Rayxanber II (PC Engine CD)

Recentemente comprei um bundle de vários jogos de PC-Engine de bom nome. Foi um conjunto bastante caro (uma espécie de presente de Natal para mim mesmo), mas na verdade o preço do conjunto até acabou por compensar bastante visto que alguns destes jogos têm vindo a ser vendidos a valores acima dos 100€ e cada jogo ficou-me por cerca de 60€. Este Rayxanber II é dos jogos que veio nesse bundle e o primeiro que eu resolvi jogar. E fui logo escolher um dos shmups mais difíceis de todo o catálogo da PC-Engine! Abençoados save states!

Jogo com caixa e manual embutido na capa

Rayxanber é uma saga de 3 shmups produzidos pela Data West (nada a ver com a mais conhecida Data East). São shmups horizontais algo inspirados pelos R-Type pelo seu tipo de cenários e o primeiro jogo saiu no FM-Towns, um computador japonês (com o FM-Towns Marty como uma variante em consola) algo obscuro. Para o segundo e terceiro jogo a Data West decidiu antes apostar na PC Engine. Eu pessoalmente nunca joguei o primeiro, pelo que avancei logo para esta sequela. E aqui temos um shmup simples nas suas mecânicas, com um botão para disparar e um outro para activar o dash, que nos permite evadir rapidamente de alguns perigos. O problema é que é um jogo extremamente difícil, principalmente pelas nossas armas serem muito fracas.

O primeiro nível é naturalmente o mais fácil mas mesmo assim vamos encontrar algumas esponjas de balas

A arma com a qual começamos (projécteis disparados em linha recta frontal) é muito fraca e ao longo de todo o jogo iremos enfrentar naves maiorzinhas que são autênticas esponjas de balas. Podemos também activar um charge attack mas, tal como a manobra de dash, usá-lo repetidamente sobreaquece o motor da nave. Ocasionalmente vamos ver power ups coloridos que correspondem a armas laser disparadas nas diagonais (azul), bolas de fogo (vermelho) ou projécteis de energia verdes. Cada arma possui um charge attack diferente, mas não teremos qualquer upgrade adicional, pelo que continuamos com um poder de fogo limitado. Um detalhe muito importante a ter em conta é o facto dos ícones coloridos com estes power ups possuem uma espécie de ponteiro que vai rodando a sua direcção com o tempo. A direção do ponteiro será a direcção para onde essas armas irão apontar, caso apanhemos o power up nessa altura. Vão haver zonas no jogo (por exemplo o quinto nível), onde será muito importante termos forma de disparar para a frente e para trás em simultâneo, pelo que apanhar o power up certo e na altura certa é também algo muito importante.

Antes de apanhar um power up temos de ter atenção para onde está a apontar o seu ponteiro, que irá indicar a direcção de disparo

Existem apenas 6 níveis, divididos entre 3 checkpoints (início, meio e boss) pelo que se perdemos uma vida recomeçamos no último checkpoint que atravessamos (e como devem calcular enfrentar um boss sem power up nenhum é uma tarefa árdua) e gastando as vidas todas podemos usar um continue, que nos obriga a recomeçar o nível em questão desde o início. Temos continues infinitos, mas acreditem que o jogo é extremamente desafiante e nem é por haver muitas balas no ecrã. É que para além do facto de estarmos under powered o jogo todo e existirem muitos inimigos que são autênticas esponjas de balas, existem alguns níveis em particular que nos vão levar à loucura. O quarto nível é passado numa caverna cheia de paredes de gelo. As nossas armas não destroem o gelo, mas a nave sim. No meio das paredes de gelo vemos algumas bolsas de ar onde estão lá algumas rochas aprisionadas, a moverem-se constantemente e fazer ricochete nas paredes. Depois começam a surgir algumas naves inimigas (incluindo vermes gigantes) que nos perseguem e também eles vão abrindo caminhos pelo gelo, muitas vezes soltando essas rochas que começarão a fazer ricochete pelo resto dos cenários. Como as nossas balas não destroem as paredes de gelo, vai ser um nível incrivelmente frustrante. Mesmo com save state não foi fácil! O quinto nível já é um daqueles mais “biomecânicos” à lá R-Type, mas que está no entanto repleto de passagens estreitas e repletas de inimigos que nos temos de esgueirar pelo meio. O sexto e último nível é também um túnel que nunca mais acaba, repleto de passagens estreitas, turrets que disparam por todos os lados e outras naves ou obstáculos que nos obrigarão a possuir nervos de aço e reflexos de ninja.

