Tobal No. 1 (Sony Playstation)

Este Tobal No. 1 é um jogo que me desperta bastante nostalgia. Não que o tenha jogado nos anos 90, mas lembro-me perfeitamente de ter lido uma review numa revista e ter ficado cheio de vontade de o jogar. Até porque como todos os rapazes da década de 90, eu era um viciado em Dragon Ball e todas as personagens deste jogo foram desenhadas por Akira Toriyama. O meu exemplar foi comprado algures em Março de 2017, sinceramente não me recordo quanto custou mas lembro-me que foi um anúncio do olx, de alguém a vender uma PS2 com uns quantos jogos genéricos e o único jogo de PS1 que lá tinha era este. Naturalmente que foi a única razão pela qual eu comprei o conjunto, todos os outros já foram devidamente despachados.

Jogo com caixa e manual. Aparentemente a versão norte americana possuia ainda um demo do Final Fantasy VII

E este Tobal No. 1, apesar de ter o selo da Squaresoft, esta apenas o publicou, pois o jogo foi desenvolvido pela DreamFactory, que acabou por colaborar com a Squaresoft numa série de outros títulos. E este Tobal No. 1 é um jogo de luta em 3D que me faz lembrar bastante jogos como os Virtua Fighter clássicos, pois as personagens são bastante poligonais e practicamente sem texturas. Para além disso, apesar de termos algumas personagens bastante bizarras (não seria de esperar outra coisa com o Toriyama por detrás do design das mesmas) é também um jogo um pouco mais realista, sem grandes golpes especiais com bolas de energia e afins. Depois de ter investigado um pouco mais sobre as origens do jogo é que me apercebi que a DreamFactory foi inicialmente composta por várias pessoas que trabalharam nos Virtua Fighter, daí as várias semelhanças entre ambas as séries.

Os gráficos de baixos polígonos e sem texturas até que têm o seu charme!

A nível de controlos as coisas são relativamente simples. O D-pad serve para nos movimentarmos pelas arenas e sendo este um jogo em 3D, temos a necessidade de ter um botão específico para saltar, nomeadamente o L1. Já o R1 serve para bloquear. O jogo oferece-nos diversos modos de jogo distintos, incluindo o Tournament Mode que é na verdade o típico modo arcade para 1 jogador, onde depois de escolhermos uma personagem, teremos de defrontar todas as outras. O VS é o modo multiplayer para combates níveis e por fim temos o Quest Mode que irei detalhar mais à frente. Escondidos nas opções temos ainda o practice que como o nome indica é um modo de jogo onde poderemos treinar os golpes de cada personagem. Os combates em si são algo lentos como no Virtua Fighter e o jogo possui naturalmente alguns golpes que são usados por todos os lutadores, mais uns quantos exclusivos de cada um.

O quest mode é um dungeon crawler em 3D com elementos roguelike mas com os controlos de um jogo de luta 3D, o que já não resulta assim tão bem.

O Quest Mode é um modo de jogo bastante original, se bem que muito fora do contexto de um jogo de luta. Este é basicamente um dungeon crawler na terceira pessoa com muitos elementos de RPG. Aqui escolhemos que personagem queremos levar e depois a dungeon a explorar, existindo uma dungeon muito pequena apenas para practicar os controlos e familiarizar com as mecânicas de jogo, mais outras três que vão tendo uma dificuldade crescente. E aqui esperem inclusivamente por uma série de mecânicas de jogo típicas dos roguelikes, na medida em que vamos podendo encontrar uma série de itens enquanto as exploramos, mas a única forma de saber o que faz cada item é usando-os. Comida traz-nos sempre resultados positivos, como restaurar a nossa barra de vida e/ou aumentar a nossa defesa ou ataque. O pior são as poções pois há algumas que têm resultados negativos, como perder vida, diminuir o limite máximo de pontos de vida ou reduzir a nossa vida a 1. Nalgumas dungeons poderemos encontrar itens que nos permitem identificar as poções que temos carregadas, mas o ideal é mesmo experimentá-las e ver no que dá. As poções com efeitos negativos são igualmente úteis, pois também poderemos atirar itens aos inimigos que vamos combatendo, ficando eles com os efeitos do item que lhes atiramos. E sim, quando encontramos algum inimigo, que tanto pode ter uma forma mais genérica, como poderá ser um dos lutadores principais do jogo, as mecânicas já mudam para as de um jogo de luta tradicional. É um conceito original, mas a sua implementação não é a melhor. E completar estas dungeons é mesmo necessário se quisermos desbloquear uma série de lutadores secretos: os 3 bosses que defrontamos no jogo normal, bem como o próprio Akira Toryiama! Bem, não é mesmo o Akira mas sim um avatar que ele próprio desenhou de si mesmo na forma de um robot bizarro. Costumava aparecer muito na manga do Dr. Slump. Mas para desbloquear este Akira temos de percorrer uma dungeon de 30 andares gerados aleatoriamente e enfrentar inimigos bem mais difíceis. E isto sem poder gravar o progresso no jogo e, a menos que encontremos vidas extra, morrer significa voltar ao início e explorar tudo de novo.

