Há pouco tempo atrás joguei e terminei o Deponia, o primeiro de uma série de 3 jogos de aventura point and click da Daedalic que acabei por gostar bastante da sua história no geral, do bom humor e do carisma das personangens. Fiquei cheio de vontade de experimentar o Chaos in Deponia mas lembrei-me que tinha um outro jogo da mesma empresa há espera há mais tempo e acabei por me virar para este Harvey’s New Eyes, sequela directa do Edna & Harvey the Breakout. A minha cópia digital, se a memória não me falha foi comprada num dos Humble Bundles dedicados à Daedalic, tendo-me ficado por uma ninharia como é habitual.
O jogo original contava a história de Edna, uma jovem rapariga “aprisionada” num manicómio e que tentava escapar de lá a todo o custo. Era um jogo com uma boa dose de humor negro e sinceramente a história até teve alguns plot twists surpreendentes, mas a nível visual era muito limitado, até porque era nada mais nada menos que o projecto de final de curso de um dos fundadores da Daedalic. Este segue o mesmo estilo visual, mas já lá vamos a esse campo mais tarde. Aqui é passado numa escolal de um convento e apesar de Edna aparecer várias vezes na história, a personagem principal é a sua melhor amiga, a menina Lilli, que é simplesmente a rapariga de mais bom coração, ingénua e submissa que alguma vez conheceram.

A Madre Superiora é extremamente autoritária e detesta crianças, a cozinheira é uma ex-presidiária que também detesta crianças, e já estão a ver onde isto vai dar. A história está dividida por vários capítulos, onde no primeiro serve mais para conhecer o convento, os colegas de Lilli e Edna e também para introduzir o Dr. Marcel, vilão do primeiro jogo e que irá visitar o convento para por à prova as suas novas e controversas terapias de disciplina infantil. Edna não gosta disso e pede a ajuda de Lilli para se esconderem ou eventualmente escaparem. Até aí lá chegarmos ainda muita coisa acontece, como as coisas que inadvertidamente vamos causando aos colegas de Lilli. Mas eventualmente o Dr. Marcel lá acaba por colocar em prática as suas terapias, com base no hipnotismo através boneco do coelho Harvey, colocando-nos inibidores mentais de comportamento como “não brincar com o fogo”, “não mentir”, “não mexer em objectos afiados”, ou “não desobedecer a adultos”. É a partir desse segundo capítulo que entram essas novas mecânicas de jogo e que sinceramente achei muito interessantes.

Isto porque para avançar na história vamos mesmo ter de fazer todas essas coisas e a única maneira de o fazer é Lilli se auto-hipnotizar e no seu subconsiente visitar uma versão diferente da realidade, onde temos de contradizer um “demónio Harvey” e provar-lhe que afinal atear fogo até é porreiro e beber uns copos também nunca fez mal a ninguém. No entanto, apesar de podermos desbloquear um desses inibidores mentais apenas podemos usar um de cada vez, obrigando-nos a clicar no inibidor que queremos activar. De resto as mecânicas de jogo são as básicas de um jogo de aventura deste género, com os diálogos, exploração e interactividade de itens habituais. Por vezes também teremos alguns puzzles “a sério” para resolver, mas esses podem ser avançados à frente para os mais impacientes. O último até é bem original, uma batalha no estilo RPG que não estava mesmo nada à espera.

Indo agora para os audiovisuais, bom comecemos pelo mais fácil, o voice acting. É certo que a Daedalic é uma empresa alemã e apesar de haver a opção de ouvir o audio em alemão e usar legendas em inglês, sinceramente sempre joguei estes títulos da Daedalic com tudo em inglês, o que contraria a minha posição habitual: ouvir o jogo tal e qual os developers assim o queriam. Bom, em vários outros jogos da Daedalic, em especial os mais recentes, o voice acting em inglês tem sido bom, mas tanto no primeiro Edna & Harvey (o que se compreende visto ser um school project) como neste o voice acting inglês é muito inconstante. Algumas personagens até ficaram bem representadas, já outras (a infeliz maioria) ficaram horríveis. A música é agradável, tocando quase sempre de fundo e transmite bem as diferentes atmosferas. A narrativa no geral até que tem a sua graça, com um narrador intrometido e sempre a mandar piadolas, o jogo está cheio de humor negro e se tivesse sido lançado por um qualquer estúdio norte-americano mais conhecido certamente iriam ter alguns problemas, mas por mim está aprovadíssimo!

A nível gráfico é uma história um pouco diferente. Este jogo segue a mesma identidade visual da sua prequela, com os cenários e personagens caracterizados de uma forma bastante bizarra, quase como se um cartoon marado da Nickelodeon se tratasse. Sinceramente não gostei assim muito desta estética, apesar de se adequar bem a todas as bizarrices que vemos no ecrã. Ainda assim, tudo o resto como a qualidade dos desenhos em si ou as suas animações estão muito melhores que na prequela.
Edna & Harvey: Harvey’s New Eyes pode não ser o melhor jogo de aventura do já extenso catálogo da Daedalic neste género, mas não posso dizer que não me tenha surpreendido em vários aspectos. A história está muito mais arrojada no humor negro, algumas pessoas podem-se sentir ofendidas em especial com o que Lilli faz “sem querer” aos colegas ao longo do primeiro capítulo, os plot twists finais dão novamente um ar da sua graça e todas as mecânicas dos bloqueios comportamentais por hipnose acho que foram ideias bem conseguidas. Só por isso, e se são fãs deste género de videojogos em particular, recomendo que dêm uma espreitadela a este.
