Syberia (PC)

Vamos voltar aos jogos digitais do PC para mais um jogo de aventura point and click da Microids, a mesma empresa que nos trouxe aventuras como Post Mortem ou Still Life. E tal como esses jogos, em especial os Still Life pelas suas perspectivas de terceira pessoa, Syberia também utiliza cenários pré-renderizados com uma excelente qualidade, apesar de uma relativamente baixa resolução para a época de 2002. Se a memória não me falha, este jogo foi comprado num dos vários bundles existentes por essa internet fora, tendo-me ficado muito barato e incluiu ainda a sequela Syberia II e os já referidos Post Mortem / Still Life.

Syberia - PCA protagonista desta aventura é Kate Walker, advogada norte-americana incumbida com uma simples tarefa: viajar à remota aldeia nos alpes franceses de Viladilene e encontrar-se com Anna Voralberg, dona de uma outrora magistral fábrica de brinquedos mecânicos (daqueles de “dar à cordinha”), que se encontra prestes a ser comprada por uma gigante multinacional de brinquedos. Todo o negócio já estava alinhavado e Kate apenas precisava de uma assinatura. Tal não é o seu espanto quando lá chega e descobre que a senhora tinha acabado de falecer. Mas como nos negócios desta magnitude nada é deixado ao acaso, nas questões contratuais apenas seria necessária a aprovação do negócio pelo notário da terrinha. Mas quando Anne lhe fala descobre que as coisas não serão assim tão simples, de acordo com uma carta escrita pela senhora antes de morrer, há um herdeiro: O seu irmão Hans, que todos julgavam como morto e agora está em parte incerta. O resto do jogo será passado então com Kate a viajar por localidades remotas em busca do paradeiro de Hans, descobrindo cada vez mais sobre o seu passado misterioso e com muitos autómatos e outras geringonças mecânicas à mistura.

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Ao longo do jogo iremos ver imensos autómatos e mecanismos “de dar à corda” – até um comboio!

A jogabilidade é simples, sendo apenas necessário o rato para jogar. Botão esquerdo do rato para escolher o sítio onde nos queremos deslocar, ou interagir com pessoas e objectos. O botão direito do rato chama o inventário, ou acelera os diálogos. E no inventário temos os vários items que podemos encontrar ao longo do jogo, na sua esmagadora maioria necessários para progredir, sejam chaves ou outras ferramentas necessárias para abrir novas portas, ou outros objectos que depois acabarão por ser requesitados em alguns puzzles ou mesmo por personagens. Para além do mais temos também uma lista de documentos, todos eles “digitalizados” com uma excelente qualidade, que também podemos ler sempre que o desejarmos. Ainda temos um telemóvel dos antigos que podemos utilizar para… fazer chamadas. Lembram-se daqueles telemóveis pré-Nokia 3210 que apenas tinham caracteres LCD no display e pouco mais? Pronto, Syberia é desse tempo. De resto devo dizer que muitos dos puzzles são bastante straightforward, bastando apenas de alguns objectos como chaves para abrir portas e afins, mas há outros que são mais complicados e mesmo falando com os NPCs para obter pistas não vamos muito mais longe.

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Todos os documentos que encontramos são apresentados desta forma realista

Graficamente é um jogo excelente, embora com algumas falhas. Todos os cenários são pré-renderizados em 3D, o que nos presenteiam com excelentes paisagens verdes, ou a o excelente detalhe decadência de edifícios antigos do tempo da União Soviética. Os problemas é que sendo cenários pré-renderizados a resolução do jogo não pode ser alterada, forçando-nos a jogar em 800×600. Felizmente que ao chafurdar em ficheiros de configuração conseguimos pelo menos jogar em modo janela, o que já não é mau. Depois o outro problema técnico está nas movimentações que são bastante lentas. O jogo obriga-nos a fazer muito back tracking e Kate muitas vezes não segue o caminho mais rápido para o destino, para além de sempre que se tem um desnível pelo meio, sejam escadas ou semelhantes, Kate pára, dá duas voltas sobre si mesma, e começa a descer as escadas lentamente. Para além do mais algumas portas ou objectos a interagir não são muito visíveis. Mas no geral gostei bastante do aspecto gráfico do jogo, misturando paisagens bem realistas com os tais autómatos algo decadentes e fantasiosos. Locais como a faculdade foram para mim muito bem pensados e gostei bastante do trabalho de design gráfico no geral.

