Soul Calibur (Sega Dreamcast)

Soul Calibur DreamcastContinuando com artigos sobre jogos de luta vamos agora para o lançamento da Sega Dreamcast, que recebeu um enorme mimo por parte da Namco, que confesso que me surpreendeu bastante na altura. A Namco desde o lançamento da Playstation que se focou quase exclusivamente nessa plataforma, tendo lançado muito pontualmente jogos para outros sistemas, como o Ridge Racer 64 na consola da Nintendo. De resto todo o catálogo de luxo da Namco ficou exclusivo da Playstation, razão essa que me deixou bastante surpreendido a Dreamcast ter recebido uma remasterização de luxo deste Soul Calibur que já existia nas arcades. Este jogo entrou na minha colecção após ter sido comprado a um particular por 6€, há alguns meses atrás.

Soul Calibur - Sega Dreamcast
Jogo com caixa e manual

A história de Soul Calibur decorre poucos anos após o primeiro jogo, Soul Blade, colocando mais uma vez uma série de lutadores de locais e backgrounds completamente distintos em batalhas pela Soul Edge, quer seja para a possuir, quer seja para a destruir. Soul Edge é uma espada mística bastante poderosa e maligna, que está actualmente com Sigfried, cavaleiro germânico que não resistiu à sua tentação, tornando-se agora em Nightmare. A troca de nome deveu-se também a introdução de uma espada antagónica à Soul Edge, a Soul Calibur que é igualmente poderosa mas benigna, sendo também solicitada por muitas das personagens em jogo ao longo da série.

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Ivy é sem dúvida a mais famosa adição à série

A jogabilidade de Soul Calibur introduziu uma maior liberdade de movimentos dentro das arenas, com o “8 way run” que nos permitia mover em 8 direcções. De resto a jogabilidade é extremamente fluída e com button mashings ou não, é um prazer de o jogar e para ultrapassar alguns desafios teremos mesmo de saber o que fazer. As armas são variadas, assim como os próprios lutadores, e essencialmente temos botões para bloquear, dar um pontapé e atacar horizontalmente ou verticalmente com as armas. Naturalmente que existem imensas combinações e golpes especiais para desencadear. De resto, para além do tradicional modo arcade e versus que estes jogos trazem sempre, a edição Dreamcast traz muito mais conteúdo. Aqui podemos encontrar outros modos de jogo que já nos eram familiares em outros jogos de luta, como o Team Battle, onde poderemos escolher um elenco de lutadores para a nossa equipa e defrontar toda a equipa adversária, o Time Attack onde temos de defrontar uma série de inimigos no menor tempo possível, ou mesmo o Survival Mode que consiste em sobrevivermos o máximo de combates possível sem perder nenhum round, sendo que a nossa vida recupera alguns pontos entre cada combate.

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Muito do conteúdo adicional que vamos desbloqueando pode ser visto nesta categoria Museum

Mas o que lhe deu mesmo um factor de replayability muito elevado foi o Mission Mode, que nos coloca numa espécie de aventura ao longo do mundo, onde teremos de derrotar imensos oponentes em desafios com objectivos diferentes: derrotar por ring-out, derrotar o inimigo com imenso vento, derrotar 3 inimigos de uma só vez e por aí fora. Aqui o objectivo é fazermos o máximo de pontos possível para podermos comprar com esses pontos imensas diferentes imagens de artwork do jogo, cuja compra muitas vezes acaba por desbloquear mais conteúdo bónus, como novas vestimentas para os lutadores, ou a possibilidade de os ver no seu Exhibition Mode – um modo de “jogo” onde podemos ver os lutadores com o seu equipamento à escolha a fazerem um exercício de kata. Outros desbloqueáveis no geral consistem claro está em novas personagens e arenas. Ainda temos mais um “Battle Theater” onde poderemos ver 2 lutadores à nossa escolha andarem à porrada entre si, bem como o “Practice Mode” que como o nome indica é um modo de jogo onde poderemos treinar os movimentos de qualquer lutador que tenhamos acesso. Conforme se pode ver, conteúdo é o que não falta neste jogo, e ainda bem, pois por norma a maioria das conversões arcade -> casa deixavam sempre a desejar em conteúdo novo que aumentasse o factor de replayabillity.

