Este artigo foi escrito originalmente para a revista PUSHSTART, cujo número podem consultar aqui. Closure fez parte do mais recente Humble Indie Bundle (7) em conjunto com outros como Cave Story + ou Dungeon Defenders. Como sempre, estes bundles dão-nos acesso a bons jogos indie, por um preço bastante reduzido. Paguei algo entre os 5 e os 6€ neste bundle.
A escuridão ou a ausência de luz é um medo primordial para a raça humana. Jogos como Amnesia aproveitam isso muito bem, mas aqui em Closure esse não é o objectivo, apesar de andarmos constantemente às escuras em locais sinistros. Este é um jogo indie produzido pelo pequeno estúdio Eyebrow Interactive que já andava por aí desde 2009 como um jogo flash para ser jogado num browser. Já nessa altura se demarcava dos demais por apresentar um conceito bastante original juntamente de puzzles inteligentes. No ano passado acabaram por lançar uma versão mais completa e polida do mesmo jogo para diversas plataformas de distribuição digital, entre as quais o Steam, versão a que me refiro aqui.

O conceito do jogo é muito simples: a luz é o elemento central de toda a experiência. Apenas podemos confiar naquilo que vemos e a ausência de luz é o vazio. Onde existe apenas escuridão, nada mais existe, é um abismo. Encarnamos numa estranha personagem com 6 membros e inicialmente apresentam-nos uma série de pequenos níveis que servem como tutorial, explicando os conceitos do jogo com pequenos exemplos. O objectivo de cada nível consiste simplesmente em descobrir a porta de saída para o nível seguinte. A maneira como o fazemos é onde incide o desafio dos puzzles que nos são apresentados. Um dos items principais de todo o jogo são as pequenas orbs luminosas que podemos carregar connosco. Carregando uma dessas orbs vamos iluminando um pouco o caminho à nossa volta, pelo que podemos percorrer o nível com alguma segurança. Se deixarmos a orb no chão, apenas uma pequena parte do caminho está iluminada e se nos aventurarmos no escuro caímos num abismo como mencionei atrás. Outro exemplo, imaginem que somos largados num local com uma dessas orbs luminosas e à nossa direita, algo distante, vemos a porta de saída ligeiramente iluminada por uma outra orb ou um holofote. Bom, nesse caso carregamos connosco a orb, iluminando e criando o caminho à nossa volta, mas quando chegamos perto da porta encontramos uma parede. O que fazer? Deixar a orb no chão a uma distância em que a parede não esteja iluminada e simplesmente saltar de uma plataforma para a outra. Confusos? É normal, Closure tem mesmo de ser jogado para ser entendido.

Ao longo do jogo vamos encontrando diversos outros elementos com que possamos interagir, desde holofotes que podemos utilizar para iluminar permanentemente certas partes do cenário, espelhos onde possamos redirecionar luz, “plantas” luminosas, interruptores que carregam as orbs por caminhos fixos que temos de seguir para atingir locais que de outra forma seria impossível, obter chaves e outras orbs para abrir portas, entre muitos outros elementos. Vários puzzles jogam também com a física clássica, envolvendo os clichés de arrastar caixotes e outros objectos, ou secções aquáticas em que nos dão uma maior liberdade de movimentos. Claro que a luz (ou falta dela) está sempre presente, o que torna o que seria cliché em algo completamente novo e desafiador.
Após o tutorial somos largados num hub world, onde podemos jogar em 3 diferentes “mundos”, cada um com as suas peculiaridades e 24 níveis. Em cada uma dessas 3 diferentes áreas, a nossa personagem transforma-se nalguém diferente, desde um trabalhador mineiro numa área mais industrial, passando para uma enfermeira num hospital sinistro ou mesmo uma pequena criança num circo/feira de diversões. Pela maneira que o jogo termina, penso que existe uma certa linha condutora que cria um conceito unindo os três mundos. Mas é algo bastante vago que certamente foi lá deixado para o jogador debater.

Visualmente, é quase impossível não comparar com Limbo, um outro jogo quase monocromático e obscuro, mas convém relembrar que Closure já existe há mais tempo sob a forma de um jogo flash. O aspecto audiovisual complementa os puzzles inteligentes que Closure oferece. É certo que Closure não tem como objectivo de ser um jogo assustador, mas todo aquele sentimento de solidão acompanha-nos sempre na viagem, ao longo de cenários muito bem elaborados com um artwork fantástico. É impossível não achar o hospital assustador, principalmente com todas aquelas figuras misteriosas a observarem os nossos movimentos e seguirem-nos com o seu olhar. Quem tiver medo de palhaços, então no “mundo” circense tem um prato cheio. Para além dos visuais, Closure recebeu uma banda sonora de luxo, autoria de Christopher Rhyne. Estas músicas complementam de forma magistral o clima austero e de solidão que o jogo apresenta. As músicas em si são variadas, com orquestrações, outras com uma toada mais industrial ou electrónica, umas outras mais “festivas”, não deixando de ser igualmente assombrosas. A sério, vão ao website oficial do jogo que tem lá um link (não o de Hyrule) para ouvir na íntegra a banda sonora de Closure, vale bem a pena. Um pormenor interessante é o facto de as músicas distorcerem e abrandarem um pouco em cada vez que a personagem entra na água.

Concluindo, Closure é então um “puzzle game”, com uma premissa bastante interessante na manipulação de luz. O conceito que a falta de luz torna o mundo vazio foi muito bem implementado, forçando o jogador a querer explorar sempre mais o mundo misterioso com que se depara. Os puzzles são inteligentes e alguns são mesmo bastante desafiadores, com o jogador a precisar de inúmeras tentativas até chegar a uma solução que requer bastantes passos cuidados. Aliados a uma banda sonora e desenhos excelentes, o jogo não se torna nada monótono, mesmo nesses puzzles mais longos. Para quem gosta deste género de jogos, Closure é uma experiência a não perder.