Uplink (PC)

E agora, algo radicalmente diferente. Uplink é o primeiro jogo do estúdio indie Introversion, que mais tarde nos traria títulos como Darwinia ou DEFCON, ambos bastante originais nos seus conceitos, tal como este Uplink também o é. E, como nos outros jogos da Introversion que cá trouxe até agora, o meu exemplar digital veio parar à minha conta Steam através de um indie bundle dedicado ao estúdio, comprado por uma bagatela há muitos anos.

Este é essencialmente um hacking simulator, lançado originalmente em 2001. A premissa é simples de descrever, mas surpreendentemente envolvente: somos um hacker que trabalha para a empresa Uplink, que actua como intermediária entre agentes independentes e clientes anónimos. A Uplink fornece aos seus funcionários uma estação de trabalho remota, apelidada de gateway, e disponibiliza um leque de missões colocadas por várias entidades externas. As primeiras tarefas são simples, como infiltrar sistemas informáticos de empresas para copiar, alterar ou sabotar ficheiros, ou invadir departamentos governamentais para adulterar registos de segurança social ou criminais. À medida que vamos tendo sucesso, o nosso ranking aumenta e passamos a receber trabalho mais complexo, onde os alvos dispõem de camadas de protecção muito mais robustas. A certo ponto, quando atingimos um nível elevado, recebemos uma mensagem automática enviada por um colega falecido, onde este acusa uma corporação específica de estar envolvida na sua morte e nos pede ajuda para travar os seus planos. A partir daqui, o jogo abre caminho para uma escolha de facção, com linhas de missões alternativas conforme o lado que decidamos apoiar.

Uplink é um jogo com uma interface invulgar e que beneficia bastante do tutorial que nos apresenta ao início

A primeira coisa a fazer após iniciar uma nova partida é seguir o tutorial, indispensável para aprender os básicos, já que Uplink utiliza uma interface bastante invulgar. Imaginem um ambiente de trabalho completo, com ícones e menus que permitem lançar programas essenciais às missões, controlar o relógio do jogo, gerir o hardware, observar o mapa das ligações, consultar e responder a e-mails, aceder ao banco de memória da máquina, entre outras funcionalidades. O jogo exige muita atenção ao detalhe e está repleto de pequenos toques de realismo. Por exemplo, para invadir um sistema não convém saltarmos para o alvo de forma directa, mas sim construir uma cadeia de saltos entre várias máquinas, preferencialmente uma dúzia ou mais, para dificultar a detecção. Outro detalhe importante é o controlo de prioridade do CPU: no topo do ecrã podemos ajustar quanto poder de processamento cada programa recebe. Quando utilizamos um cracker de palavras-passe, é crucial dar-lhe prioridade máxima, para que a operação decorra o mais depressa possível. Assim que cometemos um acto ilegal, o sistema inicia imediatamente um trace que, se for concluído, resulta na nossa captura e obriga-nos a recomeçar a carreira com uma nova identidade e um novo gateway.

Ora cá está um ecrã que iremos ver muitas vezes no início

As missões concluídas recompensam-nos com créditos que podem ser gastos em software e hardware. À medida que os sistemas de segurança se tornam mais exigentes, precisamos de adquirir ferramentas capazes de ultrapassar proxies, firewalls e sistemas de monitorização, bem como versões superiores desses mesmos programas, já que as defesas evoluem com o nosso progresso. É igualmente indispensável comprar software que revele os dispositivos presentes nas redes invadidas, programas de desencriptação e utilitários que indiquem quanto tempo resta até sermos detectados. Limpar os logs para eliminar vestígios das nossas acções torna-se rapidamente rotina e, para isso, convém possuir as melhores ferramentas disponíveis. Também o hardware desempenha um papel central: novos e melhores CPUs, mais memória (que permite armazenar mais ficheiros temporariamente) e modems mais rápidos acabam por ser investimentos inevitáveis.

