Vamos voltar agora à Sega Saturn para aquele que foi o seu primeiro jogo da série Shining. Lançado em 1995 no Japão e no ano seguinte no Ocidente, este Shining Wisdom, ao contrário do primeiro jogo da série (Shining in the Darkness) que é um dungeon crawler na primeira pessoa e de todos os Shining Force que haviam saído até ao momento (RPG estratégicos) este Shining Wisdom é um jogo de acção/aventura com muitas semelhanças aos Zelda clássicos. Infelizmente não o achei muito bom, mas já lá vamos. O meu exemplar foi comprado no ebay há uns anos por cerca de 70 libras, estando completo e em bom estado.
A história decorre alguns anos após os acontecimentos do Shining Force II, mas num outro continente completamente distinto, a terra de Palacia. Nós controlamos Mars, descendente de um herói que outrora defendeu o reino de Odegan das investidas de um poderoso dragão. Mars é também um ágil guerreiro que está prestes a começar o seu novo trabalho de guarda real lá do palácio. E justamente no seu primeiro dia de trabalho, o palácio é invadido pelas forças de Pazort, um elfo das trevas que rapta a princesa Satera. Naturalmente que a missão de resgatar a princesa cairá sobre nós, mas rapidamente nos apercebemos que algo pior há-de surgir e Pazort não raptou a princesa por acaso.

Na sua essência este é uma espécie de clone de Zelda na medida em que temos um mapa considerável para explorar, repleto de dungeons com um boss no final e, tal como na popular série da Nintendo, iremos encontrar ao longo da aventura toda uma série de itens e equipamento que nos darão habilidades distintas, habilidades essas que serão necessárias para conseguir atravessar as ditas dungeons, alcançar novos locais e descobrir muitos dos segredos que o jogo tem escondidos. O maior problema aqui está nos controlos e a maneira como estes estão implementados faz-me suspeitar que este Shining Wisdom terá sido inicialmente preparado para ser um lançamento de Mega Drive ou Mega CD, tendo posteriormente transitado para a Sega Saturn. Isto porque apenas 3 dos 6 botões faciais do comando da Saturn são utilizados e os botões de cabeceira apenas são usados nos ecrãs de opções. Então, o botão A serve para mapear toda uma série de itens utilitários que venhamos a encontrar/comprar ao longo do jogo, como é o caso das ervas que nos restaurem energia ou as típicas angel wings que nos transportam de volta para o início da dungeon onde estamos. Uma vez tendo um desses itens mapeados, basta pressionar o A durante o jogo para o consumir. O botão C tem uma funcionalidade similar mas para o equipamento. Inicialmente este botão está assignado para ser usado com a espada, mas à medida que vamos avançando no jogo iremos encontrar muitas mais peças de equipamento que poderão ser mapeadas para o mesmo botão, como é o caso de botas que nos deixem deslizar por passagens estreitas, outras que nos permitem saltar, outras com a habilidade de criar ondas de choque capazes de destruir blocos frágeis, entre muitas outras possibilidades.

Então e o B? O B é usado para aumentar a nossa velocidade. Por defeito Mars caminha muito lentamente, então a Camelot achou boa ideia implementar esta mecânica onde teremos de pressionar o botão B várias vezes para que Mars se torne mais ágil (vemos a velocidade actual mesmo abaixo da nossa barra de vida) e uma vez com a velocidade desejada, teremos de manter o botão B constantemente pressionado para manter essa velocidade de cruzeiro. O problema? Basta sofrer dano para perdermos a velocidade que tínhamos e tendo em conta que os inimigos são bastante numerosos e a nossa espada tem um alcance ridiculamente curto, isto vai acontecer várias vezes. O Mars até pode dar encontrões nos inimigos para os matar e isso é uma técnica que aprendemos logo no início de jogo, mas tal também faz com que soframos dano, para além da habitual perda de velocidade. Os botões X, Y e Z têm também a mesma função do botão B. Ora este esquema da velocidade é então uma grande dor de cabeça e para além disso, termos todos os outros botões por usar é um crime. Por exemplo, ter de alternar constantemente entre a espada e um outro item que pode não ter propriedades de combate é uma chatice!

Mas uma das razões pela qual os outros botões não têm melhor uso provavelmente prende-se ao sistema de magia. Também à medida que vamos explorando iremos encontrar uma série de medalhões mágicos e que nos conferem vários tipos de habilidades como dano elemental (fogo, gelo, electricidade) ou outros. A maneira como o sistema de magias está implementado é no entanto algo interessante. É que assignamos a magia ao botão B e, dependendo do equipamento que tivermos assignado ao botão C e também da velocidade a que nos movimentamos actualmente, o efeito mágico que resulta dali pode ser completamente diferente. Por exemplo, usando a magia do gelo em conjunto com as botas que destroem blocos frágeis atira fragmentos de gelo para todos os lados, capazes de congelar objectos ou zonas com água, permitindo assim que estas possam ser atravessadas livremente. Mas se utilizarmos a mesma magia com a espada, iremos então disparar projécteis de gelo. A velocidade com que nos estamos a movimentar no momento em que apertarmos o botão C define também a intensidade da magia. É portanto um sistema algo interessante por ser muito diferente do habitual, mas sinceramente também é desnecessariamente complicado.

A nível visual este até que é um jogo curioso, pois é todo ele em 2D, embora com um nível de cor e detalhe que seria muito difícil de reproduzir numa Mega Drive. As personagens têm todas aquele aspecto “super deformed” que os japoneses tanto gostam, ou seja, corpos pequenos e cabeças grandes, o que acaba por nem resultar assim tão mal quanto isso, dando sempre um aspecto cartoon ao jogo que acaba por se relacionar bem com a atmosfera do mesmo. Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros e não existe qualquer voice acting. No entanto a banda sonora é muito boa, particularmente os temas que tocam nas florestas nas imediações da capital. Um detalhe interessante a referir é que a Sega of America não quis lançar o Shining Wisdom nos Estados Unidos, pelo que este acaba antes por sair lá pelas mãos da Working Designs, que já havia traduzido muitos RPGs para a Mega CD e Turbo CD e viria a traduzir mais uns quantos para a Saturn e PS1, embora nenhum dos seus lançamentos vieram a ser lançados cá, e este Shining Wisdom não é excepção. É que a parte curiosa é que esta versão europeia foi lançada pela Sega em território europei, não tendo nada a ver com a americana da Working Designs. A versão da Working Designs foi traduzida pelos próprios enquanto que a nossa foi traduzida pela Sega, sendo supostamente mais fiel ao script original.
Portanto este Shining Wisdom confesso que foi um jogo que me desiludiu. Acho que seria um clone de Zelda bem competente se não tivessem havido algumas decisões de game design questionáveis, como a mecânica inútil de controlar a velocidade de Mars, a impossibilidade de equipar múltiplos equipamentos em botões que acabaram por não ter uso ou o sistema de magia que apesar de original é desnecessariamente complexo. Para além disso o próprio combate não é assim tão satisfatório quanto isso. Mas a Sonic! Software Planning ainda estava longe de atirar a toalha ao chão com esta série na Sega Saturn e tenho elevadas esperanças para os títulos que lhe sucederam.


