Ryse: Son of Rome (Microsoft Xbox One)

Tempo de voltar à família Xbox para aquele que foi um dos exclusivos de lançamento da Xbox One. Desenvolvido pela Crytek, este jogo até já estava em desenvolvimento há vários anos antes do seu lançamento, tendo começado por ser um jogo de combate medieval na primeira pessoa. Quando a Crytek procurou uma empresa que o quisesse publicar, a Microsoft aceitou, pelo que o jogo mudou o seu foco para a Xbox 360 e o Kinect, o infame acessório que implementava controlos por movimento e voz. Entretanto, com o passar dos anos o jogo mudou para a terceira pessoa, o Kinect deixou de ser um foco na jogabilidade (ainda bem!) e o ambiente do jogo mudou da idade média para o império Romano. O meu exemplar foi comprado numa CeX algures em Outubro passado, tendo-me custado uns 10€ se a memória não me falha.

Jogo com caixa

A história deste jogo leva-nos a controlar Marius, um general romano e a acção começa logo em media res, ou seja, com a capital do império a ser invadida por forças bárbaras e Marius a lutar para defender a cidade, bem como proteger e salvar o seu imperador (nada mais nada menos que Nero). Esse primeiro nível serve como um pequeno tutorial das mecânicas de jogo básicas e assim que Marius consegue salvar o imperador romano, Marius começa a contar a sua história, desde as suas origens, a forma como rapidamente sobe na hierarquia militar e os primeiros conflitos contra forças bárbaras, particularmente as invasões das ilhas britânicas.

O sistema de combate, apesar de repetitivo, é complexo e visceral

Este é então um jogo de acção com um grande foco nos combates corpo-a-corpo e com segmentos bastante ligeiros de exploração. Outro dos focos é a capacidade de liderança de Marius das tropas romanas. Em relação ao combate, vamos começar pelos controlos. O botão X ataca, botão B desvia, o A serve para deflectir os golpes inimigos e o Y para atacar com o escudo ou com um pontapé, de forma a abrir as defesas de certos inimigos que também estejam equipados com um escudo. Os botões de cabeceira também têm destaque no combate, particularmente o os do lado direito. À medida que vamos combatendo ganhamos foco, que por sua vez pode ser activado ao pressionar o botão R. Enquanto estivermos com o foco activado, tudo à nossa volta move-se em câmara lenta pelo que podemos atacar mais intensamente e é também uma boa forma de quebrar defesas ou atacar inimigos mais fortes. Uma vez que estes estejam atordoados ou enfraquecidos, surge um símbolo sobre as suas cabeças e ao pressionar o trigger direito entramos no modo de execução, que é essencialmente um quick time event disfarçado. Isto porque devemos pressionar uma série de botões mediante a cor que os inimigos tomam, como o Y caso fiquem amarelos ou o X caso fiquem azuis. E sim, as execuções são brutais, resultando muitas vezes em desmembramentos. No entanto, e felizmente para mim visto que ainda não estou muito habituado ao esquema de botões dos comandos Xbox, caso pressionemos o botão errado não temos grande penalização a não ser o rating/experiência/pontuação amealhada no final. As execuções bem sucedidas são também importantes para ganhar mais experiência, recuperar vida, foco ou aumentar o dano infligido no combate, podendo ser seleccionadas com o direccional. E sim, a experiência que vamos ganhando com o combate serve para melhorar a nossa personagem, desde desbloquear novas execuções violentas, aumentar a barra de vida, foco, dano infligido entre outras.

Durante as execuções, a ideia é a de pressionar o botão com a mesma cor que os inimigos ganham. Mas se não o fizermos também não somos lá muito penalizados, na verdade.