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Devido aos cenários pré-renderizados, temos algumas lindíssimas paisagens para descobrir

O voice acting é bom, e a música é bastante envolvente, tocando apenas nas alturas certas e com as melodias apropriadas ao que vai decorrendo no jogo. Temos imensas personagens marcantes (bem mais que a própria Kate, na minha opinião) como o rob- ops, autómato Oscar e todos os seus cuidados para não se enferrujar, ou personagens hilariantes como os reitores da faculdade ou o militar de fronteira que é meio pitosga. Mas nem tudo é bem humorado, o jogo também tem a sua dose de drama, embora não seja algo muito pesado nesse sentido. Só tenho pena da forma como o jogo termina, apesar de todas as horas passadas anteriormente, parece que a aventura chega ao fim mesmo antes de começar. O jogo termina num cliffhanger que certamente teve a sua continuidade no Syberia II.

No fim de contas, este é um excelente jogo de aventuras point and click no estilo clássico. Não é um jogo perfeito, tem alguns defeitos de “navegabilidade” quando queremos movimentar Kate de um lado para o outro, ou mesmo a questão da resolução fixa, mas nada que retire valor à sua história interessante e às personagens ou locais carismáticos que vamos descobrindo na nossa viagem que pelos vistos nem a meio ainda chegou pois um Syberia III já está em produção há algum tempo. Existem também versões deste jogo para a PS2 ou Xbox, não sei como estão a nível de performance, assim como existem também versões posteriormente lançadas para dispositivos móveis e a Nintendo DS que pela sua baixa resolução de ecrã não deve estar lá grande coisa. De qualquer das formas, este será um jogo que mais tarde ou mais cedo comprarei em caixa, e assim que o fizer, também actualizarei este post.

Still Life 2 (PC)

De volta às aventuras gráficas do PC com este Still Life 2, onde mais uma vez encarnamos na agente Victoria McPherson do FBI de forma a tentar parar mais um serial killer que está a assolar os norte-americanos. Mais um jogo produzido pela Microids, os mesmos de Dracula e Syberia, e tal como os seus predecessores Post Mortem e Still Life, este jogo tem uma temática mais matura e entrou na minha conta do steam por intermédio de algum bundle a um preço muito bom.

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O anterior Still-Life terminou num cliffhanger, sem se saber a identidade o assassino em série da altura, e este jogo inicialmente descarta completamente essa história, sendo passado 3 anos mais tarde, em 2008,  com um novo assassino em série à mistura. Ainda assim, através de flashbacks de Victoria vamos poder finalmente saber o desfecho do caso anterior. Mas passando de vez para este jogo, este tem mais uma vez duas personagens jogáveis. Este novo assassino em série, apelidado de East Coast Killer é um assassino mais mediático. Por um lado, tal como o anterior, apenas vitima mulheres, já por outro, envia cassetes das suas torturas e assassinatos quer para as autoridades quer para os meios de comunicação. E também tal como o jogo anterior, vamos alternando entre 2 personagens jogáveis, por um lado a “veterana” Victoria McPherson, por outro a jornalista Paloma Hernandez, que se encontrava a investigar o assassino, acabando por ser raptada por ele mesmo.

