Superman (Nintendo 64)

Bom, já tenho este jogo na colecção aos anos, desde algures em Janeiro de 2016, após o ter comprado ao desbarato numa Cash Converters em Lisboa. Quando o comprei já estava perfeitamente ciente que era um jogo com muito má fama mas tinha uma certa curiosidade mórbida em um dia experimentá-lo por mim mesmo e ver se seria assim tão mau quanto o pintam. Há já uns dias que o ando a jogar aos poucos e sim, é péssimo.

Cartucho solto

Superman é baseado numa série de animação do famoso super herói da DC Comics nos anos 90. Tenho uma vaga ideia de ter visto alguns episódios na altura, pois era uma série que chamava à atenção pela simbiose entre uma animação moderna, mas a piscar muito o olho ao design das origens do próprio Superman nos anos 30, tal como aconteceu com uma série televisiva do Batman transmitida no mesmo período. E aqui lá controlamos (ou pelo menos tentamos!) o maior super herói em collants de todo o tempo, que procura salvar os seus amigos (Lois Lane mais outros 2 estarolas que não me recordo quem sejam) das garras do vilão Lex Luthor, que os aprisionou numa versão virtual da cidade de Metropolis.

Antes de começar a aventura podemos ler um perfil de todas as personagens intervenientes no jogo

Podemos dividir este jogo em 2 fases distintas: os níveis em áreas exteriores e os restantes em interiores. A aventura começa precisamente numa área exterior, onde temos de fazer um percurso aéreo e passar pelo meio de uma série de anéis que se encontram espalhados pela cidade e que formam um circuito. Temos de atravessar os anéis de forma sequencial e sem grande margem para erro, pois não só temos um tempo limite apertado, mas também a tolerância de sair fora da ordem vai sendo cada vez menor. Uma vez passado esse circuito, o jogo diz-nos que temos de pegar em dois veículos que estão a causar o caos na cidade e atirá-los para o ar, uma vez mais com um tempo limite apertado. Em seguida atravessar mais uns anéis e transportar um carro da polícia do ponto A ao ponto B… para em seguida atravessar mais uns anéis e depois derrotar uns inimigos. Até poderia aceitar isto como uma espécie de tutorial para nos habituarmos aos controlos, mas não… todos os níveis em áreas exteriores são assim. Múltiplos percursos com anéis para percorrer, alternando com fases onde temos de destruir alguns inimigos que por lá andam a fazer cenas estúpidas. Já cenários interiores, são níveis mais genéricos de um jogo de acção na terceira pessoa, onde teremos de os explorar afincadamente, ocasionalmente activando interruptores para desbloquear novas passagens e/ou destruindo alguns objectivos em específico. Infelizmente estes níveis também não são lá muito apelativos, pois para além dos cenários serem muito genéricos, os mesmos são também bastante labirínticos, os controlos continuam frustrantes e uma vez mais, ocasionalmente temos tempos limite muito apertados para cumprir alguns objectivos, lutar contra os controlos, e tentar não nos perdermos pelo caminho.

Lex Luthor é de facto um vilão muito sádico por nos fazer passar por esta tortura demasiadas vezes

Como já referi acima, infelizmente os controlos são terríveis a todos os níveis. O analógico serve para movimentar o Super Man, com o botão Z a alternar entre o modo de voo e o de caminhar. Infelizmente no modo de voo os controlos invertem no eixo Y como em simuladores de voo, mas eu nunca gostei disso. É verdade que muitos jogos permitem-nos alterar esse parâmetro nas opções, mas infelizmente isso aqui não acontece. Para além disso, a sensibilidade do analógico não pode ser ajustada, sendo muito fácil sair do percurso. E como o Superman voa com a graciosidade de um touro, perdemos imenso tempo em voltar a alinhar com o percurso, o que torna as coisas especialmente frustrantes, principalmente pelo tempo limite apertado, ao ponto de ter desistido de o jogar no hardware real e partir para a emulação. Portanto se falharmos um anel, mais vale tentar o anel seguinte (se tivermos margem de erro suficiente para quebrar a sequência), pois o tempo que demoramos a dar a volta e alinhar a rota novamente com o anel que acabamos de falhar acaba por ser bastante demorado. O botão B e A servem para acelerar e travar enquanto voamos, já quando estamos no solo, o B serve para agarrar em objectos, enquanto o A serve para os atirar ou dar socos. Socos esses que por sua vez são quase inúteis pois para além de terem um alcance curto, muitas vezes nem sequer acertamos nos inimigos mesmo estando junto deles. Os botões C servem para defender ou usar as habilidades do Superman, como o hálito de mentol capaz de congelar cenas, a visão raio-x ou os lasers pelos olhos. Todas estas habilidades no entanto precisam de energia para serem usadas, ao apanhar alguns power ups para esse efeito. O botão R serve para saltar, o que para além de ser um mapeamento estranho, os próprios saltos do Superman são absolutamente ridículos, pelo que é um botão completamente inútil e mais vale voar.

No tutorial ou níveis de dificuldade mais básicos até temos uma seta que nos indica a direcção do anel seguinte, o problema é que para terminar o jogo temos de o jogar no modo mais difícil

Bom, controlos maus infelizmente é algo que assola muitos jogos 3D desta geração. Mas o que dizer dos gráficos? Bom o jogo tenta reproduzir um visual quase cel-shaded, tornando-o mais próximo da série animada da televisão. Mas o resultado final é igualmente mau. Para além dos cenários estarem repletos de texturas muito simples e de baixa resolução (o que infelizmente é comum em jogos N64 devido à pouca limitação de armazenamento dos seus cartuchos), mesmo a nível poligonal os cenários, personagens e inimigos são bastante simples na sua geometria. As zonas interiores são muito genéricas na sua apresentação, já os exteriores usam e abusam do efeito de nevoeiro, que é especialmente intenso neste jogo. A nível de som, infelizmente as coisas não são muito melhores aqui. Nada a apontar aos poucos clipes de voz que vamos ouvindo, já as músicas, apesar de não serem propriamente más, são bastante monótonas, o que torna toda a experiência ainda mais enfadonha.

Os cenários interiores são igualmente fracos e repletos de texturas super simples

Mas para além de uma péssima jogabilidade, e audiovisuais abaixo das expectativas, o jogo possui inúmeros bugs que ilustram o quão inacabado o jogo está. Desde as falhas nas mecânicas de detecção de colisão, o superman ficar preso dentro de paredes ou debaixo do chão, todos esses glitches conhecidos que vemos nos vídeos pela internet fora são reais e também me aconteceram! Portanto, todos estes factores apontam para que este Superman seja mesmo um jogo tão mau quanto a fama que possui! Supostamente a Titus não é 100% culpada deste imbróglio, pois a própria Warner Bros e DC Comics, os detentores da licença, fizeram-lhes a vida negra durante todo o desenvolvimento, com inúmeras exigências que os obrigaram a mudar constantemente o básico de um jogo: a jogabilidade, mecânicas de jogo e até o seu conteúdo. Naturalmente que isto colocou uma enorme pressão no desenvolvimento e supostamente a Titus acabou por não ter tempo suficiente de apresentar um jogo em condições. Tanto que até estava planeado uma conversão para a Playstation (que supostamente já seria bem mais jogável) mas eventualmente a Titus perdeu a licença e foi mais um jogo que ficou na gaveta. Independentemente de quem foi ou não a culpa, o que é certo é que este é um jogo francamente mau.

Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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