Gungrave: Overdose (Sony Playstation 2)

É tempo de regressar à Playstation 2 com um jogo de acção que há muito me despertava curiosidade: Gungrave: Overdose. O primeiro Gungrave surpreendeu-me pela positiva, sobretudo pelo seu conceito e mecânicas de jogo originais. Ainda assim, havia bastante margem para melhorar certos aspectos menos conseguidos, o que me deixou curioso quanto às eventuais melhorias introduzidas na sequela. Ambos os títulos foram desenvolvidos pela Red Entertainment. O primeiro jogo foi publicado na América do Norte pela Sega, enquanto por cá ficou a cargo da não menos sonante Activision. Recordo-me bem de ver gameplay desse primeiro título com alguma frequência em canais de televisão por satélite dedicados a videojogos, reflexo de uma boa campanha de marketing. Já a sequela, lançada dois anos mais tarde, não teve a mesma sorte. Nas Américas, foi distribuída pela desconhecida Mastiff, nome do qual nunca ouvira falar, e que, após uma breve pesquisa pelo seu reportório, percebi porquê. A Europa só viria a receber esta sequela em 2005, cortesia da Play It, uma editora também especializada em títulos budget. Apesar do shovelware com que frequentemente nos brindavam, também nos trouxeram alguns lançamentos nipónicos interessantes, como Castle Shikigami 2, 1945 I&II ou, pasme-se, Guncom 2. O meu exemplar foi comprado a um particular na Vinted, algures em Janeiro deste ano, por cerca de 15€.

Jogo com caixa e manual

As mecânicas base do Gungrave original estão todas de regresso. Controlamos Beyond the Grave, um cyborg reanimado após ter sido assassinado, um pistoleiro silencioso, munido de duas armas imponentes e um enorme caixão às costas. Trata-se essencialmente de um shooter na terceira pessoa, em que o botão quadrado serve para disparar, o círculo para ataques corpo-a-corpo e o X para saltar. Uma das melhorias desta sequela é o facto de podermos disparar enquanto nos movemos, embora o ritmo de disparo seja mais rápido se estivermos parados ou, melhor ainda, durante os saltos. O botão L1 permite trancar a mira no inimigo mais próximo, e, caso não esteja activa, possibilita o movimento lateral. Com o L2, executamos uma volta de 180º, bastante mais eficiente do que rodar manualmente a personagem. Já o R1 alterna a mira entre inimigos, enquanto o R2 acciona uma pose espalhafatosa cuja utilidade, sinceramente, me escapou. Outra novidade nos controlos é o uso do analógico direito para mover a câmara. Contudo, a implementação está longe de ser ideal, sobretudo porque o sistema de lock-on também deixa a desejar. De pouco me serve virar a câmara se Grave continua virado noutra direcção, e ao pressionar o botão de mira automática, a mira prende-se no inimigo que estiver no seu ângulo, não necessariamente aquele que estou a tentar focar.

O que não faltarão aqui são inimigos para atacar e objectos para destruir. Tudo para aumentar drasticamente o nosso contador de combo!

No essencial, a jogabilidade mantém-se bastante próxima da prequela, encorajando-nos a executar combos com números impressionantes (frequentemente na casa das centenas). Tal deve-se não só ao grande número de inimigos por nível, mas também à quantidade de elementos destrutíveis nos cenários, que contam igualmente para o combo. Estes combos enchem a barra de munição para os demolition shots, ataques especiais bastante poderosos que, tal como no primeiro jogo, são activados com o botão triângulo. À medida que avançamos e dependendo da nossa performance em cada nível, vamos desbloqueando novos demolition shots, que podem ser seleccionados a qualquer momento através do botão direccional. Grave possui duas barras de energia: uma de escudo e outra de vida. O escudo regenera-se automaticamente se nos mantivermos fora de combate durante algum tempo. Quando este se esgota, passamos a perder vida, mas também é possível recuperá-la. Para isso, devemos utilizar os demolition shots de forma estratégica, pois quanto mais dano causarem, mais vida conseguimos recuperar. O jogo convida, assim, a um delicado equilíbrio entre risco e recompensa, introduzindo um elemento táctico que torna os tiroteios mais interessantes.