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O jogo começa com Victoria a analisar os ficheiros das primeiras vítimas

Grande parte do jogo é passada numa mansão abandonada utilizada pelo assassino de forma a torturar e matar as suas vítimas. Por um lado, enquanto Victoria, passamos a maior parte do tempo em trabalho de investigação forense – recolher impressões digitais, analisar manchas de sangue, tecidos, equipamentos electrónicos, entre outros – por outro lado quando jogamos com Paloma, como ela está aprisionada na mesma casa, o objectivo é consiste em sobreviver às armadilhas plantadas pelo assassino e tentar escapar com vida da mesma casa. Se a ideia de ter um assassino, uma vítima, e várias autoridades na mesma casa, ao mesmo tempo, a brincarem ao gato e rato ao longo das cerca de 10-12h de jogo possa parecer rebuscada, a verdade é que a casa é realmente grande, com várias divisões, um gigante abrigo subterrâneo e muitas dessas divisões estão grande parte do tempo trancadas. A história vai tendo imensos plot twists que vão dando fulgor ao jogo, bem como uma série de puzzles lógicos como já o existiram no primeiro jogo.

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Conseguiram capturar bem a atmosfera de medo provocada pelo assassino neste jogo

A jogabilidade é então a de um jogo de aventura clássico point-and-click, na medida em que temos de falar com várias personagens e interagir com diversos objectos de forma a progredir na história. No entanto o jogo apresenta alguns conceitos fora do comum. Tinha-me queixado que não gostei muito do inventário e interface geral no primeiro jogo, as coisas aqui mudaram um pouco, embora continuem a não ser perfeitas na minha opinião. O inventário em si é composto por 16 quadradinhos. Cada item que podemos coleccionar ocupa entre 1 a 16 quadrados, pelo que devemos gerir o inventário com algum cuidado. Ao longo da casa existem diversos locais onde podemos armazenar os itens excedentes, mas como isto não é o Resident Evil onde os baús são mágicos, aqui temos mesmo de memorizar onde deixamos os outros items anteriormente. E isto espalhado por uma casa gigante, repleta de salinhas e passagens sinuosas acaba por ser um pouco aborrecido por vezes ter de percorrer imenso só para ir buscar um item a um armário. Isto porque a movimentação infelizmente não é a melhor também. Faz-me lembrar um Resident Evil clássico com os tank controls substituidos pela movimentação point-and-click, que, com a transição de ângulos de câmara é por vezes confusa.

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O kit de análise forense do FBI que Victoria carrega, com todas as ferramentas que podemos utilizar

Victoria e Paloma têm algumas peculiariadades na sua jogabilidade também. Victoria possui um kit de análise forense do FBI repleto de diversas ferramentas que serão úteis no decorrer do jogo: pó para identificar impressões digitais, um leitor 3D das mesmas, pinças e “cotonetes” para recolha de objectos, sangue, ou otros fluídos para análise, um microscópio portátil, entre outros. E durante o jogo teremos de fazer mesmo muitas destas análises e o que era interessante nas primeiras vezes, acaba por se tornar mecânico com o decorrer da aventura. Victoria possui ainda um telemóvel que lhe permite fazer chamadas, ou registar ficheiros que vamos recolhendo. Paloma tem algo semelhante, um gravador de repórter, onde também regista alguns dados. Neste jogo também é possível as personagens morrerem. Num certo ponto da história teremos armadilhas para desarmar, armadilhas essas que nos poderão matar. Felizmente existem alguns medkits que poderão ser utilizados nessas situações. As outras consistem em tanto Victoria como Paloma escaparem das armadilhas preparadas pelo assassino. Existe um contador no canto superior direito do ecrã que nos indica o tempo disponível para nos safarmos dessa situação, geralmente resolvendo alguns puzzles sob pressão. É aqui que entra a influência dos filmes Saw neste jogo.

