Kurohyou 2: Ryu ga Gotoku Ashura Hen (Sony Playstation Portable)

Na minha demanda para reduzir drasticamente o meu backlog da série Yakuza/Like a Dragon, ao longo do último mês e meio fui jogando aos poucos este Kurohyou 2 (Yakuza Black Panther 2), um spin-off da série principal e exclusivo da portátil da Sony. Tal como o seu antecessor, este é um exclusivo PSP e nipónico também, onde controlamos o mesmo protagonista e herda muitas das particularidades do lançamento original. A mesma equipa que traduziu o primeiro jogo lançou também um patch de tradução deste segundo, embora infelizmente ainda não esteja perfeito, nem finalizado, pelo que acabei por me focar mais na história principal e apenas algumas das sidequests. O meu exemplar foi comprado no eBay algures em Abril de 2021, tendo-me custado algo à volta dos 15€.

Jogo com caixa, manual e papelada diversa

A narrativa coloca-nos uma vez mais no papel de Tatsuya Ukyo, que havia passado um ano a lutar no estrangeiro, voltando uma vez mais a Kamurocho e prestes a assinar um contrato profissional. No entanto, acaba por se envolver uma vez mais no Dragon Heat, a tal arena de lutas ilegais que foi tema central da narrativa do primeiro jogo. Sob uma nova gestão, o Dragon Heat agora emprega jovens adolescentes dos quais Tatsuya acaba por simpatizar. No entanto, surgem outros rufias da zona de Kansai que começam a causar imensos problemas em Kamurocho e causam também problemas para os jovens lutadores do dragon heat. Tatsyua decide então abdicar da sua carreira profissional de lutador para ajudar os miúdos do novo dragon heat a ultrapassarem este novo desafio. Infelizmente uma vez mais não acho a narrativa deste jogo tão boa como na série principal, no entanto acaba por ser ligeiramente melhor que no jogo anterior, na minha opinião. Mas por exemplo, a maneira como apresentaram o líder da empresa para a qual Tatsuya iria trabalhar, dava a entender que ele seria uma pessoa perigosa e nos daria problemas mais tarde, mas desde que Tatsuya decidiu abandonar a sua carreira profissional, nunca mais ouvimos falar no homem…

As cut-scenes são todas narradas com voice acting e mantêm o mesmo estilo artístico do seu antecessor

A nível de jogabilidade este é também um jogo que vai buscar muita coisa ao seu antecessor. Por um lado mantém a mesma vertente de exploração de Kamurocho da série principal, com todas as diferentes sidequests e actividades que nos podemos envolver (incluindo os diferentes empregos part time com mini-jogos associados). A maior diferença aqui é que podemos também explorar a zona de Sotenbori. De resto, no combate o jogo já tem várias diferenças consideráveis face à série principal, com os combates a serem muito mais focados no 1 contra 1 (embora por vezes possamos lutar contra 2 ou 3 adversários em simultâneo) e aí o jogo herda todos os controlos e mecânicas do seu antecessor directo da PSP. Ou seja, poderemos direccionar os nossos golpes para diferentes zonas do corpo do adversário e temos também de ter atenção a eventuais lesões que podemos sofrer, para além da nossa barra de vida. Combater, comer ou concluir sidequests dão-nos pontos de experiência que podem posteriormente serem utilizados para melhorar vários stats da nossa personagem. Para além disso, vamos poder desbloquear e alternar entre diversos estilos de luta, cujos também podem ser evoluídos com base em experiência de combate apenas e esse processo aqui até foi mais simplificado. De resto contem também com ocasionais sequências de perseguição (que se bem me recordo foram introduzidas no Yakuza 3), assim como encontros fortuitos para salvar civis de serem assaltados ou meninas molestadas.

Também tal como no seu antecessor, temos de ter em atenção ao dano sofrido em certas zonas do corpo

A nível audiovisual esta sequela segue também o mesmo estilo do seu antecessor, com os cenários a serem todos pré-renderizados, excepto durante os combates, onde as “arenas” já são todas renderizadas em 3D poligonal, com a desvantagem de serem poucas. Ou seja, dependendo da zona do mapa onde estivermos quando o combate é iniciado, iremos para uma arena específica. De resto as personagens como um todo vão tendo um nível de detalhe interessante para uma PSP, sendo especialmente bem detalhadas precisamente durante os combates. A narrativa vai sendo avançada com cut-scenes do estilo banda desenhada idêntico ao do primeiro jogo, sendo também muitas vezes mais longas do que eu gostaria. O voice acting no entanto parece-me bastante competente. A banda sonora vai tendo alguns temas mais electrónica e rock nalguns combates, mas está com um foco bem maior no hip-hop desta vez, o que eu sinceramente dispensaria, mas de certa forma compreende-se.

