Indiana Jones and His Desktop Adventures (PC)

Ao longo dos últimos meses, um dos meus focos tem sido o de jogar as restantes aventuras gráficas desenvolvidas pela Lucasarts que ainda não havia experimentado. Em Julho, resolvi abrir uma pequena excepção, pois apesar do título que cá vos trago hoje ser da autoria do mesmo estúdio, está longe de ser uma aventura gráfica tradicional. Confesso, no entanto, que era um jogo que há muito me despertava curiosidade. O exemplar que tenho na colecção está incluído numa compilação intitulada Tien Adventures, aparentemente exclusiva do mercado neerlandês, que reúne dez clássicos do estúdio norte-americano. Comprei-a na Vinted a um preço interessante.

Compilação da Lucasarts exclusiva do mercado holandês contendo a jewel case e dois CDs com jogos.

Em que difere este Desktop Adventures do restante catálogo de aventuras a que a empresa nos habituou? Bom, pensem num jogo de acção-aventura consideravelmente simples no seu conceito, que corre numa janela do Windows, com níveis gerados aleatoriamente e uma duração média de cerca de 60 minutos, embora este tempo possa ser encurtado (ou prolongado) consoante as nossas preferências relativas ao tamanho do “mundo” a explorar. Com a inclusão de botões de pânico que escondem a janela, é fácil imaginar que este tenha sido um jogo presente em muitos escritórios durante a segunda metade dos anos 90.

É ao falar com Marcus que vamos conhecer o objectivo desta sessão de jogo. Não esquecer o medkit no armário da divisão da esquerda.

O conceito do jogo é simples e decorre na fictícia aldeia de Lucasio, algures no México dos anos 30. Existem aqui 15 “histórias” possíveis, em que Marcus, amigo de Indy, nos pede para encontrar um artefacto valioso, geralmente ligado à civilização asteca. Para além de Marcus e da sua casa, existem outras habitações a explorar e NPCs na aldeia que nos podem fornecer dicas sobre como progredir na aventura, ou até itens que regenerem parcialmente a nossa barra de vida. Depois, cabe-nos explorar os territórios em redor de Lucasio, repletos de inimigos, sejam animais selvagens, tribos indígenas hostis ou, como não poderia deixar de ser, nazis. Outras zonas podem conter pequenos puzzles que exigem algum raciocínio ou a utilização de itens específicos (como, por exemplo, a chave certa para destrancar uma passagem). Na prática, o jogo funciona como uma fetch quest contínua, em que precisamos de recolher uma sequência de itens, resolver alguns desafios e enfrentar inimigos até obtermos o artefacto que Marcus nos pediu. Apesar de existirem apenas 15 modelos narrativos base, o mundo é gerado de forma procedural, o que faz com que cada sessão siga uma estrutura semelhante mas apresente sempre diferenças entre si.

Os mundos são gerados proceduralmente, o que resulta em muitas possibilidades distintas de jogo!

A jogabilidade, no entanto, deixa a desejar. O movimento de Indiana é bastante travado e pobre em animações. Podemos controlá-lo com o rato, clicando na direcção pretendida, ou através das teclas de direcção. Ao lado da área de jogo, temos um inventário com os itens recolhidos, que funcionam como num point and click: clicamos neles com o rato e depois no local onde os queremos utilizar. Certos itens, como armas, podem ser equipados, e atacamos pressionando a tecla espaço. No entanto, o combate revelou-se especialmente frustrante, pois muitas vezes o Indy não respondia como desejado quando eu tentava reposicioná-lo para enfrentar inimigos que atacavam pelos flancos ou por trás. Felizmente, é possível ajustar a dificuldade dos combates, o que minimiza este problema, visto que o dano sofrido se torna bastante reduzido. Alguns puzzles requerem ainda a movimentação de objectos no cenário, o que se faz com a tecla Shift combinada com as setas de movimento.

O mapa é dos primeiros objectos que podemos (e devemos encontrar). Para além de nos dizer as áreas visitadas, se passarmos o rato por cima de algum dos seus ícones temos uma dica do tipo de objecto precisamos pra resolver certo puzzle ou outras informações importantes. O círculo é sempre a cidade central de Lucasio.

Graficamente, é um jogo muito simples. Imaginem um RPG ou action-adventure da era 16-bit com perspectiva aérea, mas com animações e fluidez significativamente inferiores às das consolas dessa época. A nível sonoro, o jogo é maioritariamente silencioso. Existem alguns efeitos básicos, como sons de armas, grunhidos de dor e, ocasionalmente, excertos do icónico tema musical dos filmes.

O que mais me surpreendeu em Desktop Adventures foi o facto de, apesar da sua simplicidade, repetitividade, controlos rígidos e péssimas animações e scrolling, o jogo conseguir entreter. E para sessões curtas, exactamente o que o título propõe, acaba por ser um óptimo passatempo. O seu preço reduzido aquando do seu lançamento terá sido certamente outro atractivo. Tanto assim foi que a Lucasarts repetiu a experiência no ano seguinte com Star Wars: Yoda Stories, que adoptou uma abordagem semelhante e chegou a ter uma versão simplificada para o Nintendo Game Boy. Infelizmente, no entanto, esse título não veio incluído nesta compilação… caso contrário, a mesma teria de se chamar Elf Adventures, o que seria ainda mais confuso para o público internacional.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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