BackTrack (Nintendo Game Boy Advance)

Vamos agora voltar à Game Boy Advance para um jogo bastante curioso do seu catálogo. BackTrack é um dos vários FPS que o sistema portátil da Nintendo recebeu, tendo sido inclusivamente o primeiro FPS lançado no sistema, logo em 2001. Vou já avisar que não é um jogo bom, mas não deixa de ser um título bastante curioso, a começar pelo mistério da sua origem. Dependendo das fontes, o jogo terá sido lançado originalmente no PC em 1998 (ano em que surge na internet uma demo jogável do mesmo) ou de acordo com o Wikipedia (que cita o próprio site da Telegames) a versão PC finalizada sai algures entre 2002 /2003, já depois da versão GBA, portanto. O que não faltam são versões contraditórias na internet e aparentemente o cenário mais provável é que a versão PC nunca terá saído, visto que até aos dias de hoje apenas a tal demo de 1998 se consegue encontrar para jogar e a completa nunca foi vista em nenhum site de vendas ou fórum de comunidades. O que interessa aqui reter é que independentemente de ser um jogo de 1998, 2002 ou 2003, a versão PC parece um clone de Wolfenstein 3D, que usa tecnologia de ponta do ano de 1992. Entretanto, não há dúvidas nenhumas que a versão GBA existe sendo que o meu exemplar foi comprado a um grande amigo meu algures em Março do ano passado e é nessa que me irei focar.

Jogo com caixa, manual e papelada.

A história deste jogo é simples: uma civilização alienígena raptou imensos humanos para os transformar em andróides e assim invadir o nosso planeta. Nós somos o desgraçado incumbido com a missão de os derrotar, assim como resgatar todos os humanos sobreviventes que conseguirmos encontrar. A nível de jogabilidade, sendo este um clone de Wolfenstein 3D, esperem por controlos simples, com o direccional a servir para movimentar a nossa personagem, os botões de cabeceira para fazer strafing, os botões faciais para disparar e alternar de armas. O select mostra o mapa, enquanto o start pausa, onde poderemos inclusivamente gravar o nosso progresso no jogo. Como é normal em jogos deste género, à medida que vamos explorando iremos desbloquear diversas armas, cada qual com munição própria, assim como vários power ups ou outros itens como armadura ou medkits. Inicialmente estamos munidos de uma faca e uma pistola, mas poderemos ir encontrando várias outras armas como uma metralhadora ou uma arma que dispara raios laser. A partir daqui as coisas começam a ficar um pouco estranhas pois desbloqueamos um lança-chamas que é nada mais nada menos que uma lata de spray com um isqueiro, um lança granadas que é uma fisga, uma máquina que dispara bolas de sabão explosivas ou até um aspirador. Sim, este é um jogo que não se leva muito a sério.

Bom, digamos que as armas são algo originais. E não, o canivete suíço não dá lá muito jeito.

É também um título algo “ambicioso” para a sua época pois se a versão de PC sai realmente em 1998, esse é o mesmo ano de lançamento do Half-Life, onde uma das suas maiores qualidades (e inovações) é mesmo a maneira como o jogo se desenrola de forma contínua, sem estar dividido em níveis independentes. Aqui o jogo tenta implementar a mesma coisa, apesar de estar de facto dividido em níveis, estes são simplesmente diferentes andares da mesma base inimiga que exploramos, não existindo qualquer indicação que avançamos para o nível seguinte. Até porque é também possível voltar atrás, algo que teremos de fazer forçosamente na recta final do jogo. Por fim convém também mencionar que o jogo possui também um sistema multiplayer de encontros deathmatch, que não só pode ser jogado com mais 3 amigos recorrendo a cabos próprios, mas também com bots.

Imediatamente acima da cara do nosso jogador, sua barra de vida, armadura e munição, temos o inventário de armas, chaves e eventuais power ups utilizados. Sim, é demasiado pequeno para um ecrã de GBA.

