Double Dragon (Sega Mega Drive)

Voltando agora à Mega Drive, é tempo de analisar mais um clássico, o Double Dragon. Criado originalmente pela Technos Japan em 1987 nas arcades, foi um sucessor do Renegade/Kunio-Kun lançado anteriormente. Cimentou as suas ideias e tornou-se num lançamento absolutamente pivotal no que diz respeito ao género dos beat’em ups que se vieram a popularizar nos anos seguintes, ao introduzir um sistema de controlo que se tornou o standard no género e outras inovações como o multiplayer cooperativo, ou a possibilidade de desarmar inimigos e utilizar as suas armas contra os mesmos. Tendo sido um jogo de sucesso, recebeu também inúmeras conversões para as mais variadas plataformas, incluindo a Master System que já cá trouxe no passado. Curiosamente, uma versão para a Mega Drive já sai muito mais tarde no ciclo de vida da consola, em 1993 e pela Accolade, uns meses após o próprio Double Dragon 3 sair também na Mega Drive. O meu exemplar veio parar à colecção no passado mês de Dezembro, após uma troca com um particular.

Jogo com caixa de cartão

Na teoria, a jogabilidade deste Double Dragon é simples, com os botões faciais a servirem para dar pontapés, saltar e dar socos (A, B e C respectivamente), felizmente um sistema muito melhor ao que foi introduzido no Renegade/Kunio Kun. Na práctica, infelizmente, este acaba por ser o maior problema desta conversão. O Double Dragon já tinha uma quantidade considerável de golpes e combos que poderíamos executar, mas esta conversão muitas vezes simplesmente não responde aos nossos inputs, deixando-nos à mercê dos inimigos, que depois acabam por nos encher de porrada. Várias vezes aconteceu-me em querer fazer um combo de 3 socos, carregando no botão C e chegando ao terceiro golpe a personagem simplesmente não respondia aos comandos, obrigando-me a mover de sítio para que pudesse mandar socos novamente. Até pensei que pudesse ser problema do meu comando, mas quando testei com outro, o mesmo problema aconteceu.

O cliché de sempre: vamos ter de salvar uma donzela em perigo que foi raptada por um gang

De resto, como já referi acima, uma das novidades que o Double Dragon introduziu foi o multiplayer cooperativo (e esta versão também o permite para 2 jogadores, até porque os protagonistas são dois irmãos). A outra era o facto de não só podermos apanhar algumas armas do chão, como rochas, ou bidões que poderíamos arremessar para os inimigos, mas também poderíamos roubar as armas que os inimigos carregassem com eles (ao enchê-los de porrada, claro!) como bastões de basebol, chicotes ou facas e usá-los no combate também. Mas infelizmente isso também é um problema nesta conversão. É que nós até nos movemos bem rápido, o problema é que os inimigos também e a sua inteligência artificial é extremamente irritante, pois eles replicam os nossos movimentos pelos cenários, pelo que é practicamente impossível arranjar espaço para respirar caso sejamos cercados, a menos que consigamos atacar primeiro e de forma rápida, o que nem sempre acontece. E com isto quero dizer que, quando nos preparamos para apanhar uma arma, rapidamente os inimigos se aproximam de nós e quando a animação de apanharmos a arma termina estamos a meros instantes de levar um porradão.

Para quê usar portas se os Abobos podem destruir paredes?

Mas indo agora para a parte audiovisual, felizmente esse é um campo onde esta versão marca bastantes pontos. Os gráficos são bem detalhados e coloridos, tanto nos cenários como nas personagens, pelo que esta versão acaba por ser o mais próximo do original arcade que havia sido lançado até à época. É verdade que não há grande variedade de inimigos, mas isso era algo que também acontecia no original e aqui pelo menos as proporções da estatura dos inimigos são as correctas! As músicas são também bastante agradáveis, excepto os efeitos sonoros que poderiam ser um pouco melhores.

Portanto esta versão do Double Dragon acaba por ser uma faca de dois gumes. Por um lado é uma versão graficamente muito próxima do original (o que não deixa de ser bom, mesmo este tendo sido um lançamento tardio), por outro lado a sua jogabilidade deixa muito a desejar, infelizmente.

