Alentejo: Tinto’s Law (Nintendo Game Boy)

É tempo de regressar ao Game Boy clássico para um jogo muito especial. Alentejo: Tinto’s Law é um título português desenvolvido para a icónica portátil da Nintendo. E como se esse feito não fosse já digno de celebração, o jogo teve direito a um lançamento físico através da também nacional Teknamic, estando ainda disponível para compra através do seguinte link. O meu exemplar foi encomendado em Dezembro, garantindo-me um lugar entre os primeiros 20 compradores que, além de receberem um cartucho azul em vez do habitual vermelho, tiveram direito a algumas recompensas simbólicas adicionais.

Jogo com caixa, póster/mapa, manual e algumas menções honrosas para os compradores da versão limitada de pré-venda. Ficou de fora da foto o certificado de autenticidade.

Apesar de o conceito do jogo remeter para uma espécie de western transposto para o Alentejo do século XIX, a história não podia ser mais portuguesa. No papel de um forasteiro que chega à Tasca do Zé e pede um copo de tinto, somos confrontados com uma resposta impensável: não há vinho. O culpado é um barão que oprime a população local, apropriando-se de todo o stock da região. Mas isso é que não pode ser! Em resposta, rapidamente engendramos um plano para assaltar um comboio que transporta a próxima remessa de tinto. Antes disso, no entanto, será necessário ganhar a confiança de alguns habitantes, cumprindo tarefas que nos ajudarão a preparar o assalto.

Estes diálogos tipicamente portugueses são impagáveis de se ler num Game Boy!

A nível de jogabilidade, o jogo assenta em mecânicas bastante simples e divide-se essencialmente em duas fases: a exploração do mapa, com a aldeia como ponto central, e as cavernas ou masmorras, onde decorrem os combates e a resolução de puzzles. Os controlos não podiam ser mais directos, com o botão A a servir para interagir com NPCs e objectos, enquanto o botão B dispara o revólver. Este contém 6 balas e recarrega-se automaticamente quando esgotado. A exploração funciona muito bem, sobretudo graças aos NPCs, cujos diálogos estão recheados de humor. O combate, por outro lado, poderia beneficiar de alguns ajustes. Por exemplo, os inimigos conseguem disparar na diagonal, mas o jogador não, ficando assim em desvantagem em determinados momentos. Como só podemos disparar na direcção em que estamos virados, a movimentação constante torna-se essencial para evitar dano. Podemos sofrer apenas dois tiros antes de perder uma vida e, apesar de existirem itens que regeneram a nossa barra de saúde em boa quantidade, houve um confronto específico num espaço apertado onde a IA tinha uma vantagem clara sobre o jogador. Já os puzzles são maioritariamente do estilo Sokoban, exigindo que empurremos caixas para desbloquear caminhos ou interajamos com alavancas, sendo que a última caverna me deu uma boa dor de cabeça até encontrar a solução! Por fim, convém também mencionar que as masmorras escondem sempre alguns segredos, nomeadamente itens que melhoram certos aspectos do nosso revólver. São apenas três power-ups, mas ainda assim representam um incentivo adicional à exploração.

As masmorras oferecem-nos alguns puzzles para resolver, sendo uns mais simples que outros

Audiovisualmente, trata-se de um jogo simples. O suporte para várias línguas é um ponto positivo, mas naturalmente joguei em português, apreciando os diálogos ricos em calão nacional e regional. Graficamente, a aldeia apresenta vários edifícios distintos, mas infelizmente não é possível explorar os seus interiores, à excepção da tasca do Zé, onde ocorrem algumas cenas, mas sem possibilidade de lá voltarmos. Os cenários, embora tenham detalhes como objectos e animais espalhados, são completamente estáticos, um aspecto a melhorar numa possível sequela. No departamento sonoro, as músicas são poucas, mas agradáveis. No entanto, ficaram a faltar efeitos sonoros como os disparos dos revólveres, por exemplo.

O combate é que poderia ser um pouco mais dinâmico e em várias situações os inimigos têm posições mais vantajosas que nós

No geral, Alentejo: Tinto’s Law foi uma experiência bastante agradável. Apesar da curta duração, a simples possibilidade de jogar um título português no Game Boy é algo louvável. Há margem para melhorias na jogabilidade, gráficos e som, mas saber que uma sequela está nos planos é motivo de entusiasmo. Fico curioso para ver onde as aventuras do Gildo nos levarão a seguir, até porque o jogo termina num grande cliffhanger.