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Os efeitos especiais estão também muito bons

Graficamente era um jogo francamente impressionante para os padrões de 1999. Embora a expressão “nextgen” não fosse usada tão regularmente como hoje em dia, este era daqueles jogos que realmente faziam a diferença entre as consolas anteriores e a novíssima Sega Dreamcast. O jogo original saiu nas arcades no sistema Namco System 12, que ainda era baseado na Playstation original, embora já fosse mais poderoso. Para além de os lutadores estarem mais detalhados nesta versão, os backgrounds de cada arena são inteiramente renderizados em 3D, e não imagens estáticas de fundo como existe na versão arcade. Os lutadores são bem diferentes entre si e muitos deles possuem um carisma próprio, e personagens como a Ivy ainda não estão demasiado sexualizadas como tem vindo a acontecer a cada nova iteração da série. As músicas são bastante épicas com várias orquestrações, como aliás tem vindo a ser habitual em toda a série e aqui não é excepção.

É fácil perceber o porquê de Soul Calibur para a Dreamcast ter sido tão aclamado na altura e ter despoletado definitivamente o sucesso da série nos anos seguintes. Para além de uns visuais de luxo, tinha uma jogabilidade bastante fluída e acima de tudo, oferecia imenso conteúdo extra com que nos entretermos. Se estas não são razões suficientes para o quererem ter na vossa colecção, então não sei o que mais vos poderá convencer.

Sonic Adventure (Sega Dreamcast)

Sonic AdventureOra cá está um jogo que merecia um artigo tão extenso quanto eu pudesse escrever, mas infelizmente não vai dar. E a razão para isso é a de já ter escrito uma análise ao Sonic Adventure DX da Nintendo Gamecube, que é uma conversão do mesmo jogo, mas com mais alguns extras. Costumo dentro dos possíveis fazer o contrário: analisar primeiro o jogo original e posteriormente escrever um artigo mais curto a uma conversão mais recente. Mas como só vim a ter uma Dreamcast uns anos após eu ter comprado a minha Gamecube, a versão da Nintendo chegou primeiro. Assim sendo recomendo sempre que dêm uma leitura a esse artigo para mais detalhes. E esta versão original da Dreamcast entrou na minha colecção há umas meras semanas atrás, cortesia do Victor Moreira do The Games Tome / PUSHSTART ao qual eu muito agradeço. E o jogo estava selado!

Sonic Adventure - Sega Dreamcast
Jogo completo com caixa, manuais e um catálogo de jogos da Dreamcast, que inclui um anúncio ao Half-Life que nunca chegou a sair.

Durante muito tempo os fãs da Sega esperavam um verdadeiro jogo do Sonic em 3D. O Sonic 3D para a Mega Drive / Saturn foi apenas algo para “desenrascar”, o Sonic Xtreme teve um desenvolvimento conturbado e nunca chegou a sair e para piorar as coisas, a Saturn teve um final muito precoce, especialmente em solo ocidental deixando esse vazio na Sega, enquanto as concorrentes tinham pérolas como Super Mario 64 ou Crash Bandicoot. Assim sendo, Sonic Adventure tinha uns big shoes to fill, e foi naturalmente um jogo muito ansiado pelos fãs da empresa nipónica. O resultado foi para mim, um jogo que me agradou bastante na altura em que o joguei, mas hoje já nem por sombras. Isso por várias razões: personagens como o Big the Cat e os seus níveis com a cana de pesca, ou a quantidade absurda de abismos sem fundo. Mas trouxe claro coisas boas! Os níveis super rápidos do Sonic, alguns minijogos e a criação de Chaos, que podiam ser transferidos para o VMU da Dreamcast, funcionando assim quase como se um Tamagotchi se tratasse.