Universal Soldier (Sega Mega Drive)

A Ballistic era uma subdivisão da Accolade, onde ambas, nos primeiros anos da década de 90, lançaram uma série de videojogos de forma não oficial para a Mega Drive, com caixas e cartuchos próprios, tal como a Electronic Arts. Mas ao contrário da última, onde rapidamente chegaram a um acordo com a Sega, o processo com a Accolade acabou por se tornar litigioso, o que fez com que muitos destes jogos fossem mais tarde retirados das lojas. Alguns foram posteriormente relançados num lançamento standard e legitímo. O meu exemplar foi comprado algures no passado Julho, tendo vindo de um pequeno bundle que comprei no Reino Unido por um preço bem em conta.

Jogo com caixa de cartão e manual

O Universal Soldier foi um filme de acção com Jean Claude Van Damme como protagonista, onde este era um super soldado modificado, uma espécie de um cyborg. Mas na verdade este jogo não foi lançado originalmente como Universal Soldier, mas sim como Turrican II, uma série de jogos de acção lançados originalmente para o velhinho Commodore 64 (Rainbow Arts) e Amiga (Factor 5). O primeiro Turrican já havia sido convertido e lançado para a Mega Drive através da Accolade/Ballistic, mas por algum motivo a empresa norte-americana decidiu transformar o port desta sequela num jogo baseado num popular filme de acção, certamente com a expectativa que venderia mais. Talvez tenha funcionado nos Estados Unidos, mas na Europa o nome Turrican já teria bem mais peso. Sinceramente, preferia que mantivessem o jogo original tal como estava.

Com esta adaptação paraa filme, algumas sprites foram trocadas, como estes soldados aleatórios

Turrican, na sua essência, é uma série de jogos de acção/plataformas em 2D, repletos de níveis labirínticos e a acção non-stop de Contra, com imensos inimigos a surgirem por todos os lados e o herói com um poderoso arsenal de armas à sua disposição. Os controlos são relativamente simples, com o botão A para disparar, B para saltar e C para usar uma arma especial, que lança um ataque que causa dano em todos os inimigos presentes no ecrã. Pressionando baixo + B faz com que a personagem se enrole sobre si mesmo (tal como Samus Aran), transformando-se numa bola com espinhos, sendo que, tal como Samus, pode plantar bombas com o botão A. Este é então o botão standard para ataques, onde para além de tudo isto, se estivermos numa pose normal, imóveis e mantivermos o botão pressionado, activamos o “chicote”, que pode ser disparado em múltiplas direcções.

Como devem ter adivinhado, teremos imensos power ups também para apanhar, desde upgrades à nossa arma principal, itens que nos regenerem a barra de vida, vidas extra ou invencibilidade temporária. Também podemos encontrar uma série de diamantes que são os coleccionáveis deste jogo, pois para além de nos darem mais ponto, a cada 50 que encontremos ganhamos um continue, até um máximo de 5 em simultâneo.

Temos imensos power ups para apanhar, alguns dão upgrades às armas bem úteis em certas situações

A nível audiovisual é um jogo minimamente competente, a série Turrican apesar de ter sido muito bem sucedida nos computadores Commodore Amiga, foi no velhinho Commodore 64 que a mesma foi concebida. Portanto fica sempre a sensação de estarmos perante um jogo 8bit muito musculado! As sprites não são muito grandes e os níveis não são muito coloridos, apesar de possuirem um ou outro detalhe interessante como efeitos de paralaxe, ocasionalmente. Não são os gráficos mais bonitos da Mega Drive, mas são funcionais. De resto, nesta adaptação, para além de terem alterado algumas sprites face ao Turrican II (nomeadamente a do protagonista e alguns inimigos e bosses), aparentemente a versão original possuía 3 níveis com mecânicas de shmups, níveis esses que foram descartados nesta versão. No entanto esses níveis foram substituídos por outros níveis inéditos desta versão, embora não tenham o mesmo detalhe dos restantes. As músicas por outro lado são bastante agradáveis, embora por vezes temos músicas demasiado calmas para todo o caos que vivemos no ecrã.

É uma estúpidez, mas nesta versão temos de lutar contra alguns Dolph Ludgrens gigantes.