Infelizmente nem sempre temos direito a cenas anime como estas

Relativamente cedo no jogo, conheceremos duas novas personagens que nos acompanharão ao longo da aventura: Billy e Juji, ambos também cyborgs reanimados. A partir do momento em que os encontramos, tornam-se seleccionáveis para jogarmos com eles numa nova partida. Experimentei brevemente ambas as personagens, apenas para ter uma ideia de como se comportam em acção: as mecânicas base mantêm-se, mas cada um possui armas e demolition shots distintos. Billy é um guitarrista cuja guitarra eléctrica dispara raios de energia de longo alcance, embora os seus ataques corpo-a-corpo sejam relativamente fracos. Juji, pelo contrário, empunha um híbrido entre espadas e armas de fogo, bastante mais eficaz nos confrontos próximos. O facto de Gungrave: Overdose ser significativamente mais longo do que o primeiro jogo, aliado à possibilidade de desbloquear e jogar com estas duas personagens adicionais, contribui de forma bastante positiva para a sua longevidade!

Pela primeira vez na série, desbloqueamos também outras personagens jogáveis, que por sua vez possuem ataques e técnicas bastante diferentes.

A nível audiovisual, confesso que este jogo me deixou um pouco desapontado. Tal como no original, há um estilo visual bastante icónico no design das personagens e de alguns inimigos, o que não surpreende tendo em conta a colaboração de artistas reconhecidos do mundo manga e anime no desenvolvimento visual. Ocasionalmente, temos direito a algumas cenas em anime que ajudam a avançar a história, embora a maioria das sequências se limite a retratos estáticos das personagens envolvidas, o que retira algum dinamismo à narrativa. No que toca ao grafismo propriamente dito, o jogo deixa algo a desejar nesse aspecto. O jogo mantém um certo nível de cel-shading tal como no primeiro jogo, mas não houve grande evolução ali. A banda sonora também me passou praticamente despercebida, abafada pelo constante ruído dos tiroteios, embora por vezes se ouça uma ou outra faixa com influências jazz, sobretudo durante as cenas mencionadas acima. O voice acting sinceramente não achei nada de especial, tendo sido infelizmente dobrado em inglês, ao contrário da prequela que se manteve em japonês. Por fim, não posso deixar de referir um detalhe curioso desta versão europeia: por alguma razão, a editora Play It optou por utilizar a infame Comic Sans como tipo de letra para todos os diálogos, uma escolha questionável, tanto mais que a versão norte-americana recorre a uma fonte bem mais convencional.

O que também não falta aqui são bosses muito particulares!

Gungrave: Overdose deixa-me com sentimentos algo mistos. Apesar de apresentar melhorias na jogabilidade, como o controlo da câmara, uma duração mais prolongada e personagens desbloqueáveis, continuam a existir limitações nos controlos, especialmente no mecanismo de lock-on, que pode gerar frustração em várias situações. Visualmente, diria até que o Gungrave original teve mais impacto pela sua estética ousada, enquanto este parece ficar um ou dois degraus abaixo. Ainda assim, o jogo tem uma boa dose de momentos intensos e satisfatórios, especialmente para quem aprecia jogos de acção de ritmo elevado. Percebe-se, contudo, porque acabou por ser lançado a um preço económico. Após este título, a série Gungrave ficou em pausa durante vários anos, regressando apenas em 2018 com um jogo concebido para VR, que eu não cheguei a experimentar, nem conto em fazê-lo. Em 2022 surgiu uma nova sequela, Gungrave G.O.R.E, que também não foi particularmente bem recebida. Curiosamente, acabei por comprar a versão PS5 desse título, e conto jogá-lo em breve.

PC Genjin 3 (PC Engine)

Por fim o último PC Genjin / Bonk / PC Kid de plataformas a ser lançado na PC Engine já algures durante o ano de 1993. Curiosamente, este jogo sai apenas no Japão no formato Hu-Card, enquanto que nos Estados Unidos o jogo teve dois lançamentos distintos: em formato HuCard também em 1993 e um último relançamento em 1994 já em CD, versão essa exclusiva desse mercado. Escusado será dizer que custa um rim. Fico-me pela versão japonesa que infelizmente já não é tão barata quanto isso também e o meu exemplar veio da Vinted algures em Agosto deste ano. Não foi excessivamente caro pois aproveitei saldo que tinha por lá.

