Tougi-Ou: King Colossus (Sega Mega Drive)

Tempo de voltarmos à Sega Mega Drive para descobrir um título que ficou confinado ao território japonês. Há alguns anos, um conjunto de fãs dedicados da consola começou a criar patches de tradução para vários jogos que permaneceram exclusivos desse mercado, tendo este King Colossus sido um dos contemplados. Estamos perante um action RPG lançado originalmente em Junho de 1992. Nessa altura, a Mega Drive vendia bastante bem no Ocidente, pelo que é pena que o jogo nunca tenha recebido um lançamento oficial fora do Japão, já que King Colossus revela-se, no geral, bastante competente.

Jogo com caixa e manual, na sua versão japonesa

Comecemos com uma curiosidade: King Colossus contou com o forte envolvimento do artista Makoto Ogino, cujo manga Peacock King deu origem a várias adaptações para videojogo, incluindo Spellcaster e Mystic Defender, que já referi em análises anteriores. No entanto, neste título em particular, exploramos um universo distinto, de fantasia medieval pura. Encontramos aqui várias nações independentes que partilham um traço em comum: são todas governadas por reis tiranos e seguem uma religião que venera um misterioso deus maligno. Esta realidade começou a formar-se após a ascensão da rainha Desire ao trono do reino de Danaal. O protagonista é um jovem sem memórias do seu passado, acolhido ainda em criança por uma família algo austera na sua educação. Os conflitos entre reinos e o papel que o protagonista terá neste mundo acabarão inevitavelmente por revelar detalhes importantes sobre a sua identidade.

A acção é simples e directa. A única coisa que sinto falta no ecrã é informação de quantas chaves ou bombas temos no inventário.

No que toca às mecânicas de jogo, estas são bastante simples na sua essência. Estamos perante um RPG de acção com perspectiva de topo e controlos directos: o botão A activa magias, o B serve para atacar e o C permite saltar. O botão Start dá acesso a um menu onde podemos consultar o inventário, o equipamento e as magias disponíveis. Para interagir com outras personagens basta aproximarmo-nos das mesmas. Certas portas requerem bombas ou chaves, itens que são deixados por inimigos derrotados. Nestes casos, se tivermos os itens necessários no inventário, a sua utilização é automática ao aproximarmo-nos das passagens bloqueadas. Na parte inferior do ecrã temos as informações relevantes: barra de vida, pontos de magia, experiência necessária para subir de nível e o nível actual. Sempre que enfrentamos um boss, o valor da experiência é temporariamente substituído pela barra de vida do inimigo.

Em vez de um mapa mundo livre para ser explorado, temos uma série de localizações que podemos visitar

Com excepção de alguns locais chave, como a casa da nossa família de acolhimento, todas as zonas exploráveis são dungeons cada vez mais labirínticas, onde será comum precisarmos de bombas, chaves ou de resolver pequenos puzzles para prosseguir. Os inimigos podem também deixar cair itens de recuperação de vida ou magia ou invencibilidade temporária. O equipamento é relativamente variado: ao longo da aventura podemos encontrar novas armas, armaduras, escudos e acessórios, todos equipáveis livremente. As armas incluem espadas, machados, lanças, bestas, morning stars e bastões mágicos. Um detalhe curioso é que tanto as espadas como os machados causam mais dano se o ataque for efectuado em salto. As magias estão todas disponíveis desde o início, mas cada uma requer uma quantidade distinta de MP, pelo que nem todas serão imediatamente utilizáveis. Os feitiços vão desde projécteis mágicos e ataques em área até escudos defensivos, paragem do tempo ou teletransporte para o início da dungeon. Como os pontos de magia são escassos, há que usá-los com ponderação. De resto, King Colossus é um jogo relativamente linear: não existe mundo aberto e as diferentes áreas são seleccionadas a partir de um mapa. Também não há lojas nem sistema de comércio, embora seja possível interagir com vários NPCs ao longo da aventura para fazer progredir a história.

Felizmente existem fãs que traduziram o jogo e parece-me que fizeram um bom trabalho

A nível audiovisual, trata-se de um título bastante competente para os padrões de 1992. Os cenários apresentam variedade e um bom nível de detalhe, os inimigos são visualmente distintos e os bosses têm, naturalmente, maior destaque no design. A banda sonora é agradável, embora peque um pouco na variedade. Por exemplo, esperava que os confrontos finais fossem acompanhados por músicas distintas, mais dramáticas, que sublinhassem o clímax narrativo. Isso não aconteceu, o que retirou algum impacto a esses momentos.

Portanto, tirando uma ou outra limitação já referida, King Colossus acabou por se revelar uma óptima surpresa e, para mim, uma verdadeira pérola escondida do catálogo da Mega Drive. Para quem aprecia RPGs de acção com mecânicas simples e directas, como é o caso da série Ys, encontra aqui um jogo bem conseguido e que merece ser descoberto. Teria sido interessante ver a Sega localizá-lo na altura do seu lançamento, pois acredito que, com uma distribuição ocidental, hoje seria bem mais lembrado. Dentro do género, e ainda na própria Mega Drive, continuo a preferir títulos como The Story of Thor, mas vou terminar com algo polémico: por toda a sua simplicidade, prefiro este King Colossus ao Soleil, por exemplo.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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