Leisure Suit Larry: Wet Dreams Don’t Dry (PC)

Tempo de regressar a uma das séries de aventuras gráficas mais famosas dos anos 80 e 90, conhecida pelo seu humor irreverente e pelo conteúdo dirigido a um público mais maduro. O último Larry com envolvimento da Sierra (Magna Cum Laude) e o subsequente Box Office Bust (já com a Codemasters como proprietária dos direitos da série), não foram bem recebidos — e com fortes razões para isso. Em 2013 fomos presenteados com um novo remake do primeiro jogo, obra financiada por fãs e com o envolvimento do seu criador original, mas o nome voltou a cair em esquecimento. Algures pelo caminho, a propriedade intelectual de Leisure Suit Larry voltou a mudar de mãos, e entre 2018 e 2020 tivemos direito a dois jogos inteiramente novos, aventuras gráficas no estilo point and click clássico. Quem esteve por detrás destes lançamentos foi um estúdio germânico chamado Crazybunch, que já havia trabalhado noutras aventuras gráficas no passado, como foi o caso do A New Beginning. O meu exemplar físico deste Wet Dreams Don’t Dry foi comprado no eBay, algures em 2023, por uns modestos 7€.

Jogo com caixa, manual, poster e postal.

A aventura começa de forma algo misteriosa: Larry acorda num local escuro, sem quaisquer memórias da sua última noite. Ao explorar o cenário à nossa volta, somos levados à porta do Lefty’s Bar, um local icónico e muito familiar para quem tenha jogado o primeiro título da série. O problema é que a paisagem à sua volta está muito diferente daquilo que se lembrava. Larry encontra-se agora em pleno século XXI, com o mesmo aspecto que tinha em 1987 e sem memórias dos eventos ocorridos desde a sua primeira aventura. No interior do bar, Larry descobre um smartphone dotado de uma inteligência artificial holográfica (aparentemente um modelo protótipo ultra-secreto) que lhe pede para ser devolvido ao seu fabricante. É lá que conhecemos Bill Jobs (quaisquer semelhanças com Bill Gates e Steve Jobs são pura coincidência) e a sua sedutora assistente, Faith Less. Naturalmente, Larry fica imediatamente interessado na senhora, que lhe responde com um desafio: se conseguir atingir a pontuação máxima na rede social de encontros Timber, ela sairá com ele. Obviamente, esse será então o nosso objectivo principal: engatar o máximo de miúdas (e não só) para, eventualmente, conseguirmos o tão ansiado encontro romântico com Faith.

Lefty’s Bar! É bom estar de regresso.

Na sua essência, esta é uma aventura gráfica do estilo point and click com uma interface simples. Clicar com o botão esquerdo do rato num determinado local faz com que Larry se desloque para lá. Se clicarmos num objecto ou pessoa com os quais possamos interagir ou falar, o botão esquerdo servirá para isso mesmo. Já o botão direito é utilizado para observar ou comentar os mesmos pontos de interesse. Na parte inferior do ecrã vemos o topo de um bloco de notas ou, mais tarde, de um smartphone. No caso do bloco de notas, veremos apenas ícones que nos abrem o menu do jogo ou o inventário, onde, como é habitual neste género, podemos combinar objectos entre si e/ou utilizá-los nos cenários e personagens. Quando já tivermos connosco um smartphone, poderemos também utilizar algumas apps, como o já referido Timber, onde procuramos matches para encontros futuros, o Unter para nos deslocarmos entre cenários ou o Instacrap para revermos algumas das cutscenes que vamos desbloqueando à medida que avançamos na história.

Quaisquer semelhanças com a Apple são mera coincidência

A narrativa é bastante ligeira e bem-humorada, e naturalmente o que não vai faltar são conversas de cariz sexual. Mas isso acaba também por ser uma crítica ao jogo, porque, ao contrário dos clássicos, que tinham algum innuendo e algumas cenas mais explícitas de forma ocasional, aqui o que não faltam são objectos fálicos e elementos sexualizados espalhados por todos os cenários. Às vezes parece mesmo excessivo, o que contrasta bastante com as raízes da série. Ainda assim, ocasionalmente encontramos momentos muito bem conseguidos e outros francamente inusitados, como o encontro com o Presidente Trump.

Este jogo é muito forte em ironia com a política norte-americana!

No que toca aos gráficos, são inteiramente em 2D, como nos clássicos, mas com visuais modernos ao estilo de desenho animado. Sinceramente, prefiro o pixel art de títulos como Leisure Suit Larry 5 , mas não desgosto inteiramente da arte mais moderna aqui apresentada. e fiquei satisfeito por saber que o actor que sempre deu voz a Larry também o fez aqui. A banda sonora é composta por temas ligeiros, com uma toada muito jazz, adequada aos ambientes nocturnos que sempre caracterizaram as primeiras aventuras de Larry!

Timber, Unter e Instacrap, essas apps super necessárias!

Portanto, o que aqui temos é uma aventura gráfica competente, francamente superior a Magna Cum Laude e Box Office Bust, títulos que há muito haviam remetido a série para a obscuridade. Mesmo não concordando com a sexualização exagerada introduzida neste novo capítulo, não deixa de ser um regresso benvindo às suas raízes. O final fica em aberto para uma sequela que, felizmente, não demorou muito a ver a luz do dia. Leisure Suit Larry: Wet Dreams Dry Twice será o próximo a ser jogado, e estou genuinamente curioso para ver como os alemães da Crazybunch deram continuação à série.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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