Penumbra: Overture (PC)

O Amnesia: The Dark Descent é na minha opinião um dos, senão mesmo o mais bem conseguido videojogo de terror criado até à data. Dotado de uma atmosfera assombrosa, coloca constantemente o jogador numa posição desconfortável e indefesa perante os horrores que se avizinham. Mas antes do Amnesia, a Frictional Games já tinha dado passos muito interessantes no género survival horror, com os jogos da série Penumbra. A minha cópia digital foi adquirida no steam, numa das semanas de promoções malucas que eles lá vão fazendo. Comprei os 3 Penumbra num pack, não me recordo quanto me custou mas certamente foi bastante barato.

Penumbra OvertureDivididos em 3 partes (sendo a última apenas uma expansão) contam a história de Philip, um físico que após receber uma carta misteriosa do seu pai, decide viajar até a uma mina abandonada na Gronelândia onde acaba por ficar lá preso. Sem outra hipótese senão se aventurar mais na mina, Philip vai encontrando relatos de outras pessoas que foram ficando presas na mina ao longo dos anos, bem como vários postos mineiros abandonados. Ao longo do jogo vamo-nos deparando com algumas criaturas monstruosas, como cães zombie, aranhas gigantes ou “vermes” colossais. Um outro sobrevivente apelidado apenas de “Red” vai-nos “ajudando” através de contacto por rádio ao longo da aventura, onde vamos também descobrindo que essas grutas albergavam uma espécie de sociedade secreta, cujo propósito suponho que apenas fique claro nos jogos seguintes.

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Eh bichinho lindo…

Os Penumbra utilizam uma versão anterior do motor gráfico utilizado em amnesia, contudo muitas das coisas permaneceram iguais. Aqui já é possível manipular uma série de objectos com o movimento do rato, desde abrir portas, armários ou gavetas, bem como pegar e manipular livremente os objectos que possamos agarrar. Visto que estamos a jogar no subsolo, a falta de luz é uma constante ao longo do jogo. Felizmente logo no início do jogo encontramos uma lanterna e um glow-stick para poder iluminar as zonas mais escuras. A lanterna gasta pilhas que podemos ir encontrando ao longo da aventura, bem como flares que também podemos utilizar e atirar para onde bem entendermos. Já o glowstick dura para sempre, embora apenas ilumine o que está imediatamente à nossa volta. No que diz respeito a armas, neste jogo não estamos tão indefesos como no Amnesia, embora apenas consigamos arranjar como arma um martelo e mais tarde uma picareta. Tirando os vermes gigantes, é possível matar os inimigos com estas armas, embora demore algum tempo e os golpes tenham de ser certeiros. De qualquer das formas, pelo menos no que diz respeito aos cães, é possível evitá-los, utilizando uma abordagem mais stealth, apagando a luz, esconder num canto escuro enquanto eles passam e avançar para outro sítio.

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Quando este vos aparecer à frente… corram!

De resto podem contar com diversos puzzles que já são habituais neste género de jogos. Misturar químicos para obter explosivos, procurar baterias, fusíveis e afins para arrancar com máquinas, entre outros que englobam arrastar objectos, mexer em manivelas e afins. Infelizmente alguns dos puzzles ou mesmo segmentos dos jogos exigem muito trial and error, e ao mínimo erro levamos com um game ouver em cima, obrigando o jogador a recomeçar a partir de um checkpoint. O combate infelizmente não está muito bem executado. Como temos de mexer o rato como se estivéssemos a envergar um martelo ou picareta, é muito frequente os golpes falharem e lá vem mais um gameover. É verdade que podemos curar as nossas feridas com painkillers, mas os mesmos não são assim tão frequentes.

Penumbra é um jogo tenso, com uma atmosfera muito claustrofóbica, mas ainda está longe dos níveis de desespero que a Frictional conseguiu com o Amnesia. Sim, continuamos a ter pequenos sustos sempre que damos um passo e ouvimos um ruído estranho, ou uma nuvem de vapor surge mesmo em frente às nossas caras, mas as criaturas que encontramos não são assim tão assustadoras e sabendo que as podemos matar é sempre uma maior segurança para o jogador. É certo que a preocupação de termos de dar golpes certeiros aumenta a tensão, mas ainda assim Amnesia é um jogo muito mais desconcertante.