A nível audiovisual, este é um clone de Wolfenstein 3D, ou seja, um jogo com uma geometria tridimensional ainda consideravelmente rudimentar, com paredes com ângulos de 90º entre si, sem quaisquer desníveis no chão ou tectos, embora o chão tenha texturas e o tecto algum shading que simule zonas mais ou menos iluminadas, o que não acontecia no clássico da id Software. As músicas não são nada do outro mundo, assim como os efeitos sonoros. Existem também algumas vozes digitalizadas que surgem ocasionalmente.

Quais são então os problemas deste jogo? Bom, vamos começar pelo facto de os “níveis” serem extremamente grandes, labirínticos e muito similares entre si, o que nos levará a andar muito tempo perdidos a vaguear pelos mesmos. Outra coisa que não ajuda é o facto de termos várias passagens secretas tal como no Wolfenstein 3D e outros jogos similares, cujas são descobertas ao interagir com as paredes até as encontrarmos. O problema é que ao contrário de jogos como o Wolf3D, aqui teremos mesmo forçosamente de encontrar algumas dessas passagens para conseguir progredir no jogo, o que aliado à natureza labiríntica dos níveis torna a coisa ainda mais chata. Jogando em emulação temos a vantagem de perceber que essas paredes especiais possuem uma ligeira degradação na cor, mas duvido que tal seja tão facilmente perceptível num ecrã original do GBA.

Pressionando o botão select podemos ver o mapa das áreas já exploradas, sendo esta a única indicação de que de facto existem níveis.

Outros problemas são inerentes à performance, e pelo facto de o GBA não ser um sistema particularmente indicado para correr este tipo de jogos, por muito boa vontade que a Telegames tenha tido, acredito que a sua equipa não tenha tido grande hipótese de tirar mais partido das limitações do sistema. A performance do jogo não é grande coisa como seria de esperar, assim como a draw distance ser consideravelmente reduzida, o que nos dificulta o combate. Os inimigos no entanto não nos poupam e a coisa mais segura que temos a fazer quando começam a surgir inimigos mais poderosos é mesmo disparar à distância, quando estes ainda mal começam a serem renderizados no ecrã. Por fim, apesar de ser possível gravar o nosso progresso no jogo e isso ser algo louvável, temos apenas um slot disponível (mais um volátil para saves temporários apenas). Um outro slot ou até uma alternativa adicional como um sistema de passwords seria benéfico pois é possível cairmos no erro de gravar o jogo num ponto de onde nos seja impossível continuar sem recorrer a códigos de batota.

Infelizmente os níveis não são muito variados entre si e a sua natureza labiríntica também não ajuda.

Posto isto este BackTrack é um jogo que me deixa com sentimentos mistos. Sim, o jogo não é grande coisa pelos seus problemas de performance, design de níveis e visuais desinspirados, tendo no entanto algumas coisas giras, como as suas armas e power ups bizarros. Mas o que acho mesmo fascinante é toda esta história por detrás do jogo em si. As origens misteriosas da versão PC, que já por si só era um clone de Wolfenstein 3D, mas supostamente lançada em 1998, num ano em que dentro do género tivemos grandes jogos como Sin, Blood II, Unreal, ou até um tal de Half-Life que já deverão ter ouvido falar. Não deixa então de ser impressionante o facto de uma empresa modesta como a Telegames ter a audácia de pegar num jogo de PC de 1998 já por si extremamente datado e que ninguém teria ouvido falar e convertê-lo para uma Game Boy Advance, um sistema com capacidades 3D muito rudimentares. E fizeram-no no seu ano de lançamento, embora apenas umas semanas antes do lançamento da conversão do Doom, que apesar de igualmente modesta, é bem mais apelativa que este BackTrack. A verdade é que a JV Games, o estúdio responsável por converter esta versão GBA, acaba mais tarde por lançar a versão GBA do 007: Nightfire, um outro FPS agora com um motor gráfico bem mais avançado.

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Autor: cyberquake

Nascido e criado na Maia, Porto, tenho um enorme gosto pela Sega e Nintendo old-school, tendo marcado fortemente o meu percurso pelos videojogos desde o início dos anos 90. Fã de música, desde Miles Davis, até Napalm Death, embora a vertente rock/metal seja bem mais acentuada.

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