The Apogee Throwback Pack (PC)

O jogo que trago cá hoje é na verdade uma pequena colectânea digital de 4 jogos (ou 3 +1) que muito joguei quando era mais novo. Aquando das Steam sales do passado Halloween, estive a ver quais os jogos que estavam em promoção e encontrei este pack que muito me surpreendeu, pois não fazia a mínima ideia que existia no steam e comprei-o logo. Creio que me custou pouco mais de 2€. Que jogos tem? Nada mais nada menos que os FPS lançados pela Apogee que usaram o motor gráfico do Wolfenstein 3D, que não o próprio Wolf3D e sua expansão Spear of Destiny, que inicialmente foram também distribuidos pela Apogee. Estou então a referir-me aos 2 Blake Stones (Aliens of Gold e Planet Strike) bem como ao Rise of the Triad e sua expansão Extreme Rise of the Triad.

Apogee Throwback PackComo o Rise of the Triad já foi aqui analisado e o Extreme é essencialmente o mesmo jogo, mas com uma série de novos níveis, vou-me focar nos Blake Stones que até sairam mais cedo. O Aliens of Gold foi até o primeiro FPS que eu joguei no meu primeiro PC, o velhinho Pentium 133MHz que ainda está lá por casa. Sendo assim, é um jogo pelo qual eu tenho um carinho especial. Aqui jogamos como Blake Stone, agente secreto britânico com a missão de se infiltrar em várias instalações da STAR Industries que, liderada pelo vilão Dr. Pyrus Goldfire, se suspeitava que estaria a planear invadir a Terra com recurso a uma força militar notável e criaturas geneticamente modificadas.

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Rise of the Triad foi um dos FPS mais fast paced e doidos já feitos

Ora para quem jogou Wolfenstein 3D, este não é um jogo assim tão diferente, pois os mapas não têm qualquer desnível no solo ou tecto e as paredes são todas ortogonais, não existindo assim quaisquer superfícies curvas ou oblíquas. O objectivo consiste em explorar todos os mapas, procurando chaves para aceder a zonas previamente trancadas até que encontramos a chave vermelha que nos permite voltar ao elevador e subir para o nível seguinte. Só não digo que devemos matar tudo o que se mexa pois também existem NPCs neutros, que nos penalizam se os matarmos inclusivamente. Esses são os cientistas espalhados por todos os níveis. Alguns são tão maus quanto Pyrus Goldfire e seus soldados e criaturas e também disparam contra nós, já outros podem ser interagidos livremente, fornecendo-nos importantes informações, munições, ou moedas para gastar em vending machines. Essas vending machines por sua vez podem ser usadas para se comprar comida que nos regeneram os pontos de saúde.

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A HUD de Aliens of Gold dá-nos muita informação

De resto possuímos um arsenal não muito extenso, com uma pistola com munição infinita, mas fraquinha, ideal para stealth kills de inimigos mais fracos, e outras pistolas, metralhadoras ou armas futuristas bem mais poderosas. Todas as armas usam o mesmo tipo de munição e um pormenor que achei espectacular é o facto de os nossos inimigos poderem ficar sem munições mas vão à procura das que estão espalhadas no chão para usar. Outro aspecto interessante é podermos a qualquer momento meter-nos no elevador e revisitar níveis antigos do mesmo episódio, encontrando-os exactamente da mesma maneira que o deixamos. Podemos fazê-lo essencialmente para tentar descobrir mais tesouros e passagens secretas para os completarmos a 100%.

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Alguns cientistas trabalham contra a sua vontade para o Pyrus e oferecem-nos items ou informação se tentarmos falar com eles

Tecnicamente é um jogo com as limitações básicas do motor gráfico do Wolfenstein 3D, como já referi. Mas tem uma série de melhorias técnicas como chãos e tectos com texturas, melhor qualidade de texturas no geral, sistema de iluminação dinâmica, mas ainda algo rudimentar entre outros como o automap. As músicas são agradáveis e os efeitos sonoros também competentes para a altura. Sinceramente, na minha opinião o maior problema deste Blake Stone foi ter saído mais ou menos na mesma altura do Doom, que arrasou por completo toda a concorrência. E merecidamente.

