Torchlight II (PC)

O primeiro Torchlight foi um óptimo clone do Diablo. É verdade que não tinha reinventado a roda, para além de incluir um animal de estimação que nos acompanha na aventura, pouco se diferenciava da série da Blizzard. Mas a jogabilidade era boa, portanto não me queixei. Pouco tempo depois acabam por lançar uma sequela que eu sinceramente não me recordo quando a comprei, mas terá sido certamente nalguma steam sale ou bundle baratinho. Recentemente lançaram também o Torchlight III e foi aí que me lembrei de finalmente experimentar este jogo.

Apesar do jogo seguir a mesma fórmula do Diablo na sua jogabilidade, ou seja, um RPG de acção com uma perspectiva aérea, dungeon crawler e com muito loot à mistura. A história leva-nos a perseguir o herói do jogo anterior, que ficou corrompido com o poder da Ember Blight e agora anda aí a semear destruição pelo mundo (qualquer semelhança com a história do Diablo II não é mera coincidência). Sinceramente nunca fui o maior fã do mundo onde Torchlight decorre. Aqui temos uma vez mais um mundo com influências steampunk e fantasia, mas prefiro de longe o lore e a temática mais dark fantasy da série Diablo.

Começamos a aventura ao escolher a nossa personagem, bem como customizar ligeiramente o seu aspecto. E claro, teremos de escolher também qual o nosso animal de estimação

Mas gostos à parte, a jogabilidade é viciante tal como no Diablo. Começamos por criar a nossa personagem ao escolher o seu sexo e uma de quatro classes disponíveis. O Engineer é o típico tank, muito forte fisicamente mas lento, o Outlander é o habitual ranger que equipa armas de combate à distância tipo pistolas ou arco e flecha. O Embermage é a classe mais especializada em magia e temos também o Berseker que possui ataques físicos bastante rápidos. À medida que vamos combatendo vamos ganhando experiência e subir de nível. Ao subir de nível teremos uma série de pontos que poderemos atribuir livremente nos stats que queremos evoluir, bem como skill points onde poderemos aprender ou evoluir livremente as habilidades que dispomos. Cada classe possui três skill tree distintas que poderemos evoluir de forma algo livre, se bem que as skills vão tendo pré-requisitos de nível para poderem ser evoluídas, pelo que será practicamente impossível numa playthrough evoluir uma determinada skill completamente. Também tal como Diablo vamos ter muito loot para apanhar, desde poções que nos regeneram vida e/ou mana, armas e diversos tipos de armadura. Estas tanto podem ser normais como encantadas, raras e únicas. Algumas peças de equipamento podem ainda ser evoluídas ao anexar-lhe algumas pedras preciosas que lhes melhoram algumas habilidades bem como teremos também a hipótese de consultar encantadores que nos podem encantar algum item (se bem que as coisas também podem correr mal e o resultado final ficar pior).

Ao longo do jogo poderemos encontrar várias dungeons para explorar, sendo que algumas são completamente opcionais

Algumas das particularidades do primeiro Torchlight estão também aqui de volta como o animal de estimação que nos acompanha nos combates e podemos inclusivamente mandá-lo de volta à cidade mais próxima e vender equipamento bem como comprar alguns itens essenciais como poções ou scrolls. Poderemos também pescar nalguns pontos específicos e os peixes que apanharmos, se os dermos ao nosso animal de estimação, ele transforma-se temporariamente noutra criatura, ganhando algumas habilidades novas. Também poderemos encontrar/comprar scrolls especiais que contêm feitiços que poderemos equipar em nós próprios, mas também no nosso animal de estimação, que os irá usar automaticamente. De resto o primeiro Torchlight não tinha qualquer componente multiplayer, mas desta vez a Runic criou um modo multiplayer cooperativo, se bem que confesso que não o experimentei.