Jogo com caixa e manual embutido com a capa

As mecânicas de jogo são, na sua base, muito similares às introduzidas nos jogos anteriores (vide PC Genjin e PC Genjin 2), na medida em que teremos vários níveis de plataforma para explorar, inimigos para combater e diversos itens/power ups para coleccionar. Uns apenas nos dão pontos, alimentos como frutas ou corações restabelecem a nossa barra de vida e comer nacos de carne dá-nos direito a transformações temporárias que nos deixam mais poderosos ou até invencíveis durante alguns segundos. Temos no entanto algumas novidades, mesmo nos próprios power ups. Para além dos nacos de carne poderemos também comer rebuçados que, mediante a sua cor nos fazem crescer para um tamanho gigante ou diminuir para um tamanho minúsculo, sendo também cumulativos com os outros estados mencionados acima. Apesar de ser bonito vermos essa sprite gigante do Bonk, na verdade essa transformação não tem assim tanta utilidade quanto isso, ao contrário da transformação pequena, pois nos permite esgueirar por passagens estreitas e que tipicamente nos podem recompensar com itens bons como vidas extra, por exemplo. A outra das novidades é o facto de a aventura principal poder também ser jogada com dois jogadores em simultâneo, mas tal não cheguei a experimentar.

As transformações de Bonk em gigante ou minúsculo é uma das novidades aqui introduzidas e são trnansformações cumulativas com as mais tradicionais

Os níveis em si são bastante grandes e repletos de segredos para descobrir, desde vidas extra, as caras sorridentes (que servem para serem gastas para jogar níveis bónus no final de cada nível normal), ou mesmo muitos itens que nos levam precisamente para vários desses níveis bónus. E aqui temos uma grande variedade de níveis bónus para participar, que nos podem também recompensar com muitos pontos e vidas extra. A nível de jogabilidade convém também referir que a versão CD inclui ainda 4 mini jogos de multiplayer competitivo, que podem também serem acedidos através de pequenas portas escondidas em certos níveis.

Sim, continuamos a ver algumas expressões do jovem protagonista!

A nível visual, esperem por um jogo com uma boa variedade de cenários, tal como aconteceu no PC Genjin 2. Não só temos aqueles níveis mais típicos da idade da pedra, mas outros bastante bizarros como o interior de casas gigantes e outros que parecem bem reciclados dos jogos anteriores como o navio, as cavernas ou o mundo do gelo. De certa forma parece haver aqui menos conteúdo original e o próprio design dos níveis também não é tão bom. No entanto as sprites dos inimigos continuam grandes, bem detalhadas e repletas de humor. E sim, apesar de algo inútil, a transformação do Bonk gigante é bonita de se ver! Um outro detalhe que li por aí na internet é que aparentemente a versão CD corta alguns dos frames de animação do Bonk, o que é estranho. Por outro lado a versão CD traz música em formato CD audio, que são na sua maioria remixes das músicas da versão cartucho. Estas, tal como nos jogos anteriores, até que são agradáveis, mas confesso que não as acho tão boas e memoráveis assim.

Portanto este PC Genjin 3 é mais um bom jogo de plataformas para a PC Engine, embora se note que a fórmula já estava a começar a estagnar um pouco. Os novos power ups foram benvindos, assim como a grande variedade de níveis bónus, mas como um todo o jogo acaba por ficar uns furos abaixo do seu antecessor. Fico no entanto curioso para ver como a Hudson e Red deram continuidade à série pois lançaram ainda mais 2 jogos de plataformas para a Super Nintendo e que planeio cá trazer em breve.