Upgrades, como o connection analyser que vemos à direita, serão indispensáveis a partir de certa altura

Assim, embora Uplink seja uma romantização da arte de hacking, com várias referências subtis a clássicos cinematográficos do género, a verdade é que conseguiu divertir-me ao longo de várias horas. A curva de aprendizagem é algo prolongada devido à interface diferenciada, mas a experiência geral é bastante positiva. O facto de o jogo decorrer em tempo real, com missões que expiram e podem ser executadas por outros agentes, e as ocasionais notícias sobre os nossos feitos ou os dos nossos colegas, ajudam a compor uma narrativa minimalista mas eficaz. A música electrónica que nos acompanha, ora mais calma ora mais tensa conforme a situação, complementa muito bem a atmosfera peculiar e fria deste mundo de crime digital.

Defcon (PC)

A rapidinha de hoje é sobre um jogo PC com grande foco em estratégia e multiplayer. Infelizmente jogos de estratégia em tempo real não são o meu forte, pelo que não me vou alongar muito. Este DEFCON é um RTS onde defendemos a nossa região durante um clima de guerra nuclear. No meu caso, no pouco tempo que o joguei, foi sempre a Europa contra a Rússia. Este jogo deu entrada na minha conta steam há uns anos atrás, num Humble Bundle sobre a Introversion Software por uma bagatela.

DefconNeste jogo com gráficos vectoriais, temos um mapa mundo à nossa frente. Antes de partirmos para as guerras online propriamente ditas, temos um modo tutorial que nos ensina os diferentes conceitos de jogo, como planear as nossas defesas ao colocar radares e silos de mísseis nucleares ICBMs, bem como planear as nossas frotas marítimas e bases aéreas. Ao longo de todo o jogo vamos tendo em conta os diferentes níveis de DEFCON que são na realidade diferentes níveis de alerta nuclear, sendo 5 o mais baixo e 1 aquele em que já andamos a rebentar com cidades e infrastruturas militares inimigas.

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Os gráficos vectoriais simples até se adequam perfeitamente ao estilo de jogo

Existe uma variedade de vertentes multiplayer, todas elas com pontuações medidas em
megadeaths (pontos por cada 1 milhão de mortos), alguns modos de jogo em que premeiam o maior número de sobreviventes de alguma região, outras o maior número de mortos, ao atacar não só instalações militares, mas também as cidades. É possível também acelerar o tempo de jogo desde o real time até 20 vezes o tempo normal, caso contrário cada partida poderá levar várias horas. De resto a nivel técnico é um jogo bastante simples com gráficos vectoriais, tal como referido nos primeiros parágrafos. Isso dá-lhe um look bastante retro reminiscente daqueles filmes da altura da Guerra Fria onde a ameaça nuclear era algo levado muito a sério. As músicas pareceram-me ser bem tensas, o que até acaba por ser adequado ao estilo de jogo.

No fim de contas parece-me ser um jogo simples, porém bem competente. Apenas não é um género que pessoalmente me diga muito. O facto de as batalhas poderem demorar muito tempo se jogadas em tempo real, existe o Office mode que deixa o jogo a correr em background, lançando notificações para o sistema de quando certos eventos aconteçam, o que é um pormenor bastante interessante.

Darwinia / Multiwinia (PC)

Vamos agora para duas rapidinhas em uma, escrevendo sobre dois jogos muito peculiares da Introversion Software, que por si só só tem lançado jogos incomuns. Darwinia e a sua vertente multiplayer Multiwinia são jogos de estratégia com uma temática muito peculiar, onde somos levados para um mundo informático para ajudar os Darwinians, seres digitais com inteligência artificial que desenvolveram por eles mesmos uma civilização virtual. Ambos os jogos foram comprados numa das Humble Weekly Bundles apenas com jogos da Introversion, tendo ficado muito baratos, como habitual.