Passando para o Planet Strike, esse já foi um jogo que apenas vim a jogar muitos anos depois. Isto porque ao contrário do Aliens of Gold, que tinha uma distribuição de shareware, onde tínhamos o primeiro capítulo inteiro para jogar de graça e os outros todos apenas no jogo completo, comprado à parte, este Planet Strike é dos poucos jogos do catálogo da Apogee que não seguiu o modelo de shareware, apenas o jogo por inteiro tinha de ser comprado, coisa que eu “fiz” há alguns anos atrás em sites de abandonware. Aqui temos então de lutar mais uma vez contra o Pyrus Goldfire, e em vez de apanhar elevadores de um lado para o outro, temos mesmo de encontrar uns explosivos e detonar o nível em que estamos antes de avançar para o seguinte. De resto temos aqui novos inimigos (muitos deles apenas pallete swaps), uma arma nova, nomeadamente uma shotgun de 2 canos e algumas funcionalidades adicionais no sistema de automap. Alguns itens podem-nos permitir fazer zoom ao mapa que mostra, para além dos inimigos, as paredes com passagens secretas.

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No Planet Strike temos um pequeno mapa embutido na HUD

Para quem for fã de FPS da velha guarda, este Apogee Throwback Pack é uma pequena colectânea obrigatória. Os Rise of the Triad são óptimos FPS, embora na minha opinão se possam tornar um pouco maçudos pelos enormes e labirínticos mapas e o Aliens of Gold é um excelente “clone” de Wolfenstein 3D cujo único problema foi ser lançado uma semana antes do Doom. O Planet Strike segue a mesma fórmula, não acrescenta nada de muito interessnte, mas não deixa de ser também um bom jogo.

Rise of the Triad (PC)

rottRise of the Triad é um FPS da velha guarda lançado pela Apogee, que contou com Tom Hall (uma das mentes criativas dos clássicos seminais do género Wolfenstein 3D e Doom) na sua equipa de desenvolvimento. Sempre achei que foi um jogo que passou debaixo do radar de muita gente, mas certamente não terá passado ao lado de todos, pois saiu neste ano para PC também, uma espécie de remake/reboot que infelizmente ainda não tive a oportunidade de experimentar. De qualquer das formas este jogo aqui foi comprado no mês passado na feira da Ladra em Lisboa, pela módica quantia de 1€. É uma versão que pelos vistos saiu no Jornal de Notícias há uns valentes anos atrás, não é a edição retail normal, mas também serve.

Rise of the Triad - PC
Jogo com caixa jewel case e instruções de instalação no inlay

A primeira curiosidade deste jogo é que estava para ser uma sequela do clássico Wolfenstein 3D, não é por acaso que é utilizado o mesmo motor gráfico (embora com muitos melhoramentos), e a presença de armas como a metralhadora MP40 ou o revólver Walther PP, ou mesmo algumas fardas que lembram uniformes nazis foram mantidas no jogo. No entanto, por algum motivo decidiram que o jogo decorresse nos tempos modernos, onde podemos encarnar num de vários elementos de um esquadrão de elite chamado H.U.N.T.. Ora esses meninos foram para a ilha de San Nicolas, no Oceano Pacífico, relativamente perto de Los Angeles, para investigar as actividades de um culto obscuro. Quando lá chegam descobrem que planeiam destruir a cidade de LA e o resto não é difícil de adivinhar.

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Podemos jogar com 1 de 5 personagens diferentes, cada com os seus “stats”

Apesar de ROTT ser um jogo linear, em que temos de ir do ponto A ao ponto B, procurando  pelo meio chaves que nos abram outras secções e matando tudo o que mexa, tem várias peculiaridades. Em primeiro lugar, pelo extenso arsenal à nossa disposição porém, este é dos primeiros FPS que nos limita o inventário. Podemos carregar apenas 4 armas, sendo as 3 primeiras um revólver, 2 revólveres ao mesmo tempo ou a metralhadora MP40, todas estas armas com munição infinita. O último slot é reservado aos vários tipos de armas mais “pesadas” ou mesmo mágicas, capazes de dizimar com mais facilidade grupos de inimigos. E dessas armas pesadas temos diversos tipos de rocket launchers, como heat seekers, os drunk missiles que disparam 5 de cada vez, ou outros que após tocarem no chão geram uma enorme parede de chamas. Power-ups é coisa que também não falta, desde variados tipos de armaduras e outros que tanto podem ser benéficos (mercury mode para voar, god e dog para invencibilidade) como nos podem atrapalhar e bastante a vida – cogumelos alucinogéneos ou o elastomode, que practicamente nos transforma numa bola de pinball, dificultando bastante a movimentação. E a atenção dada a estes power-ups é impressionante. Por exemplo, no god mode assumimos literalmente o papel de um deus, cuja única arma é a sua mão divina, que dispara bolas de energia teleguiadas que literalmente vaporizam os inimigos. Em dog mode, passamos a ser um cão também invencível, que ladra e morde, matando os inimigos com um só hit também.

