Ora cá está um jogo que há já muito tempo tinha curiosidade em explorar de forma mais séria. Metal Head é um dos poucos títulos da 32X desenvolvidos especificamente a pensar neste sistema, ao contrário da maioria da sua reduzida biblioteca, composta sobretudo por conversões de jogos Mega Drive ou arcade. Trata-se de um jogo de combate com mechs, apresentado com gráficos simples mas inteiramente em 3D poligonal, precisamente aquilo que a 32X prometia oferecer. Já por diversas vezes tive oportunidade de adquirir o jogo completo por menos de 50€, mas nunca quis dar mais do que 30€. Infelizmente, com os preços do mercado retro em constante subida, acabei por aproveitar uma oportunidade que surgiu há algumas semanas, mesmo tendo de desembolsar um valor mais elevado.

O conceito do jogo leva-nos a um futuro onde uma organização terrorista, armada até aos dentes, ameaça toda a civilização moderna. Encarnamos um piloto de mech ao serviço de uma força militar, e ao longo do jogo teremos várias missões para cumprir, todas em ambientes urbanos, onde teremos de destruir uma série de alvos: tanques, mechs, veículos inimigos e estruturas como geradores, por exemplo. A história não é particularmente impressionante, mas antes de cada missão temos direito a um curto briefing, narrado com clipes de vozes digitalizadas (algo pouco comum em jogos lançados em formato de cartucho).
Já no que diz respeito às mecânicas de jogo, comecemos pelos controlos. Este é um título que apresenta esquemas alternativos e suporta tanto os comandos de seis botões da Mega Drive como os tradicionais de três. Usando o comando de seis botões como base, o esquema por defeito utiliza o botão direccional para deslocar o nosso mech para a frente, para trás e para rodar à esquerda ou à direita, enquanto o botão A serve para o strafing, ou seja, movermo-nos lateralmente se o pressionarmos em conjunto com a esquerda ou a direita. O botão C permite-nos correr enquanto o mantivermos pressionado, os botões X, Z e Mode servem para alternar entre diferentes ângulos de câmara, e o botão Y é utilizado para trocar a arma equipada. O botão B, naturalmente, dispara a arma seleccionada. O uso do strafing e dos edifícios como abrigo acaba por se tornar essencial, já que temos uma barra de vida que se esvazia à medida que sofremos dano, e não existe forma de reparar o nosso mech a não ser concluindo a missão com sucesso.

Depois, como tem sido habitual em videojogos que envolvem mechs, existe sempre algum grau de personalização, tanto nas armas como em equipamento alternativo que podemos activar. No que diz respeito ao armamento, algumas armas, como a metralhadora ou o hammer knuckle (esta última de alcance bastante reduzido e pouco recomendada), têm uso ilimitado, enquanto as restantes funcionam com munição limitada. No entanto, estas alterações ao loadout só podem ser feitas em dois momentos distintos: entre níveis (cada um com vários sub-níveis ou missões), ou quando morremos e recomeçamos a missão. Em ambos os casos, somos levados a uma loja onde podemos adquirir novas armas e upgrades para o nosso mech. Os créditos utilizados nestas compras são obtidos com base na nossa performance durante as missões, mas infelizmente os itens adquiridos não são permanentes, nos níveis seguintes teremos de voltar a comprar tudo novamente, o que, na minha opinião, não foi uma decisão muito inteligente. As missões em si levam-nos a explorar vários mapas renderizados em 3D poligonal, onde teremos de eliminar uma série de alvos. No canto superior direito do ecrã temos acesso a um mapa que funciona também como radar, indicando a posição de forças inimigas. No entanto, à medida que vamos sofrendo dano, essas funcionalidades vão sendo afectadas — o radar é o primeiro a desaparecer, seguido do próprio mapa. Já na parte inferior do ecrã, temos acesso a outras informações úteis: o dano sofrido, o tempo limite para completar a missão, a arma actualmente seleccionada (bem como a munição restante) e algumas mensagens informativas.

A nível gráfico, este é um jogo simples, embora todos os cenários e inimigos sejam renderizados em 3D poligonal. Os edifícios apresentam texturas rudimentares e de baixa resolução, e os veículos inimigos são, na sua maioria, compostos por modelos poligonais básicos, com poucas ou nenhumas texturas aplicadas. Ainda assim, a draw distance é bastante reduzida (é possível sofrermos dano de inimigos que se encontram fora do nosso campo de visão), e a performance do jogo não é propriamente fluída. A 32X é capaz de melhor (como demonstram algumas demos técnicas) mas é perfeitamente plausível que o desenvolvimento deste jogo tenha sido apressado, sem o tempo necessário para amadurecer as ideias de base e optimizar o desempenho geral. Já no que toca ao som, a banda sonora adopta maioritariamente um estilo rock, o que pessoalmente me agrada, mas acaba por ser completamente abafada pelo volume dos efeitos sonoros, que por sua vez não são nada de especial. O jogo conta, no entanto, com uma boa quantidade de diálogo com vozes digitalizadas, o que, apesar da fraca qualidade de áudio, não deixa de ser um feito algo invulgar dada a capacidade de armazenamento limitada dos cartuchos.

Portanto, a minha experiência com este Metal Head acaba por ser um pouco agridoce. É perfeitamente normal, em jogos de mechas, que os controlos sejam mais complexos do que nos habituais jogos de acção pois afinal, não é por acaso que controlamos um tanque com pernas! No entanto, a experiência no seu todo não é das mais agradáveis. Nota-se que este foi um projecto ambicioso (até porque o seu final sugere uma eventual sequela que nunca se materializou), mas os problemas de performance, os cenários simples e repetitivos, o combate algo metódico e o facto de os upgrades terem de ser comprados novamente entre missões são todos factores que pesam negativamente na experiência final.



















