Tempo de voltar agora à Nintendo Switch para o primeiro volume de uma colectânea que atravessa os mais importantes lançamentos da saga Valis, da qual já cá trouxe no passado alguns dos seus (re)lançamentos. Anunciada pela Edia (que havia adquirido os direitos de várias das propriedades intelectuais da extinta Telenet Japan) algures em 2021 para celebrar os 35 anos da série, consistindo nas versões PC Engine dos primeiros 3 jogos da saga. No Japão houve um lançamento físico, enquanto que no resto do mundo se ficou por versões digitais. Pelo menos até 2022, onde a Limited Run Games anunciou um lançamento físico em inglês, que eu acabei por comprar.

Escrever sobre a série Valis é, para mim, uma tarefa algo ingrata, dada a sua longa história de relançamentos em diversas plataformas e o facto de, até há pouco tempo, nenhum dos seus jogos ter sido lançado oficialmente por cá. Apesar de já ter jogado as versões Mega Drive há muitos anos através de emulação, a primeira vez que cá trago algo da série no blogue deu-se através do Syd of Valis, após ter encontrado um cartucho ao acaso numa Cash Converters. Este título, um remake com um estilo artístico super deformed, chegou à Mega Drive após Valis III e após Valis, sendo que este último já era, por si só, um remake. Assim, a ordem de lançamento na Mega Drive foi: Valis III (conversão), Valis (remake) e Valis II (remake). Já na PC Engine CD, a série seguiu outra lógica, com Valis II, Valis III, Valis IV e Valis, mais um remake, distinto da versão Mega Drive. Esta colectânea inclui as versões PC Engine CD dos três primeiros jogos. Confusos? É natural, eu também fico.

Começando pelo primeiro Valis, este foi originalmente lançado em 1986 para uma série de computadores nipónicos, com as versões MSX e PC-88 a serem incluídas em volumes subsequentes desta compilação. No ano seguinte, surgiu uma versão completamente diferente para a Famicom e um remake para a Mega Drive em 1991, ambas também disponíveis noutros volumes desta colectânea. Em 1992 sai uma nova versão para a PC Engine CD, consideravelmente próxima da versão Mega Drive, mas substancialmente diferente também. Em 1992, foi lançada uma nova versão para a PC Engine CD, consideravelmente próxima da versão Mega Drive, mas também substancialmente diferente. Comparando com a versão Mega Drive, a versão PC Engine CD partilha os mesmos cenários de nível, embora a sua construção seja inteiramente distinta. Em termos de mecânicas e controlos, ambas as versões partilham o mesmo sistema de power-ups, embora com algumas ligeiras diferenças nos itens e habilidades que podem ser coleccionados. A versão PC Engine CD, no entanto, apresenta controlos muito mais refinados, começando pelo facto de não ser necessário pressionar cima e o botão de salto para alcançar saltos mais altos. A mecânica de slide também está presente, mas ao contrário da versão Mega Drive, aqui os slides podem ser usados não só para evasão, mas também como ataque.

A nível audiovisual, há também diferenças notórias, principalmente devido ao facto de a versão PC Engine CD ter sido lançada num CD. A banda sonora continua bastante agradável e, apesar de eu apreciar bastante o chiptune da versão Mega Drive, as músicas aqui, gravadas com instrumentos reais, são igualmente apelativas. Esta versão inclui também várias cenas animadas ao estilo anime, mas agora todas acompanhadas de narração em japonês. Por ser um lançamento Super CD-ROM², beneficia da memória RAM extra, resultando em níveis mais detalhados e coloridos, embora perca os efeitos de parallax scrolling da versão Mega Drive.

Segue-se Valis II e… que grande recuo senti! Esta versão é nitidamente mais datada, até porque foi originalmente lançada em 1989, ao contrário do remake do primeiro jogo, que saiu em 1992. Os controlos são mais simples, com um botão para saltar e outro para atacar. Temos vários power-ups para a espada de Yuko e magias também, embora estas agora tenham um número limitado de utilizações, ao contrário de estarem agarradas a uma barra de MP. Infelizmente, para as activar, basta pressionar o direccional para cima, o que é muito fácil de fazer acidentalmente, fazendo-nos desperdiçar uma utilização preciosa! É também um jogo bastante linear na construção dos níveis, o que não é necessariamente um problema.

A nível audiovisual, este é o primeiro jogo da Telenet lançado num formato CD e, por ter saído com a tecnologia CD-ROM², não beneficia da memória RAM adicional. As cenas entre níveis possuem, portanto, menor detalhe visual, embora sejam novamente narradas em japonês. O detalhe gráfico dos níveis é também consideravelmente mais simples, o que é comum em lançamentos CD-ROM², pois, com a mesma memória RAM disponível, a PC Engine CD precisa de usar a memória base para renderizar os gráficos e tocar as músicas em formato Redbook Audio do CD. Não é incomum, em jogos de PC Engine com versões HuCard e CD-ROM², a versão CD ter níveis com menos detalhe ou até mais curtos devido a essa limitação. Mas voltando à banda sonora, que está aqui presente em formato CD Audio, é uma mistura entre temas mais rock (que me agradam bastante) e outros mais leves, com melodias sintetizadas, algo que já não me agrada tanto. No entanto, era algo bastante comum na música dos anos 80, pelo que se compreende perfeitamente a sua inclusão.

