Gris (Nintendo Switch)

Tempo de voltar às rapidinhas para um videojogo indie na Switch. Produzido pelos espanhóis Nomada Studio, formada por ex-funcionários da Ubisoft que desejavam produzir um videojogo independente, este Gris é um interessante jogo de plataformas que apesar de simples nas suas mecânicas de jogo, a sua direcção artística e a narrativa repleta de momentos de “story don’t tell” tornam-no numa experiência muito agradável. O meu exemplar foi comprado na Amazon algures em Junho deste ano por cerca de 25€.

Jogo com caixa e um pequeno livro com arte.

Há muita coisa da narrativa que o jogo não nos conta mas à medida que o vamos experienciando começamos a entender um pouco o que é que de facto se está ali a passar. Digamos que encarnamos numa jovem rapariga chamada Gris que acorda na palma da mão de uma gigante estátua e depois de tentar cantar apercebe-se que não tem voz, com a estátua a desmoronar-se e Gris a cair num mundo completamente desprovido de cor. À medida que vamos explorando o mundo à nossa volta iremos gradualmente restaurar algumas das suas cores e o significado da tal estátua vai-se tornando mais claro.

Visualmente este jogo ficou qualquer coisa de extraordinário!

A nível de mecânicas as coisas são super simples, particularmente no início, pois o direccional serve para movimentar Gris pelo ecrã e um dos botões faciais para saltar. O objectivo é o de ir explorando os cenários, em busca de pequenos pontos luminosos que se assemelham a estrelas e estes vão ser necessários para progredir no jogo, resolver certos puzzles ou até desbloquear algumas novas habilidades. Por exemplo, um dos primeiros obstáculos que encontramos é um abismo que não conseguimos atravessar. No entanto, se coleccionarmos os dois pontos luminosos que estão espalhados nessa área, quando voltamos a esse abismo os dois pontos formam uma mini-constelação, cuja linha que os une pode ser utilizada como ponte. Ou, tal como referi acima, esses pontos servem também para desbloquear novas habilidades que por sua vez serão igualmente necessárias para ultrapassar certos puzzles e obstáculos que o jogo nos irá apresentar em seguida. A primeira habilidade que desbloqueamos é a capacidade de Gris se transformar num bloco super pesado com o pressionar de um outro botão. Mais à frente ganhamos a habilidade de executar um duplo salto, a possibilidade de nos transformarmos automaticamente numa criatura aquática sempre que entremos em zonas submersas ou, por fim, a habilidade de cantar, que devolve uma certa vida ao mundo que nos rodeia. Um detalhe interessante é que se formos às opções e consultarmos os controlos, apenas as habilidades que tenhamos desbloqueadas aparecem lá mapeadas.

Ocasionalmente o jogo introduz algumas mecânicas interessantes que nem sempre são bem exploradas. Por exemplo esta criatura que nos segue imita os nossos movimentos e teremos de usar tal para resolver alguns puzzles

Todas estas habilidades serão necessárias tanto em certos desafios de platforming como nalguns puzzles mais convencionais e mesmo sendo este um jogo curto e onde aparentemente é impossível alcançar um game over, não deixam de ser alguns desafios agradáveis. Particularmente se o quisermos completar a 100% pois existem uns itens coleccionáveis que estão muitas vezes escondidos ou em zonas de difícil acesso e onde deveremos utilizar todas estas novas mecânicas de jogo para os conseguir coleccionar. Se os coleccionarmos a todos, poderemos visitar uma área secreta e desbloquear uma pequena cutscene que nos conta um pouco mais do passado de Gris. Claro que quando isso acontece já nós sabemos bem o que se está por ali a passar, mas não deixa de ser um desafio interessante.

Ocasionalmente temos alguns bosses para enfrentar mas o combate é mais puzzle do que outra coisa

Visualmente este jogo é mesmo qualquer coisa. Todo ele é um jogo de plataformas/puzzle em 2D, mas a direcção artística é fantástica, seja na representação do mundo que vamos explorando e as diferentes zonas com várias temáticas, seja nas pequenas (ou grandes!) criaturas com as quais vamos interagindo ao longo do jogo de uma forma ou de outra. E a visão artística foi aqui de uma maneira tecnicamente irrepreensível, pois já há uns bons anos em que as consolas conseguem representar mundos a duas dimensões com um nível de detalhe muito bom. Parece um desenho animado! As músicas são também muito agradáveis, sendo compostas particularmente por melodias relaxantes e atmosféricas, se bem que com algumas transições para momentos de maior tensão, como é o caso dos “bosses” que iremos eventualmente enfrentar.

Portanto este Gris é um jogo indie que recomendo vivamente que o experimentem. A menos que sejam coleccionadores como eu dão preferência a lançamentos físicos sempre que seja possível e razoável, seguramente que o conseguem encontrar em plataformas digitais no PC a preços bem mais em conta, particularmente em alturas de campanhas como a que iremos ter nos próximos meses.

