Vamos voltar à Mega Drive para ficarmos agora com mais um relançamento da Retro-bit que ultimamente tem acertado em cheio em trazer de volta ao mercado, de forma “oficial” vários jogos de Mega Drive que são no mínimo incomuns. Este Gleylancer, cujo nome completo é nada mais nada menos que Advanced Busterhawk Gley Lancer é um shmup da Masaya lançado originalmente para a Mega Drive em 1992 exclusivamente no Japão. Curiosamente o jogo havia sido relançado (também no mercado Japonês) em 2019 por uma distribuidora de nome Columbus Circle, que o voltou a relançar em 2022 numa nova edição especial. No mesmo ano a retro-bit anuncia um lançamento ocidental, cujo meu exemplar foi encomendado algures no final de 2022, mas apenas me chegou às mãos à poucos meses atrás. Antes disso (em 2021) o jogo já havia sido relançado devidamente localizado de forma digital para as plataformas actuais do mercado.

A primeira coisa que salta à atenção neste jogo é mesmo a sua longa cut-scene de introdução (tal como acontece no Gaiares, por exemplo). Esta conta a história entre uma violenta guerra espacial entre duas civilizações e nós encarnamos na jovem Lucia Cabrock, que decide “pedir emprestado” um protótipo de uma nova poderosa nave espacial e que seria a última esperança para a raça humana para ir salvar o seu pai cuja nave havia sido “raptada” pelo inimigo em pleno combate.

No que diz respeito aos controlos, o botão A serve para mudar a velocidade da nave enquanto o B dispara, já o C poderá ter múltiplos usos, como irei mencionar em seguida. Isto porque uma vez terminada a longa cut-scene de introdução, é tempo de começar a jogar e a primeira escolha a fazer é decidir como queremos que os dois satélites que eventualmente nos acompanham (aqui apelidados de gunners) se comportam. O modo normal faz com que os satélites disparem na mesma direcção de movimento da nave, enquanto no modo reverse disparam na direcção contrária. Tanto num como no outro, o botão C serve para “trancar” a direcção de disparo numa direcção específica. O modo search faz com que os satélites disparem para o inimigo mais próximo, com o botão C a obrigar a mudar de alvo. Os modos multi e multi reverse são algo semelhantes na medida em que permitem os satélites moverem-se em conjunto com a direcção de disparo ou o seu oposto. O modo shadow faz com que os satélites sigam o movimento da nave, no entanto apenas disparam em frente e podemos usar o botão C para trancar a sua posição. Por fim temos o roll, onde os satélites orbitam à volta da nossa nave e o botão C faz com que estes disparem para a frente, ou em direções opostas entre si.
De resto à medida que vamos jogando iremos poder apanhar toda uma série de power ups, que alternam o tipo de arma que temos equipada no momento. Desde os típicos lasers que perfuram inimigos e causam dano em vários em simultâneo, o spread shot que faz com que cada satélite dispare 5 projécteis em leque, projécteis de energia com explosões secundárias, outros que fazem ricochete em superfícies, entre outros. Vidas extra são também alguns dos itens que poderemos apanhar. O jogo está então dividido em 11 níveis com vários bosses e/ou mid bosses, inimigos cada vez mais numerosos, agressivos ou com padrões de ataque rápidos e vários obstáculos nos cenários que teremos de evadir ou destruir. Tudo o que um bom shmup pede!

A nível audiovisual é um jogo interessante. Por um lado adoro o facto de existirem várias cut-scenes num estilo anime (embora a de introdução seja de longe a mais longa e trabalhada), que ajuda bastante a tornar mais cativante uma história que de outra seria algo desinteressante ou passaria completamente ao lado, pois isto é um shmup. Os níveis em si vão sendo algo variados, levando-nos a combates em pleno espaço ou à superfície de diferentes planetas, os seus sistemas de cavernas ou no interior de gigantes bases inimigas. Existem uns quantos efeitos bonitos de parallax scrolling e alguns bonitos momentos da destruição à nossa volta, mas infelizmente o design dos níveis e inimigos é algo inconsistente, pois há inimigos que sinceramente não gostei do seu design, assim como certos segmentos de níveis bastante pobres graficamente quando comparado com outros. A banda sonora no entanto é muito boa, com melodias rock que bem acompanham a acção do jogo. Ocasionalmente temos também algumas vozes digitalizadas, mas essas infelizmente soam demasiado “arranhadas”.
Portanto este Gleylancer é um excelente shmup. O seu lançamento original japonês sempre foi muito cobiçado e por isso este sempre foi um jogo caro. Os relançamentos oficiais, tanto da nipónica Columbus Circle como da norte-americana Retro-bit ajudaram bastante na carteira para conseguir este jogo para a colecção. Se não ligam a isso, podem sempre jogar a ROM, já que também existe um patch de tradução feito por fãs para as cut-scenes (os menus e afins sempre estiveram todos em inglês). A outra alternativa passa por comprar o relançamento digital nas consolas actuais, pois essa versão traz também algumas melhorias de qualidade de vida interessantes como save states, rewind, a possibilidade de alternar o método de disparo a qualquer momento ou mesmo controlar os satélites com o segundo analógico como um twin stick shooter.


