Red Faction (Nokia N-Gage)

Vamos agora a mais uma rapidinha àquele que será, para já, o último jogo que vos trago do N-Gage, visto que até ver ainda não arranjei mais nenhum para a colecção. E este artigo incide nada mais nada menos que a versão N-Gage do primeiro Red Faction, que eu já tinha jogado na Playstation 2 há uns valentes anos atrás. O meu exemplar foi comprado na feira da Vandoma no Porto, algures por 2016/2017 diria, e custou-me uns 4€.

Jogo com caixa, manual e papelada

O jogo segue a mesma narrativa do original, colocando-nos no papel de Parker, que pertence a um grupo de mineiros de uma mega corporação que opera em Marte, mas escraviza os seus funcionários. Eventualmente começam as chamas da revolta e acabamos mesmo por nos vermos envolvidos nesse conflito e, invariavelmente, auxiliar os restantes mineiros revoltosos em suceder. Uma das mecânicas que tornou o primeiro Red Faction famoso foi a sua tecnologia de “geo mod“, onde, recorrendo a explosões, poderíamos abrir buracos em paredes e assim contornar algumas portas trancadas. Ou até descobrir salas secretas com munições ou medkits. E essa tecnologia existe aqui, mas de uma forma bem mais contida, como seria de esperar. Basicamente serve para rebentar com várias paredes que escondem salas secretas com alguns power ups valiosos. De resto este é um FPS à moda antiga onde poderemos vir a carregar um autêntico arsenal de armas sem qualquer limitação e a vida é curada com medkits. No entanto, tal como no Half Life, existe também uma progressão linear entre os vários níveis do jogo.

Os primeiros níveis passam-se nas minas, portanto esperem por muitos castanhos

Mas a pergunta que realmente interessa aqui é: como funcionam os controlos numa N-Gage? Bom, o direccional é usado para nos movimentarmos nas direções pretendidas tal como as teclas WASD no teclado, enquanto as teclas 4 e 6 servem para virar a câmara para a esquerda ou direita respectivamente. Mas sendo este um jogo em 3D, ocasionalmente teremos de movimentar a câmara também noutras direcções, sendo para isso necessário pressionar o botão 7 e, com esse botão premido, mover a câmara com o direccional. O botão 5 dispara a arma actualmente seleccionada, enquanto que os botões 1 e 3 servem para irmos alternando a arma a equipar e finalmente o botão 2 serve para saltar. Como devem calcular, num sistema como o N-Gage, não é o método de controlo mais agradável de se utilizar, embora sinceramente não estou a ver como poderia ser feito melhor nessa plataforma.

Para uma portátil de 2003 está espectacular, mas esta versão envelhece muito mal graficamente

A nível gráfico é um jogo que acredito que tenha sido impressionante quando o mesmo sai em 2003, pois é um first person shooter totalmente em 3D poligonal num sistema portátil. Os gráficos por si só sinceramente não os acho grande coisa (estão próximos de uma PS1) mas uma vez mais devem ter sido impressionantes para a época (pelo menos eu lembro-me de ficar boquiaberto quando via o Tomb Raider a correr). Ainda assim, acho que ficam uns furos abaixo da conversão do Tomb Raider, até porque as texturas são de muito baixa resolução, não há grande variedade de cenários e na maior parte das vezes, os tectos não têm qualquer textura também. Passando para o som, nada de especial a apontar aos efeitos sonoros e os inimigos vão tendo algumas vozes digitalizadas. Já as músicas sinceramente não as achei nada de especial, pois para além de serem de má qualidade, são loops bastante curtos que se vão repetindo até à eternidade. Nota-se que tentaram economizar na capacidade, pois o jogo está todo num MMC de 8MB.

Tal como o original temos aqui várias armas explosivas, embora o geomod seja muito mais simplificado

Portanto este Red Faction é uma versão bem mais contida do Red Faction e que, apesar de ter sido algo impressionante para um sistema portátil na altura em que saiu, não é de todo a melhor forma de jogar Red Faction. Para além de ter todas as suas mecânicas e visuais bem mais simplificados tendo em conta as limitações do sistema, não deixa também de ter um esquema de controlo que é longe do ideal, tornando a experiência bastante frustrante, particularmente a partir da segunda metade do jogo, onde os inimigos começam a ser bem mais numerosos, poderosos e agressivos. Não podia no entanto de deixar de salientar uma curiosidade: esta conversão foi desenvolvida pela extinta Monkeystone Games, fundada por nomes como John Romero e Tom Hall, bastante conhecidos pelo seu trabalho na id Software e duas das mentes por detrás de clássicos como Wolfenstein 3D ou Doom.

Tomb Raider (Nokia N-Gage)

Vamos voltar às rapidinhas e ao N-Gage da Nokia para abordar levemente a conversão para aquele sistema do primeiríssimo Tomb Raider, o que para mim foi algo de me deixar boquianerto, ver num sistema portátil de 2003 uma conversão visualmente tão competente desse clássico da Core/Eidos. Tal como referi no artigo do FIFA 2005 do mesmo sistema, o meu exemplar deste Tomb Raider veio com a própria consola, que me foi facilitada por um amigo por cerca de 40€ lá por 2016/2017.