Os bosses são grandes e bem detalhados

A nível audiovisual, no entanto, até que é um jogo bastante interessante. Os cenários vão decorrendo em pleno espaço, oceanos, cidades em ruínas, cavernas e o tal nível mais biomecânico. Alguns níveis possuem interessantes efeitos de parallax scrolling (que reafirmo, é algo que o hardware da PC-Engine não suporta nativamente), o design de algumas naves e bosses até que me agrada. Os efeitos sonoros cumprem bem o seu papel (excepto talvez o barulho das explosões, que num lançamento em CD esperava que fosse melhor). A banda sonora, por outro lado, é toda em formato CD audio e as músicas são bastante diversificadas entre si. Temos temas mais rápidos, repletos de sintetizadores (e linhas de baixo incríveis), outros bem mais calmos e jazzy. O último nível, que é um autêntico inferno, tem a particularidade de não possuir quaisquer efeitos sonoros e a música é extremamente calma e relaxante, o que não condiz nada com o caos do nível, mas foi uma escolha interessante.

O infame último nível com as suas passagens estreitas e perigo constante

Portanto este Rayxanber II é um dos muitos shmups do catálogo da PC Engine, mas até que é um jogo interessante que perde apenas pela sua dificuldade fora de série. Acho que se as nossas armas fizessem um pouco mais de dano, o jogo continuava difícil, mas seria um desafio mais justo. Tiro o chapéu a quem consegue fazer 1CC neste jogo!

Niko Niko Pun (PC-Engine)

O artigo de hoje é uma rapidinha para a PC-Engine, a um jogo de plataformas extremamente simples e seguramente desenvolvido a pensar num público muito, muito jovem. O meu exemplar foi comprado em Dezembro do ano passado a um particular de França e custou uns 15€. Curiosamente o jogo traz umas instruções improvisadas em francês, o que me leva a crer que a PC-Engine e alguns dos seus jogos terão sido importados por alguns comerciantes nos anos 90.

Jogo com caixa, manual embutido na capa e instrucções em francês.

O jogo em si é super simples e aparentemente é baseado num programa de televisão infantil, pelo menos a julgar pela arte da capa, que é capaz de causar pesadelos a qualquer criança. Basicamente temos um grupo de 3 animais como protagonistas, um gato, um pinguim e um rato, que estavam a fazer uma viagem de barco pelo oceano, apanham uma tempestade e são forçados a desembarcar numa ilha remota. Lá encontram um pequeno dragão cor-de-rosa que diz que os pode ajudar a regressar, mas a troco de comida.

O objectivo de cada nível é o de apanhar 3 alimentos, ilustrados na barra inferior, antes do tempo limite. Não sofremos dano, mas devemos saltar sobre os inimigos (ou agachar) para evitar perder alguns segundos extra

E ao longo de 6 níveis, lá poderemos escolher qual dos 3 animais queremos usar e teremos de coleccionar 3 peças de fruta ou vegetais para dar ao dragão no final do nível. A escolha das personagens é completamente indiferente, nenhum possui diferentes habilidades e como eu referi acima, o jogo é extremamente simples. Basicamente é um botão para saltar e nada mais. Ao longo dos níveis vamo-nos cruzar com outros animais, uns que nos atacam mas não nos causam dano, apenas nos atrasam meros segundos. Em baixo vemos uma barra de tempo que vai diminuindo e à direita uma imagem do alimento que devemos procurar no nível, sendo que teremos de encontrar 3 alimentos iguais. Ao longo de cada nível encontramos diversos tipos de alimentos, mas apenas os que são necessários para alimentar o dragão é que contam. Não há qualquer penalização, ou pontos de bónus se apanharmos outros alimentos, ou até ultrapassarmos os 3 alimentos alvo necessários para aquele nível. Pelo meio vamos encontrar algumas portas que nos levam a pequenos diálogos com outras personagens, ou até a pequenos sliding puzzles que eu sinceramente nunca gostei de os fazer, desde miúdo. Portanto o único desafio do jogo é mesmo o tempo, que sinceramente até é mais que suficiente. Não temos forma de sofrer dano e caso o tempo se esgote somos levados a repetir o nível, sem perder nenhuma vida.