PC Genjin 2 (PC Engine)

Conhecido fora do Japão como Bonks ou PC Kid, este jovem cabeçudo dos tempos da pré-história foi uma das mascotes da PC Engine / Turbografx-16 e embora o sistema não tenha tido o mesmo sucesso que as investidas da Sega e Nintendo (pelo menos no Ocidente), não deixam de ser bons jogos de plataforma. O primeiro PC Genjin (Bonk’s Adventure na sua versão norte-americana) apesar de algo modesto já possuía um charme muito característico e nesta primeira sequela a Red está de parabéns, pois conseguiram melhorar o jogo em todos os aspectos! O meu exemplar foi comprado em Abril deste ano no ebay, a um valor que preferia que fosse bem mais baixo, mas não chegou aos 60€.

Jogo com caixa e manual embutido com a capa

No que diz respeito às mecânicas de jogo, este jogo não difere do original na sua essência: um botão para saltar e outro para atacar, ou seja, mandar umas cabeçadas. Ao contrário do Mario, saltando em cima dos inimigos não lhes causa dano, a menos que lhes acertemos com a cabeça. Por exemplo, saltando por baixo de algum inimigo voador. A meio do salto se pressionarmos o botão de ataque, Bonks começa a mergulhar de cabeça, podendo assim causar dano nos inimigos que atinja (ou até deixá-los paralisados temporariamente se acertarmos no chão quando estivermos num estado mais forte). Durante os saltos, se pressionarmos o botão de ataque continuamente, Bonks vai também rodopiando, caindo de forma mais suave, algo que teremos de utilizar em certos desafios de platforming.

Os inimigos com cascas de ovo na cabeça aparecem agora em formas mais diversificadas e cheios de detalhe

Também tal como o seu predecessor teremos inúmeros itens e power ups a ter em conta, como vários coleccionáveis que nos dão pontos extra, certas comidas como vegetais e fruta são capazes de repor gradualmente a nossa barra de vida, assim como os corações vermelhos. Já os corações azuis extendem-nos a barra de vida. Os nacos de carne deixam-nos mais fortes temporariamente e caso comamos um naco de carne gigante, ou dois nacos de tamanho normal de forma seguida, Bonks torna-se ainda mais poderoso e durante cerca de 10 segundos também fica invulnerável. Caso deixemos de comer carne, Bonks irá lentamente regredir ao seu estado normal e mais calmo. Até aqui tudo igual, mas temos algumas novidades interessantes no campo das mecânicas de jogo. Existe um power up especial, uma flor que se prende à nossa cabeça e nos permite voar livremente pelos níveis e a cabeça de Bonks ganha ainda mais funcionalidades: ao mandar cabeçadas nas paredes podemos saltar entre paredes como no Ninja Gaiden, por exemplo! No que diz respeito aos níveis em si, estes são agora muito maiores, repletos de caminhos alternativos e inúmeros segredos para descobrir caso queiramos perder tempo a explorá-los a 100%. Tal como no original, muitos desses segredos levam-nos a vários mini jogos distintos que nos podem permitir ganhar mais pontos, mas nesta sequela temos ainda mais variedade desses mini jogos.

Os níveis são agora maiores, mais abertos e bem coloridos e detalhados!

Graficamente este jogo é também uma grande evolução perante o seu antecessor. Para além dos níveis serem mais longos e abertos como já referi acima, há também muito mais detalhe e cor nos seus gráficos, assim como uma maior variedade de cenários. Para além dos locais habituais como florestas, cavernas, montanhas ou vulcões, podemos também explorar uma praia onde triceratops de bikini se banham ao sol, um navio de guerra feito de pedra e osso, uma cidade feita de pedra, culminando a aventura num conjunto de níveis um pouco mais high-tech, para a idade da pedra, claro. Há também uma maior variedade de inimigos, particularmente aqueles dinossauros com cascas de ovo na cabeça que surgem agora nas mais variadas formas. Há também um bom humor sempre presente, particularmente nas animações de alguns inimigos ou nas próprias animações do Bonks, pois vê-lo a escalar paredes com os seus próprios dentes sempre me deixa com um sorriso na cara. As músicas são igualmente agradáveis, mas não as considero propriamente memoráveis e nada de especial a apontar aos efeitos sonoros que cumprem bem o seu papel.

