Há uns meses atrás os meus colegas do podcast TheGamesTome desafiaram-me, no âmbito da nossa rubrica Backlog Battlers, para jogar o StarCraft, um clássico indiscutível da Blizzard. Acontece é que eu sempre tive alguma aversão a videojogos deste estilo. O único que havia jogado até agora foi o Z e mesmo esse, sendo mais simples nos seus conceitos foi um grande desafio para levar até ao fim. Portanto foi tempo de sair novamente da minha zona de conforto e dar finalmente uma hipótese a este clássico! Como também tem sido habitual quando trago cá um jogo deste desafio do podcast, deixo-vos também o episódio para verem se tiverem interesse:
Ora a versão que eu tenho na colecção é a big box original de PC, e esse meu exemplar foi comprado numa feira de velharias algures perto do final do ano de 2016 e se bem me recordo terá custado uns 5€. No entanto a versão que joguei foi uma versão distribuída gratuitamente pela Blizzard no seu cliente battle.net, que possui também a expansão Broodwar. No entanto, foquei-me apenas na campanha principal porque é essa que tenho na colecção e é essa versão que foi efectivamente desafiado a jogar! Provavelmente acabarei por jogar o Broodwar mais tarde, visto que ainda demorei bastante a terminar o jogo principal e a expansão, para além de ser igualmente longa, é bem mais desafiante.
O StarCraft é então mais um jogo de estratégia em tempo real produzido pela Blizzard, depois do sucesso que a sua série WarCraft veio a ter ao longo dos anos. Foi lançado originalmente em 1998 e lembro-me de na altura ter tentado jogar o demo e não entender nada do que tinha para fazer e isso foi o que mais contribuiu para o meu desgosto de videojogos do género e que me inibiu de lhes dar mais oportunidades nos anos seguintes. Basicamente a história está distribuída ao longo de 3 campanhas diferentes onde controlamos diferentes civilizações: os humanos Terran, pensem numa espécie de space marines, os parasitas insectóides Zerg e os aliens Protoss, uma outra civilização altamente avançada a nível tecnológico. A história em si é bastante interessante e envolve conflitos entre todas estas civilizações, mas também entre diferentes facções das mesmas raças e apesar de podermos jogar as campanhas em qualquer ordem, é recomendado seguir a ordem Terran, Zerg e por fim Protoss para melhor seguir a narrativa.

Sendo este um RTS, o objectivo na maioria dos níveis consiste em destruir as bases inimigas, ou destruir/alcançar algum objectivo específico. Tirando os pontos do mapa onde controlamos a nossa base (ou bases), tudo o resto está envolto em fog of war e apenas descobrimos o que o mapa nos reserva ao explorá-lo com as nossas tropas. Naturalmente que poderemos ser atacados por forças inimigas quando fazemos isto, pelo que deveremos estar devidamente preparados. E para nos preparar vamos precisar sempre de fortificar a nossa base e depois preparar tropas suficientes para explorar e assaltar posições inimigas assim que forem localizadas. Para tudo isto vamos precisar de recursos e em Starcraft existem 2 tipos de recursos disponíveis: minério e gás (se bem que neste último precisamos primeiro de construir um edifício próprio para o extrair). Todas as diferentes civilizações possuem unidades específicas para explorar recursos e construir novos edifícios, que por sua vez nos vão permitir construir diferentes tipos de unidades e/ou melhorar a sua performance ao desbloquear novas habilidades. Tudo isto exige uma gestão metódica dos recursos que temos disponíveis e do tempo que as coisas demoram a ser construídas, ou as habilidades a serem desbloqueadas. À medida que vamos avançando em cada campanha vamos tendo também acesso a cada vez mais tropas/veículos/edifícios diferentes para construir, pelo que o jogo vai-nos introduzindo todas estas coisas ao seu tempo.

