No final de 1998, quando descobri o admirável mundo novo da emulação, aproveitei então para jogar muitos dos jogos da geração 8 e 16bit que sempre quis jogar ou conhecer melhor. Rapidamente consegui alastrar esse vício para alguns colegas e amigos na escola e aqueles que já tinham acesso a serviços de internet de banda larga como o da Netcabo que surge no ano seguinte, rapidamente começaram a encher CDs de ROMs e a partilhar com os restantes colegas. Para mim então a possibilidade de conhecer jogos de Mega Drive (e outros sistemas) que nunca tinha sequer ouvido falar era algo de fascinante e muitas horas passei a percorrer ROMs por ordem alfabética! Um dos jogos que mais gostei de conhecer foi este Outlander, precisamente pelo seu conceito ultraviolento, como irei detalhar mais à frente. Infelizmente nunca ia muito longe no jogo porque não entendia muito bem o que realmente precisava de fazer, mas foi um título que sempre me ficou na memória. Infelizmente foi também um jogo exclusivo norte-americano (ao contrário da versão SNES que teve um lançamento cá), pelo que só muito recentemente é que consegui comprar um na vinted, algures no início deste ano.

Mas em que é que consiste este jogo então? Começou por ser uma adaptação do segundo filme da saga Mad Max (o Road Warrior), mas a certa altura a Mindscape perdeu a licença do filme e, para não deitarem fora todo o trabalho e dinheiro investido, removeram as referências directas ao Mad Max e lançaram o jogo cá para fora de qualquer das formas. E este é um jogo que se divide em duas jogabilidades distintas. Temos a fase de condução, onde conduzimos um muscle car negro numa perspectiva de primeira pessoa numa estrada repleta de obstáculos e outros bandidos que nos atacam. Inicialmente são apenas motociclistas, mas rapidamente começamos a ser também atacados por outros carros ou até helicópteros. E depois temos também as fases onde andamos a pé, com o jogo a assumir uma jogabilidade de um jogo de acção 2D sidescroller.

Começamos precisamente pela fase de condução e a primeira coisa que nos salta à vista são os visuais bem detalhados e toda a violência. Os inimigos são numerosos, agressivos e perseguem-nos continuadamente, há tiros e explosões por todo o lado, corpos a voar por cima do nosso para-brisas, e sempre que algum motard inimigo se aproxima de nós vindo de lado, surge no ecrã uma janela com a essa vista lateral e uma shotgun no centro, que pode ser usada para atingir os punks em cheio nas trombas. Sendo um jogo em primeira pessoa, vemos também todos os instrumentos normais de um carro no seu tablier, como contador de rotações, velocidade mas mais importante que esses são mesmo os piscas e os medidores de óleo e combustível. Quando surge um pisca, o jogo está-nos a indicar que estamos a passar por uma povoação e devemos parar para nos reabastecermos. Quando se acende a luz do combustível eventualmente ficamos apeados e teremos na mesma de sair do carro e tentar obter mantimentos a partir dos bandidos que nos atacam na estrada. Já o medidor do óleo é também a nossa vida, pelo que se ficarmos sem óleo é game over, a menos que tenhamos ganho algum continue entretanto.
Mas mesmo quando exploramos as povoações, as suas populações são tudo menos amistosas pelo que teremos na mesma de andar à porrada com mais bandidos, embora não enfrentemos aqueles mais perigosos que nos atacam de moto na estrada. Os recursos de Outlander são escassos e é nas populações onde conseguimos arranjar mais recursos como água e comida (que nos restabelecem a nossa barra de vida, que é essencialmente um espelho da barra do óleo do carro – videogame logic), combustível, munições (tanto da metralhadora do carro como da shotgun), turbos, mísseis terra-ar (para os helicópteros que nos atacam na estrada), entre muitos outros como upgrades temporários para o carro como diferentes armaduras, pneus, novos vidros para brisas ou até um pequeno boneco que podemos colocar no espelho retrovisor do carro. Sendo este um jogo que se passa num futuro pós apocalíptico, poderemos também encontrar um medidor de radiação, isto porque alguma da água e comida que encontremos pode estar contaminada e acabar por nos tirar mais vida em vez de a regenerar.

Portanto, como podem ver este é um jogo repleto de boas ideias, no entanto a sua execução deixa bastante a desejar. A começar pelo facto de ser um jogo super repetitivo. É sem dúvida muito interessante quando o começamos a jogar mas a fórmula é sempre a mesma, conduzir e sobreviver na estrada, parar sempre que precisarmos de mantimentos e fazer algum scavenge a pé. E isto numa estrada que é sempre igual, os inimigos a partir da primeira meia hora começam também a serem sempre iguais e as 24 povoações que poderemos ou não visitar acabam também por não ser assim tão distintas entre si quanto isso. Só depois de passarmos as 24 povoações é que o boss final fica disponível para ser derrotado, pelo que o jogo se torna aborrecido muito antes disso.

Para além disso existem vários outros aspectos que não resultaram muito bem, particularmente na versão Mega Drive e esses assentam-se nos seus controlos. Quando conduzimos os botões A e B servem para travar e acelerar, enquanto o botão C serve para disparar. Lembram-se quando eu referi acima que ocasionalmente o jogo mostra-nos uma vista lateral num pequeno quadrado do ecrã onde temos uma shotgun apontada numa das janelas do carro? Bom, continuamos a ter de manobrar o carro, pelo que não deixamos de ver a estrada à nossa frente e como temos apenas um botão de disparo, o jogo é que decide se vamos disparar com a metralhadora frontal ou com a shotgun. E muitas vezes essa vista lateral é activada sem qualquer sentido, fazendo-nos desperdiçar recursos desnecessariamente. Mas aí pronto, a Mindscape pouco poderia fazer tendo em conta os poucos botões que o comando regular da Mega Drive possui, já a versão SNES é um pouco diferente nesse aspecto, como irei apresentar brevemente. Para disparar os mísseis temos de pressionar os 3 botões faciais do comando da Mega Drive em simultâneo. Quando andamos a pé temos também um botão para saltar, outro para usar a shotgun e um outro para socos ou pontapés. Também aí as coisas não são famosas com os nossos disparos por vezes a não fazerem rigorosamente nada ao alvo…

Por outro lado o jogo possui visuais muito interessantes. Apesar da estrada e inimigos serem sempre iguais estes últimos estão muito bem detalhados e aqueles pequenos detalhes do interior do nosso carro, as vistas laterais, os inimigos a voarem por cima do nosso carro estão de facto muito bem conseguidos. Também gosto dos detalhe dos cenários quando temos de explorar alguma coisa a pé, pena é que não haja grande variedade ali também, particularmente dos inimigos que são sempre os mesmos rednecks. No que diz respeito ao som o jogo é bem competente nos efeitos sonoros e adoro a música título deste Outlander! Já quando começamos o jogo em si a banda sonora torna-se igualmente monótona e repetitiva, com uma música para as fases de condução e outra (algo fraca) para quando andamos a pé.
Portanto este Outlander é um jogo com excelentes ideias e com uns visuais fantásticos para a Mega Drive e que muito bem representariam a atmosfera de um Mad Max caso a Mindscape tivesse conseguido levar a sua avante e manter a licença do filme. Mas é precisamente por ser um jogo com boas ideias e criatividade que tornnam os seus problemas imensamente desapontantes. A versão SNES é ligeiramente diferente, mas isso já deixarei para outro artigo a publicar muito em breve.


Um pensamento em “Outlander (Sega Mega Drive)”