Tempo de voltar ao PC com um dos primeiros videojogos desenvolvidos pela Lucasarts, aliás, o primeiro publicado em nome próprio. E com Ron Gilbert ao comando, que viria mais tarde a trabalhar em muitos outros títulos icónicos da empresa como os primeiros Monkey Island. No entanto, apesar de o jogo ter algumas boas ideias e ter sido pioneiro em muitas mecânicas que se tornaram standard dentro do género, acho que não envelheceu lá muito bem, para ser sincero. O meu exemplar veio numa compilação que comprei ao desbarato na vinted algures no final do ano passado. Chama-se Tien Adventures e é uma compilação exclusiva do mercado holandês (embora os jogos em si estejam em inglês) e que contém todo o catálogo de aventuras gráficas da Lucasarts publicado entre 1987 e 1993 (mais o Indiana Jones and His Desktop Adventures de 1996), contendo 10 títulos ao todo. É apenas a jewel case de um pacote maior em big box, mas mesmo assim achei que seria uma boa compra visto todos estes jogos da Lucasarts terem preços proibitivos actualmente.

O jogo mais antigo dessa compilação é precisamente este Maniac Mansion, lançado originalmente para o Commodore 64 e Apple II no Outono de 1987. Uma primeira versão MS-DOS sai na primavera do ano seguinte e uma segunda versão (com ligeiros upgrades visuais e não só) a sair no final de 1989. No mesmo ano são também lançadas versões Commodore Amiga e Atari ST, com duas versões NES a serem lançadas também entre 1988 (versão japonesa, desenvolvida pela Jaleco) e 1990/92 para os territórios norte-americano e europeu, numa versão já com o envolvimento da Lucasarts também. A versão que está presente no CD desta compilação é precisamente a segunda versão DOS, do final de 1989.

Mas então no que consiste este Maniac Mansion? É uma aventura gráfica onde teremos de levar Dave (e dois dos seus amigos) a explorarem uma mansão em busca de Sandy, sua namorada, que havia sido raptada pelo cientista Dr. Fred. À medida que avançamos na aventura, e interagir tanto com o Dr. Fred como os restantes membros da sua família (incluindo uma múmia que não parece estar definitivamente morta), apercebemo-nos que este está sob a influência de um misterioso meteoro que havia caído ali perto há uns anos atrás. Já para não falar de dois tentáculos (sim, tentáculos) coloridos que também lá habitam. Para além da interessante premissa, o jogo destacava-se pela sua natureza não linear, visto que podemos escolher os dois amigos de Dave de um conjunto de 6 personagens possíveis, cada uma com diferentes backgrounds e habilidades e que por sua vez nos poderão levar a diferentes soluções para alcançar o fim do jogo, ou mesmo finais distintos entre si! Por exemplo, Bernard, o cientista, é capaz de consertar objetos como um rádio ou um telefone, essenciais para desbloquear certos caminhos na história. Wendy, a escritora, pode editar um manuscrito que terá implicações directas no papel que o meteoro representa. Já os músicos Syd ou Razor podem usar os seus dotes musicais para explorar outros caminhos que restantes personagens não conseguiriam.

Quanto à jogabilidade, Maniac Mansion introduziu um sistema de point and click baseado em verbos, que foi bastante revolucionário na época e uma óptima evolução do interpretador de texto popularizado nas aventuras gráficas da concorrência (Sierra). Na parte inferior do ecrã, existe uma lista de ações possíveis como Open, Pick Up, Use, entre muitas outras. Para interagir com o ambiente, basta selecionar um verbo e depois clicar num objecto ou personagem no cenário. Este sistema foi um marco para o género e uma óptima evolução do interpretador de texto popularizado nas aventuras gráficas da concorrência (Sierra). No entanto, e como outras aventuras gráficas da Lucasarts que se seguiram, o número de verbos disponíveis foi sendo reduzido e simplificado. Aqui temos muitos verbos que nem sempre terão grande utilidade, o que se torna especialmente frustrante o método de tentativa-erro de diferentes combinações de acções para resolver um puzzle. O inventário de cada personagem é separado e pode ser acedido através de um menu dedicado, onde estão listados os itens que cada personagem transporta. Uma funcionalidade interessante é a possibilidade de trocar itens entre personagens, adicionando uma camada estratégica à resolução de puzzles, mas isso também pode criar mais situações frustrantes, pois caso uma personagem que carregue algum item essencial morra, o seu inventário é perdido e tal obriga-nos a recomeçar o jogo.

No que diz respeito aos audiovisuais é importante reter que este é um título originalmente lançado para o Commodore 64 e Apple II, dois sistemas consideravelmente primitivos e essas duas versões até que estão bastante boas tendo em conta as suas limitações. A primeira versão DOS é lançada em 1988 e a segunda versão (a que joguei) no final de 1989, como já referi acima. Essa versão possui gráficos melhorados, com uma maior resolução possível, logo também com personagens e cenários com mais detalhe gráfico, que no entanto não deixam de ser EGA (ou seja, poucas cores em simultâneo no ecrã), que era o padrão na época. Ainda assim, todas as personagens têm um estilo bastante cartoon, que também acentua os motivos mais bem humorados desta aventura. Já no que diz respeito ao som, infelizmente por defeito apenas temos acesso ao pc speaker. Através de emulação é possível emular o som do sistema Tandy, que com os seus 3 canais já resultavam numa música mais rica. Se bem que música mesmo apenas a ouvimos no início do jogo e pouco mais, tudo o resto são ruídos ambiente.
Portanto este Maniac Mansion foi uma interessante surpresa. Se por um lado é super importante por todas as melhorias introduzidas na interface de aventuras gráficas, acaba por ser como a primeira roda: ainda algo quadrada com algumas imperfeições que viriam a ser refinadas nas aventuras seguintes como é o caso da redução de verbos disponíveis. A sua progressão não linear é também outro facto bastante interessante, mas infelizmente, visto que nem sempre é óbvio como resolver certos puzzles, assim como a possibilidade bem real de cairmos nalguma armadilha e bloquear completamente o nosso progresso, tornam este jogo ainda um pouco frustrante, algo que a Lucasarts viria a melhorar muito nos seus lançamentos seguintes. Mas o humor já cá estava!


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