Vamos finalmente voltar à Playstation 2 para um jogo que há muito tinha em backlog e desta vez lá me decidi a pegar nele. Produzido pela Red Entertainment (a mesma empresa por detrás de séries como Bonk’s/ PC Kid, os RPGs Far East of Eden ou mesmo a série Sakura Wars) este Gungrave é um jogo de acção na terceira pessoa com conceito algo bizarro e uns visuais bem originais, até porque teve a colaboração de artistas por detrás de séries manga/anime como Trigun ou Oh! My Goddess. O meu exemplar sinceramente já nem me recordo onde terá sido comprado, nem quanto custou. Apesar de possuir um talão da compra original de uma loja alemã, é uma versão inteiramente em inglês.
A história leva-nos a uma metrópole fictícia e controlar uma personagem bem bizarra, a começar pelo seu nome: Beyond the Grave. E este é uma espécie de um cyborg, ressuscitado após ter sido brutalmente assassinado pelo seu suposto melhor amigo (Harry Mc Dowell) há 15 anos atrás. Tanto Harry como Brandon (o nome original da nossa personagem) eram membros de uma organização mafiosa e o motivo de Brandon ter sido assassinado irá eventualmente ser revelado durante as cutscenes. Basicamente 15 anos se passaram, Beyond the Grave está de volta e o objectivo é o de derrotar toda uma série de bandidos dessa organização e assim salvar uma jovem rapariga de 15 anos, invariavelmente ligada ao seu passado.

Bom a jogabilidade é no mínimo original. Grave enverga duas pistolas gigantes e o jogo leva-nos numa série de apenas 6 níveis, mas estes repletos de inimigos que teremos de destruir. Começando pelos controlos, o quadrado é o botão principal para se disparar, enquanto que o círculo nos permite correr (sem poder disparar ao mesmo tempo) e o X nos permite saltar ou, se usado em conjunto com o direccional, permite-nos saltar em câmara lenta nessa direcção e nesse curto período disparar bem mais rapidamente. Os botões L1 servem para fazer lock-on ao inimigo mais próximo ou strafing, caso não tenhamos nenhum na mira, enquanto que o L2 nos permite dar uma volta de 180º. Já se pressionarmos o L3 podemos andar um pouco mais rápido e disparar ao mesmo tempo e o R1 é um ataque corpo-a-corpo de curto alcance, com Grave a pegar no enorme caixão que carrega e o usar como arma.

Temos também um sistema de combos que é incrementado de cada vez que acertemos em alguém ou nalgum objecto destrutível, podendo inclusivamente o seu contador chegar às centenas, visto que os cenários têm sempre alguns objectos destrutíveis precisamente para conseguirmos chegar a combos elevados. E para que servem estes combos? Bom, com cada combo bem sucedido vamos incrementar uma barra de energia que, sempre que a mesma se completa, nos desbloqueia um golpe especial, os Demolition Shots, que poderemos usar posteriormente recorrendo ao botão de triângulo. O primeiro demolition shot que temos disponível consiste no Grave usar um lança rockets que está convenientemente escondido no seu caixão. No entanto, à medida que vamos avançando no jogo e mediante a nossa performance e avaliação no final de cada nível, iremos desbloquear outros demolition shots diferentes que podem ser alternados num menu de pausa. De resto convém também referir que Grave possui um escudo e uma barra de vida. O primeiro é restaurado automaticamente ao fim de alguns segundos sem sofrer dano. Já quando este se esvazia, começamos mesmo a perder vida.

Até aqui tudo bem, o jogo tem os seus bonitos momentos e a acção é de facto insana, com inúmeros inimigos a surgirem de todos os lados. Os controlos têm uma certa curva de aprendizagem, sendo que truques como o strafing, disparar mais rápido quando saltamos em câmara lenta, ou simplesmente se pressionarmos furiosamente o quadrado sem mais nenhum botão faz com que o Grave dispare em poses cada vez mais over the top e causando assim mais dano. Mas de longe há coisas que poderiam ser melhoradas. Grave é lento, o que até faz algum sentido visto que possui duas armas gigantes e carrega um caixão consigo, pelo que aprender aqueles truques acima referidos é essencial. O que me chateia mais é mesmo não haver nenhum controlo de câmara, com o segundo analógico a ser então completamente deixado de lado e isto é sem dúvida o que mais atrapalha no jogo.

Já no que diz respeito aos visuais, estes são bastante originais, embora tecnicamente ainda sejam bastante fracos. Os 6 níveis que vamos poder explorar vão tendo cenários bastante variados entre si, pois apesar de serem todos em zonas urbanas, vamos poder explorar diferentes partes da cidade, seus edifícios, fábricas ou mesmo fazer uma pequena viagem num comboio, por exemplo. A direcção artística é excelente, pois como referi logo no primeiro parágrafo este jogo teve a colaboração de alguns artistas de manga/anime notáveis da indústria, resultando em personagens originais e bem detalhadas assim como os próprios cenários têm um grafismo próximo do cel shading que resulta bem para o estilo de jogo. No entanto, num ponto de vista meramente técnico, este jogo parece por vezes de uma geração anterior. O campo de visão é muito reduzido, abusando bastante daquele típico “efeito de nevoeiro” que era muito comum em jogos 3D na geração anterior. Imaginem uma sala ampla e bem iluminada mas onde não conseguem ver nada uns 5 metros à vossa frente e à medida que vão caminhando essas zonas vão ficando iluminadas. Tendo em conta que foi o primeiro jogo que eles produziram para a Playstation 2, o não conhecimento das capacidades da consola talvez seja a razão pela qual tecnicamente este jogo deixe a desejar. De resto nada a apontar no som: o voice acting está integralmente em japonês como manda a Lei e a banda sonora é cativante e bastante eclética, tendo até algumas músicas mais jazzy e que me fizeram lembrar o Cowboy Bebop.

Portanto este Gungrave é um jogo bastante original, tanto no seu conceito, como nos seus visuais. No entanto a falta de controlo da câmara é para mim um problema sério e que prejudica bastante a sua jogabilidde. Do ponto de vista técnico, apesar da originalidade e irreverência dos seus visuais, apresenta também alguns problemas que lhe retiram algum valor. Ainda assim foi uma experiência positiva e fico muito curioso a ver como o jogo evoluiu na sua sequela, que aparenta pelo menos ser bem maior que este.


Gosto muito das tuas reviews Tenho pena de não teres mais repercursão Continua com o bom trabalho