rangers, entre vários outros multiplataforma de interesse como os originais Tomb Raider e Resident Evil. Infelizmente outra coisa que falhou redondamente foi a política da Sega of America, que barrou muitos jogos japoneses de qualidade por acharem que não fariam sucesso no Ocidente. Infelizmente, um jogo japonês que não receba lançamento americano, muito dificilmente recebe lançamento europeu, sendo assim nós também acabamos por perder devido à idiotice de outros. No Japão, ironicamente a Sega Saturn foi uma consola de sucesso. Mesmo depois do lançamento de Final Fantasy VII para a PS1 as vendas da Saturn continuaram sólidas durante algum tempo, o que lhe foi garantindo vários óptimos jogos que infelizmente não sairam cá. Não apenas RPGs, dating sims e alguns shooters que dificilmente saíriam no ocidente, mas também vários jogos de luta da Capcom e SNK como o Street Fighter Alpha 3, que até hoje os fãs indicam como sendo a versão caseira mais fiel à Arcade. Querem uma ideia do que se ficou pelo japão? Grandia, Lunar Silver Star e Eternal Blue, X-men vs Street Fighter, Marvel Super Heroes vs Street Fighter, Dead or Alive, Radiant Silvergun, Cotton 2, Castlevania Symphony of the Night (com conteúdo extra face à versão PS1), Sakura Taisen, as 2 últimas partes do Shining Force III, entre muitos outros. Ena, obrigado Sega of America e Europe, por terem feito tanta asneirada. Os últimos jogos no ocidente sairam em 1998, enquanto que no Japão foram saíndo até 2000, altura em que a Dreamcast já estava a todo o vapor em todos os mercados. A Sega com tanta derrapagem desde a Mega Drive foi perdendo a confiança dos consumidores e o final da história já todos nós sabemos.

Uma outra característica interessante da Sega Saturn é a capacidade de jogar online. O conceito não é propriamente novo, existiram serviços online para a Mega Drive e a SNES, mas pouca gente os conhece. Nos Estados Unidos foi disponibilizado um serviço de nome NetLink, que permitia surfar a internet, bem como jogar alguns jogos online. Jogos como Duke Nukem 3D, Sega Rally, Daytona USA e Virtual On receberam versões com suporte online. No Japão o serviço tinha o nome de SegaNet Xband e jogos como Virtua Fighter Remix, Worldwide Soccer 98, Sega Rally, Daytona USA, entre outros, também tinham a componente online. Na Europa, ficamos a ver navios, como sempre.

Saturn com modem Netlink

Concluindo, a Sega Saturn, para quem for um jogador hardcore é um aparelho a comprar, principalmente pelo mercado japonês que é bem mais vasto que o ocidental. É uma máquina que apesar de ter muitos jogos com um 3D manhoso devido ao seu hardware dos infernos, é como se fosse uma NeoGeo 3D. Jogar em casa clássicos como Daytona USA, Sega Rally, Virtua Fighter 2, entre muitos outros jogos Arcade…não tem preço. Para jogos de aventura, RPG, plataforma, desporto, também tem alguns bons títulos, mas nesse quesito a PS1 e N64 levaram a melhor.