Exhumed (Sega Saturn)

198331_58655_frontE porque artigos sobre a Sega Saturn nunca são demais, aqui fica mais um, desta vez dedicado ao Exhumed, um First Person Shooter com várias curiosidades por detrás do seu desenvolvimento. Exhumed, conhecido nos Estados Unidos como Powerslave, uma nítida referência ao meu álbum favorito dos Iron Maiden que por sua vez também possui influências egípcias na sua capa, começou por ser um dos 4 jogos que a 3D Realms estava a preparar com o seu motor gráfico Build. Desses 4 jogos, apenas Duke Nukem 3D e Shadow Warrior acabaram por sair com o selo da 3D Realms, com Blood a ser finalizado pela Monolith e este Exhumed pela Lobotomy Software. As versões PC e consolas deste jogo são também bastante diferentes entre si, com essas diferenças descritas em maior detalhe nos parágrafos seguintes. A minha cópia do jogo veio-me parar às mãos algures entre 2010 e 2011, tendo sido comprada no ebay UK por uma quantia não superior a 7€. Está completo e em bom estado.

Exhumed - Sega Saturn
Jogo completo com caixa e manual. Sou o único que acha esta uma das melhores capas da Saturn? Bem melhor que aquela coisa americana pelo menos

A história é o cliché do costume, uma qualquer civilização alienígena ou sobrenatural invade o planeta e cabe apenas ao herói para a derrotar e salvar a raça humana. Neste caso foi a cidade de Karnak no Egipto, e foi mesmo uma civilização extraterrestre de nome Kilmaat que escravizou a raça humana em Karnak, revivendo cadáveres e mumificando os sobreviventes. Por alguma razão que eu não consegui entender bem na altura, esses senhores estavam também a tentar reviver o grande Faraó Ramses, cujo espírito nos vai auxiliando ao longo do jogo, dando dicas dos próximos passos a seguir.

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Ramses vai-nos dando algumas dicas no final de alguns níveis

Apesar de possuir uma história cliché, a versão para consolas deste jogo possui uma série de mecânicas de jogabilidade bastante interessantes para a altura, ao oferecer um progresso não linear, obrigando o jogador a revisitar níveis antigos após obter novas habilidades para alcançar zonas que antes eram inacessíveis. Algo como um Metroid Prime, muito antes de este ter sido lançado. Os níveis vão-se tornando cada vez mais labirínticos com o progresso no jogo, e com os artefactos que vamos descobrindo, ganhamos poderes de levitação, saltos maiores, ou a capacidade de caminhar sobre lava que nos vai dando a possibilidade de descobrir novos caminhos ou mesmo “saídas” para outros níveis. O ecrã de escolha de níveis é algo do género do que foi feito em Super Mario World, onde podemos percorrer um mapa e jogar os níveis desbloqueados. O processo de savegame é feito na entrada/saída dos mesmos níveis, ao interagir com um camelo, dando a entender que é esse mesmo bicho que nos transporta de um nível para o seguinte. Mas o que achei mesmo fora do comum é o sistema de munições universais. Exhumed contém um vasto arsenal, desde a machete inicial, o tradicional revólver e a metralhadora, passando para armas mágicas com a temática egípcia. Mas todas essas armas têm algo de comum: a munição, que toma a forma de orbs azuis. Ao destruir potes de cerâmica ou matar inimigos, muitas vezes deixam ficar orbs azuis e vermelhas. As vermelhas servem para regenerar a nossa vida, já as azuis servem para aumentar o stock de munição da arma que tivermos equipada no momento. Isto é uma estratégia algo estranha, que de uma certa forma estraga um pouco o conceito de poupar munições de uma certa arma. Mas voltando para a vida, tal como os Metroids aqui também podemos coleccionar o equivalente aos “Energy Tanks”, que adicionam uma nova barra de vida por cada um que coleccionemos.

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Como não poderia deixar de ser, os inimigos têm todos uma temática egípcia

A título de curiosidade, a versão PC do jogo, tendo saído para o mercado até depois desta da Sega Saturn apresenta diferentes mecânicas de jogo: todas as armas possuem munições diferentes, os níveis estão divididos por checkpoints, com um save automático no final de cada nível. Os power-ups existentes na versão de Sega Saturn (por exemplo a levitação, desbloqueada ao descobrir um determinado artefacto) existem na versão PC (e mais alguns como a tocha para iluminar zonas escuras) como feitiços, utilizando por sua vez uma barra de mana cada vez que sejam utilizados. Por sua vez os níveis são também mais lineares, apesar de ser possível re-jogar níveis anteriores na mesma.