Portanto estamos aqui perante um jogo de plataformas bem sólido e uma sequela que melhora o original em todos os campos: a jogabilidade traz uma ou outra coisa nova, os níveis são bem maiores, abertos e variados e é também um jogo bem mais desafiante que o original. A série Bonks não se ficou por aqui, a PC Engine ainda recebeu mais um título (e dois spin offs) que planeio cá trazer em breve.

Gungrave (Sony Playstation 2)

Vamos finalmente voltar à Playstation 2 para um jogo que há muito tinha em backlog e desta vez lá me decidi a pegar nele. Produzido pela Red Entertainment (a mesma empresa por detrás de séries como Bonk’s/ PC Kid, os RPGs Far East of Eden ou mesmo a série Sakura Wars) este Gungrave é um jogo de acção na terceira pessoa com conceito algo bizarro e uns visuais bem originais, até porque teve a colaboração de artistas por detrás de séries manga/anime como Trigun ou Oh! My Goddess. O meu exemplar sinceramente já nem me recordo onde terá sido comprado, nem quanto custou. Apesar de possuir um talão da compra original de uma loja alemã, é uma versão inteiramente em inglês.

Jogo com caixa, manual e papelada

A história leva-nos a uma metrópole fictícia e controlar uma personagem bem bizarra, a começar pelo seu nome: Beyond the Grave. E este é uma espécie de um cyborg, ressuscitado após ter sido brutalmente assassinado pelo seu suposto melhor amigo (Harry Mc Dowell) há 15 anos atrás. Tanto Harry como Brandon (o nome original da nossa personagem) eram membros de uma organização mafiosa e o motivo de Brandon ter sido assassinado irá eventualmente ser revelado durante as cutscenes. Basicamente 15 anos se passaram, Beyond the Grave está de volta e o objectivo é o de derrotar toda uma série de bandidos dessa organização e assim salvar uma jovem rapariga de 15 anos, invariavelmente ligada ao seu passado.

Visualmente o jogo é bastante original, mas tecnicamente fraco devido à reduzida draw distance que tem

Bom a jogabilidade é no mínimo original. Grave enverga duas pistolas gigantes e o jogo leva-nos numa série de apenas 6 níveis, mas estes repletos de inimigos que teremos de destruir. Começando pelos controlos, o quadrado é o botão principal para se disparar, enquanto que o círculo nos permite correr (sem poder disparar ao mesmo tempo) e o X nos permite saltar ou, se usado em conjunto com o direccional, permite-nos saltar em câmara lenta nessa direcção e nesse curto período disparar bem mais rapidamente. Os botões L1 servem para fazer lock-on ao inimigo mais próximo ou strafing, caso não tenhamos nenhum na mira, enquanto que o L2 nos permite dar uma volta de 180º. Já se pressionarmos o L3 podemos andar um pouco mais rápido e disparar ao mesmo tempo e o R1 é um ataque corpo-a-corpo de curto alcance, com Grave a pegar no enorme caixão que carrega e o usar como arma.

O jogo tem uma curva de aprendizagem algo exigente que nos pune nos níveis de dificuldade mais avançados. Temos continues ilimitados, mas com sérias penalizações na nossa pontuação

Temos também um sistema de combos que é incrementado de cada vez que acertemos em alguém ou nalgum objecto destrutível, podendo inclusivamente o seu contador chegar às centenas, visto que os cenários têm sempre alguns objectos destrutíveis precisamente para conseguirmos chegar a combos elevados. E para que servem estes combos? Bom, com cada combo bem sucedido vamos incrementar uma barra de energia que, sempre que a mesma se completa, nos desbloqueia um golpe especial, os Demolition Shots, que poderemos usar posteriormente recorrendo ao botão de triângulo. O primeiro demolition shot que temos disponível consiste no Grave usar um lança rockets que está convenientemente escondido no seu caixão. No entanto, à medida que vamos avançando no jogo e mediante a nossa performance e avaliação no final de cada nível, iremos desbloquear outros demolition shots diferentes que podem ser alternados num menu de pausa. De resto convém também referir que Grave possui um escudo e uma barra de vida. O primeiro é restaurado automaticamente ao fim de alguns segundos sem sofrer dano. Já quando este se esvazia, começamos mesmo a perder vida.