Para um jogo de 2009, os seus gráficos deixam um pouco a desejar, não sendo muito melhores que os do primeiro jogo. Ainda assim, não deixou de ser minimamente competente nesse campo. As cutscenes em CG têm uma boa qualidade e conseguem transparecer muito melhor as emoções transmitidas pelas personagens do que os diálogos normais propriamente ditos. O voice acting, tal como os outros 2 jogos da série têm os seus altos e baixos, por vezes os diálogos são mesmo bons e o acting também, outras vezes é só o acting que falha um pouco e ainda outras vezes ouvimos algumas one-liners muito fatelas. Já a música tende a ser muito tensa, embora por vezes entre em momentos que não deveria. Por exemplo, quando entramos pela primeira vez numa determinada sala muito macabra, entra uma música algo tenebrosa a acompanhar, o que até faz todo o sentido. No entanto, depois de já estar essa sala toda explorada e mais que explorada, o factor medo ou surpresa já não entra na equação, mas a mesma musiquinha lá volta a tocar sempre que lá entremos.

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O assassino antes de matar as vítimas tortura-as com jogos macabros, tal como Saw

No fim de contas acho Still Life 2 um bom jogo de aventura, para quem gostar de uma história matura, com crimes violentos para resolver, e uma história repleta de plot-twists. A jogabilidade ainda poderia ser um pouco melhorada, o jogo continua com alguns defeitos (para mim o pior continua a ser a má optimização do jogo nos PCs), mas esses defeitos não retiram a diversão que o jogo acaba por proporcionar.

Still Life (PC)

Still Life é uma sequela de Post Mortem e tal como esse jogo é também uma aventura point and click, desta vez mais tradicional pois é passada na terceira pessoa. E mais uma vez é um jogo de detectives com uma história bem mais adulta, não existindo quaisquer pudores com linguagem, gore ou nudez. Mais uma vez é um jogo produzido pela malta francesa da Microids, o mesmo estúdio que trouxe outros bons jogos como a série Dracula ou Syberia. E tal como o Post Mortem, este jogo chegou-me à conta do steam por intermédio de um bundle qualquer que sinceramente já nem me recordo qual foi. Acho que terá sido algo da Indie Gala.

Still Life PCStill Life abre com uma excelente cutscene ao som de Dies Irae de Mozart, mostrando vários assassinatos violentos perpretados por um misterioso assassino, vestido com roupas vitorianas e uma máscara que lhe cobre todo o rosto. Após essa abertura somos levados até a um prédio manhoso em plena Chicago nos dias de hoje, onde jogamos com Victoria McPherson, neta de Gustave McPherson do Post Mortem. Ora Victoria é uma agente do FBI e está actualmente a investigar uma série de assassinatos de um serial killer que vai actualmente na sua 5a vítima. Todas as vítimas são mulheres de profissão duvidosa e morrem afogadas, com alguma violência à mistura que tem vindo a aumentar. Enquanto Victoria investiga esses crimes, vai lendo também o diário do seu avô Gustave que conta as suas aventuras em Praga nos anos 30, onde se sucederam crimes muito semelhantes. Assim sendo vamos alternando de capítulo para capítulo, ou jogamos com Victoria ou Gustave e depressa vamos vendo como as duas ondas de crimes estão ligadas, bem como vamos sabendo um pouco mais do que foi acontecendo com Gustave ao longo dos tempos.

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Vários dos puzzles são coisas muito lógicas.

Mas o que mudou mais neste jogo face ao antecessor foi sem dúvida a jogabilidade, que agora está mais tradicional, pelo menos na questão da movimentação. Agora é na terceira pessoa, ao longo de vários cenários onde apenas precisamos de clicar com o rato na posição que queiramos que a nossa personagem se desloque. Infelizmente acho que complicaram um pouco o sistema de inventário. Para se utilizar um item temos de nos deslocar até uma posição em que apareça no ecrã um íconezinho com uma mão. Aí basta abrir o inventário e seleccionar o objecto para se usar, que a personagem irá logo utilizar de forma automática. Os tradicionais puzzles também não ficaram de fora e tal como o Post Mortem, ou são coisas bastante lógicas em que temos de interagir com uma série de objectos, como por exemplo como recolher impressões digitais de um objecto, ou são puzzles bem mais frustrantes. Um bom exemplo são as variantes dos sliding puzzles que eu tanto odeio, ou o puzzle para se destrancar uma porta utilizando um lockpick.

