Há já bastante tempo que estava a adiar jogar o quarto título da série Monkey Island da Lucasarts. Terminei o Curse of Monkey Island (jogo que adorei) já em Abril do ano passado e apesar de já ter este jogo na colecção há bastante tempo, tive bastantes reticências em jogá-lo, visto que já tinha a ideia que iria ter alguma dificuldade em jogá-lo num computador moderno. O meu exemplar físico foi comprado há cerca de 10 anos atrás (ou até mais que isso), se bem me recordo terá vindo da Game no Maiashopping, tendo sido um dos muitos jogos de PC que comprei lá ao desbarato. Entretanto, e para me ajudar a correr este jogo num computador moderno, comprei a sua versão GOG quando a apanhei em promoção por menos de 2.50€ algures no início deste mês. Infelizmente até essa versão tive dificuldade em correr, mas detalharei esses problemas mais à frente.
Ora este jogo foi lançado originalmente no ano de 2000, correndo no mesmo motor gráfico do Grim Fandango lançado um ano antes e que também planeio jogar em breve. Em 2000 o género das aventuras gráficas já estava num considerável declínio de popularidade e o facto de a LucasArts ter transitado a série Monkey Island para 3D poligonal também não foi a melhor ideia de todas (mais à frente também darei a minha opinião sobre isso). Entretanto, a história do jogo até que não é nada má, colocando-nos uma vez mais no pirata mais desastrado de todos os tempos, Guybrush Threepwood, que depois de vários meses de lua de mel com a sua agora esposa Elaine Marley, regressam à ilha de Mêlée e deparam-se com uma enorme confusão. A sua casa está prestes a ser demolida porque Elaine era a governadora lá do sítio e devido à sua ausência de 3 meses, foi declarada como morta, pelo que a câmara lá do sítio decidiu demolir a sua casa e convocar novas eleições, de onde surge um misterioso novo candidato (cuja aparência é algo familiar). Para além disso, todas as ilhas daquele arquipélago têm vindo a sofrer com a presença de um exímio investidor imobiliário australiano, que tem vindo a conseguir conquistar todas as propriedades dos piratas dessas ilhas. A nossa missão no imediato é arranjar uma tripulação e viajar a uma ilha vizinha, de forma a contactar os advogados da família de Elaine para que eles a possam ajudar a recuperar a sua posição de governadora. A situação nas outras ilhas não é a melhor, pelo que acabaremos também por nos vermos envolvidos noutros sarilhos.

Para além da transição dos visuais, a Lucasarts achou também boa ideia alterar completamente a interface do jogo (sinceramente ainda não fui ver se o Grim Fandango sofre do mesmo mal), que é abolir toda a interface point and click. E isso sim, acabou por doer mais. Basicamente o jogo está repleto de vários cenários pré-renderizados e com ângulos de câmara fixa e à boa maneira dos Resident Evils, nós controlamos o Guybrush com tank controls. Mediante a direcção para onde estamos virados e a proximidade perante pontos de interesse, surgem na parte inferior do ecrã várias opções de interação, como “falar com X”, “observar Y” ou “observar Z”. Depois teríamos de utilizar as teclas page up ou page down para seleccionar a acção pretendida e ainda assim, caso queiramos interagir com Y ou Z em vez de os observar, teríamos também de usar algumas teclas de atalho para as diversas acções, como U para usar, L para observar, entre outros. É uma confusão de todo o tamanho e por muito que me custe admitir numa aventura gráfica de PC, é um jogo que se controla bem melhor com um comando.
De resto, tirando toda esta interface horrível, o jogo está repleto de personagens interessantes como tem sido habitual, incluindo o regresso de muitas outras caras conhecidas. No entanto, nem todas as personagens ficaram lá muito bem conseguidas, na minha opinião. Um exemplo disso é o Stan, o vendedor chato que tem aparecido em todos os jogos e que agora se dedica a timeshares, um grande scam dos anos 90. Nesta incarnação Stan continua chato como sempre, mas com muito menos destaque que antes. Algumas personagens novas (como muitos dos turistas que iremos encontrar) são também bastante genéricos. De resto, o jogo está também repleto de puzzles como seria de esperar. Alguns são engraçados e bem pensados, como é o caso do paradoxo temporal, já outros são bem mais frustrantes, como é o caso do puzzle das pedras que temos de atirar por diferentes caminhos e dentro de timings muito restritos. Ou aquela viagem de canoa num rio de lava, que também nos irá obrigar a várias repetições até acertamos. Ambos os puzzles são já na recta final do jogo, o que me leva a pensar que a equipa já estava a ficar sem grandes ideias.

