100 horas depois, tempo de escrever o que achei deste infame jogo. Adoro a série The Witcher, tanto que depois de jogar os seus três videojogos, acabei também por ler todos os livros. O estúdio polaco CD Projekt RED estava mesmo de parabéns, pois o The Witcher III foi mesmo um dos videojogos que mais prazer me deu jogar e quando anunciaram que o seu próximo grande jogo seria também um RPG, mas agora baseado no universo introduzido pelo jogo de tabuleiro Cyberpunk, deixou-me logo super interessado. No entanto, fiz questão em nunca ver muitas informações do jogo antes do seu lançamento pois queria-o jogar sem qualquer preconceito. No entanto, tal foi practicamente impossível porque apesar do seu lançamento ter sido adiado algumas vezes durante o ano de 2019, o mesmo acabou por ser lançado no final de Dezembro e bom, foi um fiasco colossal, particularmente para as versões das consolas da geração anteriores que eram practicamente injogáveis. Isso colocou a CDPR em maus lençóis e alguns dos meus amigos que jogaram a versão PS4 tiveram mesmo de esperar muito, muito tempo até que a empresa tivesse deixado o jogo minimamente jogável, mas ainda repleto de problemas. A versão PC sempre me constou que estava melhorzinha, mas ainda com alguns problemas também, pelo que não tive muita pressa em o jogar. Entretanto em Fevereiro de 2022, quando aproveitei umas promoções do El Corte Inglés, reparei que a versão PC deste jogo estava lá à venda pela módica quantia de 1,99€. Obviamente que aproveitei a promoção! Entretanto como já haviam rumores de uma expansão estar em desenvolvimento, resolvi esperar que a expansão estivesse disponível, mas apenas o consegui jogar agora. Este artigo irá-se focar então apenas no jogo base, com a expansão a ser analisada num futuro artigo, quando cá trouxer a Ultimate Edition.

Ora bem, não conheço nada do universo introduzido pelo jogo de tabuleiro Cyberpunk, mas digamos que o jogo se passa numa realidade alternativa da nossa civilização, onde no “futuro” ano de 2020 a tecnologia já havia avançado de tal forma que os humanos poderiam ter inúmeras modificações cibernéticas no seu corpo e a sociedade evoluiu de uma maneira sinistra em que o mundo era governado por mega corporações privadas com toda uma série de interesses associados. Avançamos no entanto para o ano de 2077, onde encarnamos numa personagem algo anónima e que criamos à nossa imagem, ou não. Para além da aparência e de uma distribuição inicial de certos stats, podemos também escolher a origem da nossa personagem: um street kid, que como o nome indica, é alguém que nasceu nas zonas pobres da cidade de Night City, alguém dos nomads, povoações que viviam propositadamente fora dos limites da cidade ou um corporate, alguém num estrato social mais elevado, precisamente por trabalhar numa dessas grandes corporações. Independentemente do background, que nos levará a um prólogo algo diferente, a nossa personagem (chamada V) acabará por se tornar num mercenário que irá aceitar toda uma série de diferentes trabalhos providenciados por vários intermediários que vamos conhecendo. O primeiro trabalho importante que ganhamos faz-nos levar a invadir a sede de uma das mais poderosas mega corporações, a Arasaka. Infelizmente o assalto não corre bem, o que despoleta toda uma série de eventos muito interessantes e que prefiro não spoilar por aqui.

Para além disso, o jogo é um RPG de acção que segue muito a fórmula do The Witcher 3, ou seja, é um jogo de mundo aberto e com inúmeros ícones no mapa que eventualmente viremos a descobrir, que tanto podem ser de quests principais, sidequests, actividades secundárias ou outros pontos de interesse como lojas ou pontos de fast travel que sinceramente até que são bastante generosos. As mecânicas de jogo são também bastante interessantes na medida em que poderemos vir a utilizar as mais variadíssimas armas de fogo, os nossos punhos (que podem também ter modificações cibernéticas) ou armas brancas como espadas, martelos, tacos de baseball, entre outros. Sendo um jogo futurista, esperem também por várias armas high tech, capazes de causar dano elemental (fogo ou eléctrico) assim como balas teleguiadas. Para além de tudo isto, temos também toda uma vertente muito forte no hacking, onde, remotamente, poderemos controlar câmaras ou turrets inimigas, carregar programas maliciosos para os inimigos que lhes poderão causar dano ou deixá-los temporariamente algo desabilitados entre muitas outras coisas, como usar objectos para os distrair, ou detonar remotamente certos explosivos.