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Continuo a preferir de longe a personagem do Gustave. Pena que no próximo jogo já não joguemos com ele.

A narrativa deste jogo é bastante adulta. Tal como referi acima eles não têm muitos pudores em abordar temas polémicos como a prostituição, mortes violentas e várias profanidades. No entanto, ao contrário do jogo anterior as coisas aqui são completamente lineares, o que até se compreende visto o jogo estar dividido em capítulos e alternar entre 2 storylines. Mas o que não gostei que tenha mudado foi o esquema de interrogatório, pois aqui já não controlamos as perguntas/respostas a escolher. Basta clicar no botão esquerdo do rato para se falar sobre assuntos necessários à história, e com o botão direito para meter alguma conversa “de chacha”. Ainda assim, a maneira como a história vai sendo contada agradou-me bastante porém o voice acting é muito inconsistente. Em algumas personagens acho que ficou bem representado, mas em várias outras nada mesmo.

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A primeira vítima que investigamos com a Victoria

Graficamente falando é um jogo normal, nada que impressione muito. No entanto continuo a gostar muito mais dos visuais da aventura de Gustave do que propriamente os da actualidade. Infelizmente é um jogo mal optimizado para PCs, tal como o seu antecessor. Embora a resolução nativa já seja maiorzinha, o jogo continua a suportar uma resolução apenas, nem dá sequer a opção de jogar em modo janela, o que para mim é um pouco incomodativo. Já a música está muito bem conseguida como é habitual, sendo tensa e ambiental quando o deve ser, alegre ou mais agressiva noutras alturas. Nada a apontar aqui, e para um jogo que abre com uma Dies Irae em conjunto daquela CG, já é dizer muito.

Concluindo este pequeno artigo, acho Still Life um bom jogo de aventura, que sem dúvida marca ponto pela sua história mais madura, e o trabalho de “detective” que vamos desempenhando. Tem alguns problemas, nomeadamente  a interface não muito boa com o jogador, e alguns actores representarem mal as suas personagens. Tirando isso, para quem gosta de jogos de aventura, Still Life é mais uma boa opção.

Post Mortem (PC)

Ultimamente tenho dado uma maior atenção ao género de aventura point and click, portanto esperem por ler uns quantos artigos deste género de seguida. Post Mortem é um jogo de aventura point and click ao estilo de um Riven, desenvolvido pelos franceses da Microids, o mesmo estúdio que nos trouxe jogos como a série Vampire ou Syberia. Este jogo, tal como as suas sequelas Still  Life 1 e 2 chegaram-me à colecção steam através de um bundle que sinceramente já não me recordo, mas não terá sido nada caro.

PostmortemboxPost Mortem decorre na cidade de Paris, algures durante os anos 20, onde tomamos o papel de Gustave MacPherson, um artista americano e detective privado de ocasião, quando alguma proposta interessante surge. O jogo abre logo sem nenhuns pudores, com uma cutscene que mostra um casal prestes a practicar “o amor” a ser surpreendido por um bandido mascarado que os decapita, senta os cadáveres e coloca as suas cabeças no colo de cada um, com uma moeda de ouro na sua língua. Depois somos então abordados por Sophia Blake, suposta irmã de uma das vítimas, uma bonita e misteriosa mulher que contrata Gustave para investigar a morte desse casal e recuperar um artefacto roubado. Logo por este início arrebatador deixou-me umas óptimas primeiras impressões, com um jogo em que, apesar de existirem alguns momentos humorísticos, a história e toda envolvência “noir” era muito mais adulta e séria. A história vai-se desenvolvendo com várias conspirações e as personangens que vamos encontrando nunca são 100% fiáveis, escondendo sempre os seus verdadeiros motivos. Infelizmente a história vai cair no cliché dos cavaleiros templários e o sobrenatural, mas não deixa de ser interessante. Influências de Broken Sword e Gabriel Knight certamente.

