Alan Wake’s American Nightmare (PC)

Pouco depois de terminar o Alan Wake Remastered decidi avançar para este segundo título da série. Lançado originalmente em 2012 para a Xbox 360 e PC, American Nightmare apresenta-se como uma experiência mais curta e claramente focada na acção. A minha cópia digital no Steam veio parar à biblioteca através de uma promoção no Humble Bundle, comprada já há bastantes anos, em 2013, por um preço bastante reduzido. Entretanto, se nunca jogaram o primeiro Alan Wake e têm essa intenção, recomendo que não leiam o parágrafo seguinte, pois irão encontrar alguns spoilers.

A história de American Nightmare decorre após os eventos narrados no primeiro jogo, quando Alan Wake consegue salvar a esposa das forças obscuras que assombravam o Cauldron Lake, à custa da sua própria liberdade, ficando retido no fundo do lago. Apesar de ser narrado como se de um episódio da série fictícia Night Springs se tratasse, o jogo coloca-nos perante o confronto de Alan com o seu lado mais sombrio, personificado em Mr. Scratch, que ameaça libertar-se do Cauldron Lake e regressar ao mundo real apenas para fazer mal à esposa de Alan. Também o setting é distinto: em vez das montanhas enevoadas de Bright Falls, viajamos até Night Springs, uma pequena localidade perdida no árido deserto do Arizona.

As personagens até que estão bem detalhadas para um jogo de 2012 mas as suas animações são muito limitadas. Por exemplo, esta senhora está sempre com a mesma pose em todas as cenas.

No que toca às mecânicas, American Nightmare mantém a base do seu predecessor, mas aposta num maior ênfase no combate. Continua presente o uso da lanterna para destruir os “escudos de escuridão” dos inimigos antes de estes ficarem vulneráveis às armas de fogo, embora agora haja uma maior variedade de adversários. Os bandos de corvos, por exemplo, têm a capacidade de se transformar num inimigo humanóide, enquanto outros duplicam-se sempre que são atingidos por uma fonte de luz intensa. Para equilibrar o desafio, existe também uma selecção mais alargada de armas, que podem ser desbloqueadas através da recolha de coleccionáveis e da abertura de malas espalhadas pelos cenários. Entre estas encontramos diferentes shotguns, espingardas e até armas automáticas. A utilização de flares ou granadas de luz continua a ser essencial para lidar com grupos numerosos de inimigos e sobreviver às situações mais exigentes.

Novas armas e inimigos foram introduzidas a mecânicas de jogo já conhecidas

O modo história é, no entanto, bastante curto. Se no primeiro Alan Wake uma das críticas que fazia era a certa repetição das secções de exploração e longas caminhadas pelas florestas de Bright Falls, aqui essa repetição manifesta-se de outra forma. O jogo contém apenas três níveis: um motel de estrada e suas imediações, um observatório astronómico e um cinema drive-in tipicamente norte-americano, todos eles relativamente amplos. Depois de os concluirmos pela primeira vez, a narrativa leva-nos de volta ao início, com pequenas variações nos acontecimentos. Na prática, American Nightmare desenrola-se como um time loop de três dias, que nos faz revisitar as mesmas áreas com mudanças subtis. Para além da campanha, existe ainda um modo arcade, concebido como um verdadeiro score attack. Aqui o objectivo é sobreviver durante dez minutos a ondas sucessivas de inimigos, recolhendo munições e novas armas espalhadas pelas arenas. Existem cinco cenários distintos, que variam entre um cemitério, uma cidade abandonada, um campo de extracção de petróleo, uma área mais florestal ou uma zona de caravanas. Confesso que não dediquei muito tempo a este modo, mas é evidente que foi pensado para prolongar a longevidade do jogo, com a possibilidade de desbloquear as arenas em dificuldades mais elevadas (Nightmare).

Para além do modo história temos também um modo arcade, uma espécie de score attack onde temos de sobreviver durante 10 minutos a ondas de inimigos

Em termos audiovisuais, American Nightmare está bem conseguido para os padrões de 2012. As personagens são detalhadas, ainda que as animações fiquem algo aquém, e os cenários apresentam-se com um visual distinto do primeiro jogo, graças à ambientação no Arizona. O contraste entre o deserto árido e as florestas densas de Bright Falls funciona muito bem, ainda que, por se tratar sempre de ambientes nocturnos, raramente consigamos apreciar a paisagem em todo o seu esplendor. No campo sonoro, o voice acting mantém o nível de qualidade esperado, ajudando a dar vida a uma narrativa mais curta, mas ainda assim cativante. A banda sonora alterna entre faixas ambientais e composições mais marcantes em momentos-chave, destacando-se, como seria de esperar para mim, as músicas de inspiração heavy metal da fictícia banda Old Gods of Asgard, que continuam a ser um dos pontos altos da série.

No fim de contas, Alan Wake’s American Nightmare acaba por ser uma experiência agradável, mas também demasiado breve, o que torna a sua recomendação algo limitada. Para quem é fã de Alan Wake, o jogo pode ser uma boa adição, sobretudo se surgir a um preço acessível, já que oferece algumas variações interessantes na jogabilidade e um setting bastante diferente do habitual. Ainda assim, enquanto capítulo na história da série, deixa a sensação de ser mais um episódio paralelo do que uma peça essencial. Talvez só depois de mergulhar em Alan Wake II consiga avaliar melhor o peso real deste título no todo da narrativa. Até lá, fica como um curioso desvio que os seguidores da saga poderão apreciar, mas que dificilmente convencerá quem procura uma experiência mais completa por si só.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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