Tal como no Diablo III, para além dos inimigos normais, ocasionalmente encontramos Champions, versões bem mais poderosas para enfrentar

A nível audiovisual é um jogo algo modesto nesse departamento. Apesar de a Runic ter sido fundada com várias pessoas que trabalharam na Blizzard e nos seus Diablo, em 2012 ainda eram um estúdio algo pequeno. Graficamente falando, as texturas de baixa resolução e personagens ainda com pouco detalhe poligonal. Mas o aspecto do jogo é sempre bastante cartoon, o que ajuda um pouco a atenuar o facto de graficamente não ser muito forte. Mas ao menos há uma grande variedade de cenários desde as dungeons, florestas sinistras, cidades em ruína, desertos ou grandes monumentos. A nível de som, nada de especial a apontar. O jogo não tem um grande foco na história, pelo que temos poucos diálogos, sendo que aqueles que correspondem à quest principal são acompanhados de algum voice acting. As músicas, também tal como nos Diablo clássicos, vão sendo divididas entre melodias algo acústicas mas melancólicas, ou outros temas mais orquestrais ou ambientais.

Tal como no Diablo, o que não falta é loot para apanhar, que também poderá estar escondido em alguns objectos

Portanto este Torchlight 2 é um action RPG bastante sólido para quem for fã de Diablo. A sua jogabilidade é bastante simples e familiar para quem gostar da série e teremos várias habilidades distintas para explorar em cada classe, o que lhe dá uma maior longevidade, especialmente tendo em conta que poderemos activar modos de jogo New Game+ após terminar a história. Ao longo dos anos o jogo foi também lançado para várias das consolas actuais, mas não faço ideia de como a jogabilidade se terá adaptado para o gamepad. Para mim isto sempre foi jogo de rato e teclado!

Torchlight (PC)

Mais um RPG para PC, mais um jogo indie. Desta vez trago cá o Torchlight, um interessante clone de Diablo, que apesar de simples é eficaz. A sua sequela, lançada neste ano tem sido bastante aclamada pela crítica, sendo considerado até superior ao seu rival, o Diablo III. Mas isso fica para outro artigo. O jogo fez parte do recente Humble Indie Bundle VI, o qual eu adquiri por uns modestos 7€, juntamente com outros bons jogos como Dustforce ou Rochard.

Torchlight

A história do jogo é possivelmente o aspecto que menos apreciei neste jogo. Somos levados até uma vila que serve como hub para os restantes locais do jogo, nomeadamente as dungeons. A vila prospera através da extracção mineira de embers, umas pedras/cristais misteriosas que conferem poderes mágicos, atraíndo aventureiros de todo o mundo. A personagem que encarnamos é um desses aventureiros que mal chega ao seu destino, é recrutado pela jovem aprendiz alquemista Syl, que pede ao jogador que se aventure nas cavernas de Torchlight em busca do seu mestre Aldric que havia desaparecido. Com o desenrolar da história vamo-nos apercebendo que as Embers corrompem as pessoas e um grande mal se encontra na raíz do labirinto de Torchlight. É uma história simples, porém eficaz. De qualquer das maneiras acho o lore de Diablo bem mais interessante.

Inicialmente dispomos de 3 classes para criar uma personagem: Destroyer, os habituais guerreiros bruta-montes especialistas em dano melee, Vanquisher, especialistas em dano “à distância”, através de revólveres, espingardas ou arco-e-flecha. Por fim sobram os Alchemists, dotados de poderes mágicos, contudo fracos a nível físico. As diferentes classes têm também 3 diferentes árvores de skills, cada árvore com uma especialidade respectiva, contudo o jogador pode assimilar skills de cada árvore, dependendo se a sua personagem tem o nível pretendido pela dita skill ou não. As skills são variadas quanto baste entre si, existindo activas, passivas, armadilhas, entre outras. Para além disso, todas as classes têm 4 slots livres para serem alocados spells à escolha, que podem ser encontrados durante o jogo. Os spells são livres de serem utilizados por qualquer classe e podem ser aprendidos e “esquecidos” livremente. Uma particularidade deste Torchlight é o facto de se utilizar também um animal de estimação, algo que não é propriamente novo em RPGs, mas aqui o animal tem características especiais. Em primeiro lugar podemos escolher se queremos ter como animal de estimação um canino ou um felino, posteriormente o animal também pode ser equipado com acessórios e um conjunto de 2 spells que os utiliza automaticamente, para além de ter também um inventário próprio.

