Aviary Attorney: Definitive Edition (Nintendo Switch)

Vamos agora voltar à Nintendo Switch para uma aventura / visual novel mesmo ao jeito da série Ace Attorney. Só que com pássaros como advogados. E que se passa em França no século XIX. E com um estilo gráfico muito peculiar. Desenvolvido originalmente para o PC pela Sketchy Logic, o jogo acabou por ser convertido para a Nintendo Switch algures em 2020, por intermédio de um pequeno estúdio (Vertical Reach), que aproveitaram para adicionar também algum conteúdo adicional. No Japão e Ásia esta versão da Switch teve lançamento físico, pelo que acabei por o comprar na Amazon japonesa algures em Maio. Já com portes e alfândega ficou-me por 35€, o que não achei mau preço de todo. Curiosamente, descobri que a Vertical Reach é um pequeno estúdio português porque na parte de trás da capa do jogo, aparece algures uma mensagem Vertical Reach Unipessoal, Lda.

Jogo com caixa

Ora este jogo coloca-nos no papel de JayJay Falcon, um falcão e advogado de defesa, acompanhado de Sparrowson, um pardal seu assistente. Tudo isto em Paris de 1948, nas vésperas de uma revolução que retira o rei Louis-Philippe do poder e instaurou definitivamente uma República no país. As influências da série Ace Attorney são mais que evidentes, pois são-nos sempre atribuídos casos algo bicudos para defender e o próprio jogo está também dividido entre a fase da investigação onde iremos explorar uma série de cenários e falar com pessoas, em busca de provas ou testemunhos que nos possam ser úteis para a fase seguinte, a dos julgamentos. E aí a acusação também leva testemunhas onde teremos de escrutinizar os seus depoimentos em busca de alguma contradição que as descredibilizem, ou no limite provem a inocência dos nossos clientes.

Antes de cada capítulo temos sempre direito a uma pequena cut-scene que nos ilustra o caso que devemos resolver

A grande diferença perante a série Ace Attorney (para além do óbvio em relação à arte que detalharei em seguida), é que este Aviary Attorney é uma experiência bem mais não-linear. Enquanto os Ace Attorney garantem que não conseguimos ir para o tribunal sem antes ter desbloqueado todas as pistas/provas necessárias para ter sucesso e durante os julgamentos o jogo só nos deixa avançar quando vencemos o caso, aqui tal não acontece. Na fase de exploração vemos um mapa da cidade de Paris e toda uma série de locais a explorar. Os locais com um símbolo de relógio à frente do seu nome indicam que, depois de os visitar, o tempo anda para a frente um dia e nós temos um número limitado de dias até chegar ao julgamento. Quer isto também dizer que se não explorarmos um local certo, ou na altura certa, em detrimento de outros, poderemos chegar ao dia do julgamento sem todas as provas que necessitamos para ter sucesso. Já nos julgamentos em si, vencer os casos é bom mas não mandatório (até teremos algumas surpresas interessantes pelo caminho) e a narrativa progride na mesma independentemente do nosso sucesso, com ligeiras modificações na história consoante o nosso progresso e escolhas. Existem 4 actos ao todo, sendo que o último acto decorre precisamente no dia da revolução francesa e possui 3 variantes completamente distintas entre si e que nos levam também a finais distintos. A maneira como progredimos no terceiro acto é o que vai ditar em qual dos diferentes cenários/finais teremos no último acto.

Na fase de investigação poderemos explorar diferentes locais que vamos desbloqueando. Temos é um número limite de dias para investigar e todos os locais visitados com um relógio à frente do seu nome fazem com que a data avance um dia. Portanto é perfeitamente possível não conseguirmos recolher todas as provas necessárias para ilibar o nosso cliente

Já no que diz respeito aos audiovisuais, bom como podem ver pelos screenshots o jogo tem uma arte muito interessante. Todas as personagens possuem feições algo humanas nos seus corpos, mas cabeças dos mais variadíssimos animais. E todas essas ilustrações (que são de domínio público) foram originalmente criadas por um ilustrador francês do século XIX chamado de Jean Grandville. Para além disso, todos os cenários foram também desenhados mantendo o mesmo estilo artístico. E sendo este um jogo com uma forte pegada de visual novel, não esperem por grandes animações durante os diálogos, embora estas até sejam bem mais trabalhadas que muitas outras VNs modernas. A banda sonora é toda ela baseada em música clássica, possuindo em particular muitas músicas do compositor francês do século XIX Camille Saint-Saens, todas elas retiradas da sua obra Carnaval des animaux, o que se encaixa perfeitamente em todo o conceito do jogo. Existem no entanto mais umas quantas músicas de outros compositores e outras compostas propositadamente para este jogo e todas elas encaixam que nem uma luva na narrativa.

Apesar da sua curta duração, a narrativa até que é bastante interessante e tem também os seus momentos de bom humor

Portanto este Aviary Attorney é um jogo super interessante e bem conseguido no seu conceito. Para os fãs de Ace Attorney é uma experiência 100% recomendada, embora este seja um jogo bem mais não linear que a saga pela qual é notavelmente inspirado. Mesmo com personagens animais antropomórficos, a narrativa é excelente, com bons momentos de humor misturados com alguma escrita mais série e algumas surpresas à mistura. Peca no entanto por ser um jogo bastante curto, a meu ver. Esta versão Switch para além de ser, até à data, o único lançamento físico que ainda por cima só saiu na Ásia (o jogo em si pode ser todo jogado em inglês), inclui também um pequeno número de extras desbloqueáveis: scans de alta resolução da arte utilizada pelo jogo, um sistema interno de achievements e uma jukebox onde poderemos ouvir todas a sua banda sonora.