Alien Breed Special Edition 92 (Commodore Amiga)

Vamos voltar ao Commodore Amiga para mais um clássico. Lançado originalmente em 1991 pela Team 17 (que viria mais tarde a fundar a série Worms), Alien Breed era um shooter com uma perspectiva vista de cima e inúmeras influências retiradas dos filmes Alien, tal como a forma dos aliens que vamos defrontando inicialmente como dos próprios facehuggers que são iguais aos dos filmes. Nem sei como a 20th Century Studios não os processou! Entretanto no ano seguinte a Team 17 lança esta “Special Edition 92”, um lançamento budget que é na verdade uma espécie de expansão do primeiro jogo, incluindo no entanto mais níveis (12) que os seis do lançamento original. O meu exemplar veio do Reino Unido, trazido por um amigo meu algures no passado mês de Setembro e nem chegou a 4 libras.

Jogo com caixa, disquetes e manual

A história leva-nos ao longínquo ano de 2191, onde a humanidade evoluiu imenso na exploração do espaço. Nós controlamos um (ou dois caso joguemos em multiplayer) soldados que recebem a missão de investigar uma estação espacial que há muito deixou de transmitir qualquer informação ou sinais de vida. E de facto quando lá chegamos encontramos a base completamente invadida por extraterrestres super agressivos, pelo que em vez de salvar o que quer que seja, a nossa missão irá passar por ameaçar a ameaça extraterrestre e acabar por a destruir por completo. Toda esta exploração será feita ao longo de 12 andares, cada um o seu próprio nível e onde poderemos ter objectivos diferentes, seja o de destruir uma série de objectivos ou simplesmente o de sobreviver e encontrar a passagem para o nível seguinte.

Publicidades a outros jogos da Team 17? Sim vamos ver alguma

A jogabilidade é simples, com os controlos principais a levarem-nos a usar o joystick para movimentar a personagem e o seu botão de acção a disparar a arma que tenhamos equipada no momento. Existem no entanto algumas teclas de “suporte” que necessitamos de usar no teclado, como é o caso da tecla de espaço para interagir com terminais, a tecla M para activar/desactivar mapa caso o tenhamos comprado ou a tecla ALT para alternar a arma equipada. Para além das influências notórias dos filmes Alien, eu diria que o jogo tem também uma forte influência de títulos como o Gauntlet. Isto porque todos os níveis são bastante labirínticos, os aliens não param de fazer respawn, embora não ataquem em números tão elevados quanto no Gauntlet, e teremos também de encontrar múltiplas chaves que servirão para abrir as inúmeras portas que iremos atravessar.

Quaisquer semelhanças com os xenomorfos mais conhecidos do cinema não são mera coincidência

Explorar os níveis com cuidado é então obrigatório e poderemos também encontrar inúmeros itens, como as já faladas chaves, munições, itens regenerativos, vidas extra ou dinheiro. Ocasionalmente poderemos encontrar uma série de terminais que nos ligam ao sistema Intex, onde para além de podermos consultar informações úteis como os objectivos do nível actual e o seu mapa, temos também uma autêntica loja onde poderemos gastar o dinheiro que vamos amealhando ao explorar os níveis. Este pode então ser usado para comprar novas armas ou outras utilidades como conjuntos de chaves, vidas extra ou mapas portáteis. A versão original do Alien Breed ainda nos permitia jogar um clone de Pong, mas essa funcionalidade foi aqui retirada desta versão. De resto convém também mencionar que é um jogo bem desafiante, precisamente pelo facto de os inimigos estarem constantemente a renascer, o jogo ter os seus momentos sádicos com armadilhas como vidas extra falsas e claro, a natureza labiríntica dos níveis. É que muitas vezes depois de cumprirmos o objectivo do nível é activada uma sequência de auto destruição, onde teremos de navegar novamente pelo labirinto com poucos segundos para chegar à sua saída.

Ao explorar os níveis iremos encontrar diversos itens

No que diz respeito aos audiovisuais, este é um jogo interessante apesar de não ter uma grande variedade de cenários, pois o jogo passa-se inteiramente a bordo de uma gigante estação espacial. Ainda assim, a acção está constantemente acompanhada de efeitos sonoros atmosféricos no lugar de música, o que acaba por contribuir bem para o clima tenso. Temos alguns clipes de voz digitalizada com bastante qualidade e ouvir constantemente uma voz a avisar “destruction imminent” enquanto desesperadamente procuramos a saída do nível acaba por resultar muito bem. As músicas apenas existem em certos momentos como no ecrã título ou transições entre níveis e apesar de serem poucas em número são bastante agradáveis e bem conseguidas. O Alien Breed original possuía ainda uma disquete extra só para animações e cutscenes especiais, mas tal infelizmente não foi incluído nesta edição, até porque foi um lançamento barato e tal é até admitido nos créditos finais pela própria Team 17.

O dinheiro que juntamos pode ser usado para comprar novas armas ou outras utilidades

Portanto o Alien Breed é de facto um interessante jogo de acção para os sistemas Amiga e é fácil entender o porquê de ter tido bastante sucesso nos anos 90. Apesar de desafiante e por vezes frustrante, não deixa de ser um óptimo jogo de acção e a Team 17 conseguiu produzir inúmeras sequelas ao longo dos anos, incluindo autênticas maravilhas tecnológicas como eram os Alien Breed 3D, pois os Commodore Amiga nunca foram sistemas com hardware apropriado para videojogos poligonais. Anos mais tarde a Team 17 lançou também um reboot em 2009, trazendo a série para a modernidade, embora a recepção dos fãs e crítica já não tenha sido a melhor. Tenho essa “nova” trilogia algures na minha conta GOG para jogar um dia.