Os Terran são aqueles que possuem uma mecânica de jogo mais “normal”. As unidades de exploração de recursos (SCV) são também as mesmas que são usadas para construir edifícios, mas também para reparar edifícios e veículos que tenham sido danificados. Então à medida que fui avançando no jogo, sempre que precisava de assaltar uma base inimiga, fui-me habituando a enviar alguns SCVs na retaguarda das forças de ataque para alguns trabalhos de reparação pós assaltos, tudo isto enquanto tinha muitos mais SCVs a trabalhar na base para continuarem a extrair recursos, que por sua vez são também limitados. Por isso, à medida que fomos também avançando na campanha, houve também a necessidade de começar a construir bases noutros locais, para ter uma segunda fonte de recursos e sim, essa nova base também convinha ser fortificada. Algo que também é comum a todas as raças é o facto de existirem unidades camufladas, invisíveis a olho nú. Para contrariar isso, o uso de unidades ou defesas que tenham a capacidade de os detectar foi também algo crucial. Usar unidades terrestres para destruir defesas anti-aéreas e usar meios aéreos para combater tropas terrestres ou edifícios foi também algo que fui aprendendo com o tempo.

Os Zerg são uma raça de parasitas insectóides e as suas mecânicas são bastante distintas dos Terran. Enquanto nos Terran a base são os SCVs, que podem colectar recuros, construir e reparar edifícios, aqui tudo começa com larvas. As larvas podem ser transformadas em drones ou diferentes tipos de outras unidades, mediante se já tivermos criadas as infraestruturas necessárias para os criar. Os drones podem colectar recursos e também transformarem-se eles próprios em infraestruturas próprias, que por sua vez irão permitir a criação de outras unidades ou de melhorar as suas habilidades. Os Zerg são orgânicos, tanto nas unidades como nas estruturas, pelo que ambos regeneram a sua vida com o tempo. É um estilo de jogo em que é mais “barato” criar unidades e estruturas no geral, o que nos irá obrigar a criar e atacar em quantidade. Mesmo os diferentes tipos de criaturas que podemos criar, alguns deles poderão mais tarde serem transformados em criaturas mais poderosas. Portanto uma estratégia recorrente era mesmo a de produzir unidades em grande número e foi com os Zerg que comecei a usar mais frequentemente a funcionalidade de escolher um rally point, ou seja, sempre que uma unidade nova seja criada, a mesma seja encaminhada directamente para um ponto de interesse à nossa escolha.

Por fim, os Protoss. Estes são uma civilização alienígena com tecnologia avançada e uma vez mais introduzem diferentes mecânicas de jogo. Aqui a base são uma vez mais pequenos robots que servem para colectar recursos e criar infraestrutura, mas ao contrário dos anteriores, toda a infraestrutura que queremos criar é invocada e não construída de raiz (ou transformada no caso dos Zerg). Portanto a partir do momento que o pequeno robot invoca algo no local onde queremos, podemos imediatamente dar-lhe novas ordens. Depois tirando excepções como o edifício da base principal ou o que nos permite extrair gás, todos os outros edifícios podem ser apenas colocados dentro do raio de influência de um pylon. Os pylons são então o último tipo de infraestrutura que podemos criar livremente em qualquer local e para além disso, quantos mais pylons existirem, mais unidades podemos criar, o que foi algo que eu ainda não abordei. No caso dos Terran, para aumentar esse limite de unidades teremos de criar edifícios do tipo storage unit, enquanto que nos Zerg precisamos de criar criaturas overseer a partir das larvas. Estas criaturas não atacam, mas têm também funcionalidades detectoras para contrariar inimigos que estejam camuflados. De resto os Protoss são unidades mais resistentes, pois têm barra de vida e de energia para escudos, onde estes últimos poderão ser recarregados ao construir edifícios próprios para esse efeito. Por outro lado, são a raça mais cara a nível económico, pelo que também nos obrigam a gerir ainda melhor todos os recursos existentes e foi muito frequente precisar de criar várias bases em locais com mais recursos naturais para evoluir e construir um exército competente.