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Penso que foi mesmo este nível que vi pela primeira vez no saudoso Templo dos JOgos e que tanto me impressionou

Em relação aos gráficos, lembro-me perfeitamente de no inverno de 1998 ter visto no Templo dos Jogos um vídeo de jogabilidade deste jogo no fecho do programa. Algo do género: “A Dreamcast já foi lançada no Japão, benvindos à próxima geração de videojogos”. E com essa frase mostravam o Sonic a speedar em vários níveis distintos e um fio de baba a correr-me pelo queixo. Hoje em dia, as coisas não são assim tão famosas. Graficamente era um jogo muito rico em cores e diferentes cenários, mas os modelos poligonais das personagens ainda eram bastante simples e a Dreamcast é capaz de muito melhor, como pudemos ver depois. O voice acting também deixava algo a desejar (como infelizmente acontece em practicamente todos os jogos do ouriço azul), mas as músicas eram realmente excelentes e há temas deste jogo que ainda hoje são reaproveitados pela Sega.

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Este jogo marcou também uma mudança radical no visual do ouriço e dos seus amigos. Mas claro que também trouxe amigos novos que trouxeram alguma polémica

No fim de contas, este é um jogo que na altura recebeu óptimas críticas, por mim inclusivamente, mas acho que envelheceu bastante mal. Ainda assim, não deixa de ter os seus óptimos momentos e continua a ser uma pedra basilar no catálogo da última consola que a Sega nos trouxe. De resto poderão-me fazer a pergunta: deveremos comprar este jogo ou a versão DX para Gamecube ou PC? Bom, a versão GC traz uma série de extras como missões e jogos da Game Gear para desbloquear, para além de ter os gráficos numa resolução maior, me parece. Mas ainda assim, o jogo tem algumas quebras de framerate bem chatas, pelo que a escolha entre um e outro fica algo difícil. Sendo assim, why not both?

ChuChu Rocket! (Sega Dreamcast)

ChuChu RocketVoltando agora à consola que se tornou no canto do cisne para a Sega enquanto fabricante de consolas de videojogos para uma análise ao jogo que deu o kick-off definitivo à jogatina online em consolas. ChuChu Rocket é um puzzle/party game bastante alucinado, desenvolvido pela Sonic Team e com vários modos de jogo que podem ser jogados localmente ou online, com um máximo de 4 pessoas. Já não me recordo ao certo quando e onde comprei este jogo, mas penso que tenha sido no ano passado e não me terá custado mais de 5€.

ChuChu Rocket! - Sega Dreamcast
Jogo completo com caixa e manuais

Escrever sobre história num puzzle game pode parecer um pouco idiota na medida em que a mesma muito pouco influencia na jogabilidade, mas basicamente este é um jogo do “gato e do rato no espaço”. O planeta dos ratos ChuChus vêm-se subitamente invadidos por um monte de KapuKapus (gatos) e para se safarem da situação têm de escapar para os seus foguetões e fugir o mais rápido possível. Pois bem, o nosso papel, em qualquer um dos modos de jogo disponíveis é indicar o caminho aos ChuChus até um dos foguetões, evitando os KapuKapus pelo caminho. Essencialmente teremos ao nosso dispor um tabuleiro com vários foguetões e paredes, e tal como nos jogos dos Lemmings, os ChuChus movem-se sempre numa direcção uniforme, pelo que teremos de colocar no tabuleiro algumas setas (cima, baixo, esquerda ou direita) para que, quando os Chuchus pisem essa tela, alterem a direcção para a que nós indicamos. Depois as paredes do tabuleiro também entram em jogo, pois sempre que os ChuChus encontram uma parede, viram para a sua direita, seguem cantos, ou no caso de túneis voltam para trás. E também deveremos ter isso em atenção.

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O multiplayer disto pode-se tornar caótico e destruir comandos da Dreamcast. Ou amizades.