O facto de os cenários possuirem tantos objectos destrutíveis não é por acaso. Tais servem para manter o nosso contador de combos sempre activo!

Até aqui tudo bem, o jogo tem os seus bonitos momentos e a acção é de facto insana, com inúmeros inimigos a surgirem de todos os lados. Os controlos têm uma certa curva de aprendizagem, sendo que truques como o strafing, disparar mais rápido quando saltamos em câmara lenta, ou simplesmente se pressionarmos furiosamente o quadrado sem mais nenhum botão faz com que o Grave dispare em poses cada vez mais over the top e causando assim mais dano. Mas de longe há coisas que poderiam ser melhoradas. Grave é lento, o que até faz algum sentido visto que possui duas armas gigantes e carrega um caixão consigo, pelo que aprender aqueles truques acima referidos é essencial. O que me chateia mais é mesmo não haver nenhum controlo de câmara, com o segundo analógico a ser então completamente deixado de lado e isto é sem dúvida o que mais atrapalha no jogo.

Com a colaboração de vários artistas conhecidos da cena manga/anime, esperem também por várias cutscenes animadas ao longo do jogo

Já no que diz respeito aos visuais, estes são bastante originais, embora tecnicamente ainda sejam bastante fracos. Os 6 níveis que vamos poder explorar vão tendo cenários bastante variados entre si, pois apesar de serem todos em zonas urbanas, vamos poder explorar diferentes partes da cidade, seus edifícios, fábricas ou mesmo fazer uma pequena viagem num comboio, por exemplo. A direcção artística é excelente, pois como referi logo no primeiro parágrafo este jogo teve a colaboração de alguns artistas de manga/anime notáveis da indústria, resultando em personagens originais e bem detalhadas assim como os próprios cenários têm um grafismo próximo do cel shading que resulta bem para o estilo de jogo. No entanto, num ponto de vista meramente técnico, este jogo parece por vezes de uma geração anterior. O campo de visão é muito reduzido, abusando bastante daquele típico “efeito de nevoeiro” que era muito comum em jogos 3D na geração anterior. Imaginem uma sala ampla e bem iluminada mas onde não conseguem ver nada uns 5 metros à vossa frente e à medida que vão caminhando essas zonas vão ficando iluminadas. Tendo em conta que foi o primeiro jogo que eles produziram para a Playstation 2, o não conhecimento das capacidades da consola talvez seja a razão pela qual tecnicamente este jogo deixe a desejar. De resto nada a apontar no som: o voice acting está integralmente em japonês como manda a Lei e a banda sonora é cativante e bastante eclética, tendo até algumas músicas mais jazzy e que me fizeram lembrar o Cowboy Bebop.

O lock on é um dos nossos melhores amigos, mas se o inimigo estiver longe não funciona

Portanto este Gungrave é um jogo bastante original, tanto no seu conceito, como nos seus visuais. No entanto a falta de controlo da câmara é para mim um problema sério e que prejudica bastante a sua jogabilidde. Do ponto de vista técnico, apesar da originalidade e irreverência dos seus visuais, apresenta também alguns problemas que lhe retiram algum valor. Ainda assim foi uma experiência positiva e fico muito curioso a ver como o jogo evoluiu na sua sequela, que aparenta pelo menos ser bem maior que este.

PC Genjin (PC Engine)

Conhecido fora do Japão como Bonks, este miúdo cabeçudo das cavernas foi uma das mascotes da PC Engine / Turbografx-16. Produzido pela Hudson e pela Red Entertainment, os mesmos que nos trouxeram os RPGs Far East of Eden ou Sakura Wars, este é um jogo de plataformas que apesar de simples possuía um certo charme que fazia antever uma série de sucesso. O meu exemplar custou algo em volta dos 50€, tendo sido comprado a um particular no passado mês de Setembro.

Jogo com caixa e manual embutido na capa

Jogos de plataforma/acção com a temática dos homens das cavernas pré-históricos não foi um conceito esquecido nos anos 90, com séries como Prehistorik da Titus ou os Joe and Mac da Data East. Mas Bonks, lançado como PC Genjin ainda em 1989 no Japão, deverá ter sido dos primeiros com este charme. Aliás, a sua origem é ainda mais curiosa, pois o boneco aparecia regularmente numa revista oficial PC Engine no Japão e a personagem foi ganhando vários fãs até que a Hudson decidiu finalmente criar este videojogo. Mas no que diz respeito à história em si, esta é o cliché de sempre. Mesmo sendo este um jogo que decorre na pré história, temos sempre uma princesa para salvar.