Ocasionalmente vamos encontrar portas que nos levam a puzzles deste género. Apesar destes serem simples, sempre detestei este tipo de puzzles em miúdo

Por outro lado, graficamente é um jogo muito competente e foi isso que me chamou à atenção quando o vi à venda. Os 6 níveis são variados entre si, apresentando diferentes paisagens naturais como uma praia, florestas, montanhas ou cavernas. Os inimigos são bastante coloridos, assim como os cenários, que têm também um bom nível de detalhe. Mais impressionante que isso são as camadas de parallax scrolling, algo que o hardware da PC-Engine não suporta nativamente e tiveram de ser criadas a partir de uma programação inteligente. Sempre que vejo parallax scrolling num jogo de PC-Engine, e tão suave como neste caso, é sempre motivo de admiração. Nada a apontar aos efeitos sonoros, já as músicas até que são agradáveis, mas são poucas. Temos uma música no ecrã título e cutscene de abertura, outra música que iremos ouvir ao longo do jogo em si e por fim, outra no final.

Ao menos graficamente o jogo é muito colorido e bem detalhado!

Portanto este Niko-Niko Pun é um jogo que apesar de muito bonito, colorido e bem conseguido do ponto de vista técnico, é também uma experiência muito curta, com apenas 6 níveis e uma jogabilidade extremamente simplificada, pois o público alvo era certamente o infantil.

Super Darius (PC-Engine CD)

Vamos voltar à PC-Engine CD para mais um shmup clássico, nomeadamente a conversão do primeiro Darius da Taito. Já cá trouxe uma modesta conversão deste jogo para o ZX Spectrum, ou mesmo a sua sequela para a Master System, mas esta versão PC-Engine CD teve a honra de ser a primeira conversão a chegar às consolas. O meu exemplar foi comprado em Outubro numa loja online japonesa e custou-me cerca de 17 dólares.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

O Darius é um shmup lançado originalmente nas arcades em 1986, por parte da Taito. Demarcava-se dos restantes pelos seus bosses grandes, bem detalhados e todos eles baseados em peixes ou outras criaturas marinhas, pelos caminhos divergentes à lá Outrun, mas também pela sua resolução muito peculiar. A área de jogo era formada por três televisores ligados entre si horizontalmente, resultando numa resolução extremamente widescreen para a época. Naturalmente que essa característica teve de ser abandonada quando se trouxe o jogo para fora das arcades, mas esta versão da PC-Engine CD acaba por ser uma conversão muito próxima do original.

Estes primeiros inimigos são autênticas esponjas de balas!

A nível de jogabilidade é simples, a nossa nave possui dois ataques, um frontal e outro que larga bombas ou mísseis para o solo, pelo que os botões faciais do comando de 2 botões da PC-Engine servem para isso mesmo. Os inimigos vão surgindo no ecrã por ondas e vamos ganhando pontos adicionais se os conseguirmos destruir a todos antes que desapareçam. Temos no entanto muitos inimigos que são autênticas esponjas de balas, especialmente nos primeiros níveis, onde a nossa nave ainda está bastante fraca. Como não poderia deixar de ser vamos poder apanhar uma série de power ups coloridos onde os vermelhos melhoram-nos a arma principal, os verdes a secundária e os azuis dão-nos um precioso escudo que nos deixa sofrer algum dano antes de perdermos uma vida. Temos no entanto de apanhar oito power ups da mesma cor para que possamos melhorar as armas ou escudo e cada vez que perdemos uma vida, perdemos também progresso nos upgrades, o que é sempre frustrante.

Apesar de existirem 2 pilotos na intro, infelizmente esa versão não suporta multiplayer

Uma vez derrotado o boss do nível em que estamos, teremos de fazer uma escolha, pois o caminho bifurca-se. Tal como o OutRun, a longevidade aumenta bastante pois poderemos tomar uma série de caminhos alternativos. Cada run extende-se por 7 níveis, existindo 28 níveis no total. Infelizmente, ao contrário do Outrun em que cada bifurcação resultava em cenários completamente distintos entre si, isto não acontece no Darius. Existem apenas 5 cenários diferentes: as cavernas, uma cidade, montanhas, espaço e zonas sub aquáticas, variando apenas nas cores. No entanto esta versão PC-Engine CD supera o original arcade numa coisa, os bosses. Enquanto o original possuía apenas 13 bosses que se repetiam, esta versão PC-Engine CD possui 26 bosses únicos, existindo apenas 2 repetições. A Taito colocou então 9 bosses protótipos que nunca chegaram a ser introduzidos na versão arcade, mais 4 bosses retirados do Darius II, cuja versão arcade já tinha saído um ano antes desta.