Outra coisa que regressa são todas aquelas piadas dos insultos, algo que teremos de utilizar frequentemente. No entanto, também na recta final, o jogo apresenta-nos o Monkey Kombat. Ora, pensem numa espécie de pedra-papel-tesoura bem mais complicado, pois em vez de 3 formas distintas temos 5, que são na verdade 5 formas de kung-fu protagonizadas por macacos. Cada forma vence duas outras formas, perde com mais duas e empata consigo mesma. Para além disso, para alternar de formas, teremos de vocalizar uma frase com vários sons de macacos do tipo chee, eek ou oop. Não vale a pena procurar soluções na internet, pois a relação de “força” entre as formas é aleatória, assim como as frases que nos permitem mudar de uma posição para outra. Teremos então de ir para a selva e lutar contra inúmeros macacos e ir apontando todas estas possibilidades, até finalmente conseguirmos ter um diagrama que nos permite ripostar com sucesso. Felizmente encontrei um programazinho na internet que nos ajuda a ir registando isso! Mas sim, escusado será dizer que este Monkey Kombat foi fortemente criticado pelos fãs e é fácil entender o porquê.

Voltando então para os audiovisuais, vamos focar-nos um pouquinho mais nos gráficos. Os primeiros dois Monkey Island são jogos totalmente em pixel art que eu bem aprecio. O terceiro já parece quase um filme em desenho animado que também está muito bem conseguido. Já este quarto título envelheceu muito mal na sua transição para o 3D. Os cenários são pré-renderizados mas sinceramente acho que ficaram bem mais pobres em detalhe do que todos os outros Monkey Island que lhe antecederam. As personagens são em 3D poligonal, mas também com um nível de detalhe e de animações bem mais fraco do que os seus antecessores. Felizmente a música e particularmente o voice acting continuam excelentes e é precisamente o voice acting a salvar muitas das personagens que aqui aparecem, pois em muitos casos a boa qualidade das suas vozes mascara alguma desinspiração nas mesmas.

O facto de o jogo ter gráficos pré-renderizados é também um dos grandes entraves em corrê-lo em sistemas operativos modernos, pois o jogo tranca a resolução em 640×480, o que está muito longe da resolução ultrawide (3440×1440) que utilizo actualmente. O que acontecia era que o monitor entrava nessa resolução e para manter o aspect ratio 4:3 ficava com dois gigantes “quadrados” pretos em ambos os lados do ecrã. Ao investigar na PC Gaming Wiki resolvi experimentar as duas sugestões para o jogo suportar resoluções maiores, ou na pior das hipóteses, correr em modo janela. Nem um nem outro funcionou correctamente no meu computador. Forçar o jogo numa resolução maior simplesmente fazia com que o mesmo fosse imediatamente abaixo, enquanto que o modo janela, quando o consegui implementar, trancava-me na mesma a resolução do monitor para 640×480, simplesmente o jogo corria numa janela que era do mesmo tamanho da área visível do monitor. A minha última solução foi mesmo experimentar o emulador ScummVM. Este Escape from Monkey Island está em vias de ser oficialmente suportado e se descarregarmos uma versão em desenvolvimento do emulador (não estável), lá consegui correr o jogo dessa forma e em modo janela. Infelizmente tive alguns bugs e de facto a emulação pelo ScummVM está longe de estar perfeita, mas ao menos o emulador suporta nativamente comandos de Xbox, pelo que foi bem mais fácil de o jogar dessa forma.
Portanto este Escape from Monkey Island é um jogo que é considerado por muitos a ovelha negra na série e é fácil de entender o porquê. Os gráficos em 3D não foram uma boa ideia pois não envelheceram tão bem quanto os dos seus predecessores, bem como tornaram o jogo bem mais complexo de correr em sistemas operativos recentes. As personagens não são tão memoráveis quanto as de outras aventuras e o jogo possui alguns puzzles mais frustrantes. Mas acima de tudo para mim é mesmo o facto de terem descartado a interface point and click para uma interface e controlos bem mais obtusos. Mas ainda assim, com todos os seus defeitos, continua a ser um jogo bem humorado e se não fosse mesmo todos os problemas técnicos que tive, teria-me divertido bem mais a jogá-lo. De resto, para além desta versão PC o jogo sai também para a PS2, onde supostamente até é uma melhor versão em alguns aspectos, como o Monkey Kombat estar melhor explicado, por exemplo.



