De volta para a 32bit da Sony para mais um clássico. Poderei estar errado, mas entre Medal of Honor e o primeirinho FPS que realmente pode ser chamado por esse nome, o Wolfenstein 3D, houve um grande vazio de jogos deste calibre sobre a 2a Guerra Mundial. Mas ao contrário de Wolf3D que já entrava no campo da ficção científica, este foi o primeiro jogo que tentou dar um toque mais realista e histórico ao género, tendo impulsionado uma série de sequelas e outros jogos que o imitaram, como a série Call of Duty nos primeiros jogos. É certo que mantém o estilo old-school de um soldado contra centenas de inimigos, mas as armas, uniformes e todo o background foram sem dúvida bem mais fiéis à realidade e uma lufada de ar fresco nos FPS. A minha versão do jogo, apesar de ser platinum, está completa e em bom estado, tendo sido comprada em conjunto com a sequela Medal of Honor Underground ao meu amigo Mike do blog Gamechest por 2.5€ cada.

O jogo coloca-nos no papel de Jimmy Patterson, um agente norte-americano do grupo OSS (Office of Strategic Services), uma agência de espionagem formada em alturas da 2a Guerra Mundial, que mais tarde veio dar origem à CIA. Assim sendo, vamos poder jogar em várias missões sempre com objectivos de sabotar instalações nazis e recolher evidências das suas operações secretas, ao longo de vários anos e em vários locais da Europa também. Antes de cada missão principal vamos tendo briefings sobre as mesmas, acompanhados de várias imagens e vídeos de acontecimentos da WW2 a passarem em background. Isto foi mais um toque revolucionário, pois a menos que esteja enganado, nunca tinha sido feito antes num videojogo. Ainda assim, cada missão principal está dividida em vários níveis, cujos também têm um pequeno briefing apresentado pela Manon, uma jovem pertencente à Resistência Francesa, que por sua vez será a protagonista da sequela deste jogo – Medal of Honor Underground.

O jogo dispõe de vários esquemas predefinidos de controlo, mas infelizmente nenhum semelhante ao que utilizamos hoje em dia regularmente nos FPS em consolas. Mas há um ou outro que anda lá perto, trocando apenas o gatilho para disparar. Uma opção para customizarmos os controlos à nossa medida seria benvinda, mas não está nada mau assim. Talvez para simular algum realismo, não existe uma mira no ecrã, pelo menos não enquanto não apertamos o botão para mirar. Ao contrário dos Aiming down the sights que vemos nos FPS actuais, simplesmente aparece uma mira no ecrã que a podemos controlar livremente, sob pena de não nos podermos movimentar ou movimentar a câmara. Mas não era só aqui que Medal of Honor se tentava diferenciar dos demais.

A jogabilidade possuia outras coisas interessantes. Numa das missões, em que temos de nos infiltrar num local vigiado por oficiais nazis, somos obrigados a ter uma postura mais stealth, e frequentemente roubar documentos a oficiais para passar em checkpoints por outros guardas de forma a entrar noutras áreas. Envergar uma arma nessas situações é sempre suspeito, e os inimigos devem ser mortos discretamente. De resto a inteligência artifical deles tanto é capaz do melhor como do pior. Muitos inimigos são pouco agressivos, mas em especial nos últimos níveis vamos enfrentar algumas tropas de elite e estes já adoptam tácticas bem mais agressivas. Alguns inimigos podem-nos flanquear em pincer movements, atirar as nossas granadas de volta ou mesmo até se sacrificarem para proteger os colegas, atirando-se para cima de uma granada prestes a rebentar. Por outro lado, há nazis que estão cerca de 10 metros de distância uns dos outros e nem por isso reagem à morte dos colegas, ficando estáticos à espera de levar um tiro.

De resto, tal como disse anteriormente, este jogo é bem mais fiel à temática da segunda guerra mundial do que todos os outros jogos que tinham saído até à data. As armas que podemos equipar são armas da época, desde revólveres, rifles, várias metralhadoras e artilharia mais pesada como a Bazooka, ou granadas americanas e nazis. As munições existem em grande quantidade, assim como os medkits para nos curar, e ao contrário dos jogos modernos, podemos carregar connosco um autêntico arsenal. Os níveis também vão sendo bastante variados, decorrendo em cidades e diversas instalações nazis, como fábricas de produção dos mísseis V1 e V2, ou o laboratório de investigação atómica em plena Noruega gélida. Os modelos poligonais de todos os intervenientes estão bem representados, e um efeito gráfico que eu gostei especialmente é o das balas a serem disparadas. As animações também estão interessantes, embora por vezes sejam um pouco exageradas, especialmente quando algum soldado morre.

Apesar de tudo isto ser graficamente impressionante tendo em conta o hardware, o jogo tem também alguns defeitos gráficos. Em primeiro lugar a draw distance é um pouco curta. Isto porque por vezes os inimigos conseguem disparar para nós em distâncias em que não os conseguimos ver, bastando dar mais um ou dois passos para a frente para que finalmente se tornem visíveis. Há também vários problemas de clipping, especialmente em edifícios. É bastante comum ver-se braços ou armas dos inimigos a atravessarem as paredes ou o tecto de uma casa, estragando por completo esse factor surpresa. O som parece-me estar excelente, desde o barulho das armas, o excelente voice acting e a música repleta de orquestrações épicas, que marcaram todo um género que surgiu com este jogo.
Podemos também desbloquear uma série de prémios. Para além de pequenos vídeos documentários que mostram alguma footage da 2a Guerra Mundial, podemos também desbloquear diverso artwork utilizado no jogo, cheat codes, e personagens para utilizar na vertente multiplayer. Sim, o jogo possui um pequeno modo multiplayer para 2 jogadores em split screen, mas no entanto apenas possui o tradicional deathmatch.
O nome de Steven Spielberg como surge produtor, pelo menos da história do jogo. Se realmente a desenvolveu ou não, isso já não sei. Mas após o sucesso do filme Saving Private Ryan, é perfeitamente natural que a EA quisesse capitalizar o sucesso desse filme ao associar o nome do famoso realizador a este jogo. E apesar de não ser um jogo tão cinemático como muitos outros que lhe surgiram, não deixa de ser um jogo bastante épico para a altura em que saiu. Recomendo vivamente.
Excelente review mais uma vez! Este foi um jogo que marcou bastante naquela época apesar de agora ter caído em desgraça. A componente histórica e o som eram sem dúvida a melhor parte do jogo para mim. Lembro-me de na altura o meu irmão ter comprado um sistema de soudround para a sala e de jogar-mos muito este jogo. Levar com um tiro era arrepiante ;P
Realmente jogar estas cenas com surround deve ser bem fixe 🙂