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Sim, algumas armas são mesmo propositadamente ridículas

Para além do mais o jogo herda elementos de platforming, desde as tais plataformas onde podemos saltar, ou mesmo os “ankhs” que podemos colectar e a cada 100 ganhamos mais uma vida. É uma decisão estranha, pois podemos também fazer save e load a qualquer momento do jogo. Ainda assim, ROTT possui mais algumas peculiaridades: os inimigos são bem mais matreiros, alguns fingem-se mortos para nos emboscar posteriormente, outros ainda nos conseguem roubar as armas. O modo “campanha” é o tradicional, um conjunto de níveis com alguns bosses intercalados. Os níveis são bastante largos e repletos de armadilhas, objectos que podemos destruir e passagens secretas para explorar. Infelizmente, ao serem bastante largos e labirínticos podemos passar um bom tempo a vaguear pelos mesmos sem nos recordarmos onde estava aquela chave, ou a porta que ainda não tinhamos explorado.

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O mapa apesar de não ser tão funcional assim, é extremamente útil em níveis mais avançados

Mas ROTT tinha também expandido as vertentes multiplayer face aos seus rivais: desde o tradicional deathmatch e variantes, um modo “hunt” onde como o nome indica, há um jogador que toma o papel de presa e os restantes de caçador, um capture the flag, entre outros. Devo dizer também que para além de ROTT suportar até 11 jogadores em simultâneo, o que era muito bom para a altura, tem também um bom nível de customização destas partidas multiplayer, para além de ser o primeiro jogo da Apogee/3DRealms a suportar a característica “Remote Ridicule”, que consistia em enviar clips de voz para os outros jogadores, ou mesmo suportando microfones. Claro que isto só deveria resultar bem em LANs, tendo em conta as capacidades de rede da altura.

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Existem vários perigos e armadilhas nos próprios níveis, que tanto nos podem atingir a nós como aos inimigos

Falando nos pontos mais técnicos, é notório que ROTT utiliza uma versão mais avançada do motor gráfico do Wolfenstein 3D, pois apesar dos níveis serem largos, consistem na mesma em paredes com ângulos de 90º e “tectos” ao mesmo nível, apesar de existirem algumas zonas que sirvam de plataformas ou “level over level“. Para além disso, existem níveis exteriores com imagens de fundo, tal como foi implementado no Doom. Os inimigos apesar de não existirem em grandes variedades, sempre me pareceram melhor detalhados que os do Doom. ROTT era também um jogo bastante violento, onde nas opções podemos inclusive regular o nível de gore, desde nenhum sangue, até explosões sangrentas onde vemos vísceras a voar por todos os lados. Os efeitos sonoros estão OK para a época, assim como as músicas em MIDI. Não são tão nostálgicas como as de Doom, mas cumprem bem o seu papel.

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O jogo está cheio de mensagens com humor negro

No fim de contas, o enorme nível de violência de ROTT para a sua altura, culminando com um ritmo de jogo bastante rápido, todas aquelas armas e powerups insanos, tornam Rise of the Triad num FPS que por um lado não se leva muito a sério, mas é bastante agradável de se jogar em períodos relativamente curtos. Quando tentamos levar uma maratona de ROTT, os seus níveis muito “quadrados”, grandes e labirínticos já podem tornar a coisa um bocado mais chata. Pelo menos este “feeling arcade“, gore e humor negro pareceram-me tomados em conta no remake/reboot que foi lançado neste ano e ainda não tive a oportunidade de jogar. Mas não deverá estar para muito tarde.