O jogo oferece-nos também várias formas de resolver problemas, seja através de força bruta, abordagens mais furtivas, ou usar o hacking para resolver certos problemas. A árvore de skills que poderemos evoluir é gigante e mediante a maneira em como evoluímos a nossa personagem poderemos ter acesso a diferentes maneiras de nos infiltrarmos nos edifícios. Por exemplo, uma personagem bem dotada de força física consegue forçar a abertura de certas portas ou passagens, enquanto alguém com mais conhecimentos tecnológicos pode fazer bypass a certas fechaduras electrónicas, por exemplo. Naturalmente que isto me fez lembrar os Deus Ex, o que é sempre bom! De resto, como seria de esperar, à medida que vamos avançando no jogo teremos também de fazer escolhas, escolhas essas que poderão ditar o curso da história e mesmo diferentes sidequests que poderemos vir a ter acesso ou não. Existem vários finais diferentes, mas felizmente para mim, muitos desses finais alternativos são ditados pelas escolhas que fazemos mesmo na recta final do jogo, o que me permitiu, pela primeira vez num jogo da CD Projekt RED, conseguir experienciar todos os finais disponíveis no jogo base.

Visualmente é um jogo muito interessante para os padrões de 2019 e consigo entender perfeitamente o porquê do mesmo ter muitos problemas de performance quando jogado numa Playstation 4 ou Xbox One. A cidade de Night City é vasta, as personagens são todas muito bem detalhadas e sendo este um jogo de mundo aberto, há sempre muita coisa a ser renderizada no ecrã em simultâneo. A versão PC suporta ray tracing, mas infelizmente a gráfica que tenho actualmente não o suporta, pelo menos para a resolução ultrawide que estou a utilizar actualmente no meu PC, pelo que foi a única configuração gráfica que desliguei e que faz mesmo uma grande diferença na fidelidade visual. Ainda assim é um jogo muito bem conseguido precisamente pelo grande detalhe nas personagens e os seus cabelos, que são renderizados de uma maneira consideravelmente realista. O voice acting é excelente e a CD Projekt RED fez aqui um bom trabalho com o casting necessário. Aliás, o actor Keanu Reeves dá a sua voz (e imagem) a Johnny Silverhand, uma personagem central em toda a narrativa (e que personagem!). A banda sonora é também outro ponto muito bem conseguido do jogo, pois a mesma é super, super eclética. Desde jazz de Miles Davis, passando para música latina, electrónica, rock pesado ou metal extremo, temos aqui tudo! Ouvir a rádio Ritual FM enquanto conduzia pelas ruas de Night City tornou-se numa experiência recorrente! E os Samurai, uma banda de rock/metal central para a narrativa também estava muito bem conseguida. Por exemplo, os detalhes dos músicos tocarem nas suas guitarras estava mesmo no ponto, os movimentos de dedos e posições de acordes batiam tudo certo, o que mostra a atenção ao detalhe que a CDPR aqui teve.
Portanto sim, adorei este Cyberpunk 2077 e, jogado em 2025 no PC, devo também reafirmar que não encontrei nenhum bug que fosse inconveniente. Tirando alguns problemas ocasionais com animações e o trânsito que não obedece aos semáforos, o único bug chato que encontrei foi o meu carro ter caído num buraco infinito, algo que acabou por se resolver sozinho ao fim de alguns minutos. Aliás, a CDPR ainda lançou um patch enquanto o estava a jogar, pelo que ainda se encontram activamente a trabalhar no jogo. Não desculpa o facto de terem lançado para o mercado um jogo incompleto e repleto de problemas (aparentemente devido a pressão dos investidores), mas reafirmo: Cyberpunk 2077 é agora um jogo estável e é um excelente RPG que adorei jogar. Limpei o mapa de tudo o que era sidequest, adorei a história, as diferentes possibilidades de abordar os combates, o Johnny Silverhand é uma grande personagem, assim como muitos dos outros NPCs com os quais nos iremos cruzar. 100h depois, resta-me jogar o conteúdo do Phantom Liberty, algo que deverei começar a fazer no final de semana.


Um pensamento em “Cyberpunk 2077 (PC)”