Voltando à série Ys, vamos ficar agora com a versão PC-Engine CD do Ys IV, aqui intitulado de The Dawn of Ys. O meu exemplar foi comprado algures em Fevereiro deste ano a um particular no eBay, creio que me custou algo próximo dos 15€. Sendo a versão japonesa, acabei uma vez mais por o jogar em emulação, visto que o jogo recebeu dois patches de tradução feitos por fãs. Um é um patch que traduz todos os diálogos em texto para inglês, enquanto o outro é um patch que substitui na íntegra o áudio dos diálogos de todas as cutscenes, por vozes em inglês, todas elas regravadas por fãs. Foi sem dúvida um trabalho muito interessante da comunidade!
Mas antes de começar a analisar o jogo mais a sério, é curioso abordar a sua origem, pois existem vários Ys IV que são jogos muito diferentes entre si. Até então, todos os Ys foram produzidos originalmente pela Falcom para uma série de computadores nipónicos e convertidos posteriormente para outras plataformas por outros estúdios. Visto que os 3 primeiros Ys para a PC-Engine, que haviam sido convertidos pela Alfa System e publicados pela Hudson, aparentemente foram um sucesso comercial, a Hudson pediu à Falcom a licença para lançarem o eventual Ys IV para a PC-Engine CD novamente. No entanto, algures em 1992/1993 a Falcom estava a passar por um mau período, quando muito do seu talento saiu da empresa. Não havia ainda Ys IV, tudo o que tinham era um design document que esboçava a história, cenários, músicas e elementos de jogabilidade e a Falcom acabou por entregar esses documentos à Hudson para eles produzirem um Ys IV. Mas a Falcom entregou os mesmos documentos também à Sega e Tonkin House, que havia convertido o YS III para a Super Nintendo. No caso da Sega infelizmente isto acabou por não dar em nada, mas a Tonkin House produziu o Ys IV: Mask of the Sun que é um jogo que possui muitas similaridades com este Dawn of Ys, mas é também substancialmente um jogo diferente. Anos mais tarde, quando a Taito estava a produzir remakes em 3D dos primeiros Ys para a PS2, pegaram na versão SNES do Ys IV por base e lançaram um novo jogo, este também substancialmente diferente. Então, em 2012 a Falcom decidiu produzir finalmente um Ys IV por eles próprios, dando origem ao Ys: Memories of Celceta, que planeio jogar muito em breve.

Ora este jogo decorre algures entre os eventos do Ys II e os de Ys III. Apesar de começarmos a aventura na já conhecida terra de Esteria, a grande parte do jogo será passado na terra de Celceta, onde Adol é “convidado” a visitar aquela região e ajudar os seus habitantes, que estavam a ser incomodados pelas forças do império de Romn (certamente uma alusão ao império Romano), bem como os membros do Clan of Darkness, que procuravam ressuscitar uma grande entidade maléfica. A jogabilidade é muito próxima à de Ys II, ou seja, há um regresso à perspectiva vista de cima (abandonando a perspectiva sidescroller de Ys III), com o sistema de combate clássico, onde Adol não possui um botão de ataque, mas sim para combater os inimigos teremos de ir contra eles, de preferência num ângulo não centrado, para evitar sofrer dano. Eventualmente ganhamos também a habilidade de executar algumas magias tal como no Ys II. Tal como nos Ys clássicos iremos ter várias dungeons e cidades para explorar, onde iremos desbloquear alguns itens que eventualmente nos darão novas habilidades ou simplesmente desbloquear o progresso no jogo para explorar novas áreas.

O sistema de experiência é idêntico aos clássicos, com os inimigos a darem-nos cada vez menos experiência consoante o nosso nível vai aumentando, para evitar o grinding em demasia e tornarmo-nos overpowered rapidamente. Ainda assim, vamos precisar de fazer algum grinding pois existem imensos bosses para serem derrotados e por vezes um nível de experiência faz uma grande diferença no combate. Procurar equipamento e habilidades mais poderosas é também um must, pois vamos encontrar inimigos que podem ser imunes a dano causado por equipamento mais fraco, por exemplo. Anéis que nos conferem habilidades adicionais, como melhor ataque, defesa ou a possibilidade de regenerar vida em qualquer momento do jogo também podem ser encontrados e devemos usá-los de forma inteligente Tal como nos Ys antigos apenas podemos equipar 1 herb ou outros itens regenerativos de cada vez e, a menos que tenhamos o tal healing ring equipado, a nossa vida apenas pode ser regenerada nos exteriores.

A nível audiovisual este é de facto um jogo muito bom. Sendo um jogo de PC-Engine que usa a tecnologia Super CD-Rom², vamos ter inúmeras cutscenes que, ainda que não sejam em full motion video, apresentam muito mais detalhe gráfico do que em qualquer outro jogo de PC-Engine em CD-Rom² normal. Mesmo em diálogos normais, somos muitas vezes surpreendidos com retratos em “alta definição” das personagens com as quais vamos interagindo. Fora essas cutscenes e diálogos, é um RPG típico de 16bit e a PC-Engine sendo um sistema algo híbrido entre tecnologia 8 e 16bit, não esperem por nada do outro mundo. Nada de especial a apontar aos efeitos sonoros, já as músicas… essas continuam muito boas. Vamos tendo alguns remixes de músicas conhecidas na série (até porque revisitamos alguns locais de jogos anteriores) bem como uma série de novas melodias. Estas, tal como vem sendo habitual, tanto são melodias bem alegres, outras mais calmas e, as minhas preferidas, algumas músicas bastante rock, cheias de riffs enérgicos e solos de guitarra por todo o lado, sintetizadores ou até saxofones! Mas as palavras finais teriam mesmo de ficar para o voice acting. Bom, eu não sei se foi um problema do emulador que usei, mas infelizmente o volume das vozes ficou muito baixo comparando com as músicas que iam tocando em fundo, e isto tornava os diálogos bem mais imperceptíveis, obrigando-me a usar phones para tentar entender melhor o que ia sendo dito. Tirando este “pequeno” inconveniente que uma vez mais assumo, poderá ser problema do emulador que usei, é realmente de louvar o esforço que os fãs fizeram ao regravar todos os diálogos áudio com vozes em inglês. Não são performances dignas de hollywood, mas o trabalho final não ficou nada mau, sendo até superior em muitos lançamentos profissionais da época.

Portanto este Ys IV foi uma surpresa muito agradável. Já os primeiros Ys não tinham ficado nada mal na PC-Engine CD, mas este Ys IV leva as coisas realemente a um outro nível. O facto de usar a RAM adicional introduzida pelo uso da tecnologia Super CD-Rom² permite-lhe ter cutscenes bem mais detalhadas e, em conjunto com todos os diálogos narrados, a experiência de jogar um JRPG assim era de facto de outro nível, quando comparado com a Mega Drive ou Super Nintendo. E isto juntando-lhe à jogabilidade sólida dos Ys, mas a sua óptima banda sonora, torna este Dawn of Ys um clássico. Acredito que esta conversão tenha dado um trabalho tremendo, mas visto que ainda existem uns quantos JRPGs de culto perdidos no catálogo da PC-Engine CD, seria muito bom ver mais traduções assim surgirem. Mas, voltando aos Ys, não planeio jogar a versão Super Nintendo (Ys IV: Mask of Sun), mas sim o remake oficial Memories of Celceta.


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