Screenshot
Aqui um screenshot parcial dos inventários e descrição de items

Para além do estilo de combate click-click-click habitual neste tipo de jogos, em Torchlight é também possível pescar, existindo uma variedade de peixes considerável. A grande maioria destes peixes servem para serem dados ao animal de estimação, que o transforma temporariamente noutra criatura, com diferentes habilidades, num intervalo de tempo variável. Existem também peixes que servem apenas para regeneração de vida, ou outros que transformam definitivamente o animal de estimação, contudo nunca cheguei a utilizar nenhum dos mesmos. A progressão da personagem é feita ganhando experiência do combate ou da realização de quests, bem como os pontos de fama. É possível ganhar pontos de fama ao completar quests e derrotar alguns inimigos mais poderosos (geralmente com o nome a amarelo). Sempre que o herói ganha um nível, pode dispender um certo número de pontos em melhorar os seus atributos, bem como aprender ou evoluir uma skill. Por outro lado, sempre que é ganho um nível de reputação pode-se também aprender /evoluir skills. Como o primeiro Diablo, Torchlight apenas dispõe de uma única dungeon principal, dividida em várias áreas com um respectivo waypoint, onde é possível regressar à vila livremente. Para além dos 35 níveis da caverna principal, existem também outras pequenas dungeons aleatórias que podem ser encontradas ao longo do jogo, ganhas a completar quests ou simplesmente comprar uma scroll a um determinado vendedor. Estas cavernas extra têm a particularidade de serem mais difíceis, pois os inimigos seguem o nível da personagem, enquanto que os da dungeon principal seguem uns níveis prédefinidos, dependendo do grau de dificuldade com que se joga.

Screenshot
Um dos cenários que mais gostei de explorar

De resto Torchlight pouco oferece, a não ser a obsessão característica destes jogos em jogar-jogar-jogar de forma a evoluir a personagem e obter cada vez melhores items/equipamento. À semelhança de Diablo existe equipamento normal, ou encantado com alguns buffs positivos. Dentro do encantado existem items bem mais raros que outros, bem como existe também a possibilidade de, através de alquimia tentar melhorar as stats dos items já existentes, correndo também o risco de o encantamento falhar e o produto final ser pior que anteriormente. A grande falha deste Torchlight, para além de uma história algo fraca, é não incluir qualquer modo de multiplayer, algo que geralmente é obrigatório neste género de RPGs, retirando-lhe assim muito replay value. De resto, e para a versão PC do jogo, para quem gostar de comunidades modding, a Runic Games disponibilizou um editor do jogo para esse efeito, existindo por aí muito conteúdo criado por fãs.

A nível visual, tendo em conta que é um jogo indie de 2009, acho Torchlight competente neste quesito. A minha única queixa é para as personagens/inimigos estarem demasiado “cartoonish“, pois de resto as diferentes áreas da dungeon estão bem conseguidas, com cores vivas e cenários interessantes. No que diz respeito ao som, o voice-acting é pouco, mas faz completamente jus ao de Diablo, utilizando o mesmo estilo. É competente, mas nada de espectacular, tal como a história, como já referi. Os efeitos sonoros também são bons, mas também não haveria muito a dizer neste campo. A música segue também os gostos de Diablo, principalmente para a música da vila, que é mesmo parecida. De resto são sempre músicas ambientais, e o que acaba sempre por sobressair são os grunhidos dos monstros e o barulho das armas.

Screenshot
É possível fazer zoom à acção.

Concluindo, para quem gostar de Diablo e já estiver farto de o jogar, este Torchlight é um jogo interessante, que embora não adicione muito à conhecida fórmula, acaba por ser um jogo eficaz. Perde na minha opinião pela pouca variedade de classes, bem como uma história pouco apelativa. Mas acima de tudo, o facto de não ter multiplayer retira-lhe muito do factor replay. Contudo deve-se entender que este Torchlight sempre foi um jogo low budget, pelo que se deve dar uma oportunidade. O Torchlight II já anda por aí, e a Runic Games pelos vistos corrigiu muitas destas falhas. Um dia eu compro.