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Este foi um dos momentos que mais gostei do jogo

Os cenários vão alterando entre túneis naturais repletos de aranhas fofinhas, zonas mineiras do início do século XX e outras zonas mineiras mais recentes, desde galerias de extração de minério, passando por salas de arrumos, enfermarias, entre outros “edifícios” abandonados. Visualmente não fica muito atrás do Amnesia na qualidade de texturas e afins, mas também prefiro de longe o castelo tenebroso dessa aventura. Já as criaturas é que poderiam ter sido mais bem trabalhadas, pois as animações das mesmas deixam muito a desejar, sinceramente. No que diz respeito à ambiência sonora, bom essa sim, já é muito boa. Ao longo do jogo vamos sendo constantemente assombrados por sussurros misteriosos, ou grunhidos de outras criaturas que nos fazem a questão de lembrar que não estamos sozinhos. Infelizmente a história poderia ser melhor contada, ao longo deste jogo fiquei sem grande ideia de quem é o Philip e o que fez o seu pai para o ter arrastado para aquela confusão. Espero que isso venha a ser melhor clarificado no jogo Black Plague que irei jogar de seguida. De qualquer das formas, a personagem Red está muito bem representada, a maioria do voice acting provém dos diálogos esquizofrénicos desse senhor.

Concluindo, Penumbra não é um jogo mau. A única coisa que me irritou um pouco foi mesmo o mecanismo de combate e um puzzle com jactos de vapor mortais que era bastante trial and error. Tem algumas boas ideias e tem potencial para ter uma história interessante que na minha opinião não foi muito bem contada neste jogo, mas como este Penumbra é apenas o primeiro episódio, espero que os outros 2 seguintes se redimam neste aspecto. Simplesmente depois de ter jogado uma obra prima que foi o Amnesia, é difícil gostar-se tanto de um jogo parecido mas cujas ideias ainda não foram tão bem implementadas.

Jet Set Radio (Sega Dreamcast)

JetsetradiopalboxartE o primeiro artigo da Sega Dreamcast que escrevo neste blogue é nada mais nada menos que um dos seus jogos mais originais, o Jet Set Radio. Durante a era da Sega Dreamcast, os estúdios da Sega atravessaram um dos seus períodos mais criativos, criando jogos como Phantasy Star Online, Shenmue, Skies of Arcadia, Rez ou este jogo. Jet Set Radio é um jogo que mistura a jogabilidade de um Tony Hawk com graffitis, o feeling de um jogo arcade como a Sega bem o sabe fazer e uns visuais únicos para a época. A minha cópia foi comprada algures no ano passado através da Amazon UK. Foi um óptimo negócio na minha opinião, visto que comprei uma cópia selada pelo preço de 0.99£ mais portes.

Jet Set Radio - Sega Dreamcast
Jogo completo com caixa e manual

Jet Set Radio tem uma história algo surreal, pelo que não adianta escrever muito sobre a mesma. O jogo decorre numa versão distorcida da capital japonesa Tóquio, onde diversos “gangs de patinadores” lutam entre si em vários distritos da cidade, marcando o seu território com pinturas em graffiti em diversos pontos. Podemos jogar com várias personagens do gang G.G. do distrito de Shibuya-cho, onde inicialmente defrontamos elementos dos gangs rivais ao longo de vários locais da cidade, bem como as forças policiais que tentam restabelecer a ordem. Com o decorrer do jogo a trama vai-se desenvolvendo com a inclusão de um outro gang, este já mafioso que está por detrás dos vários conflitos que têm acontecido. Tudo isto é narrado através do doido Professor K, um DJ da rádio pirata mais famosa do sítio: Jet Set Radio.

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Alguns graffitis mais complexos exigem que se repita os movimentos mostrados no ecrã com o stick analógico

Tal como referi acima, a jogabilididade cruza-se com a de um Tony Hawk Pro Skater com algo mais arcade. Todas as personagens estão equipadas com uns patins, o que lhes permite fazer as habilidades mirabolantes do costume em videojogos de desportos radicais, desde “grindar” corrimões, patinar sobre paredes, carros e afins, saltos acrobáticos, etc. Em todos os níveis do jogo temos como objectivo pintar com graffitis alguns pontos chave, marcados através de setas vermelhas. Para isso temos de ir coleccionando latas de spray que estão espalhadas pelos locais. Alguns graffitis são bastante simples de se fazer, bastando apenas apertar o botão no momento certo, já os grafittis mais complexos exigem que o jogador repita com o analógico os movimentos que vão surgindo no ecrã. Claro que se fosse só isso o jogo seria fácil, mas existem vários empecilhos que se vão colocando à nossa frente. Inicialmente apenas somos importunados por alguns polícias, depois lá começam a vir corpos de intervenção, equipas SWAT, helicópteros, tanques de guerra e por aí fora, mediante a dificuldade do nível. Nós não temos como lutar contra maioria dos inimigos, excepto alguns – marcados com setas verdes – que podem ser pintados com graffitis. Mas os inimigos não são a nossa única preocupação – como um jogo arcade, temos um limite de tempo para completar cada nível.