Portanto este Universal Soldier acaba por ser um bom jogo de acção, no entanto não deixa de ser uma mutilação do Turrican II, cuja decisão de transformar numa adaptação de um filme que nada tinha a ver, foi completamente questionável. Ainda assim é melhor que não haver Turrican II de todo na Mega Drive.

Winter Challenge (Sega Mega Drive)

48405_frontSe já repararam anteriormente, os jogos da Electronic Arts, CodeMasters ou Accolade possuem cartuchos e/ou embalagens diferentes dos habituais na Mega Drive e não só. Isto porque as três empresas arranjaram acordos especiais com a Sega que as deixavam produzir os seus próprios cartuchos e embalagens, pagando dessa forma menos de licenciamento à própria Sega. O caso da Accolade foi o mais peculiar pois gerou uma série de julgamentos que deixou a Accolade em maus lençóis por uns meses, sendo que depois lá chegaram a um acordo com a Sega e puderam lançar jogos licenciados ou não, sem haverem novas consequências. Antes desse acordo com a Sega os seus jogos para além de possuirem um cartuho maior, lembrando os da EA, vinham também em caixas de cartão, fazendo lembrar os jogos de PC da época, até porque era esse o mercado da Accolade. E é isso que se passa com este Winter Challenge, um jogo de DOS algo antigo que acabou por ser relançado para a Mega Drive.  O meu exemplar veio de um bundle na Feira da Vandoma no Porto, ficando-me por 2.5€ por cada.

Jogo com caixa em cartão
Jogo com caixa em cartão

Os jogos olímpicos de Inverno não são muito famosos por cá e aqui neste jogo podemos participar em 8 diferentes modalidades. Uns envolvem percorrer circuitos apertados com trenós, como é o caso do Bobsled ou do Luge. Outros como o Downhill Skiing ou o Slalom colocam-nos a descer encostas geladas e a passar por uma série de obstáculos ou checkpoints. Ainda no ski temos também o Cross Country Skiing que é uma prova que exige maior resistência física o famoso Ski Jump onde os atletas saltam a grandes distâncias com o seu ski ou o Biatlo, que mistura o Ski com tiro. Por fim sobra o Speed Skating que é basicamente colocar os atletas a correr o mais rápido possível com os seus patins de gelo. Como muitos jogos deste género, a maior parte das modalidades exigem bastante button mashing para ganhar velocidade e naquelas provas em que a gestão de fatiga é crucial, também temos uma barra de stamina com que nos preocupar, pelo que o button mashing tem de ser mais doseado. De todos os desportos aquele que possui controlos mais complicados é o do salto em Ski, mas felizmente existe uma opção de treino que pode ser usada em todas as modalidades. Depois lá avançamos para a vertente de torneio, onde poderemos customizar o nosso atleta e também o dos nossos oponentes.

Graficamente parece um jogo impressionante, mas em movimento nota-se que a Mega Drive tem dificuldade em acompanhar.
Graficamente parece um jogo impressionante, mas em movimento nota-se que a Mega Drive tem dificuldade em acompanhar.

O jogo é uma adaptação de PC, visualmente, pelo menos em screenshots, é impressionante para uma Mega Drive pois os cenários vão sendo representados em 3D poligonal, e as sprites são digitalizadas. Só que infelizmente o framerate sofre bastante com isso, e naquelas provas que exigem mais velocidade, torna-se por vezes um pouco frustrante controlar o atleta. De resto, a nível audiovisual, é um jogo bem competente na minha opinião. Sinceramente eu prefiro aquele visual mais tradicional em plataformas 16bit, como a U.S.Gold conseguiu fazer no Olympic Gold, por exemplo, ao invés de gráficos num 3D ainda rudimentar. Mas isso é só a minha opinião.

Cada evento pode ser treinado vezes sem conta no modo treino.
Cada evento pode ser treinado vezes sem conta no modo treino.

Para mim, este é um daqueles jogos porreiros para se experimentar uma vez ou outra e depois encostar, pois não sou grande fã do género e apesar de ser um jogo bonitinho com gráficos pseudo 3D, a jogabilidade e o framerate acabam por sofrer um pouco.