The Curse of Monkey Island (PC)

Depois do final algo confuso do Monkey Island 2 e o facto de uma eventual sequela ter demorado tanto a se materializar, não é de admirar que muitos fãs pensassem que esta série não fosse ter mais nenhum seguimento. E na verdade foram quase 7 anos de espera e nesse período a indústria dos videojogos muito avançou. A proliferação do formato CD-ROM como meio principal de distribuição de videojogos fez com que as restrições de capacidade de cartuchos ou no caso dos computadores, disquetes, fossem uma coisa do passado e no caso das aventuras gráficas, se bem que estas já estariam a entrar num certo declínio, fez com que as empresas conseguissem apresentar mundos com muito mais detalhe, voice acting e sequências cinemáticas. A Sierra capitalizou muito bem essa tecnologia nas suas principais séries e a LucasArts também o fez, com lançamentos como Full Throttle ou The Dig. Mas eis que finalmente já no último trimestre de 1997 sai mais um Monkey Island e sim, a LucasArts conseguiu fazer algo muito especial. O meu exemplar foi comprado no ebay algures em Novembro do ano passado por cerca de 14€.

Jogo com a sua jewel case e 2 discos.

A história leva-nos a encarnar uma vez mais no pirata mais incompetente e sarcástico de todos os tempos, Guybrush Threepwood. Ele estava a vaguear no oceano a bordo de um carrinho de choque, mas sem entender muito bem o que lhe tinha acontecido. As correntes do oceano levam-no no entanto a chegar à Plunder Island, onde o pirata LeChuck estava em plena batalha para conquistar o coração de Elaine, interesse amoroso de ambos. Coisas acontecem, Guybrush é feito prisioneiro por LeChuck mas rapidamente nos desenvencilhamos da situação e derrotamos uma vez mais o capitão. Pelo meio Guybrush rouba a LeChuck um anel com diamante gigante e decide oferecê-lo a Loraine, pendindo-a em casamento. Para seu azar no entanto o anel era amaldiçoado e Elaine é transformada numa estátua de ouro maciça que entretanto é também roubada por outros piratas e LeChuck renasce novamente, agora com uma barba flamejante. O resto do jogo será então passado não só a tentar recuperar Elaine mas também quebrar a sua maldição e claro, derrotar uma vez mais LeChuck.

Logo na cutscene inicial nos apercebemos que o brilhante sentido de humor está intacto.

E este é, tal como esperado, mais uma aventura gráfica do estilo point and click com as habituais mecânicas de jogo deste género: o rato é usado para nos movimentarmos pelos cenários, interagir com personagens e objectos, combinar objectos com outros objectos e por aí fora. A interface foi no entanto simplificada quando comparada com os títulos anteriores. Pressionando o botão esquerdo do rato em qualquer local faz com que Guybrush se movimente para lá, já se passarmos o cursor por alguma personagem ou objecto interactivo, surge no fundo do ecrã uma legenda que os identifique. Clicando no mesmo botão e mantendo-o pressionado faz no entanto surgir um pequeno menu que nos permite seleccionar uma de 3 opções: observar, tocar/interagir ou falar. O botão direito do rato serve para chamar o inventário, onde poderemos seleccionar o mesmo tipo de opções com os objectos lá guardados. Uma novidade aqui introduzida é um nível de dificuldade que poderemos escolher no início do jogo. Não que seja possível morrer neste jogo, mas no nível de dificuldade mais avançado (Mega Monkey) os puzzles são bem mais complexos e com soluções mirabolantes. Por exemplo, a certo ponto temos de encontrar um objecto de ouro e o dono de um “restaurante” tem um dente de ouro. Parte da solução passa por lhe oferecer uma pastilha elástica que lhe faz desprender o dente, rebentar um balão de pastilha elástica com o dente lá solto, apanhar o dente e sair. Na dificuldade mais elevada, toda a solução é bem, bem mais complexa, mas sinceramente preferi-o jogar assim.

Apesar de por vezes estaramos em situações apertadas, não é possível morrer pelo que teremos todo o tempo do mundo para fazer algumas experiências. As soluções dos puzzles é que por vezes são demasiado fora da caixa, o que não é necessariamente mau.

Vamos então ter toda uma série de puzzles elaborados para resolver ao longo do jogo, incluindo um duelo de banjos mas um dos maiores destaques é no entanto o regresso de um puzzle brilhante do primeiro jogo: as lutas de insultos entre piratas! As mecânicas funcionam da mesma forma de antes: há uma luta de espadas e cada insulto proferido terá de ter uma resposta à altura, a diferença agora é que os insultos e respostas têm de rimar, pois as batalhas quase parecem retiradas de um musical. Esses confrontos contra outros piratas são no entanto precedidos de batalhas navais, sendo esses segmentos de acção com uma jogabilidade que não é assim tão boa quanto isso. À medida que vamos combatendo piratas, ganhamos os seus tesouros que podem posteriormente serem usados para comprar melhores canhões e assim enfrentar piratas mais poderosos.

Referências a outras obras da Lucasarts não são assim tão incomuns. E sim, quero muito jogar o Grim Fandango também

Claro que tudo isto é acompanhado de um trabalho audiovisual excelente. Os gráficos e animações parecem retirados de um desenho animado, tal é a sua qualidade. O voice acting é excelente e a banda sonora também. Tudo isto enriquece as personagens, que tal como tem sido habitual nesta série são bastante carismáticas e por vezes bizarras. Os canibais vegetarianos marcam o seu regresso, assim como o irritante vendedor Stan, que agora se torna num mediador de seguros de vida. Mas claro que teremos mais personagens novas notáveis, como a caveira falante Murray, ou o trio de ex-piratas, agora barbeiros, que tentamos recrutar para a nossa tripulação. O bom humor é uma constante e este continua a ser daqueles jogos que nos dá mesmo vontade de explorar todas as linhas de diálogo só mesmo para ver onde é que a conversa nos vai levar.

É impossível não esboçar um sorriso ou soltar mesmo uma gargalhada perante o carisma de certas personagens ou o ridículo de outras situações

Portanto devo dizer que adorei este terceiro Monkey Island e, apesar de Ron Gilbert já não ter estado envolvido no projecto, quem o liderou fez um excelente trabalho. É mais uma aventura gráfica repleta de personagens bizarras e carismáticas, situações ridículas e sempre com muito bom humor. E claro, os visuais 2D de alta definição (para a época) resultaram muitíssimo bem. Em seguida veio o Escape from Monkey Island (cerca de 3 anos depois) e aí já cometeram o erro de apostar em visuais 3D, mas veremos se no resto é uma boa aposta ou não.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

Um pensamento em “The Curse of Monkey Island (PC)”

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