Há um novo mini jogo nas arcades, inspirado pelo Yakuza Dead Souls!

Portanto para quem gostou do primeiro Kurohyou irá certamente gostar desta sequela visto que herda todas as mecânicas do original, melhorando certos aspectos e introduzindo também algumas coisas novas. Eu pessoalmente acho ambos os jogos da PSP uns bons furos abaixo da série principal, principalmente pela narrativa não ser tão envolvente. De resto, devo também sublinhar que apesar do conteúdo principal ter sido completamente traduzido, o patch de tradução em si ainda está longe de ser o final. Para além de algum conteúdo opcional ainda não ter sido traduzido (actividades relacionadas com clubes nocturnos uma vez mais), existem também alguns problemas que poderão levar a crashes após certas lutas. No caso de o jogarem com o emulador PSPP ainda poderão ter outras limitações, pelo que recomendo uma leitura atenta ao readme incluído com o patch.

Kurohyou: Ryu ga Gotoku Shinshou (Sony Playstation Portable)

Também conhecido como Yakuza: Black Panther, este é um spin-off da série da Sega exclusivo para a PSP e que se ficou retido no Japão. Há uns anos atrás foi lançada uma tradução feita por fãs (que ainda está algo incompleta para ser sincero) pelo que aproveitei e comprei o jogo no ebay, algures em 2021 por pouco mais de 11€. O jogo foi desenvolvido pelos nipónicos syn Sophia (outrora AKI Corporation) que por sua vez estiveram também por detrás do desenvolvimento de vários jogos de wrestling ou da própria série Def Jam.

Jogo com caixa, manual, mapa e papelada.

A história leva-nos, uma vez mais, às ruas de Kamurocho mas desta vez com um protagonista diferente: o jovem delinquente Tatsuya Ukyo que planeava assaltar alguém ligado à máfia chinesa, enquanto Tatsuya se fazia passar por um membro yakuza local. As coisas não correm bem e Tatsuya acaba mesmo por matar o seu oponente. Para piorar as coisas, o seu oponente não pertencia à máfia chinesa mas sim à yakuza, pelo que Tatsuya acaba por ser apanhado pelo chefe de uma das famílias. Este tendo provas do envolvimento de Tatsuya na morte da outra pessoa acaba por fazer chantagem: ou Tatsuya entra num torneio de lutas ilegais organizado pelo mesmo e é obrigado a vencer 10 lutas consecutivas, ou então as provas do seu crime serão entregues à polícia.

Este jogo passa-se apenas em Kamurocho, com muitos locais habituais que podem ser revisitados

No que diz respeito à jogabilidade, se virmos as coisas de forma algo superficial, então esta aventura não difere muito dos restantes Yakuza clássicos, visto que temos todo o distrito de Kamurocho para explorar (e apenas Kamurocho), temos várias lutas pelas ruas contra outros bandidos e onde poderemos utilizar muitos dos objectos que por lá estão espalhados como armas e a experiência e dinheiro amealhados vão servindo para melhorar a nossa personagem. Para além da trama principal, temos também toda uma série de sidequests e mini jogos onde poderemos gastar mais do nosso precioso tempo, tudo isto de uma forma mais simplificada ou compacta.

O sistema de combate é o que traz mais diferenças, a começar nos controlos e diferentes tipos de artes marciais que poderemos usar

Mas é mesmo no sistema de luta que temos mais mudanças perante a série principal. Embora ocasionalmente poderemos combater contra mais que uma pessoa, a maior parte dos combates são mesmo de um contra um e as mecânicas de jogo assemelham-se mais às de um jogo de luta em 3D. O quadrado e triângulo serve para socos e pontapés, o círculo para agarrar os adversários (se bem que aqui precisamos de pressionar L+O para apanhar objectos) e o X para nos desviarmos. L serve para defender e o R permite-nos mudar o foco de um oponente para o outro ou, se mantivermos o mesmo botão pressionado, permite-nos navegar mais livremente pela arena. As heat actions são agora mais reduzidas, podendo ser apenas despoletadas ao pressionar X depois de agarrar algum adversário. De resto, outras diferenças estão no facto de, enquanto combatermos, podermos direccionar os nossos golpes para alguma secção do corpo em específico, em conjunto com o d-pad ou analógico. Isto porque nós também podemos receber mais ou menos dano em certas partes do corpo e eventualmente ficarmos lesionados, pelo que para além da barra de vida teremos também de ter em conta o nível de dano sofrido. Para recuperar vida temos itens para o efeito ou basta ir comer uma refeição a qualquer restaurante, já para recuperar de lesões existem também alguns itens que nos ajudam, ou teremos mesmo de fazer uma visita a um médico. Sinceramente não fiquei fã deste sistema.