Darwinia PCComeçamos o jogo ao visitar inadvertidamente o estranho mundo dos Darwininans, criaturas digitais com um elevado nível de inteligência artificial criadas pelo Dr. Sepulveda. Pelos vistos ocorreu um incidente e o servidor onde toda esta civilização vivia viu-se invadido por um vírus informático que dizimou toda a sua população. Para além de monstros digitais que invadiram aquele mundo, o vírus também infectou os próprios Darwinians, formando os “evil Darwinians” que também atacavam os pobres coitados. No meio desse caos, o Dr. Sepulveda pede-nos a nossa ajuda para combater esse vírus, ao comandarmos tropas de elite e posteriormente os próprios Darwinians para restabelecer a civilização de Darwinia à normalidade.

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Este é o mapa do mundo de Darwinia onde podemos escolher a missão a jogar. Em baixo temos o Dr. Sepulveda a contar algo sobre a história

O jogo diferencia-se dos outros jogos de estratégia na medida em que não temos recursos limitados para “criar” tropas ou armamento, na medida em que os podemos criar e destruir sem nenhuma penalização. A única limitação é dada pela própria capacidade de processamento ou RAM do suposto computador onde estamos, daí apenas poderemos ter um certo número de unidades especiais em campo ao mesmo tempo. Essas unidades especiais resumem-se a pequenos esquadrões armados para combater inimigos, ou engineers que podem reparar edifícios chave ou recolher as “almas” deixadas pelos vírus mortos por nós para as reconverterem em Darwinians. Com o decorrer do jogo vamos encontrando várias peças de “research” que nos vão melhorando a performance das nossas unidades, seja em número como capacidade ofensiva, ou outras armas e equipamento. Quando pudermos controlar os Darwinians, esses também poderão ser comandados para lutar contra os vírus, embora sejam mais frágeis. Os objectivos consistem na sua maioria derrotar os vírus existentes no campo de batalha e restaurar os edifícios construídos pelos Darwinians, como centrais eléctricas, por exemplo.

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Os visuais são muito peculiares, fazendo-nos pensar que estamos mesmo num mundo virtual

De resto o jogo traz um poderoso editor de níveis que nos dá muitas liberdades para modificar os níveis existentes ou criar outros. Depois nos audiovisuais os gráficos são certamente o aspecto que chama logo à atenção pela sua peculiaridade. Como vivemos num mundo inteiramente virtual, os gráficos usam um 3D poligonal completamente minimalista, com poucos polígonos, inimigos bastante simples e os Darwinians são pequenas sprites em 2D. Tudo isto é propositado e faz todo o sentido no contexto do jogo. A música passa muitas vezes despercebida, até por só tocar em alguns momentos do jogo. Tanto temos algumas músicas mais ambientais e calminhas, como outras com uma sonoridade bem mais chiptune que me agradam muito mais.

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Em Multiwinia a jogabilidade foi mais simplificada, tornando as partidas bem mais rápidas

Por fim, falemos do Multiwinia que é uma sequela mais voltada para o multiplayer, embora possamos também jogar sozinhos. Aqui as mecânicas são semelhantes ao jogo original, embora os controlos sejam um pouco mais simplicados e cada jogador poderá gerir o seu “exército” de Darwinians de forma a aniquilar o adversário. Temos então seis modos de jogo que poderão ser jogados ao longo de 50 mapas. O Domination é uma variante do deathmatch que nos recompensa por destruir todos os inimigos. Temos também modos de jogo como o King of the Hill ou o Blitzkrieg, que nos obrigam a controlar uma série de pontos chave no mapa. Uma variante do Capture the Flag – aqui chamada de Capture the Statue, para os fãs de Counter Strike temos o Assault, onde um exército tem por fim plantar uma bomba e o outro terá de infiltrar a fortaleza e desactivá-la a todo o custo e por fim temos o Rocket Riot, onde cada equipa terá de batalhar para controlar alguns painéis solares que alimentam o seu foguetão. A primeira equipa a conseguir lançar o foguetão ganha.

Sendo jogos de estratégia em tempo real, embora tenham as suas peculiaridades, não são jogos que me agradem particularmente, mas é indiscutível que tenham a sua qualidade e originalidade, pelo que quem for fã deste género de jogos e não quiser esperar pelo novo Total War, ou quiser algo mais ligeiro e diferente, estas são óptimas opções.