Voltando aos grandes clássicos do PC, o Max Payne foi um dos jogos mais esperados por mim na década passada. A primeira vez em que vi um trailer do jogo no saudoso programa Templo dos Jogos, e todos aqueles tiroteios em câmara lenta tal como no filme The Matrix, deixaram-me de tal forma com água na boca que passei a acompanhar o desenvolvimento desse jogo nos fóruns da antiga 3D Realms, produtora do Max Payne e também do Duke Nukem Forever que demorou muito mais até que visse a luz do dia. Mas antes que venham os paladinos da justiça corrigir-me, o papel da 3D Realms neste primeiro Max Payne foi de produtora, todos os créditos devem ir para a Remedy Entertainment, claro. Mas deixemo-nos de devaneios. Este meu exemplar foi comprado na Feira da Ladra em Lisboa, algures durante o mês passado, por 2€, estando completo e em óptimo estado.

E de que se trata este Max Payne? Para mim, é simplesmente um dos melhores jogos de acção em 3D da última década (onde é que já disse isto?), onde jogamos no papel de Max Payne, um ex-detective que perdeu tudo o que tinha de valor na vida, após ver a sua esposa e bébé a serem brutalmente assassinados por um bando de drogados. Decide então tornar-se num agente infiltrado numa das mais perigosas organizações mafiosas de Nova Iorque para tentar conter o tráfico da nova droga da moda, o Valkyr. Mas como em todas as boas histórias de detectives, alguém dá com a língua nos dentes e Max é descoberto, sendo envolvido num massacre no metro de NY, que também deixa a polícia, sem saber que é um agente à paisana, no seu encalço. Sem nada a perder e com a angústia de Max a acompanhar-nos ao longo de todo o jogo, somos levados pelos seus monólogos a uma série de locais manhosos nos meandros do crime organizado de Nova Iorque, com muitos tiroteios à mistura e uma conspiração crescente.

Mas claro, não poderíamos deixar de falar do Max Payne sem referir a sua óptima jogabilidade, sendo um shooter 3D na terceira pessoa, mas com os óptimos controlos que estamos habituados nos FPS modernos com teclado e rato. E para apimentar ainda as coisas, podemos usar e abusar do chamado bullet-time, que abranda a toda a acção (excepto o nosso movimento com o rato), permitindo-nos assim disparar em grande estilo em pleno voo num salto prolongado, e limpar o sebo a um conjunto de bandidos de uma só vez. Para isso, ao lado do nosso indicador de saúde (cuja pode ser restabelecida tomando os painkillers que encontramos ao longo da aventura) temos uma ampulheta que vai descrescendo à medida em que vamos utilizando esta habilidade do bullet time. Por outro lado, ao não a usar, essa mesma ampulheta vai-se regenerando, obrigando-nos assim a usar este sistema com algum cuidado para não tornar a acção demasiado fácil. Ainda dentro do bullet-time, também podemos ver o rasto das balas certeiras disparadas de uma sniper rifle, algo também utilizado depois em jogos como Sniper Elite.

Para quem gosta daquele estilo “noir“, este é um dos melhores videojogos que o utilizam, tanto nos cenários, pois jogamos uma Nova Iorque decrépita, gélida e austera, como na personagem Max Payne e sua situação desesperante que se vê envolvido. As cutscenes entre cada nível são apresentadas num estilo também noir de banda desenhada, dignas de obras de um Frank Miller, mas narradas pela voz deprimida de Max. Aliás, os monólogos de Max são algo que vamos ouvindo ao longo de todo o jogo, mesmo nos seus pesadelos, os quais também visitamos e sinceramente foram das partes do jogo que mais gostei. O que já não gostei tanto foi de um pequeno aspecto que já refiro em seguida.

Graficamente sempre achei este Max Payne um óptimo jogo. Os cenários sempre foram bem detalhados e transmitiam brilhantemente a atmosfera algo sombria e austera que o jogo sempre tentou transparecer. Tudo excepto numa coisa, na cara do próprio Max Payne. Pode ser picuinhice minha, mas nunca gostei muito dele neste jogo, sempre me pareceu uma cara bastante jovem e “limpinha” e que se desenquadrava um pouco do resto. Mas sim, sei perfeitamente que a Remedy tinha um budget apertado e os seus funcionários, amigos e familiares deram as caras para todas as personagens no jogo, com Max Payne a ser encarnado no seu próprio criador, Sam Lake. Mas acho que no segundo jogo acertaram definitivamente no look da personagem, embora sinceramente quando era mais novo e joguei ambos os jogos na sua altura, pensei precisamente o contrário. A música apenas toca quando estritamente necessário e bem, já o voice acting sinceramente achei muito bem conseguido, mediante todas as outras limitações.

Tenho alguma pena que a Remedy tenha vendido os direitos de propriedade intelectual de Max Payne à Take-Two e seja agora a Rockstar a tomar conta da série. Por um lado a Rockstar não faz propriamente maus jogos e por tudo o que vi do Max Payne até agora, parece-me ser um shooter muito sólido. Mas, a mudança de uma Nova Iorque fria para as favelas solarengas do Brasil parece-me muito grande e retira-lhe alguma da sua “magia”. Mas espero sinceramente estar enganado!
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