Loom (PC)

Na minha demanda para jogar todas as aventuras gráficas da Lucasarts que me faltavam jogar, chegou agora o momento de experimentar o Loom, uma aventura muito especial, porém curtinha, mas que me surpreendeu consideravelmente pela positiva. Tal como muitos dos jogos da Lucasarts que tenho vindo a trazer cá recentemente, o meu exemplar está inserido numa compilação chamada Tien Adventures, aparentemente exclusiva do mercado neerlandês, e que contém 10 dos jogos da Lucasarts.

Compilação da Lucasarts exclusiva do mercado holandês contendo a jewel case e dois CDs com jogos.

Confesso que pouco conhecia sobre Loom, para além das suas óbvias referências no primeiro Monkey Island, pelo que fui completamente apanhado de surpresa pelas suas mecânicas originais e pelo setting de fantasia, pouco habitual no catálogo da LucasArts. E não se trata de um mundo de fantasia convencional: Loom apresenta uma sociedade rigidamente dividida entre várias guildas, cada uma dedicada a um ofício específico, conduzido com um rigor quase místico. A personagem que controlamos, Bobbin Threadbare, pertence à Guilda dos Tecelões (Weavers) seres dotados de habilidades mágicas capazes de manipular a própria realidade, concebida aqui como um vasto tecido. Existe um background considerável que enquadra a narrativa do jogo e que, originalmente, podia ser escutado numa cassete áudio incluída em algumas das edições iniciais, item esse que infelizmente não acompanha a versão que possuo. Ainda assim, o jogo dá-nos a entender que Bobbin era uma figura vista com desconfiança pelos anciãos da sua ordem, com excepção de Hetchel, amiga da sua mãe desaparecida há muitos anos. No início da história, Hetchel confronta os restantes anciãos, acabando por ser castigada com um feitiço. Algo, porém, corre mal: Hetchel transforma-se num ovo e os anciãos em cisnes, desaparecendo no horizonte. É a partir deste acontecimento enigmático que se desenrola a aventura, uma jornada que nos levará a descobrir os segredos do passado de Bobbin e os mistérios que envolvem o destino daquele estranho mundo.

Os weavers, dos quais se inclui o protagonista que controlamos, são estranhas criaturas com poderes mágicos.

A nível de mecânicas, Loom é uma aventura gráfica bastante peculiar. Embora se trate de um point and click, a forma como interagimos com o mundo distingue-se do habitual: ao clicar num objecto, este surge seleccionado na parte inferior do ecrã, sendo necessário clicar uma segunda vez sobre o ícone para que Bobbin comente ou interaja com o mesmo. A única peça de inventário que possuímos é um bastão mágico, elemento central tanto da narrativa como das mecânicas e puzzles do jogo. Loom assenta também numa forte componente musical: desde cedo vamos aprendendo feitiços compostos por sequências de quatro notas musicais, e é através do bastão que os reproduzimos. Um dos primeiros encantamentos que aprendemos, por exemplo, é o de open, que usamos quase de imediato para libertar Hetchel do seu ovo. Embora o bastão permita tocar oito notas diferentes (de dó a dó), inicialmente apenas temos acesso às três mais graves, desbloqueando gradualmente as restantes à medida que avançamos na história. Um pormenor curioso, e essencial, é que os feitiços variam entre sessões de jogo, sendo, por isso, importante anotar as sequências à medida que as descobrimos. Além disso, muitos dos feitiços podem ser invertidos se tocarmos a sequência ao contrário: open torna-se close, awake transforma-se em sleep, entre outros casos similares.

Todos os puzzles andam à volta de melodias que teremos de tocar recorrendo ao bastão mágico que possuímos

Tirando o facto de ser necessário apontar a composição dos feitiços, já que variam entre partidas, Loom marca o primeiro exemplo de uma aventura gráfica da LucasArts onde não só é impossível morrer, como também é impossível cair em situações de beco sem saída. Não há decisões erradas irreversíveis, nem a possibilidade de ficar bloqueado por se ter esquecido um item ou uma acção num segmento anterior, algo que não só acontecia nos títulos anteriores da própria LucasArts, como era especialmente comum nas aventuras da concorrente Sierra. Só por isso, já representa uma significativa melhoria em termos de qualidade de vida. Outro aspecto curioso é o nível de dificuldade seleccionável no início da aventura: Practice, Standard ou Expert. Tendo em conta a minha experiência com outros títulos da LucasArts, onde a dificuldade mais elevada oferecia puzzles mais desafiantes e gratificantes, comecei por optar pelo modo Expert, mas pouco tempo depois estava a recomeçar a aventura em Standard. Neste modo intermédio, surge sob o bastão mágico uma partitura com as notas disponíveis, e sempre que ouvimos ou praticamos um feitiço, as notas respectivas aparecem no ecrã. Já em Expert, essa ajuda desaparece por completo, obrigando-nos a memorizar todas as sequências puramente de ouvido. Ora, apesar de apreciar bastante música, não tenho capacidade para identificar notas puramente por ouvido, o que tornou essa opção pouco viável. Para quem tiver curiosidade, não explorei a dificuldade mais baixa, mas ao que parece, nela é registado automaticamente o padrão das notas do último feitiço ouvido.

Os valores de produção da versão VGA estão de facto fora de série para os padrões de 1991. Excelentes gráficos e um voice acting super competente!

Passando para os audiovisuais, Loom teve direito a mais do que um lançamento na sua versão para DOS, tal como os seus predecessores. O lançamento original utilizava gráficos em EGA, com pouca variedade de cor e detalhe, versão essa que serviu de base para as adaptações do Commodore Amiga, Atari ST e TurboGrafx-CD. No ano seguinte, seria lançada uma nova versão para PC (e também para o computador nipónico FM Towns), desta vez em VGA, com suporte para resoluções mais elevadas e gráficos consideravelmente mais coloridos e detalhados. O mundo de Loom, apesar de relativamente pequeno, apresenta cenários bastante distintos entre si e com um estilo artístico muito próprio. Esta versão em VGA foi ainda relançada em formato CD-ROM, o que permitiu incluir música de maior qualidade, baseada em composições de Tchaikovsky (nomeadamente da sua peça O Lago dos Cisnes), uma escolha particularmente feliz, tendo em conta a temática e os elementos visuais e narrativos do jogo. Este relançamento em CD traz consigo outro aspecto fundamental: voice acting! Loom foi o primeiro jogo da LucasArts a incluí-lo, e o resultado não podia ser melhor: a narração é excelente e contribui imenso para a imersão e atmosfera da aventura.

Mesmo a versão original EGA é graficamente sublime.

Assim, o mundo fantasioso invulgar, as mecânicas centradas em feitiços compostos por notas musicais e os visuais marcadamente únicos tornam Loom numa aventura gráfica verdadeiramente original. Há também uma atmosfera mais séria e até algo melancólica que contrasta com o tom habitual das restantes produções da LucasArts, o que, por si só, acaba por ser bastante refrescante. Por fim, importa referir que este é um jogo relativamente curto e que, embora tenha sido inicialmente concebido como o primeiro capítulo de uma trilogia, as suas sequelas nunca chegaram a ver a luz do dia.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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