Graficamente o jogo não é nada de especial, até que entram os bosses super bem detalhados

Graficamente este é um jogo bastante simples e a PC-Engine consegue fazer muito melhor, mas sendo sincero, está muito próximo da versão arcade que, sendo um jogo de 1986, também não era propriamente muito excitante do ponto de vista gráfico. Tal como referi acima, os níveis são muito simplistas e apenas os bosses é que são grandes e com um bom nível de detalhe. Mas tirando a questão resolução ter sido adaptada para um televisor apenas, esta versão PC-Engine CD está muito próxima do original. Até no som, pois a banda sonora, apesar de estar no formato CD-Audio, possui gravações das músicas da versão arcade!

Os bosses têm todos a temática de criaturas marinhas

Portanto estamos aqui perante uma conversão sólida do Darius e que até acrescenta algum conteúdo adicional perante o lançamento original, nomeadamente os bosses. Do ponto de vista gráfico é um jogo simples, mas a própria série Darius começaria a ficar mais interessante nesse departamento a partir do Darius II. Mas vamos terminar este artigo com uma curiosidade. Tal como o R-Type, que no Japão foi repartido em dois lançamentos distintos, mas recebeu mais tarde um lançamento completo em CD, o Darius também tem uma história curiosa. Isto porque este lançamento para a PC-Engine CD não foi filho único. Pouco tempo depois a NEC lança também o Darius Plus, agora em formato HuCard para a PC-Engine normal. Sendo um jogo em cartucho, é uma versão que sofre alguns cortes em relação ao lançamento de CD, nomeadamente muitos dos seus bosses, com apenas 16 bosses ao contrário dos 26 da versão CD. Porque a NEC decidiu lançar estas duas versões em formatos distintos? Por um lado para chegar a mais público pois nem toda a gente possuía a PC-Engine CD. Por outro lado este lançamento conta com a distinção de ter sido desenvolvido com especial suporte à SuperGrafx (um sucessor da PC Engine que apesar de ser mais poderoso, foi um flop comercial). Se jogado numa SuperGrafx, o Darius Plus conta com uma performance superior e que elimina algum do sprite flicker visível se jogado numa PC-Engine normal. Para quem tivesse comprado ambas as versões, e enviasse à NEC uma prova de compra de ambos, recebiam posteriormente pelo correio uma recompensa, o Darius Alpha! Essa é uma versão promocional do Darius Plus, que inclui apenas um boss rush com todos os bosses presentes na versão Plus do Darius. Tendo em conta que esse foi um lançamento que nunca chegou a ir para as lojas e apenas 800 unidades foram produzidas, acabou por se tornar num dos títulos mais caros e cobiçados por coleccionadores.

Pastel Lime (PC-Engine CD)

Vamos continuar com a PC-Engine para uma rapidinha a uma visual novel, desta vez. Resolvi experimentar usar o Google Lens para passar um jogo inteiramente em japonês e este Pastel Lime era a cobaia perfeita. Isto porque tinha lido que era um jogo curto, uma visual novel linear e impossível de chegar a um game over, bem como pelo facto da maior parte do voice acting estar também legendado, pelo que aproveitei então para testar este método. O meu exemplar foi comprado em conjunto com a minha PC-Engine Duo RX a um coleccionador francês.

Jogo com caixa, manual embutido na capa, spine e registration card

Antes de falar do jogo em si, vamos lá comentar melhor como o joguei. Basicamente usei o emulador Medfanen, pausava a emulação sempre que tivesse uma frase completa no ecrã e apontava o Google Lens para lá, para traduzir o texto de japonês para inglês. As traduções não eram perfeitas, mas deu perfeitamente para ir percebendo a história, o que era o mais importante. Infelizmente o facto de ter constantemente de pausar (por vezes haviam diálogos mais longos que me obrigavam a pausar a emulação) e apontar o google lens para traduzir tornou-se um pouco cansativo. Mas provavelmente será um método que voltarei a usar no futuro para atacar mais alguns jogos similares que tenho na colecção.