Ocasionalmente teremos também de liderar forças romanas. O botão L tipicamente serve para dar ordens aos soldados no nosso comando, como pedir suporte de arqueiros para limpar a arena de alguns inimigos à nossa volta. Muitas vezes teremos também de atravessar certas partes na típica formação de tartaruga com os escudos, onde ordenamos as nossas para avançar, colocarem-se em posição defensiva, ou mesmo atacar com lanças, algo que teremos de fazer várias vezes para derrotar linhas inimigas de arqueiros. Aliás, mesmo no combate normal, sempre que tivermos lanças em nossa posse, podemo-las atirar aos inimigos, recorrendo aos triggers LT e RT para apontar e lançar. De resto o jogo teve também uma forte componente multiplayer e essa sim, supostamente tinha algum suporte ao kinect, mas foi algo que me passou completamente ao lado, nem sequer a experimentei.

Em suma, a jogabilidade deste Ryse até tem algumas boas ideias, mas infelizmente acho que a sua execução ainda ficou com várias arestas para limar. O combate é divertido embora acabe por se tornar bastante repetitivo, visto que não há uma variedade assim tão grande de diferentes inimigos, nem das armas que iremos utilizar ao longo do jogo. Alguns bosses obrigam-nos a ser mais exímios nos tempos de resposta para deflectir ou desviar de ataques antes de contra atacar, mas é uma questão de repetição até atinarmos com as coisas. Ou como fiz com alguns dos últimos bosses, quando a animação de alguns ataques mais poderosos começava a ser desenhada, simplesmente desviava-me para um local seguro e contra-atacava com um ou dois golpes. Foi um método lento, porém resultava! A parte de gestão dos soldados romanos é também uma boa ideia, mas a sua implementação também é bastante rudimentar. Já a parte da exploração também não é grande coisa para ser sincero. De resto, existem vários coleccionáveis para apanhar ao longo de todos os níveis caso tenham interesse em fazê-lo.

As execuções bem sucedidas são também a principal forma de recuperarmos vida. Recorrendo ao d-pad, é possível também ganhar experiência extra, pontos de foco (a parte branca abaixo da barra de vida) e força adicional

A nível audiovisual este era de facto um jogo impressionante para a altura em que é lançado. O salto gráfico de uma Xbox 360 para a One era bem notório com um jogo como este, que utilizava uma versão actualizada do motor de jogo CryEngine, popular em títulos como os primeiros Far Cry ou a trilogia Crysis. Para mim, foi o detalhe nos cenários, particularmente nos níveis mais no meio da natureza, que se salientaram. Quando exploramos a costa e florestas britânicas, o grafismo do jogo salienta-se bem pela positiva e adorei explorar as florestas britânicas, repletas de pinturas rupestres e outras marcas de cultura celta e civilizações pré-romanas que ainda por lá habitavam. A narrativa sinceramente não a achei incrível e há uma quebra de qualidade bem notória entre as cut-scenes CGI e o que a Xbox está a renderizar em tempo real. Isto pelo menos na Xbox Series X, onde joguei este título. De resto a banda sonora é algo épica, embora não se saliente na aventura e o voice acting parece-me ser bastante competente.

Ocasionalmente teremos de comandar tropas romanas, incluindo manter as típicas formações de tartaruga

Portanto este Ryse: Son of Rome é um jogo com algumas boas ideias mas é bem notório o seu longo e atribulado ciclo de desenvolvimento. Acho que a certo ponto tanto a Crytek como a Microsoft tentaram apressar as coisas para que o Ryse fosse um jogo de lançamento da Xbox One, mas sinto que havia aqui muita coisa que poderia ter sido melhor trabalhada, mesmo no departamento da jogabilidade. De resto, apesar de a Crytek ter idealizado este jogo como o primeiro título de uma nova franchise isso nunca se materializou. A propriedade intelectual sempre pertenceu à Crytek, que passou a ter sérias dificuldades financeiras após o lançamento deste jogo, obrigando a empresa a restruturar-se e que sinceramente os deixaram um pouco na sombra. É que para além de alguns jogos mobile, VR e os relançamentos de versões remastered da trilogia Crysis, apenas lançaram um jogo inteiramente novo desde então: o Hunt: Showdown, que sinceramente me passou completamente despercebido.

Desconhecida's avatar

Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.