Para atacarmos os inimigos em segurança temos de lhes dar cabeçadas. Saltar por baixo é uma boa táctica quando tivermos essa oportunidade

A nível de mecânicas de jogo e controlos, as coisas são relativamente simples com um botão para saltar e outro para atacar. A cabeça de Bonks é practicamente indestrutível pelo que quando pressionamos o botão de ataque, este serve mesmo para dar cabeçadas nos inimigos! Saltar, ao contrário do Mario, apenas causa dano se atingirmos os inimigos com a nossa cabeça, como atingindo inimigos aéreos por baixo, por exemplo. No entanto se pressionarmos o botão de ataque a seguir a um salto, Bonks mergulha de cabeça, causando ainda mais dano caso acertemos nalgum inimigo. Se pressionamos o botão de ataque continuamente a meio de um salto, o Bonks irá rodopiar pelo ar, deslizando suavemente, o que nos irá dar algum jeito nalguns segmentos de platforming mais exigentes.

Comer carne deixa o Bonk cada vez mais furioso, causando mais dano enquanto se mantiver nesse estado

Claro que também teremos inúmeros itens e power ups para apanhar. Ao derrotar certos inimigos por vezes estes largam umas caras sorridentes que nos dão pontos adicionais no final do nível. Vegetais e frutas para além de pontos restabelecem parte da nossa barra de energia (medida em corações), enquanto que corações vermelhos restauram um coração completo da barra de vida, corações azuis expandem a barra de vida com um coração adicional e mini Bonks são vidas extra. Ficam então a sobrar os nacos de carne, que por sua vez podem ser pequenos ou grandes. Caso apanhemos um naco pequeno, Bonks transforma-se, fica com uma cara de zangado e os seus ataques causam mais dano. Caso apanhemos outro naco pequeno, Bonks fica ainda mais furioso, invencível durante cerca de 10s e causa ainda mais dano. Independentemente do estado inicial, se comermos um naco de carne maior, saltamos logo para o estado mais poderoso. No entanto, para manter qualquer um destes estados, temos de ir comendo carne continuamente, caso contrário Bonks irá, com o tempo, regredir desde a forma mais poderosa ao seu estado normal.

Bonk pode escalar paredes, usando claro os seus dentes para isso!

Graficamente é um jogo ainda algo simples pois é um título de 1989 e lançado em HuCard. Mas desde cedo que se nota um certo carisma que veio a ser mais desenvolvido nas sequelas. Bonks vai fazendo diferentes expressões faciais consoante as acções, os inimigos também possuem um estilo artístico muito característico, onde chapéus com cascas de ovo são recorrentes e os bosses são tipicamente maiores e mais detalhados. Os níveis vão atravessando várias paisagens naturais como florestas, cavernas ou montanhas. Ainda no início do jogo há um segmento onde entramos dentro de um dinossauro, mas infelizmente a partir daí a variedade de cenários vai diminuindo. As músicas são tipicamente agradáveis, mas nada propriamente de memoráveis.

Neste jogo já se nota vários indícios do bom humor que a série viria a ser conhecida. Pena que o nível dentro deste dinossauro seja a única marca de originalidade, pois a partir daí a variedade de níveis já se reduz bastante.

Portanto este primeiro PC-Genjin/Bonk’s Adventure é um jogo de plataformas sólido e que serviu bem para introduzir uma nova personagem que bem caracterizou a PC-Engine / Turbografx nos anos seguintes. Não sei bem medir o sucesso que teve no Japão, mas no ocidente infelizmente acabou por passar um pouco despercebido devido à obscuridade do sistema por cá, o que foi pena, até porque com a introdução de um jogo de um certo ouriço azul em 1991 fez despoletar uma nova “guerra de mascotes” e o Bonk deveria ter tido mais reconhecimento.