Jogo com caixa e manuais

E sim, tirando uma ou outra diferença, esta conversão do Tomb Raider é uma conversão bastante fiel do original, contendo todos os seus níveis, o que por si só é um feito impressionante visto que o jogo sai num pequeno cartucho de cerca de 8MB de capacidade. Sim, 8MB. Tomb Raider é um clássico pois para além de ser um dos primeiros jogos de exploração e acção em 3D a atingir uma fama considerável, precisamente pelo seu conceito. Isto porque não só controlávamos uma personagem feminina o que por si só já era algo incomum, bem como teríamos toda uma série de cenários inóspitos prontos a explorar, como várias ruínas antigas, muitas armadilhas e várias criaturas exóticas para combater, incluindo dinossauros. Até um T-Rex numa fase algo precoce do jogo iríamos enfrentar!

A maior diferença visual desta versão é precisamente as roupas de Lara, as mesmas do Angel of Darkness da PS2.

O lançamento original tinha tank controls e Lara tinha à sua disposição toda uma série de movimentos que tornavam os controlos bastante complexos e a exploração dos níveis obrigavam-nos a uma série de saltos extremamente precisos para que Lara se conseguisse muitas vezes segurar na ponta dos dedos perto de algum abismo. E se isso já era complicado num comando normal (o jogo ainda não suportava qualquer controlo analógico) agora imaginem numa consola portátil como a N-Gage onde para além de um d-pad que sinceramente não acho que seja grande coisa, tínhamos também um teclado numérico para todas as restantes acções do jogo. Vamos então abordar os controlos nesta versão: o direccional controla a Lara com tank controls habituais da época, enquanto que os botões 5 e 7, os mais salientes do teclado numérico do N-Gage permitem-nos saltar e caminhar lentamente. Os botões 1 e 3 servem para dar passos laterais, enquanto o botão 2 lança o inventário. O botão 4 é o botão de acção principal, o 6 serve para dar cambalhotas no chão e virar 180º, enquanto que o botão 8 serve para sacar/guardar as armas e o 9 para controlar a câmara. Com os botões tão próximos uns dos outros, dominar os controlos nesta versão do Tomb Raider é então um desafio acrescido.

Visualmente é um jogo impressionante para o sistema, apesar da sua resolução predominantemente vertical

Visualmente é um jogo com um 3D impressionante para um sistema portátil de 2003 e tal como referi acima, o jogo contém integralmente todos os níveis com um nível de detalhe muito próximo aos originais, embora naturalmente corra numa resolução consideravelmente menor. Tudo isto num cartucho de pouca capacidade, pelo que alguns sacrifícios tiveram de ser feitos. As cut-scenes em FMV foram todas substituídas por paredes de texto ou pequenos clipes com o próprio motor do jogo, a música não existe, assim como practicamente todos os clipes de voz. Muitos dos efeitos sonoros originais estão presentes no entanto, como o som dos passos de Lara, os rugidos dos animais e claro, o ruído das armas que disparamos.

Muita exploração subaquática à nossa frente!

Portanto apesar de ser uma versão do jogo não muito agradável de se controlar devido à arquitectura do próprio N-Gage, esta versão do Tomb Raider não deixa de ser um lançamento imponente para um sistema portátil. É que ainda demoraram alguns anos até a Playstation Portable chegar ao mercado e apresentar algo com uma qualidade similar ou superior! Esta versão contém algum conteúdo extra que não cheguei a explorar como uma vertente online que é uma espécie de speedrun nalguns níveis específicos e onde a comunidade do extinto N-Gage Arena competia pelos melhores tempos possíveis.

FIFA 2005 (Nokia N-Gage)

Vamos agora para algo completamente diferente e que já há algum tempo gostaria de trazer cá: o telemóvel/consola Nokia N-Gage. Lançado no último trimestre de 2003, o N-Gage é um híbrido entre um smartphone da Nokia com SO Symbian da série S-60 e com a capacidade de correr videojogos, não só aqueles mais típicos e baseados em Java que qualquer smartphone da época corria, mas também videojogos dedicados e lançados num formato físico na forma dos cartões de memória MMC, um formato muito em voga nessa época também. Tecnologicamente era um modelo impressionante, com jogos a apresentar gráficos 3D bastante avançados para uma consola portátil da época. No entanto, não deixa de ser um telefone, pelo que jogar videojogos com os botões minúsculos do teclado numérico não é a melhor ideia de todas. E nem vou entrar pelas falhas de design do primeiro modelo, posteriormente endereçadas no sucessor QD. O meu exemplar é precisamente um N-Gage QD, que foi comprado a um amigo algures em 2016/2017 por 40€. A parte curiosa é que este foi um prémio não reclamado de um concurso que acabou depois por ficar esquecido nos escritórios da empresa que o sorteou. Um deles lá veio parar às minhas mãos, tendo vindo com o FIFA 2005 e um Tomb Raider também selado.

N-Gage edição com FIFA 2005 de oferta, onde infelizmente apenas traz o manual e cartão MMC com o jogo. A caixinha do jogo cabia perfeitamente!

