Microcosm (Sega Mega CD)

Voltando à Mega CD, ficamos agora com um título da Psygnosis que até possui algumas origens curiosas. No início da década de 90 a empresa britânica estava a fazer experiências em jogos que utilizassem tecnologias de full motion video e/ou CGI, de forma a aproveitar os novos sistemas que suportavam software no formato de CD-ROM. Um esqueleto do jogo foi desenvolvido e mostrado em eventos específicos, o que levou a um financiamento da nipónica Fujitsu para o jogo que se viria a tornar neste Microcosm fosse também um título de lançamento do seu FM-Towns Marty, uma versão consolizada do seu computador FM-Towns, ambos os sistemas exclusivos do mercado nipónico e nem um nem outro atingiram um sucesso considerável. Ainda assim, o acordo nunca foi de exclusividade, pelo que o Microcosm acabou por ser lançado numa considerável panóplia de diferentes sistemas, incluindo a Mega CD. O meu exemplar foi comprado no passado mês de Março a um amigo meu, creio que por cerca de 20€.

Jogo com caixa e manual embutido, na sua versão big box

O jogo possui uma história bem estranha, tal como podemos observar logo na sua cutscene de abertura. Mas para resumir a coisa, digamos que este é um jogo que decorre no futuro e num outro planeta que não o nosso. Planeta esse hiper poluído, a população não vive em lá muito boas condições e é também dominado por duas mega corporações: a Cybertech e a Axiom. Esta última acusa a Cybertech de ter causado a morte do seu presidente pelo que, para se vingarem injectam no presidente da Cybertech uma nanotecnologia qualquer para o controlar. Então, para salvar o presidente da Cybertech a solução é simples: pegar em poderosos submarinos, reduzi-los a uma escala microscópica, e infiltrar também o corpo do presidente para combater a tal nanotecnologia de Axiom.

Basicamente este é um shooter que se passa dentro do corpo humano

O jogo é então um shmup onde a câmara se posiciona na traseira da nossa nave e, tal como no Silpheed, os cenários são todos clipes de full motion video usando animações em CGI. Mas ao contrário de épicas batalhas espaciais, vamos percorrer várias veias e diferentes zonas do corpo humano, como os pulmões, coração e, por fim, o cérebro. No que diz respeito à jogabilidade a mesma é algo desafiante, mas os conceitos são simples: o d-pad movimenta a nossa nave pelo ecrã, o botão A serve para disparar a arma que tenhamos eventualmente seleccionado (com recurso ao botão B) e por fim o C serve para utilizar as armas especiais, que tipicamente possuem usos muito limitados.

No final de cada nível temos sempre um boss para enfrentar e que até tem algumas animações interessantes

À medida que vamos percorrendo os níveis, dos quais não temos nenhum controlo devido aos cenários serem um vídeo, iremos não só enfrentar uma série de inimigos como poderemos inclusivamente apanhar vários power ups, como munições para armas secundárias (as tais que poderemos equipar com o botão B) ou itens que nos regeneram a nossa barra de vida. A nossa arma principal possui munições infinitas, já as outras não pelo que as devemos utilizar com alguma discrição, principalmente aquando dos confrontos contra os bosses. Estes tipicamente são máquinas monstruosas (à escala microscópica, claro) e que apenas podem ser danificados em certos pontos fracos, onde muitas vezes para os atacar também nos temos de expor ao perigo, pelo que alguns até serão bem desafiantes.

Pelo meio de todo o CGI temos também alguns clipes com filmagens reais. Curiosamente os actores são todos funcionários da Psygnosis

No que diz respeito aos gráficos temos primeiro de constatar o óbvio: o jogo sai inicialmente para o FM Towns Marty algures em 1993 e ainda no mesmo ano para a Mega CD. No ano seguinte sai também para a 3DO, Amiga CD32 e PC, todos eles sistemas bem superiores ao add-on da Sega. A qualidade do vídeo é, como esperado, muito inferior a qualquer uma dessas outras versões, assim como o número de cores no ecrã, algo intrinsecamente associado ao facto da própria Mega Drive apenas poder apresentar um reduzido número de cores em simultâneo no ecrã. Sobre os vídeos em si, bom as cutscenes são bem estranhas mas tal também se compreende visto que a animação por computador estava ainda na sua infância. Existem também alguns segmentos com actores reais, que no caso eram próprios funcionários da Psygnosis. Durante o jogo em si as cutscenes tentam representar o que seria o interior de uma veia ou de outros órgãos do corpo humano mas em vez de vermos glóbulos vermelhos e/ou brancos, vemos inúmeros inimigos. Os inimigos no entanto estão muito bem representados, tirando bom partido das capacidades de sprite scaling e rotation que a Mega CD introduziu no seu hardware. Já no que diz respeito à banda sonora esta é principalmente de música electrónica e bem agradável. Aparentemente é bem diferente da banda sonora original do lançamento do FM Towns Marty.

Ao longo do jogo podemos conduzir três naves distintas mas que não variam assim tanto quanto isso na sua jogabilidade

Portanto este Microcosm é um jogo interessante, principalmente pelos seu conceito e visuais. A nível de jogabilidade não é nada do outro mundo, no entanto. A Psygnosis não terminou por aqui o desenvolvimento de videojogos com este conceito e lança no ano seguinte, também no FM Towns um jogo chamado de Scavenger 4. Esse acabou também por ser relançado para outros sistemas incluindo a Mega CD, mas sob o nome de Novastorm e é um jogo que acabou por ser melhor recebido pelo público que este Microcosm, pelo que gostaria também de o jogar um dia destes.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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