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A história vai sendo contada com cutscenes entre os níveis, quer pelo Professor K, quer por outras personagens do gang GG

A jogabilidade é bastante simples, utilizando apenas botões para saltar, acelerar e centrar câmara/pintar graffitis. Esta versão original para a Dreamcast, ao contrário da versão em HD que a Sega lançou recentemente para Steam/XBLA/PSN/whatever não é possível controlar-se a câmara, o que causa alguns problemas pois por vezes a câmara insiste em dar o pior ângulo possível. De resto, apesar de ter uma jogabilidade simples, Jet Set Radio não é propriamente um jogo fácil e tem também imenso conteúdo para desbloquear. Ao longo da aventura vamos sendo desafiados por outras personagens, seja para repetir algumas habilidades que elas façam, ou correr do ponto A ao ponto B. Se vencermos os desafios, essas personagens juntam-se à nossa equipa, podendo ser jogáveis. Cada personagem tem os seus pontos fortes e fracos, seja a resistência física ao dano, destreza para “graffitar”, ou técnica de skating para se obter melhores truques. Para além destas personagens ainda existem outras mais secretas ainda, algumas mesmo exigindo rankings máximos em cada nível para serem desbloqueadas, bem como existem outros modos de jogo mais desafiantes para desbloquear. Ainda mais, esta versão para Dreamcast tinha algumas funcionalidades online, na medida em que poderíamos criar os nossos próprios graffitis, partilhá-los com a comunidade e utilizá-los no jogo. Como é óbvio, o serviço online da Dreamcast já foi descontinuado há muito, pelo que isto me passou ao lado.

Jet Set Radio é sem dúvida um jogo original. Para além das suas mecânicas de jogo que já referi, é impossível não se gostar do carisma de algumas personagens, desde o desgraçado do Captain Onishima que tenta sempre nos apanhar, aos diálogos bem humorados do DJ narrador Professor K, ou mesmo no visual de todos os intervenientes do jogo. E o visual é mesmo a primeira coisa que saltava à vista em Jet Set Radio. Sendo um jogo pioneiro ao utilizar o cel-shading, uma técnica que conferia um aspecto cartoon a objectos poligonais, Jet Set Radio chamou à atenção por isso mesmo. Era nitidamente um jogo 3D, mas no entanto os visuais pareciam mesmo vindos de um anime. Mas não eram só os gráficos fora de série que chamaram à atenção do jogo, a banda sonora também. Ao longo de toda a aventura podemos ir ouvindo uma grande variedade de géneros musicais, mas todos eles a fazerem o perfeito sentido naquele universo distópico do submundo de Tóquio. Desde os esperados J-Pop e J-Rock, passando por músicas electrónicas, hip-hop, funk, trip-hop, há conteúdo para todos os gostos. As músicas que compõe a banda sonora de JSR tanto provêm das composições de Hideki Naganuma como de vários outros artistas “licenciados”, sendo que estas últimas vão variando de versão em versão. Algumas apenas estão disponíveis no lançamento original japonês, outras no europeu, outras no Jet Grind Radio norte-americano.

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E lá vem o Onishima atrás de nós…

Concluindo, Jet Set Radio foi mais um dos excelentes jogos lançados pela Sega no período da Dreamcast e que pouca gente lhe prestou atenção. Ainda assim ganhou uma sequela na Xbox com o nome de Jet Set Radio Future bem como um estatuto de culto por parte da comunidade gamer mais afincada. Para quem não tiver Dreamcast, existe uma conversão em HD para vários sistemas distribuição digital em diversas plataformas. Essa conversão, para além de ter os visuais melhorados, inclui melhorias na jogabilidade, tal como o controlo de câmara já referido acima. A versão Steam especificamente, por vezes é alvo daquelas promoções malucas, pelo que pode ser comprada a um preço muito convidativo em certas alturas.