Vamos voltar à PC Engine para um jogo que já estava a jogar há várias semanas. Este Gai Flame é um RPG de estratégia da Masaya e um dos precursores da série Langrisser, tal como era o Gaia no Monshou que cá trouxe algures em 2021. Aliás, este Gai Flame é suposto ser o último jogo dessa saga de Elthlead que precede a série Langrisser, decorrendo no entanto muitos, muitos anos no futuro. O meu exemplar foi comprado a um particular na vinted juntamente com vários outros jogos PC Engine algures em Abril deste ano.
O facto de ser um jogo futurista e no lugar cavaleiros ou arqueiros, termos antes mechas e naves não é a única coisa que muda perante o jogo anterior. Vamos na mesma ter toda uma série de batalhas por turnos onde poderemos controlar as nossas tropas individualmente, mas antes disso temos sempre uma visão do mapa mundo e os diversos locais que podemos conquistar. O exército vilão tem a vantagem de já controlar a metade superior, enquanto nós estamos reduzidos à cidade do canto inferior esquerdo. Neste ecrã geral é onde poderemos decidir mover as nossas tropas (podemos movê-los apenas para locais adjacentes) e assim conquistar novos territórios. É também neste ecrã onde poderemos usar a habilidade de “resupply“, ou seja, criar novas tropas para as mandar para o campo de batalha ao gastar uma série de supply points. Tropas diferentes têm diferentes custos de fabrico, enquanto que o número de supply points que temos direito está directamente relacionado com o número de terrenos que controlamos. Se observarmos com atenção o mapa, cada localidade possui 6 quadradinhos para os quais podemos mover tropas. Mas na verdade apenas 3 desses quadradinhos são nossos, os restantes 3 servem para o inimigo posicionar as suas tropas. E sempre que tivermos uma localidade com tropas de ambos exércitos lá posicionados, irá haver uma batalha.

E estas batalhas são muito similares às do Gaia no Monshou, tendo agora no entanto um maior detalhe das tropas e as suas animações de combate. Antes de cada batalha em si temos a hipótese de seleccionar um feitiço, que tanto poderá ser para nos aumentar a força ou defesa das nossas tropas, invocar raios que causam dano em todos os inimigos, entre muitos outros. A batalha começa então com o CPU a decidir qual o exército que terá a iniciativa e se a sua magia seleccionada é activada ou não. É muito raro as magias que seleccionamos serem bem sucedidas e também é possível que tanto nós ou o inimigo tenhamos dois turnos seguidos. Mas uma vez sendo o nosso turno lá temos a liberdade de mover as nossas tropas e atacar as tropas inimigas, caso estejam ao nosso alcance. O jogo mantém o seu esquema em “grelha desalinhada” pelo que um inimigo poderá ser rodeado por 6 nossas tropas e o inverso será também possível pelo que é sempre bom estarmos atentos à maneira como nos posicionamos. Os combates são no entanto tão frustrantes como antes pois uma vez mais não é possível saber quantos pontos de vida os nossos oponentes têm e é muito frequente os nossos ataques falharem o alvo. Isto ao facto de o exército inimigo ter inicialmente a vantagem de números e território e de toda a compontente aleatória das batalhas tornam as coisas muito desfavoráveis para nós. Pelo menos no início.

Isto porque o jogo tem também alguns elementos de RPG mais trabalhados e o Lambert, a nossa personagem principal (que pode ser enviada para confrontos mas terá de ser sempre protegida pois caso seja derrotada é game over) poderá também visitar cada uma das zonas que conquistamos no mapa e percorre-las em busca de NPCs e cristais mágicos. Claro que infelizmente a maneira como nos movimentamos nesse modo de exploração é a mesma como se estivéssemos em batalha, o que torna as coisas um pouco aborrecidas. Encontrar cristais mágicos faz com que vamos desbloqueando cada vez mais magias que poderão ser seleccionadas antes de cada combate. E algumas dessas são bastante úteis como a capacidade de teletransportar um conjunto de tropas para outro local no mapa (útil para retirar o Lambert fora de perigo, ou para o mandar para algum território ainda não explorado) ou a capacidade de ressuscitar tropas que morram em combate. Já falar com NPCs irá ocasionalmente nos recompensar com tropas melhores ou avançar na história.

Eventualmente lá vamos ter um exército poderoso e a certo ponto no jogo poderemos também criar novas tropas mais poderosas (embora o inimigo também o possa fazer) e depois de toda esta estratégia de ir conquistando o máximo de territórios, criar novas tropas para substituir as que vão morrendo lá eventualmente conseguiremos chegar à capital inimiga, onde teremos de defrontar não um, mas 4 mechas inimigos incrivelmente poderosos, capazes de derrotar qualquer tropa das nossas com um só golpe. A única maneira que temos de vencer este último confronto obriga-nos a ter explorado muito bem todos os territórios e avançado com a história ao máximo. Nessa altura desbloqueamos um mecha super poderoso, que substitui o mecha do Lambert. Esse é o único mecha capaz de causar dano aos tais 4 inimigos e mesmo assim será uma batalha difícil pois é perfeitamente possível (e provável) de os nossos golpes falharem o alvo e os inimigos poderem sacar uns quantos criticals. Mas basta conseguirmos derrotar pelo menos um desses 4 inimigos para vencer o jogo, pelo que é importante escolher um único alvo e atacar constantemente o mesmo.

De resto, a nível audiovisual este jogo é uma boa evolução do Gaia no Monshou. As tropas são agora mais bem detalhadas no campo de batalha e estas vão tendo algumas animações algo simples sempre que há confrontos. Sempre que há diálogos estes são acompanhados de retratos das personagens envolvidas e ocasionalmente vamos ter direito a algumas cut-scenes, pelo menos sempre que algo importante acontece. As músicas não são desagradáveis, mas poderiam perfeitamente haver mais. Temos a música título, outra para o final e de resto ao longo de todo o jogo vamos ter duas músicas que iremos ouvir constantemente: a música do nosso exército e a do inimigo, que tocam sempre que um ou outro esteja activamente a fazer coisas. Quando defrontamos o boss final a música do exército inimigo é substituída por outra ainda mais tensa e tenebrosa. De resto nada de especial a apontar aos efeitos sonoros.
Portanto este Gai Flame, apesar de introduzir toda uma nova série de mecânicas mais viradas para a estratégia pura, como a conquista/defesa de territórios e gestão de tropas, no seu núcleo as batalhas propriamente ditas continuam a ser algo frustrantes, principalmente por todo o factor sorte envolvido. Podemos ter um turno e não acertar nenhum golpe, o inimigo no turno seguinte pode acertar todos e alguns até serem criticals. Ou ter o inimigo a atacar duas vezes e sempre com sucesso! E apesar deste jogo ter recebido um patch de tradução feito por fãs, existe muito pouca informação de qualidade na internet. Tive de pesquisar pelo jogo em japonês e usar o google translate para traduzir algumas páginas de forma a encontrar alguma informação que explicassem as suas mecânicas com mais detalhe e dar algumas dicas de como progredir. No entanto, apesar de algumas boas evoluções perante o jogo anterior, tenho algum receio em jogar os Langrissers, pois se forem igualmente frustrantes vai ser um pouco decepcionante. Mas também tendo em conta que é um lançamento original de 1987 e trazido para a PC Engine em 1990 explique o porquê de ainda ser bastante rudimentar.