Graficamente era um jogo que eu achei bem competente para a altura em que foi lançado e principalmente para a plataforma cujo hardware complexo complicava bastante a vida de quem tinha de lhe programar. Tal como referi no primeiro parágrafo, a versão para PC utiliza uma versão do motor gráfico Build, de Ken Silverman, que ainda apresenta os inimigos no formato de sprites, e tem algumas dificuldades em introduzir salas em cima de salas no mesmo mapa. A versão Saturn (e posteriormente a de Playstation também) foi desenvolvida com um motor gráfico proprietário da Lobotomy, chamado Slavedriver. Ora embora o PC permita jogar com resoluções maiores, este motor gráfico parece-me muito melhor, na medida em que os níveis surgem com um texturas mais realistas e efeitos de iluminação bem superiores aos que a Build nos proporcionou. Para não dizer que o jogo é também bastante fluído. Escusado será dizer que este foi um trabalho notável por parte da Lobotomy Software, tirando bastante bem proveito do hardware da Sega Saturn para apresentar este jogo com um 3D bastante detalhado para a época. Este motor gráfico foi posteriormente utilizado para converter Duke Nukem 3D e Quake para a Sega Saturn, ambos com óptimos resultados. A música essa não poderia deixar de ter influências egípcias, indo desde faixas mais ambientais até música mais épica. Os efeitos sonoros também são OK, não se esperaria muito melhor nessa época.

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Excelentes efeitos de luzes para a época e especialmente para uma Sega Saturn

Existe também um mini-jogo do Death Tank para se desbloquear, uma espécie de clone de Worms, mas com tanques. Infelizmente não cheguei a verificar se esse mini-jogo está apenas disponível na versão americana do jogo (Powerslave), ou nesta também. Concluindo, Exhumed é um óptimo FPS para a biblioteca da Sega Saturn, mostrando a todo o mundo que mesmo tendo sido necessário utilizar magia negra, a Sega Saturn tem capacidades 3D que rivalizam sem problemas com a Playstation. Não deixa também de ser curioso as diferenças existentes nas 3 versões, sendo mais gritantes quando comparamos a versão PC e a de ambas as consolas.

Duke Nukem 3D (Sega Saturn)

Duke 3D SaturnÉ tempo de retornar à consola de 32 Bit da Sega, com uma excelente conversão de um jogo de culto. E esse jogo é nada mais nada menos que o Duke Nukem 3D, um first person shooter lendário, com um protagonista inconfundível, repleto de sexo, drogas e rock ‘n roll. Ah, e one liners também, muitas one liners. Duke Nukem era uma personagem com um carisma muito próprio e isso aliado a uma boa jogabilidade, mapas variados repletos de pequenos segredos e humor, tornaram Duke Nukem 3D num jogo muito popular, acabando por ser convertido a todas as plataformas existentes na altura. A Sega Saturn foi uma delas, com esta versão a cargo da Lobotomy Software, estúdio também responsável pelas óptimas conversões de Exhumed e Quake. O jogo chegou-me à colecção por intermédio de um amigo meu, que mo vendeu a 5€, estando completo e em bom estado.

Duke Nukem 3D - Sega Saturn
Jogo completo com caixa e manual

Bom, eu já analisei o Duke Nukem 3D para PC anteriormente, pelo que este artigo irá-se focar mais nas diferenças existentes entre as versões e suas peculiaridades. Aliás, recomendo mesmo a sua leitura pois francamente acho um artigo bem completo. A história coloca Duke Nukem, herói a regressar ao planeta Terra após ter derrotado uns quantos aliens e supostamente impedindo que os mesmos invadissem a Terra, vê-se atacado por mais aliens, despenhando-se assim em plena baixa de Los Angeles. O resto é conversa e afinal, “nobody steals our chicks, and lives“.

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Há coisas que não mudam. A menos que estejamos a jogar numa Nintendo 64