As cut-scenes seguem todas este estilo de arte. Infelizmente a narrativa não é a melhor, pelo que o facto de serem muito estáticas também não ajuda nada.

As mecânicas RPG são também um pouco mais acentuadas neste jogo, isto porque no final de cada combate recebemos dinheiro e agora dois tipos de experiência. A experiência “normal” leva-nos a subir de nível mas também ganhamos outros pontos de experiência associados ao estilo de luta que temos “equipado” no momento. Começamos pelo típico “street fighting“, depois pelo boxe e à medida que vamos evoluindo estes estilos ou também cumprindo sidequests poderemos ganhar muitos outros estilos de luta como wrestling, MMA, jiu-jitsu, entre outros, todos eles com algumas distinções entre si. Para além disso teremos também acesso a um dojo onde poderemos treinar e melhorar os nossos stats, bem como aprender alguns golpes especiais a troco de algum dinheiro. Dinheiro esse que é muito escasso neste jogo (talvez por jogarmos com um menor?), pelo que também poderemos participar nalguns empregos em part-time, que na verdade se traduzem em alguns mini-jogos. Desde secar noodles, servir gelados ou hambúrgueres, mas o melhor mesmo é o emprego que temos no bar de strip onde teremos de mandar uns sopapos nos membros do público que não se saibam comportar como pessoas civilizadas. Infelizmente mesmo assim o dinheiro continua escasso, principalmente se quisermos evoluir a nossa personagem a 100% ou completar o jogo na totalidade, o que inclui várias visitas dispendiosas a certos clubes nocturnos para engatar miúdas.

Muitos minijogos já conhecidos marcam o seu regresso, embora por vezes de uma maneira mais minimalista

A nível audiovisual, como já referi acima este jogo tem o distrito de Kamurocho fielmente representado e muitos dos locais que poderemos visitar nos outros jogos estão também aqui representados, embora de uma forma mais simplificada. Enquanto exploramos o mapa principal, os cenários são pré-renderizados, o que nos obriga a ângulos de câmara fixos. Já quando transitamos para algum combate, então aí os gráficos já transitam para arenas em 3D poligonal. O problema é que há pouca variedade de arenas e vamos acabar por combater sempre nas mesmas, mediante o local onde o combate foi despoletado. Por exemplo, se combatermos relativamente perto da Millennium Tower, a arena será sempre perto da sua entrada principal, enquanto que se combatermos algures na Pink street a arena será sempre na porta de entrada dessa rua.

O patch de tradução, apesar de ter ainda vários erros ortográficos, está bastante completo, faltando no entanto ainda algum conteúdo “opcional” ser traduzido.

De resto, e tal como os Yakuza das consolas de mesa, a narrativa está repleta de cut-scenes, mas aqui, ao invés de serem renderizadas com o motor e assets do jogo ou então em CGI, são todas apresentadas com desenhos como uma banda desenhada se tratasse. Inicialmente até achei piada a este conceito, mas acabou por me aborrecer ao fim de algum tempo. Por um lado porque não sou fã do traço do artista responsável pelas mesmas e isso é mesmo uma mera questão de gosto pessoal. Por outro lado porque digamos que a narrativa deste jogo é muito aborrecida ao contrário dos restantes jogos da série e muitas vezes estas cut-scenes arrastavam-se até mais não. Já no que diz respeito ao som, nada de especial a apontar ao voice acting que me parece bastante competente, nem aos efeitos sonoros que cumprem bem o seu papel. Já a banda sonora, bom gostava de ter algo melhor a dizer da mesma, mas na verdade esta acabou por me passar de uma forma completamente despercebida, isto porque practicamente apenas se ouvia música durante os combates (e estas até são agradáveis pois têm sempre uma toada mais rock). A exploração da cidade é toda com som ambiente e as cut-scenes apenas têm voz, pelo menos do que me lembro.

Infelizmente vamos andando sempre apertados de dinheiro, pelo que ocasionalmente teremos de participar em alguns empregos part-time que se traduzem em mais mini-jogos. Mas muito mal pagos.

Portanto este Yakuza Black Panther é um jogo que me deixa com um sentimento algo agridoce. Por um lado sinto que as novas mecânicas de jogo que aqui introduziram não foram mudanças para melhor, nomeadamente as mecânicas de lesões nos combates ou mesmo a enorme variedade de estilos de luta disponíveis. A narrativa está também muitos furos abaixo da série principal e sendo assim entendo perfeitamente o porquê da Sega nunca ter manifestado o desejo de trazer este título para o ocidente, ou mesmo de o relançar no mercado japonês. Mas também não quero ser demasiado penalizador, o jogo não é nada mau de todo. Só não é tão bom!