Bom, o conceito parece bastante simples: indicar o caminho que os ChuChus têm de percorrer até chegar a um fogetão. Mas as coisas ficam bem mais caóticas quando temos os gatos em jogo que também seguem os mesmos caminhos, buracos, eventos especiais, ou outros jogadores a “minar-nos” o esquema. E com estas noções básicas de jogabilidade, podemos dividir o jogo em 4 modos de jogo distintos: 4 Player Battle, Team Battle e Puzzle e Challenge Stage. O primeiro é um modo de jogo competitivo “todos contra todos” que pode ser jogado contra o CPU, localmente com até mais 3 amigos ou online também para 4 jogadores. Aqui cada jogador deve tentar encaminhar o máximo de ChuChus para o seu próprio foguetão e evitar ao máximo que o gato coma os ChuChus ou alcance o seu foguetão, penalizando o jogador com menos um terço dos ratos obtidos até à altura. Aqui vale tudo, e as coisas ficam mesmo caóticas com a possibilidade de para além de tentarmos recolher o máximo de ratos possível, podemos também complicar as coisas para os outros jogadores. E as coisas ficam caóticas também porque apenas podemos colocar 3 “setinhas” diferentes de cada vez, com as próximas a apagarem as anteriores. E para além disso, ao fim de 10 segundos as setas que colocamos desaparecem, obrigando-nos a estar constantemente a jogar.

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Também podem ocorrer eventos especiais que alterem temporariamente as coisas, como uma enchente de KapuKapus

O Team Battle é um modo de jogo semelhante, mas os 4 jogadores ficam divididos em equipas de 2 para cada lado e também é possível jogar com oponentes humanos ou com/contra o CPU. O Puzzle mode, essencialmente um modo meramente single player e com regras diferentes. Aqui apenas dispomos de um número muito limitado de movimentos que é prédefinido em cada nível, e a ideia é mesmo colocar essas setinhas que nos dão em locais certos no tabuleiro, para que consigamos guiar um carreirinho inteiro de ChuChus para o foguetão. Se algum rato for comido por um gato, ou caiam nalgum buraco, teremos de recomeçar o nível. Ainda temos os Challenge Stages, que são uma mistura entre os Puzzle e a jogabilidade normal, onde temos de cumprir uma série de objectivos dentro de um tempo limite. Quanto melhor for o nosso tempo, melhor.

Graficamente é um jogo extremamente simples, tanto que até existe uma conversão deste jogo para a Gameboy Advance e sinceramente, tirando o som, não se perde muita coisa. Mas como o estilo de jogo não exige mais, acho que está bem assim. Os ChuChus e os KapuKapus são do padrão bonitinho japonês, e o jogo apesar de simples, tem o seu charme. Os efeitos sonoros são simples, já as músicas também vão sendo alegres, algo “silly” como o jogo, mas que acabam também por nos viciar.

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No modo puzzle basta um KapuKapu comer um ChuChu para termos de tentar novamente

Por fim devo afirmar que nunca cheguei a jogar online na Dreamcast, para além de não ter tido uma no seu hey-day, os meus amigos que tinham uma também não se deram ao trabalho de o fazer. Afinal todo o tempo era precioso em ligações por dial-up. Acredito perfeitamente que apesar deste ser um jogo simples, se tenha tornado num bom vício para muitos portadores da máquina dos sonhos da Sega, pelo menos aqueles que tiveram a sorte de a ter ligada com o broadband adapter em ligações de banda larga. É que para além destes modos de jogo, ainda poderíamos criar os nossos níveis e partilhá-los com todo o mundo, num servidor dedicado da Sega para o efeito. É certo que já houveram vários serviços online em consolas anteriormente, tanto para a Saturn, Mega Drive, Super Nintendo ou outras como a própria Famicom, mas a Dreamcast e a sua Dreamarena/SegaNet foi certamente a primeira tentativa globalizada de lançar o online gaming aos nossos sofás.

Dynamite Cop (Sega Dreamcast)

Dynamite CopRecentemente escrevi sobre o beat ‘em up em 3D da Saturn chamado Die Hard Arcade. E nesse artigo referi que o jogo saiu no Japão como Dynamite Deka, com a ligação à franchise Die Hard a ver-se apenas nas versões ocidentais. E no sistema arcade Model 2 da Sega o Dynamite Deka viu uma sequela (Dynamite Deka 2), conhecida no ocidente como Dynamite Cop, nome que acabou por chegar também à Dreamcast como um jogo de primeira geração. A minha cópia deste jogo chegou-me à colecção no verão de 2013, tendo sido comprada por uma quantia entre os 5 e 6€ a um particular.