Irei aproveitar este artigo para escrever um pouco sobre o FIFA 2005 no N-Gage. No entanto devo dizer que apesar de ter tentado jogá-lo no hardware original, o meu N-Gage está com problemas pois mesmo depois de uma noite inteira a carregar a bateria, o telemóvel simplesmente não liga. Apesar de já ter planeado em jogos mais complexos jogá-los através de emulação, simplesmente queria ter uma melhor noção do quão confortável o N-Gage seria para jogar e o FIFA 2005 seria o candidato perfeito para tal. Não sendo possível, acabei então por experimentar o emulador EKA2L1 que emula toda uma série de telemóves Symbian, incluindo o N-Gage.

No modo carreira podemos optar por deixar o CPU simular a partida ou jogá-la nós próprios

E vamos começar precisamente pelos controlos. O direccional é usado para controlar o jogador seleccionado no momento, como seria natural. E sinceramente não gostei muito da maneira como o d-pad responde ao toque, mas como não consegui jogar no N-Gage isto é apenas especulação da minha parte. As acções durante o jogo estão mapeadas para o teclado numérico e as acções principais estão mapeadas para os botões 5 e 7, que no próprio N-Gage têm um relevo diferente das restantes teclas, o que acredito que ajude e para jogos simples que não exijam muitos botões de acção, isso até ajude a simplificar os controlos. Neste caso, se tivermos na posse da bola, o botão 5 remata e o 7 passa, com os botões 6 e 8 a servirem para outros tipos de passe. Não estando na posse de bola, o botão 5 serve para tentar roubar a bola ao adversário e o 7 para alternar de jogador que controlamos. Os botões 6 e 8 servem uma vez mais para acções secundárias e em qualquer um dos casos o botão 4 serve para correr, onde teremos também de ter atenção à fadiga dos jogadores. No emulador o mapping dos botões por defeito é dado para as setas e o teclado numérico, mas a ordem dos números no telemóvel é contrária à dos teclados numéricos, pelo que se recomenda também alterar a sua ordem para uma melhor aproximação ao original.

Visualmente o jogo não difere muito da sua versão GBA, embora os gráficos sejam mais nítidos aqui.

Já no que diz respeito aos modos de jogo, bom mesmo sendo este um jogo portátil, o que não falta aqui é conteúdo. Para além das partidas amigáveis, temos também a hipótese de participar em diversas competições no formato campeonato ou taça, tanto de clubes como de selecções nacionais. Existe um grande número de equipas aqui disponível, todas devidamente licenciadas e com plantéis que acredito que tenham sido o mais fiéis possível para aquela temporada. Para além desses dois modos de jogo temos também um modo challenge, onde somos convidados a ultrapassar certos desafios como ultrapassar uma desvantagem já com poucos minutos de sobra para o final da partida e temos também um modo “carreira”, onde teoricamente estamos no papel de um treinador e ao longo de várias temporadas vamos ter uma série de objectivos mínimos para ultrapassar como terminar numa certa posição da tabela e à medida que os atingimos, poderemos também melhorar a qualidade da equipa. Temos também a hipótese de jogar ou não as partidas nós próprios. Para além de tudo isto o jogo tinha também uma vertente multiplayer com recurso à tecnologia bluetooth.

Uma das novidades desta versão é a possibilidade de manipularmos as repetições e gravá-las se desejarmos

Já no que diz respeito aos audiovisuais o jogo creio que partilha do mesmo motor gráfico e assets da versão Game Boy Advance, tendo no entanto visuais um pouco mais detalhados que na portátil da Nintendo. Existem no entanto jogos de N-Gage graficamente bem mais impressionantes que este. Esta versão possui no entanto a desvantagem do ecrã do N-Gage ter uma predominância vertical e tendo em conta que a câmara do jogo é horizontal acaba por nos roubar alguma visão de jogo útil. É verdade que temos um mapa no ecrã inferior esquerdo com as posições de todos os jogadores em campo, mas honestamente nunca consegui perder tempo para olhar para tal gráfico com atenção. Já no som este parece-me ser um jogo bem competente, com as partidas a serem acompanhadas dos cânticos e protestos dos adeptos, assim como os ruídos dos pontapés na bola e apitos dos árbitros. Fora das partidas o jogo tem uma série de músicas licenciadas de vários artistas e que me parecem aqui serem tocadas na íntegra. É uma banda sonora bem mais extensa do que eu esperaria encontrar num videojogo portátil de 2004/2005, embora se note bem que as músicas foram bastante comprimidas para ocuparem o mínimo de espaço possível.

Portanto sinceramente este FIFA 2005 parece-me ser um jogo de futebol bem competente para uma portátil daquela época, embora ainda tenha algumas reservas nos controlos, já que infelizmente não o consegui experimentar no hardware original. É que as teclas 5 e 7 terem maior destaque faz todo o sentido até por uma questão de ergonomia, mas para acções mais complexas, como por exemplo correr e depois entrar de carrinho para roubar uma bola, vão-nos obrigar a pressionar a tecla 4 e posteriormente a 8, o que não é muito viável num teclado numérico daquele tamanho.