Alguns dos itens que encontramos durante o Quest Mode possuem efeitos negativos, que poderemos aproveitar se os atirarmos para os nossos oponentes.

A nível audiovisual é um jogo que me desperta sentimentos mistos. Por um lado gosto do detalhe das personagens. Aquele 3D ainda algo primitivo, com polígonos coloridos e desprovidos de textura, que muito me fazem lembrar o Virtua Fighter. Mas por outro lado os cenários também não possuem grande detalhe e são construídos com modelos poligonais também muito simples o que acaba por ficar um pouco feio. O design das personagens é o típico de Akira Toriyama, tendo algumas personagens humanas, um robot e outras criaturas como demónios ou outras mais bizarras. As dungeons do Quest mode possuem gráficos também demasiado simples e não envelheceram nada bem. Já as músicas são electrónicas, possuindo no entanto influências de diferentes géneros, incluindo rock e blues.

O Quest Mode serve para desbloquear personagens secretas, incluindo este icónico avatar do próprio Akira Toriyama

Portanto este Tobal No. 1 é um jogo muito interessante. Como um jogo de luta 3D é bastante sólido, apesar dos seus gráficos bastante simplistas. As suas semelhanças com o Virtua Fighter não são de estranhar, pois a DreamFactory é composta por membros que participaram no desenvolvimento do primeiro Virtua Fighter. Já a inclusão do Quest Mode, apesar de ser uma surpresa muito original, infelizmente o resultado não é o melhor, pois jogar um dungeon crawler na terceira pessoa com elementos roguelike e controlos típicos de um jogo de luta em 3D não resulta lá muito bem. Mas aplaudo a iniciativa! Convém também referir que a DreamFactory ainda desenvolveu mais 2 jogos de luta com o selo da Squaresoft: o Tobal 2 que infelizmente não saiu do Japão e o Ergheiz que já joguei um pouco mas ainda não me apareceu um exemplar na colecção.

The Bouncer (Sony Playstation 2)

The BouncerA Squaresoft desde que lançou o Final Fantasy para  a NES, que se tem focado maioritariamente nos JRPGs, tendo um ou outro lançamento mais esporádico noutros subgéneros. E dentro dos jogos de primeira geração da Playstation 2 estava precisamente  um destes exemplos em que a Square saiu da sua zona de conforto, com este The Bouncer que é um beat ‘em up em 3D, mas com alguns ligeiros elementos de RPG também. No entanto o jogo é curtinho e simples, pelo que não esperem um artigo particularmente longo. A minha cópia deste jogo entrou na minha colecção após ter sido comprada no ano passado na feira da Ladra em Lisboa por 5€.

The Bouncer - Sony Playstation 2
Jogo completo com caixa e manual

A história começa por ser bastante simples. Sion, Volt e Kou são “bouncers” no bar Fate da menina Dominique. O jogo decorre no futuro de uma cidade fictícia chamada Edge, onde a Shinra errr, Mikado, era uma grande empresa tecnológica e se preparava para desenvolver uma espécie de satélite que convertia a energia solar em energia eléctrica para ser utilizada na Terra. A certa altura o bar é tomado de assalto por tropas especiais dos Mikado que raptam Dominique. Esta trama de alguém ir salvar a donzela em perigo já foi vista vezes sem conta, mas ao longo do jogo lá vamos aprendendo que o motivo desse rapto tem por detrás planos conspiratórios da Shinra (lá estou eu outra vez) lá do sítio, e o background histórico por detrás de cada personagem também vai sendo descoberto.