Dynamite Cop - Sega Dreamcast
Jogo com caixa e manual

A história por detrás deste Dynamite Cop é exactamente a mesma de Die Hard Arcade excepto numa coisa. Em vez de ser passada num arranha-céus à lá Nakatomi Plaza, desta vez passa-se num navio tomado de assalto por piratas modernos, tornando todos os passaggeiros reféns, incluindo mais uma vez a filha do presidente. O vilão é mais uma vez o velhote Wolf Hongo e os seus capangas cada vez mais bizarros.

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Só por este cast se vê logo que este é um jogo “bem disposto”

Quem jogou Die Hard Arcade, irá-se sentir completamente em casa neste Dynamite Cop. A jogabilidade é muito, mas mesmo muito semelhante. Mais uma vez dispomos de imensas armas que podemos utilizar, desde armas no verdadeiro sentido da palavra como facas, revólveres, metralhadoras até lança rockets capazes de gerar uma mini explosão nuclear (mas no entanto o jogador não é afectado), bem como os mais variadíssimos objectos do meio ambiente. Desde vassouras, cadeiras, canos, até comida como carcaças de animais numa cozinha, a variedade é realmente grande e a diversão que isso implica também o é. Existem inicialmente 3 lutadores diferentes com os quais podemos jogar, 2 rapazes e uma mulher, cada qual com os seus próprios golpes e combos. Esses golpes também são uma delícia de se executarem, especialmente aqueles em que os atiramos ao chão e ainda lhes partimos uns quantos ossos. E depois ainda podemos pegar nos corpos e usar como arma!

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Os quick time events e replays estilosos regressaram

Existem mais algumas diferenças face ao primeiro jogo. Na movimentação, o Die Hard Arcade, apesar de podemos movimentar as personagens num espaço 3D, as mesmas apenas se podiam virar à esquerda ou direita, como nos clássicos dos 16-bit. Aqui já se podem virar nos vários sentidos, fazendo com que a hit detection tenha de ser mais precisa. Depois para além dos objectos que podemos utilizar como armas e outros para regenerar a vida, existem uns outros com um P de powerup. Ao coleccionar uns quantos destes itens ficamos temporariamente mais fortes e mais rápidos. Outra diferença engraçada é as nossas personagens perderem alguma roupa consoante o dano que vão sofrendo.

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Tranquilizer Gun, o jogo clássico que podemos desbloquear

Outra diferença é a maneira como podemos começar o jogo. Para nos infiltrarmos no navio, podemos escolher 1 de 3 maneiras: de páraquedas, scuba-diving, ou aproximar-nos do navio por um pequeno barco. Estas 3 possibilidades (ou missões) resultam em diferentes rotas que são levadas ao longo do jogo, embora partilhem algumas salas em comum, como as dos bosses. Apesar de ser um jogo curto, o facto de existirem estas 3 diferentes rotas acabam por oferecer um maior factor de “replayability“, bem como existirem outros extras a serem desbloqueados, como personagens extra ou novos modos de jogo. Ao completarem-se essas 3 missões, desbloqueamos outras 3, sendo versões bem mais complicadas das primeiras. Dispomos também de um modo versus para 2 jogadores e um survival mode onde tempos de aguentar com uma wave de 100 inimigos.

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As três personagens com as quais podemos jogar de início

Mas de resto, ainda há algumas semelhanças com Die Hard Arcade que devem ser referidas: Entre cada sala, há um pequeno “action stage“, onde temos uns curtos quick-time-events, geralmente com a nossa personagem a correr por um corredor, prestes a cruzar-se com um bandido. Se o botão requirido for pressionado na altura certa, damos um mega golpe no infeliz e seguimos a nossa vida. Se falharmos, então para além de levarmos dano, geralmente teremos de lutar numa sala extra. Por fim resta-me referir também o sistema de continues. No Die Hard Arcade podiamos jogar um jogo do período triássico das Arcades, nesse caso o Periscope da Sega, de forma a amealhar continues. Neste Dynamite Cop podemos fazer o mesmo, desta vez o jogo escolhido foi o Tranquilizer Gun.