Para terem uma noção de como o Google Lens ajudou na tradução

Mas vamos ao jogo em si. Pastel Lime é, como já referi, uma visual novel muito ligeira em termos interactivos. É completamente linear, não existem ramificações na história nem nenhuma maneira de ficarmos presos ou perder o jogo. É então uma questão de ir lendo o texto que nos vai aparecendo no ecrã e ir percorrendo as escolhas a tomar para ir avançando na história. A história é sem dúvida o mais bizarro. Conta a aventura de uma fada chamada Yu que ao treinar a sua magia vê-se transportada para a Terra, mais precisamente para o quarto de uma pequena adolescente no Japão. No meio da confusão, a fada lança acidentalmente um feitiço à miúda que a faz tornar mais adulta (leia-se, os seus peitos crescem) e o resto do jogo será passado ao explorar as imediações da cidade (mais precisamente um hospital e uma praia) em busca de jóias que permitam à fada Yu voltar ao seu mundo, mas também restaurar a forma original da protagonista. Resumidamente é isto, naturalmente iremos interagir com muitas outras personagens, mas a narrativa nunca fica muito interessante.

Pelos vistos ligaram o ar condicionado no frio, lá no hospital. Bandidos!

A nível técnico esta visual novel está repleta de diferentes cenas e a maioria dos diálogos são narrados com voice acting, que sinceramente até me pareceu bastante decente tendo em conta o resto. As músicas são em formato CD Audio e são também agradáveis, abrangindo diferentes géneros musicais consoante o ambiente. Já o design das personagens, sinceramente deixa muito a desejar. É meramente uma questão de gosto pessoal, mas não gosto do traço usado pelo artista.

Portanto estamos perante uma visual novel muito simples a nível de mecânicas de jogo, com uma história bizarra no seu conceito, mas rapidamente se torna bastante aborrecida também. Foi no entanto uma cobaia perfeita para avaliar se o uso de sistemas como o Google Lens pode ajudar a passar a barreira linguística nalguns videojogos japoneses!

Dragon Slayer: The Legend of Heroes (PC-Engine CD)

Vamos ficar agora na PC-Engine CD, para um dos muitos RPGs existentes na sua biblioteca, mas dos pouquíssimos que tiveram um lançamento oficial fora do Japão, ou que até tenham recebido traduções feitas por fãs. A série Dragon Slayer é muito peculiar da Falcom. O seu primeiro jogo (de 1984) é um dos precursores dos JRPGs como um todo, mas após esse primeiro lançamento, curiosamente todas as suas sequelas deram origem a outras séries completamente distintas entre si. Sorcerian, Lord Monarch ou Xanadu são apenas alguns dos exemplos em que o primeiro jogo de cada uma dessas séries, possui Dragon Slayer no nome. The Legend of Heroes é mais um desses casos, com a série a receber inúmeras sequelas, até se tornar mais popular no ocidente com o lançamento das sagas Trails of the Sky ou Trails of the Cold Steel. O meu exemplar é a versão Japonesa de PC-Engine, pelo que joguei antes a versão Norte-Americana por emulação. Comprei-o no ebay em bundle com vários outros jogos algures em Fevereiro deste ano, creio que me terá custado à volta dos 10/15€.

Jogo com caixa, manual, spinecard e poster/mapa

A história deste primeiro The Legend of Heroes é simples e começa por mostrar-nos uma cutscene anime que conta que há 10 anos atrás, o reino de Farlayne foi invadido por monstros e na batalha da sua defesa o Rei acabou por morrer. Como o seu único herdeiro, o príncipe Logan, tinha apenas 6 anos de idade e ainda não podia governar, o Barão Drax acabou por se tornar regente. Para a “segurança” de Logan, o pequeno príncipe foi exilado numa aldeia onde iria viver em segurança até aos 16 anos, altura em que poderia reclamar o trono para si. E é precisamente na data em que Logan faz 16 anos que começamos a aventura. Quando o jovem príncipe se prepara para voltar ao seu reino, o Barão Drax ataca a aldeia e tenta matá-lo! Felizmente não o consegue fazer e naturalmente iremos perseguir Drax e procurar vingança. Também naturalmente que, à medida que vamos avançando na história e conhecer novas terras e pessoas, a narrativa vai lentamente revelando que há algo sinistro à espreita e eventualmente lá teremos de salvar o mundo também.

Apesar da narrativa estar dividida em capítulos, vamos poder explorar as regiões anteriores livremente. Eventualmente.