Passando finalmente para o Valis III, este já é um jogo bem mais robusto do que os seus antecessores, tanto a nível de design dos níveis, como de controlos e mecânicas de jogo. Foi a primeira vez na série que se implementou um sistema de slide, que serve tanto para nos desviarmos de ataques inimigos e atravessar certas secções dos níveis, como também como ataque adicional. No entanto, regressa também a mecânica de salto alto recorrendo à combinação do botão de salto com o direccional para cima, algo que já não me agrada tanto. A grande novidade está, no entanto, na introdução de diferentes personagens jogáveis. Para além de Yuko, desde cedo desbloqueamos Cham, uma espécie de tributo aos Belmont de Castlevania, pois também usa um chicote como arma. Mais a meio do jogo desbloqueamos ainda Valna, que dispara projécteis mágicos — mais fracos do que os de Yuko, mas com maior alcance e disparados em múltiplas direcções. Tirando alguns momentos específicos em que somos obrigados a usar uma determinada personagem, podemos alternar entre as três usando o botão Run (o botão + no comando da Switch). De regresso estão também as magias, agora apresentadas em diferentes “sabores” elementares, como electricidade, fogo ou gelo. Cada personagem executa essas magias de forma distinta, com padrões de ataque próprios. No caso do gelo, este pode inclusivamente ser usado para congelar inimigos, que por sua vez servem de plataforma, algo que teremos mesmo de fazer num nível em particular.

A nível audiovisual, este é também um título que tira partido da tecnologia Super CD-ROM² e da sua expansão de memória RAM. Isto traduz-se em cenas animadas e níveis com um nível de detalhe bastante superior ao habitual. Esses bons visuais, aliados a um design de níveis bem mais interessante (e uma boa jogabilidade também), tornaram a experiência muito mais cativante! Como nos outros Valis lançados neste sistema, contam-se várias cenas com vozes em japonês e uma banda sonora em formato CD Audio, com temas vibrantes e energéticos, numa toada rock. Algumas até me fizeram lembrar Castlevania!
Agora que já partilhei a minha opinião sobre os jogos presentes nesta compilação, vamos abordar todos os extras que a colectânea inclui. Ao escolher o jogo que queremos experimentar, somos levados a um menu que nos permite começar ou continuar o jogo, consultar um manual digital (que inclui uma versão simplificada e traduzida do original de PC Engine, seguida por scans da versão japonesa na íntegra), ajustar alguns aspectos gráficos e de controlo, assistir aos créditos e aceder a duas galerias distintas. Uma permite-nos ouvir toda a banda sonora, enquanto a outra nos dá acesso a todas as cenas animadas, independentemente do progresso feito em cada jogo. De resto, a novidade mais notória nestas versões é o facto de a narração japonesa estar agora traduzida para inglês, através de legendas. Curiosamente, Valis II e Valis III tiveram lançamentos norte-americanos com dobragem em inglês, mas essas versões não se encontram incluídas, o que é uma pena, pois seria um extra valioso do ponto de vista histórico.
Todos os jogos são emulados, e para além das caixas de texto com legendas, foram também introduzidas várias melhorias de qualidade de vida, como um sistema de rewind. No entanto, a sua execução deixa a desejar: o rewind está atribuído ao botão L, e ao pressioná-lo o jogo recua apenas um ou dois segundos. Podemos pressioná-lo repetidamente para recuar mais, mas cada utilização abre uma janela a perguntar se queremos mesmo voltar atrás. Se por um lado isso evita enganos, por outro torna-se inconveniente quando se quer recuar mais tempo de forma deliberada. Ao pressionar o gatilho ZL, o jogo pausa e surge um menu que permite gravar ou carregar o progresso através de save states, consultar o manual, os controlos ou alterar algumas opções gráficas simples. Os controlos originais da PC Engine (dois botões faciais, Select e Run) foram fielmente adaptados, mas em certos jogos, acções que exigiam múltiplos botões simultâneos estão também mapeadas para botões adicionais da Switch. Por exemplo, o slide pode ser também activado através do botão R. O mapeamento dos botões é totalmente personalizável, o que é sempre bem-vindo. De forma geral, o emulador parece competente, embora eu não tenha os originais em PC Engine CD para comparação directa.
No geral, considero esta uma colectânea interessante, apesar das limitações do sistema de rewind. A ausência das versões norte-americanas de Valis II e Valis III é uma oportunidade perdida, mas acima de tudo, a falta de Valis IV (também lançado na PC Engine) é uma omissão imperdoável. A menos que o emulador esteja a correr ISOs em plano de fundo, duvido que a sua inclusão fosse tecnicamente inviável ou economicamente impeditiva. Contudo, com o tempo, os planos da Edia tornaram-se claros: acabaram por anunciar dois volumes adicionais com esse mesmo Valis IV e variantes restantes para Mega Drive, Famicom, Super Famicom, MSX e PC-88. Esses volumes foram também localizados para inglês e lançados fisicamente para a Nintendo Switch no Ocidente através da Limited Run Games. Naturalmente que os comprei a todos, e tenciono escrever sobre eles assim que os jogar. Embora não considere a série Valis digna de figurar no panteão dos grandes jogos de acção das gerações 8 e 16-bit, sempre os achei bastante interessantes, sobretudo pelas cenas em estilo anime, que desde cedo me fascinaram, quando joguei os originais da Mega Drive pela primeira vez, em emulação, algures em 1999.



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