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A cena do crime

Tal como referi no artigo do Scratches, a jogabilidade é muito semelhante à de um Riven ou Myst, onde podemos apreciar os cenários numa perspectiva de primeira pessoa, olhando a 360º, porém os cenários são estáticos e o movimento é dado por cliques. Mas ao contrário do Scratches, aqui há um importante trabalho de detective para desempenhar, pelo que há um grande foco nos interrogatórios que devemos fazer a todos os NPCs, de forma a obter mais informação para avançar no jogo. Mas sim, como os restantes jogos de aventura existem vários puzzles para resolver e itens para apanhar. Os puzzles é que tanto podem ir do relativamente simples, a coisas bem mais complexas, pelo que a atenção a todos os pequenos detalhes é mesmo necessária. Abriruma fechadura com uns lockpicks foi para mim uma tarefa hercúlea. Desenhar um retrato do criminoso também era necessário estar atento às descrições que iamos ouvindo, brincar com o kit de alquimia também não era pêra doce, e por aí fora.

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Um dos últimos puzzles do jogo, certamente dos mais difíceis

Uma outra coisa que achei muito interessante neste jogo foi a sua não linearidade. À medida em que vamos “descobrindo” outros locais para visitar, seja pelas conversas que temos ou pelos documentos que surripiamos, esses locais vão estar disponíveis para visita num mapa. No entanto o jogo não obriga a que façamos as coisas de uma certa ordem. Existem 4 finais, um péssimo e os outros vão melhorando gradualmente, mas embora a história seja essencialmente a mesma, existem várias maneiras de chegarmos a um determinado ponto da história, e podemos investigar primeiro um verso da moeda em vez do outro.

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O que não gostei foi da maneira como acedemos ao inventário, clicando com o botão direito do rato. Para ir ao menu principal temos depois de seleccionar um item para isso.

Graficamente é um jogo interessante, tendo em conta que saiu no ano de 2002. Apresenta gráficos bonitos para os cenários, embora usem uma baixa resolução de 800*600. É uma resolução fixa, não dá para alterar, no máximo podemos editar um ficheiro de configuração para colocar o jogo a correr numa janela. Mas ao contrário de Scratches mais uma vez, para além dos cenários estáticos temos também alguns modelos poligonais das personagens com quem falamos. Essas personagens estão também bem detalhadas para a altura. Para além do mais existem várias cutscenes em CG ao longo do jogo, seja nalguns momentos chave da história, ou quando entramos pela primeira vez num determinado local. Convém também referir o aspecto visual da arte em si, pois parece-me que conseguiram representar fielmente uma versão “noir” de Paris nos anos 20. A música é também excelente, captando muito bem as diferentes atmosferas do jogo, sendo sinistra ou tensa quando necessário e agradável em locais também agradáveis, como o café Alambic, por exemplo. Já o voice acting deixa-me reacções mistas, em algumas personagens até que está bem conseguido, noutras já não acho tanto. Mas gostei da maneira como a narrativa foi levada, nota-se perfeitamente que o público alvo deste jogo já era mais maduro que muitos outros jogos de aventura mais “ligeiros”. Existem na mesma algumas situações ou personagens bem humoradas (o polícia é o maior exemplo disso), mas a abordagem à sexualidade, aos crimes hediondos, a falsidade de quase todas as personagens, ao underground parisiense e das sociedades secretas, dão mesmo esse toque “negro” ao jogo que eu apreciei.

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Este senhor passava bem por um GNR da velha guarda. Logo vão perceber porquê.

Post Mortem foi depois sucedido pelos Still Life 1 e 2, que também fazem parte da minha colecção Steam. Esses jogos centram-se nas aventuras de uma descendente de Gustave MacPherson, também a tomar o papel de detective em casos estranhos, pelo que certamente irei jogá-los muito em breve. Post Mortem é assim um bom jogo de aventura para quem gosta do género e procura uma história um pouco mais negra e séria que o habitual. O jogo tem um início muito bom, perde um pouco o fôlego na segunda metade, mas não deixa de ser uma boa aposta.