Uma das razões pelas quais o DN3D teve tanto sucesso é mesmo pela sua jogabilidade. Em primeiro lugar pois, para os padrões de 1996 é um jogo bastante interactivo, sendo possível jogar bilhar ou interagir com imensos NPCs ou objectos. O design dos níveis também é algo com um nível de detalhe impressionante para a época, para além de serem variados. Ao longo da aventura vamos percorrendo locais “shady” da baixa de Los Angeles, explorar uma penitenciária, uma enorme estação espacial e regressar a Los Angeles de novo. Os níveis incluem também um grande número de segredos, desde simples passagens secretas para mais goodies, passando por imensas referências a outros videojogos ou ícones da pop-culture de então. A referência “that’s one doomed space marine” para um Marine do Doom é icónica. A acompanhar Duke nesta aventura repleta de violência está um arsenal à altura, algo que também era original para a época. Para além de armas standard como revólveres, caçadeiras, metralhadoras e lança-rockets, neste jogo foram introduzidas diversas outras armas que eram algo inovadoras. Desde as pipebombs e outros explosivos activados ao atravessar um laser que introduziram uma vertente mais estratégica, até aos infames shrink rays que transformam os inimigos no tamanho de um insecto, podendo ser esmagados em seguida e uma arma que também os pode congelar, para que se desfaçam facilmente em pedaços. Isto sem falar claro está no Devastator, uma arma que dispara projécteis explosivos com uma grande cadência de fogo.

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Em alguns pontos o jogo pode ser bastante escuro, mas eu diria que a iluminação está mais realista

Mas após este breve resumo do que é o Duke Nukem 3D, vamos ao que esta versão de Saturn tem de diferente. Em primeiro lugar, tal como outros jogos com o selo da Lobotomy como o Exhumed/Powerslave, aqui existe um mini-jogo para ser desbloqueado: Deathtank Zwei. Este é uma espécie de clone do Worms, mas desta vez com tanques e com as batalhas em tempo real. É um jogo que tira proveito do multi tap, permitindo sessões de jogo de até 7 jogadores em simultâneo. Infelizmente nunca cheguei a jogá-lo, mas está lá. Pode ser desbloqueado ao ter um save do Quake ou Exhumed/Powerslave na memória, ou simplesmente por partir todas as sanitas/urinóis do jogo. Nesse mini-jogo, a ideia é sobreviver a cada round. Inicialmente dispomos apenas de uns simples projécteis, cujas trajectórias devem ser cuidadosamente calculadas para obter o arco perfeito. Contudo com o decorrer do jogo teremos acesso a armas e items que podem tornar as partidas bem mais caóticas e divertidas.

Infelizmente a melhor característica deste jogo para a Saturn não foi trazida para a versão europeia do jogo. Nos Estados Unidos e Japão a Sega Saturn tinha algumas funcionalidades online, através do serviço Sega Netlink. Este aparelho, na verdade um modem que se liga numa das portas da consola permitia à Sega Saturn aceder à internet através de browsers simples ou jogar online num catálogo selecto de jogos. Este Duke Nukem 3D é um deles, permitindo jogar todo o jogo em co-op com mais uma pessoa, ou entrar em Dukematches tal como na versão PC. Multiplayer local em split screen tal não existe, apenas a versão Nintendo 64 inclui essa funcionalidade. Nós, os europeus limitamo-nos a receber o jogo completamente em singleplayer.

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Encontrar aquele alien na casa de banho a tratar do seu serviço, para mim continua a ser um dos momentos mais WTF da história dos videojogos

Outra característica diferente da versão Sega Saturn é a mesma utilizar o próprio motor gráfico da Lobotomy, a SlaveEngine, ao contrário do motor gráfico BUILD no PC. E no que se traduziu essa mudança? Para além de os inimigos e NPCs continuarem a ser sprites em 2D, os restantes cenários ganharam um aspecto 3D mais verdadeiro. É certo que algumas texturas perderam alguma definição, mas no entanto o jogo mantém-se bastante agradável, inclusivamente foram melhorados alguns efeitos de luz e outros como as explosões, fazendo deste e outros jogos que correm esta engine como dos melhores jogos 3D que a Saturn teve. As banda sonora é idêntica, embora incluam alguns remixes ou remasters das músicas originais. De resto o jogo contém quase todos os níveis dos 3 episódios originais para PC, não incluindo o add-on Plutonium Pack e mais uns 3 níveis que faltam. De resto, em conjunto com um nível original (Urea 51) e alguns secretos, existe um total de 30 níveis nesta conversão.

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Esventrar estes bichinhos continua a ser bastante divertido

Posto isto, acho o Duke Nukem 3D para a Saturn como uma excelente conversão, embora não inclua tudo o que a versão PC tem. Para além desta, o jogo saiu também relativamente na mesma altura para a PS1 e Nintendo 64. A versão da Sony é também uma boa conversão embora não possua nenhum modo multiplayer, porém inclui os 3 conjuntos de níveis do original mais um novo conjunto de níveis exclusivo dessa plataforma. Já a versão N64 apesar de ter multiplayer local com splitscreen, possui imensa censura e os níveis bastante alterados, pelo que não é uma versão que recomendo de todo.