Visualmente não é o melhor jogo de sempre numa Dreamcast, pois é uma conversão directa de um jogo saído para a Model 2, um sistema arcade excelente na altura em que saiu, mas já obsoleto aquando do lançamento da DC. Ainda assim é um jogo bastante colorido e detalhado quanto baste para ser agradável aos olhos. No entanto, notam-se que nas cutscenes em CG, foram utilizados modelos poligonais muito mais detalhados que os visíveis no jogo normal. Mas o que é realmente agradável é mesmo o espírito bem humorado presente em todos os inimigos, muitos deles vestidos de forma ridícula. Afinal não é em todos os jogos que temos como um boss um cozinheiro, ou inimigos mascarados de tubarões. O trabalho no audio é competente, as falas são simples, mas tendo em conta que é um jogo arcade e uma sátira aos filmes de acção de Hollywood parece-me enquadrar-se bem. O mesmo pode ser dito das músicas que apesar de não serem tão memoráveis quanto outros clássicos como Daytona USA ou Sega Rally, mantém a mesma identidade que a Sega nos habituou.

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Os cenários vão sendo bastante variados e com muita interactividade

No geral acho este Dynamite Cop um óptimo beat ‘em up, tendo sido lançado numa altura em que o género já não tinha a mesma importância que no início da década de 90. É um jogo curtinho, mas a Sega ainda tentou colmatar essa falha ao incluir outros modos de jogo, o minijogo Tranquilizer Gun, personagens secretas para desbloquear e vários coleccionáveis que se traduzem em imagens para o “Gallery Mode”. Quem gostou de Die Hard Arcade, sabe perfeitamente o que esperar deste Dynamite Cop.

Sega Rally 2 (Sega Dreamcast)

Sega Rally 2

O Sega Rally original da Sega Saturn é muito provavelmente o meu jogo de corrida preferido de todos os tempos. E eu não sou um grande fã de jogos de corrida, para mim têm de ser bastante arcadey ou então mais futuristas à lá Wipeout ou F-Zero. E o Sega Rally original teve direito a uma excelente conversão para a Sega Saturn, traduzindo-se numa das melhores experiências arcade que alguma vez chegou a uma plataforma 32bit. Naturalmente, como na década de 90 as arcades ainda não estavam num declínio tão acentuado assim, uma sequela foi produzida pela mesma equipa que trabalhou no original, mas para o avançadíssimo sistema Model 3. Com o lançamento da Dreamcast, uma conversão para a consola pareceria obrigatória e foi isso mesmo que aconteceu. A minha cópia deste jogo deu entrada na colecção algures durante o verão do ano passado, tendo sido comprada a um particular por uma quantia entre os 5 e 6€.

Jogo completo com caixa, manuais, papelada e uma sleeve exterior de cartão que a Ecofilmes resolveu inventar

O problema com o Sega Rally original é que era simplesmente uma conversão do jogo da  arcade, com 2 carros e 3 circuitos, com um carro e circuito secretos a desbloquear ou por cheat codes, ou pela habilidade de chegar ao final em primeiro lugar. E por muito bom que Sega Rally na Sega Saturn tenha sido, o facto de ser um jogo muito curtinho acabou por o prejudicar. Este Sega Rally 2 acaba por colmatar algumas dessas falhas, mas no geral continua a ser pouco mais do que um jogo arcade. Dispomos então dos seguintes modos de jogo: Arcade (conversão directa), 10 year championship, que como o nome indica é uma espécie de campeonato ao longo de uma década, uma vertente multiplayer para 2 jogadores em splitscreen e por fim o Time Attack, onde lutamos por obter o melhor tempo possível.

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Graficamente é um jogo bem mais polido que o primeiro, tal como seria de esperar.