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Tanto lutamos contra oponentes humanos, como contra robots ou cyborgs

Existem vários modos de jogo. O modo história coloca-nos em vários combates ao longo de diversos locais à medida em que a história se vai desenrolando. No início de cada nível, podemos escolher com qual protagonista queremos jogar. A história vai tendo assim algumas pequenas variações, excepto num ou noutro nível em que as coisas se tornam realmente diferentes, sendo assim necessário jogar pelo menos 3 vezes o jogo para ver todas essas variações no jogo. Acima disse que o jogo incorporava conceitos simples de RPGs, e isso acontece porque cada vez que derrotamos um inimigo, seja um boss ou o soldado raso somos recompensados com alguns pontos de experiência. Esses pontos podem depois ser trocados no final de cada nível, onde podemos, para a personagem com quem jogamos o tal nível, aumentar as suas stats de saúde, defesa e ataque, ou mesmo aprender novos golpes especiais. Para ter todas as personagens maxed out, teremos de jogar o jogo várias vezes, para isso podemos começar um Extra Game, onde herdamos a experiência de cada personagem de jogos anteriores.

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Antes de cada combate no modo história, podemos escolher qual a personagem com quem jogar.

Os controlos são simples. Um joystick para movimentar, os quatro botões faciais para golpes, um botão de cabeceira para defender, outro para “activar” os golpes especiais que adquirimos com os pontos de experiência, e por fim um outro botão para activar os Trinity Rush, ataques todos bonitinhos que usam as 3 personagens em jogo, mas não são tão úteis assim. Ainda assim, apesar de os controlos serem simples, devo dizer que a movimentação é bastante lenta e os golpes também não têm o “ouch factor” de outros jogos do género, como o Dynamite Cop da rival Dreamcast, por exemplo. Mas pior é mesmo a inteligência artificial, tanto dos inimigos que são bem burrinhos, como dos nossos colegas de equipa. O sistema de pontos de experiência podia ser melhor pensado, isto porque apenas ganhamos os pontos se formos nós a dar o golpe final no inimigo em questão. Ora isto aliado a uma IA não muito inteligente quer dizer que os outros 2 lutadores controlados pelo CPU vão-nos roubar muitos desses pontos. Depois ainda temos o problema do fluxo do jogo. Cutscenes – selecção de personagens – uma batalha. Passamos bem mais tempo a ver cutscenes do que propriamente em combate, que nunca são com tantos inimigos assim. Depois se morrermos, temos novamente de passar pelo ecrã de título, fazer load game, assistir à última cutscene, seleccionar a personagem e por fim voltar a jogar. Deveriam ter pensado isto melhor.

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Ao longo da história principal podemos ir desbloqueando outras personagens a utilizar noutros modos de jogo

Para além do modo história temos também outros modos de jogo, incluindo o já habitual survival. Este também é um modo de jogo single-player e coloca-nos ao longo de uma série interminável de combates até que finalmente padecemos. Os outros 2  modos de jogo são mais focados no multiplayer em que um deles poderá ir até 4 jogadores, se tivermos um multi-tap. Esse é o modo Battle Royale, onde temos 4 contra 4 e quem sobreviver ganha. O outro modo de jogo, Team Battle, dá apenas para 2 jogadores, em que cada jogador faz uma equipa com outras 2 personagens controladas pelo computador e lançam-se também para a porrada.

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Como é típico da Square, as cutscenes têm uma óptima qualidade visual

Graficamente é um jogo bonitinho, se tivermos em conta que é um jogo da primeira geração da consola. Os cenários estão bem detalhados, embora não tenham texturas nada por aí além, mas as personagens estão bem detalhadas, tanto em polígonos como em texturas. Quem for fã dos Final Fantasy desde a era PS1, certamente irá gostar dos visuais deste The Bouncer. E sendo um jogo da Square, tem cutscenes com um excelente detalhe para a época. As músicas são também boas, sendo bastante variadas a nível de géneros. Tanto é possível ouvir hard-rock cheio de guitarradas como eu bem gosto, como outras melodias mais calminhas. O voice acting é competente e este é daqueles jogos que tem algo que eu dou muito valor. A oportunidade de ouvir o voice acting em inglês, ou o original japonês.

Posto isto, The Bouncer é jogo que para mim, como beat ‘em up é fraquinho. As movimentações foleiras, a má inteligência artificial, o facto de não existir suporte a 2 jogadores no modo história ou acima de tudo, existirem batalhas contra 3 ou 4 inimigos e depois levamos com 5 minutos de cutscenes, tiram muito do potencial que este jogo poderia vir a ter. Ainda assim, para quem for fã da Squaresoft, poderá encontrar algo que lhe interesse, pois todo o carisma do jogo faz lembrar os Final Fantasy da era moderna.