Já no que diz respeito às mecânicas de jogo, não esperem por nada de muito complicado. Este é então um JRPG típico com batalhas por turnos e encontros (algo) aleatórios. Digo algo aleatórios pois os inimigos estão presentes no ecrã do mapa mundo ou dungeons, mas estão invisíveis a menos que usemos algum item para revelar a sua localização. E mesmo que revelem a sua localização, os inimigos que vagueiam pelo ecrã possuem todos a mesma sprite genérica, pelo que só ficam a saber quem são quando entram num combate. Os combates são por turnos onde no nosso turno temos as típicas acções que podemos desempenhar: ataque físico, defender, usar item, usar magia, fugir, entre outros. Uma das acções que podemos definir são as batalhas automáticas, o que é uma óptima maneira de acelerar o processo de grinding. Uma das outras particularidades a mencionar é o facto de, cada vez que uma das nossas personagens sobe de nível, poderemos assignar os skill points ganhos livremente em categorias de força, inteligência, velocidade e sorte. O sistema de magias também é algo fora do convencional neste jogo, na medida em que não há propriamente classes no jogo, cada personagem pode aprender as magias que quiser. E estas não são aprendidas à medida em que subimos de nível, mas sim, devem ir sendo compradas ao longo do jogo. Na verdade nem são compradas, as magias vão sendo oferecidas por alguns NPCs específicos e poderemos assigná-las livremente ao nosso grupo, tendo em conta que cada personagem possui 7 slots disponíveis.

As batalhas são travadas na primeira pessoa e temos sempre a possibilidade de as automatizar para tornar o grinding menos moroso

A nível gráfico este é ainda um jogo muito simples. Estava à espera de ver mais cutscenes, mas infelizmente estas só existem no início e fim do jogo. De resto, as cidades, dungeons e mapa mundo no geral são compostas por visuais típicos de JRPGs do final da década de 80. As batalhas já são travadas na primeira pessoa e os inimigos já vão sendo algo variados entre si e possuem designs que pessoalmente me agradam. No entanto não esperem por visuais “full screen“, pois o ecrã está constantemente dividido em duas janelas, tanto na exploração, como no combate. À direita temos sempre um resumo do estado de cada uma das personagens do nosso grupo, bem como informação do dinheiro amealhado. A janela da esquerda é a que mostra os gráficos do jogo. Este tipo de disposição visual é muito típica de RPGs nipónicos que tenham surgido em computadores, o que é o caso deste. Já no que diz respeito à banda sonora, bom, essa é excelente, tal como a Falcom nos habituou. A versão PC Engine possui músicas no formato CD audio ou em chiptune (podemos optar por ouvir quais quisermos nas opções) e estas foram naturalmente rearranjadas para esta versão. Podem então ouvir uma banda sonora repleta de músicas de vários géneros musicais, desde o rock, electrónica, jazz, funk, sempre com aqueles sintetizadores típicos da segunda metade dos anos 80! Aliás, a banda sonora desta versão fez-me lembrar bastante a banda sonora do Ys IV: The Dawn of Ys, até porque quem fez os arranjos PC-Engine CD dos dois jogos foi o mesmo senhor: Ryo Yonemitsu. De resto podem também ouvir imensos diálogos falados com voice acting em Japonês ou Inglês, dependendo da versão que estejam a jogar. O voice acting em si (pelo menos da versão norte americana) é francamente mau mas hey, eles tentaram! No entanto, é pena que, quando ouvimos o voice acting, não existam quaisquer legendas ou indicações visuais sobre que personagem está a falar no momento.

Pena que o jogo não tenha tido mais cutscenes para além da introdução e final

Portanto este Dragon Slayer: The Legend of Heroes acaba por ser um RPG decente. Não reinventa a roda, mas não deixa de ser bastante sólido na aventura que nos apresenta. Foi um jogo que foi lançado originalmente para uma série de computadores nipónicos entre 1989 e 1990, mas acabou por ser convertido para outras consolas também como a Super Famicom ou esta versão PC-Engine CD, que ganha precisamente pelo seu suporte CD com o voice acting e músicas em qualidade CD Audio. A versão Mega Drive, convertida pela Sega em 1994 também me parece interessante! De resto este primeiro The Legend of Heroes recebeu uma sequela directa em 1992, também lançado para uma multitude de diferentes sistemas, incluindo a PC-Engine CD, mas infelizmente este ainda não recebeu qualquer tradução para inglês, oficial, ou por fãs.