O modo Arcade é uma conversão directa do original, onde dispomos de 4 circuitos para jogar: Desert, Mountain, Snowy e Riviera, com a hipótese de escolhermos um de 8 carros disponíveis logo ao início. O 10 year championship apresenta mais 2 circuitos: os Muddy e Isle. Neste modo de jogo, à excepção do circuito Riviera, todos os outros possuem 3 variantes, resultando assim num muito maior número de pistas disponíveis face ao jogo original. Neste modo de jogo iremos correr na mesma em 4 circuitos em cada “ano”, no entanto o grau de dificuldade vai ser cada vez maior à medida em que vamos progredindo na temporada. Apesar de continuar a ter uma jogabilidade bastante arcade, aqui incluiram mais algumas customizações que podemos fazer antes de cada circuito, como alterar a suspensão, pneus, transmissão, entre outros. À medida em que vamos completando cada temporada, e caso terminemos em primeiro lugar, desbloqueamos um carro extra, aumentando assim para um total de 18 carros que podemos desbloquear neste Sega Rally 2.

De resto a jogabilidade é o que podemos esperar de um Sega Rally clássico. Não é propriamente um jogo de simulação, na medida em que não esperem representações realistas de condução, mas é bastante divertido de jogar e difícil de dominar. O 10 years é mesmo um modo de jogo bastante desafiante, que acaba por colmatar mais uma vez a pouca variedade de cenários. Mas o que não poderia mesmo faltar são as indicações do co-piloto, que desta vez é uma jovem, que nos vão avisando ao longo de cada circuito das curvas, lombas ou outros percalços a ter em atenção.

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Circuitos à noite ou com diferentes alterações climatéricas aparecem também neste jogo.

Uma das curiosidades desta conversão é que a mesma utiliza as APIs do Windows CE. Para quem não sabe, existem 2 tipos de APIs que podem ser utilizadas nos devkits da Dreamcast: a Katana, tendo herdado o nome do protótipo japonês da Dreamcast (sim, houve um americano, só mais uma das confusões da Sega…), e uma outra APIs que usa o Windows CE e instrucções Direct X, criada especialmente para facilitar a vida dos programadores em conversões PC – Dreamcast. Uma das condições acordadas entre a Sega e a Microsoft foi que a própria Sega teria de lançar alguns jogos sonantes utilizando as APIs do Windows CE e este Sega Rally 2 foi um dos contemplados. Infelizmente isso resultou em framerates inconstantes, pois as APIs da própria Sega oferecem melhor performance à consola, como seria de esperar. Essas inconsistências eram muito evidentes na versão japonesa do jogo, que corria a 60fps, mas com quebras constantes. Nas versões ocidentais resolveram trancar o framerate a 30fps, tendo ficado mais consistente.

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O splitscreen retira algum do detalhe gráfico, como seria de esperar.

Graficamente é um jogo bonitinho, tendo em conta que é um jogo de primeira geração para a Dreamcast. Os circuitos vão mudando, podendo ser jogados à noite, onde os efeitos de luz são bem implementados, com chuva ou neve, onde mais uma vez esses efeitos gráficos são bem convincentes. No circuito “Muddy” então, é possível ver o carro a ficar cada vez mais sujo à medida em que vamos avançando no circuito. Os efeitos sonoros são excelentes, e ouvir a nossa co-piloto a berrar “very long easy left, maybe” em conjunto com o rugir dos motores, dão uma grande adrenalina à experiência. A banda sonora por si é o clássico da Sega, embora para mim não seja tão boa como a do Sega Rally original, que era mais focada em rock progressivo. Aqui temos na mesma algumas malhas de rock progressivo, mas também muitas outras mais jazz, funk ou dance music. Não deixa de ser uma boa banda sonora, como em quase todas as adaptações dos jogos arcade da SEGA.

No fim de contas, Sega Rally 2 pode não ter o mesmo sentimento nostálgico que o original de Sega Saturn provocou em mim, mas não deixa de ser um excelente jogo de corridas arcade dos reis do género. Fruto de ter sido desenvolvido com a API do Windows CE, existe também uma conversão do jogo para PC, que não experimentei, mas suponho que corra numa resolução mais alta e com um framerate bem estável. Ainda assim, Sega Rally é para ser jogado em Arcade ou consola, e é uma entrada indispensável no catálogo Dreamcast de um coleccionador que se preze.