As bases do StarCraft e das suas distintas civilizações são essas, a gestão eficiente de recursos, saber o que prioritizar primeiro são chaves para o sucesso em qualquer missão, mas também o uso eficiente das unidades que criamos em batalha é também igualmente importante e foi aqui onde fui sentido sempre mais dificuldades. Isto porque podemos seleccionar apenas um número máximo de unidades em simultâneo e por vezes precisamos de mais que isso. Fazendo um duplo clique numa unidade em específico selecciona todas as unidades do mesmo tipo nas imediações e foi um bom atalho. Aliás, atalhos de teclas é outra coisa fundamental para acelerar certas tarefas básicas como construir edifícios, produzir unidades, evoluir habilidades, etc. Então o que comecei a fazer com números maiores foi seleccionar certos tipos de unidades para tarefas específicas em simultâneo, mas mesmo assim ia tendo algumas dificuldades. Imaginem que mando uns tanques destruir defesas antiaéreas, para que depois as minhas naves possam avançar e destruir, de forma mais segura, infraestrutura inimiga. Uma vez que tenham destruído esse objectivo, eles ficam livres para atacar qualquer outra coisa e quando dava por mim já tinha as minhas tropas todas dispersas e a sofrer demasiado dano. Outra coisa que me ajudou nesses casos foi o uso das teclas + e – para acelerar ou abrandar o ritmo de jogo. Regra geral, quando estamos meramente a construir a base, criar e evoluir recursos, é do nosso interesse acelerar o processo, mas quando vamos assaltar uma base inimiga, ou por outro lado quando recebemos um assalto massivo, é igualmente importante desacelerar o ritmo de jogo precisamente para melhor conseguirmos fazer essa micro gestão das nossas unidades e colocá-las a atacar o que nos interessa. Em suma, todas as três civilizações possuem diferentes unidades que nos permitem atacar ou defender com diferentes estratégias e a sua utilização de forma inteligente e eficiente é chave para o sucesso. Felizmente que o jogo permite-nos gravar o nosso progresso a qualquer momento e em saves separados para corrigir eventuais erros no planeamento.

De resto, a nível audiovisual, devo dizer que este jogo é muito bom para os padrões de 1998. Os gráficos do jogo em si não são incríveis mas este é um jogo de estratégia e com potencial para haver muita coisa a acontecer no ecrã ao mesmo tempo. No entanto, o jogo está repleto de cut-scenes em CGI em certos momentos chave da história e essas, para os padrões de 1998, estão incríveis! E depois o jogo está também repleto de pequenos pormenores que lhe dão muito charme. Por exemplo, sempre que seleccionamos uma unidade de um determinado tipo e lhes damos uma ordem, eles respondem sempre com qualquer coisa. É verdade que nos Zerg são apenas grunhos na maior parte dos casos, mas os Terran têm todos personalidades muito distintas e vão-nos responder de formas por vezes algo inusitadas. A primeira vez que usei um firebat ouvi um “what do you want?” cheio de desprezo que não consegui evitar uma pequena gargalhada. Os Protoss também vão tendo algumas catchphrases sonantes (se bem que mais sérias), pelo que muitas destas vozes vão acabar por ficar implantadas na nossa memória. As músicas são mais ambientais, embora tenham algumas influências de rock e electrónica também e acabam por ficar para segundo plano. E ainda bem, pois num jogo que exige concentração e planeamento atento, a banda sonora ser agradável porém não intrusiva é um factor muito importante.

Portanto sim, foi um prazer ter jogado este StarCraft, apesar de o mesmo me ter retirado da minha zona de conforto inúmeras vezes. Creio que a interface poderia ser melhorada principalmente a nível de acções de combate e acredito que tal tenha vindo a acontecer noutros RTS lançados no futuro. De resto só mais uma ou outra menção antes de fechar: a vertente multiplayer deste jogo é super importante e um dos motores que levou ao surgimento de e-sports. Naturalmente que nem ousei sequer em tentar este modo de jogo, pois continuo muito maçarico. Como já referi acima, a Blizzard disponibilizou este jogo em conjunto com a sua expansão Broodwar de forma completamente gratuíta no battle.net. É uma versão actualizada e capaz de correr nativamente em PCs modernos, pelo que é, a meu ver, a melhor forma de jogar o clássico hoje em dia. Para além disso, lançaram também uma versão remastered do jogo à parte e que também inclui a expansão, mas essa naturalmente já é paga. Por fim, de mencionar também que a demo original do Starcraft não é uma mera demo mas serve de prequela ao primeiro jogo, o que me apanhou completamente desprevenido e até fiquei curioso em a jogar.

